Assumo, pensei que vinha aqui dizer que saio destas férias com mais um livro e menos um quilo. Isto por causa de andar a aproveitar o campo para me exercitar mas, na verdade, levo comigo todos os quilos que trouxe, o que em boa verdade até nem é mau, tendo em conta os rojões, o bolo-rei, o sarrabulho, as francesinhas e etc. (e, juro, acho que nunca gostei tanto de um Et cetera).
Portanto, não venho aqui falar do quilo a menos que (ainda) não aconteceu, nem do livro a mais que fez destas férias um sítio melhor, mas sim do meu exercício, mais ou menos, matinal.
Todos os dias escalo 348 degraus. É o caminho mais curto, e mais duro, até ao monte de São Félix (que o diga o desgraçado, com que me cruzei, que o sobe e desce a correr) mas é também a representação da via sacra dos crentes católicos, apostólicos romanos. Por isso, todos os dias preciso de uma pequena paragem na estação IX e X - Jesus cai pela terceira vez e Jesus é despojado de suas vestes, respectivamente.
Depois dos degraus, segue-se a corrida por um caminho asfaltado que atravessa uma REN (Reserva Ecológica Nacional). Não sei se é por causa da oxigenação do cérebro, depois da subida, ou se pelo reencontro com um prazer antigo, sei é que ouvir as sapatilhas contra o asfalto e o chiar dos eucaliptos me enche de uma felicidade inexplicável.
Por fim, a caminhada a descer o monte. Os "bom dia Carla" (sou eu e não sou eu mas, definitivamente, sou eu, a Carla), o mar lá ao fundo, as curvas e contra-curvas, o pinheiro manso, quase a chegar a casa, cujas raízes desenham cicatrizes na estrada de paralelos.
Sim, não perdi um único quilo mas ganhei um livro e uma quase reconciliação comigo.
Parece-me uma excelente forma de começar um novo ano. Melhor do que aquela em que estava com a pássara a arder.