No outro lado

26.2.19
Sempre que estou sozinha, adoro sorver a sopa, sobretudo se for canja como é o caso, agora.
Acho que é um tipo de alimento que convida a ser sorvido, que querem? Assim como a maior parte das sopas asiáticas, parecidas com alguns dos nossos caldos, se excluirmos os temperos.
Não sei exactamente qual a cena, mas nunca mais me esqueci de um homem a sorver a sopa num filme de Zangke Jia e na minha vida do outro lado do mundo adorava observar as pessoas a comer.
Ora bem, a minha avó sempre comeu sopa sorvendo-a e nunca viu filmes alternativos, nem comeu PhosTom Yums, ou Mi Gorengs, portanto isto pode ser só um reflexo da minhas origens ''jabardas'', lá está!
Em Timor havia  a água sal, uma sopa de peixe muito dada a sorvos ruidosos. Chama-se assim, porque é o que é: peixe e ervas em água e sal. E voltei a sentir-lhe o sabor quando ouvi o Luís Cardoso no Correntes d' Escritas. 
Este ano não consegui assistir a quase nada do que aconteceu no festival literário, por isso ter ido parar às apresentações da mesa 7 foi uma sorte. 
Não havia água sal no texto de Luís Cardoso, havia uma varanda onde estava alguém sentado à espera, havia outra pessoa que deveria chegar para plantar abóboras, havia uma neblina que parecia sumaúma (o ai-lele), um lugar distante que se chamava mar mutin (mar branco traduzido à letra) e o café dos liurais (chefes)Durante uns minutos fui completamente transportada para a ilha que ainda sinto um bocado minha e continuo por lá, agora, a sorver a canja com as aimanas (molho picante) feitas pela Domingas. 

Optimismo

18.2.19
Recebi um e-mail para participar num inquérito sobre questões ambientais no âmbito de um estudo levado a cabo pela União Europeia, ou qualquer coisa do género, e apesar de ter ido parar ao Spam, e de incluir a oferta de um voucher, arrisquei responder, porque reconheci a fonte que me inclui na mailing list. 
Espero sinceramente que se trate de uma tentativa de me extorquir dinheiro (para ficar com o voucher, que oferecia 3 noites num hotel à escolha, era preciso pagar quase 30€), ou de aceder a dados pessoais, porque se o inquérito era verdadeiro começo a temer o pior.
Bom, a temer o pior em termos ambientais já estou desde 1999, mas como todos os seres humanos eu tendo para o optimismo quando se trata da nossa sobrevivência.
E depois, enquanto houver legumes nos campos de Aguçadora, Navais e Estela, está tudo bem.

Hora do Chá

11.2.19
Foto Chá Camélia
Está a ver aqueles saquinhos que se compram no supermercado e se juntam a água quente para fazer uma bebida a que chamamos chá? Esqueça, depois de aprender mais sobre chá a sério, e prová-lo, na única plantação da Europa continental não vai querer beber outra coisa. 

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Civilizar

6.2.19
Um dia destes estava a olhar para os meus filhos enquanto comiam Nestum, só os flocos, no sofá. Podia ser uma coisa bonita de se ver, até porque estavam relativamente calmos e porque são lindos, obviamente, mas acontece que estavam a comer sem colher. Ou seja, enfiavam a boca e o nariz dentro da malga e aspiravam, ou lambiam os cereais com mais açúcar do que fibras e proteínas.
Sei que houve um momento da contemplação em que quis pedir-lhes para comerem como gente, mas não disse nada. Fiquei só a olhar para eles, fascinada com a "jabardice".
Há coisas incríveis nos dias das mães e dos pais quando as crianças são pequenas, mas aquilo que melhor define o dia-a-dia de uma família com crianças, não tenho dúvidas, é a "jabardice".
Eu sei que há pessoas muito bem sucedidas a civilizar a suas crias desde tenra idade, eu não sou uma delas, como já se percebeu. 
A certa altura um deles segurou, com o dedinho anelar, um floco que estava a escorregar pelo queixo e eu: ''alto, nem tudo está perdido!'', mas logo a seguir vi-o limpar a boca com a manga da camisola.

P.S Um ano depois mudei, finalmente, o header. Um salva de palmas para o #homemdosmilofícios.