Escaravelho

29.11.14
Tenho andado arredada do computador. Distante de casa, ocupada com coisas que me interessam e cheia de compromissos sociais. Apanhei muito frio num dia, massacrei os pés com as botas de água no outro e tive saudades deles todos os dias.
Sinto-me um escaravelho. Não sei explicar porquê mas é isso mesmo que sinto hoje, que sou um escaravelho. Espero que não tenha nada a ver com as bolas de esterco que estes bichos costumam enrolar.

Piadas de mau gosto

26.11.14
Estou gorda. É muito parvo estar a escrever sobre isto, mas estou gorda. E o pior nem é isso. O pior é o meu cérebro ainda não se ter habituado a essa ideia. Olho para os pares de calças 38 e ele diz-me que me servem e quando as tento vestir fico cheia de pena de mim.
"Vamos analisar as hormonas, minha querida, mas olhe que já está numa idade em que precisa de ter mais cuidados com a alimentação", diz-me a médica de família. Portanto, estou gorda, porque estou velha. Só pode ser uma piada de mau gosto.

Os Croods e os Fonseca Xavier

24.11.14
Este filme já deu tantas, tantas vezes na nossa televisão que praticamente toda a gente aqui em casa sabe as falas de cor. Só faltava atribuir personagens a cada um de nós.
O Isaac escolheu ser o Guy (o rapaz evoluído e sonhador), claro, o Nicolau o Thunk (o desastrado e "sem cérebro") e eu disse que não tinha a certeza se era a Eep (a filha curiosa e rebelde), ou a Ugga (a mãe das três crianças pré-históricas).
"Tu és a Eep mamã", disse-me o meu filho do meio. E apeteceu-me comê-lo de beijos.

Domingo de manhã

23.11.14


Uma pessoa sabe que, se calhar, podia dar melhor uso ao tempo quando usa um domingo de manhã para fazer um estojo de pano para o filho oferecer a um amigo que faz anos e este lhe pergunta o que é o presente, porque acha que o estojo é o "embrulho".

Tenham muito medo

21.11.14


E o que eu gostei de intervalar o trabalho para fazer uns falafel para o almoço mais uns muffins de aveia e banana! E deliciosos que estão!
Não leva muito tempo estou uma sopeira feliz e tudo.

Saltos no tempo

19.11.14
Há certos gestos ou acontecimento que, automaticamente, me fazem viajar para outro sítio, assim mesmo como nos filmes. Uma pessoa agora está aqui e no momento seguinte foi parar a outro lado (não sei se existe um termo para isto. Tenho a impressão que sim). Dou dois exemplos, que são os mais frequentes:

1- Sempre que estou a picar salsa, entro no filme da Agnès Varda, Os Respigadores e a Respigadora, e vejo claramente aquele senhor a apanhar salsa de um caixote do lixo e a explicar, enquanto trinca o caule, que a salsa tem muito zinco.

2- Quando encontro um cabelo na comida (sim, acontece-me com bastante frequência), lembro-me de um almoço em Newark, em casa dos pais da Mrs. Carrol. Foi num sábado e a mesa estava posta com o melhor serviço, porque comentava-se por lá que nós, na Europa, comíamos de faca e garfo todos os dias e não apenas em ocasiões especiais.
Ora, como a mãe da Mrs. Carrol era italiana sabia muito bem o que tinha a fazer. A comida estava divinal, claro, e nós, eu e a minha outra amiga portuguesa, estávamos sentadas muito direitinhas à mesa para não dar parte fraca. Nisto, encontro um cabelo no meio da salada. Fiquei para morrer, uma vez que sabia que não devia deixar comida no prato. Depois de muito pensar e remexer na comida decidi que tinha de comer o cabelo. E assim fiz.

A minha filha saiu à noite

18.11.14
Antes do jantar
- Quem é que faz anos, Bea?
- Já te disse não sei quantas vezes que é a Mariana.
- Ah, pois, mas não me lembro de nenhuma Mariana na tua turma.
- Isso é porque é da minha turma do coro. Ela está no 10.º ano noutra escola.
- Ah, ok. Espera, no 10.º ano? isso quer dizer que faz 16 anos (a Bea tem 13)!
- É.
- Mas, então, vão embebedar-se!!!
- (chocada) A que propósito?
- Bom, hmmmm, quer dizer, não sei, mas aos 16 anos pode acontecer, sei lá, digo eu, de se experimentar bebidas alcoólicas.
- Isso não sei. Sei é que a Mariana não bebe álcool. Tenho quase a certeza.
- E se beberem todas o que vais fazer?
- (com ar daaaã) Vou beber água, ou sumo, obviamente. Tenho 13 anos.
- Pronto. Então liga quando terminar o jantar.

10h50 toca o telefone
- Tou, olha mamã, só acabamos agora de jantar e estávamos a pensar ir comer uma sobremesa à baixa, pode ser?
- Sim, está bem. Quando terminares liga para te irmos buscar.
- Está bem, mas eu posso ir de metro, não há problema.
- Está bem, liga e logo vemos.

Meia hora depois ligo-lhe eu a insistir que era melhor ir buscá-la, que preferia que não andasse de metro sozinha àquela hora.

11h45 recebo um sms
"Podem apanhar-me daqui a 15 minutos na Rua Augusta?"

A minha filha é a Cinderela e trata-me por mamã. É a pirosice mais fixe do universo.

Merda

17.11.14
Daquilo que me é dado observar, existem três tipos de pais/mães:

1- Os que fazem os filhos sentirem-se uma merda mas que estão lá a apoiá-los quando fazem merda.

2- Os que não fazem os filhos sentirem-se uma merda mas estão sempre à espera que façam merda para poderem dizer que tinham razão.

3- Os que se acham tão espectaculares que, obviamente, só podem ter filhos espectaculares. É claro que os filhos até podem fazer merda mas a deles é cheirosa e de um castanho luminoso.

Isto é muito interessante de analisar quando somos filhos. Agora, enquanto pais é outra conversa.

A canção do cometa

14.11.14
Saio do Centro de Saúde sem conseguir ser atendida mais uma vez e, já na rua, ouço parte de uma conversa:
"Ele tem de se focar num objectivo, assim não pode ser, não pode estar a fazer informática hoje e amanhã meias".
Sorrio.
Entro no eléctrico e olho para o meu caderno. Numa página respostas de uma entrevista, na outra desenhos de patchwork para mantas e a seguir listas de compras e menus.
Sinceramente, não sei é como se pode viver de outra forma que não esta, sobretudo num mundo em que já se ouve um cometa a cantar.

Perguntas que eu gostava mesmo de saber a resposta

13.11.14
Qual é o vosso código CAE?

O peso das coisas

13.11.14
Eu e o Jaime não trocamos prendas de Natal há alguns anos. Bem, não podem ser assim tantos, porque só estamos juntos há seis. Seja como for, a certa altura pareceu-nos descabido e decidimos não comprar nada um para o outro. No primeiro ano em que o decidimos comprámos na mesma, obviamente, mas depois passámos a oferecer um ao outro coisas simbólicas: um cachecol feito por mim; uma lista de intenções; um guia de Budapeste...
Gosto muito mais assim. Faz muito mais sentido assim. Por isso, a sério que não percebo, porque é que este ano me apetece tanto receber um par de botas, ou um telemóvel novo, daqueles que dá para tirar fotografias, ou um computador.
E não, isto não é uma wishlist. 

Isto assim é muito complicado

12.11.14
No dia em decido fazer uma tarte de grão-de-bico para me entregar à gula que aparece, sempre, à hora da ceia, apetece-me comer chocolate.

Dias perfeitos

10.11.14
No sábado de manhã, uma lição de esgrima histórica para uma reportagem. Precisava de levar calças de desporto escuras e sweatshirt branca. Não tinha nenhuma e por isso transformei duas t-shirts numa sweat. Ficou apertada nas mamas e quando me vi ao espelho estava com os bicos espetados. Paciência.

No sábado à noite, seis horas numa peça de teatro.
A melhor pergunta/resposta: Qual a qualidade mais sobrevalorizada? (pergunta Vera Mantero) A iniciativa própria (responde Jorge Andrade).
No fim, mais duas horas a pesquisar personagens do Roque Santeiro e a cantar a banda sonora da novela.

Há dias perfeitos, foda-se.

O autor sossega-me

7.11.14
António Lobo Antunes teve a amabilidade de explicar, no ípsilon de hoje, porque é que estou sempre a pôr de lado o livro dele: "Mas acho que uma parte da obra, aquela mais experimental, em que tento algumas coisas novas para mim como na Exortação aos Crocodilos (1989), Não Entres tão depressa Nessa Noite Escura (2000), Eu Hei-de Amar uma Pedra (2004). Aqueles calhamaços são difíceis de ler como o caraças e eu achava aquilo claro e estava todo contente. Com a vida que há agora é muito difícil ler aqueles livros. Não dá para estar sempre a interromper. A vida não é assim, as pessoas têm de trabalhar no dia seguinte. Isto devia apanhar-se com uma doença."

Adenda: acabei de ver, nos comentários do Post em que falo do autor, que mais alguém leu a entrevista. Obrigada, Dani.

Falta-me assim um bocadinho para chegar aos tornozelos dela

7.11.14
Haverá poucas pessoas neste universo dos blogs que não conheça a Ana de Amsterdam e, entre estas, serão poucas as que não a admiram. Eu não sou excepção, evidentemente. Acho-a genial e estou em crer que o romance que mais tarde ou mas cedo vai  publicar, será o evento literário do ano. Por isso, imaginem a minha cara quando me perguntaram se ela era o meu alter-ego.

É isso

6.11.14
Ainda há pouco tempo exasperava-me ter sempre louça para lavar, roupa para estender, cenas para arrumar, etc. Agora preocupam-me muito mais os conselhos que dou à minha filha e o facto de não poder ir ler para a cama, porque está lá o nosso filho do meio.
O que foi que me aconteceu, afinal? A velhice. Acho que estou a envelhecer, finalmente.
Senhoras da nossa idade, precisamos de repetir o questionário. 

Amnésia

5.11.14
Acordei a meio da noite com um pensamento qualquer e achei que tinha de escrever sobre isso. "É mesmo importante", pensei, "levanta-te", disse a minha mesma, "vai, vai, sai da cama para apontar", gritei pontapeando-me mentalmente. Mas nada, nem me mexi.
É possível que tenha alguma coisa a ver com o facto de ter largado o Lobo Antunes, outra vez. Tenho muito desgosto, mas há que assumir de uma vez por todas que não consigo ler o António Lobo Antunes.
Larguei-o, então, e fui buscar dois livros para ver qual me apetecia ler. Apeteceu-me ler os dois, por isso acho que vou continuar a lê-los ao mesmo tempo. Talvez mais para a frente me interesse um mais do que outro. São ambos biográficos, um é sobre Marguerite Duras, e o outro é o Retrato do Artista Quando Jovem, do James Joyce.
Com a excepção de "O Mundo Ardente", tem sido difícil encontrar livros que me apeteça mesmo muito ler e, agora, apetece-me ler dois ao mesmo tempo. O que foi que me aconteceu, afinal?
Bem, vou subir e descer umas quantas ruas, que é, a seguir a dormir, a melhor forma de nos lembrarmos do que interessa.

Ano novo*

4.11.14
Decidi deixar o cabelo crescer e depois decidi cortá-lo eu própria. Grande erro. Depois, fui ao arquivo aqui do blog ver quando tinha sido a última vez que o fiz. Foi há pouco mais de um ano.
Não sei se esta reincidência tem a ver com o facto de ter deixado os compridos, há cerca de duas semanas, num acesso de rebeldia, mas estou a gostar deste reecontro. Das lágrimas por tudo e por nada; dos acessos de mau feitio (dizem por aí que são constantes, mas há diferenças); da vontade de mudar alguma parte do mundo; de ir a festas e dar festas; de me obrigar a escrever, apesar de odiar tudo o que escrevo; de odiar tudo o que escrevo; de gostar de ir buscar os meninos à escola; de experimentar novas receitas...
Não faço ideia quanto tempo vai demorar até voltar a indiferença, o sono, o desespero por não conseguir reagir, mas até lá vou aproveitar. Acho eu.
Entretanto, estou com um cabelo horrível e apercebi-me que este corpo não é meu. Não consigo chegar com as mãos ao chão e fazer a ponte é o mesmo que tentar empurrar um carro, em porto morto numa subida, com o dedo mindinho. O que foi que me aconteceu, afinal?

*Nunca nada começa em Novembro, a não ser para os que nascem e os que decidem morrer. Pois o meu ano novo começa este mês.