Não ter doces

26.11.20

Enganei-me ao comprar papel higiénico e trouxe rolos de papel de cozinha. Rimo-nos todos muito, só por isso valeu a pena a troca. E ficam bastante bem no quarto-de-banho.

Os meus filhos andam a fazer ninhos pela casa, isto é, a montar a tenda de campismo em sítios nada próprios. Deve ser o equivalente deles às minhas folhas varridas. 

Há cada vez mais pessoas doentes, e conversas de doenças, à nossa volta, nem todas sobre Covid. Nós, os que escapamos não só às doenças, como aos isolamentos profilácticos, começamos a sentir que somos uma raridade, sobretudo quando estamos a viver num dos concelhos de risco extremo.

O Nicolau fez este inquérito ao pai:

1- O que te faz feliz? 

2- O que te faz infeliz?

3- Qual o teu maior medo?

4- O que gostas mais de fazer na vida?

O Jaime respondeu: 1) ver-vos felizes 2) doenças nas pessoas que gosto 3) não sei 4) passear com a família, de preferência de autocaravana. Depois fez-lhe as mesmas perguntas, as respostas foram: 1) viajar 2) não ter doces 3) apanhar o Covid 4) andar de bicicleta. 

Procrastinar

23.11.20


O papel higiénico acabou e eu fui varrer as folhas do pátio. Não sei explicar, mas varrer as folhas tranquiliza-me sempre.

Imaginem se eu não fosse feminista

20.11.20


Prometo não ter mais ideias sobre férias, ok? Foi só querer usar os domingos a passear para vir a ordem do confinamento. Bom, mas antes disso ainda conseguimos fazer um programa, desta vez a cinco. 

A Bea veio dormir à Póvoa e os irmãos acharam que ela tinha de ir experimentar um restaurante onde somos nós a cozinhar na mesa. É um daqueles clássicos, aonde as famílias vão em romaria, com comida realmente boa e um pudim abade de priscos que nos deixa felizes. 

Depois, como queríamos deixá-la em casa aproveitámos para ir ver a exposição da Yoko Ono e passear no Treetop Walk. Ir a Serralves é sempre bom, sobretudo quando as exposições valem a pena. Quer dizer, logo no início fiquei espantadíssima por ver, na instalação de korakrit Arunanondchai, uma planta a mexer-se e a questionar-me se haveria algum tipo de sensores. Quando percebi que era um dos meus filhos que estava a conseguir tal proeza não deu para continuar concentrada no que estava a ver (benditas as crianças que visitam exposições sem necessidade de correr e apontar o dedo demasiado perto das obras).

Para piorar a Yoko Ono fez umas instalações interactivas, em que a pessoas podiam pintar, ou carimbar. E como explicar aos meus ricos filhos que nem todas as obras careciam de intervenção, sobretudo a do martelo pendurado?

Resumindo, o Jaime gostou mais da exposição O Sol Não Se Move, Capítulo 35, eu não consegui ver nada muito atentamente, a Bea disse qualquer coisa sobre a Yoko lhe parecer um bocado hippie pedante e todos adorámos passear pela copa das árvores. 

O que me deixou perturbada foi ver a Yoko Ono como artista, quando achava que era só a namorada do John Lenon e fazia umas coisas. E ver toda a exposição de R.H. Quaytman convencida que era um homem. O machismo está-nos entranhado.

Culpa

7.11.20

Estava a ver o Dave Chapelle a fazer piadas sobre as violações de Bill Cosby, com um certo desconforto, e a pensar nas mudanças que têm ocorrido na sociedade, muito graças ao movimento #MeToo, quando comecei a ouvir todo o discurso dele dirigido a um carnívoro - ''Sim, ele come carne, mas salva pessoas. E salva mais pessoas do que os animais que mata''. 

Há uns anos eu achava que íamos chegar a um estado de evolução em que olharíamos para os tempos em que comíamos carne como agora olhamos para a idade média. Nessa altura era vegetariana, mas provavelmente fartei-me de ser evoluída sozinha. Agora, como mais carne do que deveria e com mais gula, mas não consigo deixar de sentir uma certa culpa. 

Sair sem sair

4.11.20


No domingo passado, como não podíamos circular entre concelhos, fomos almoçar à minha mãe. E isso até poderia não ser digno de registo se, de cada vez que vou a casa da minha mãe, não fosse como ir às grutas de Morutaumorubara, em Balibó, Timor-Leste.

Suponho que não tenho qualquer registo dessa viagem, aqui no blog, por ter sido uns dias antes do acidente, mas acreditem que há muitas similitudes entre a ida a essa gruta e os almoços em casa da minha mãe. Aquela ansiedade antes de entrar por não sabermos o que nos espera, o susto com os morcegos a sobrevoar as nossas cabeças no escuro, a vontade de fugir e ficar ao mesmo tempo.

O momento alto, no domingo, foi a diversão depois de termos atolado o carro num terreno que a minha mãe nos pediu para ir ver. O bacalhau também estava muito bom. O pior foi a sensação de não ter feito nada do que me propus.