Karaoke

29.12.13
Não sei o que foi. Sei que no exacto momento em que salto o varandim do palco para o corredor, atrás das minhas amigas, todas elas gazelas disfarçadas de gente, pelo vistos, tropeço e quase parto os dentinhos todos contra uma porta. Estive cinco minutos a rir à gargalhada e parei naquele exacto momento em que ia começar a chorar à gargalhada.
Pensei: "tenho de reler O Livro do Riso e do Esquecimento" e fui dançar mais um bocado.

Vidas

27.12.13
Foi muito bom o Natal. Não me lembro da última vez que disse isto, que foi muito bom o Natal, mas a verdade é que foi. Se isso se deve ao estabilizador de humor, ou ao facto de ter sido um Natal diferente de todos os outros, é difícil de saber, mas neste momento não me interessa nada levantar esse tipo de questões.
Por isso, em vez de olhar para todas as contradições desta quadra, para uma certa nostalgia que se entranha involuntariamente, pus-me a ver as coisas a acontecerem.
Vi pedintes e a infelicidade das pessoas que trabalham em lojas no dia 23 de Dezembro, claro, pensei nos sem abrigo naquele temporal, mas também vi os meus filhos felizes. Tão felizes! Vi o meu irmão mais novo e a família dele no computador. Vi a minha mãe chocada por não haver televisão, primeiro, e depois divertir-se com o dominó, o bingo e o jogo dos nomes. Vi toda a gente comer com prazer, apesar de o bacalhau estar insonso (três dias de molho, a mudar três vezes a água) e nem faltou a discussão da praxe sobre o nascimento do filho de Deus feito homem.
Ri-me com o facto de o argumento "é festa, que se lixe" servir para os adultos enfardarem como loucos e as crianças alimentarem-se de chocolates.
Enfim, comi, bebi, dei graças por estarmos todos juntos com saúde e acordei com uma dor de cabeça insuportável.
Agora, o ano está a acabar e eu quero começar outro de forma diferente. Tenho muitas coisas maravilhosas na minha vida, mas não tenho a vida que quero. E a minha vida é para ser vivida por mim.

Mudar a água do bacalhau

22.12.13
Olhem, eu estou bastante sem saber o que dizer. É que tivemos aqui em casa (portanto, no Porto) uma venda de Natal da Oporto Lobers e só sobre isso podia escrever meia dúzia de posts, mas é fácil resumi-los: Viva o Porto! Viva esta maravilhosa gente!
Depois, pela primeira vez na minha vida não vou passar o Natal aqui ou acolá. Este Natal é em minha casa. E no meio de tantas coisas para tratar o que me preocupa é o bacalhau, ou seja, como demolhar o bacalhau. Por causa disso levantei-me hoje às cinco da manhã para pôr as postas do bicho na banheira. Acordei sobressaltada com os conselhos do dia anterior: "se o bacalhau for alto é preciso cinco dias a demolhar". " Eu deixo quatro dias de molho". "Três dias é mais do que suficiente". 
Eu sei que um bom bacalhau faz a diferença, mas, a sério, escusava de andar histérica com o assunto e stressada com o facto de ter de mudar a água do bacalhau. Mas eu tenho um balde preto, enorme, cheio de postas de bacalhau na banheira, quer dizer, não posso fazer de conta que é só mais um jantar, certo?

Aprender

17.12.13
Saí para comprar batatas, cebolas, leite, pão e massa cotovelos na mercearia do Sr. Rui, que tinha, invariavelmente, a televisão ligada na RTP1, onde a Tânia Ribas falava com outras duas moças sobre brinquedos para os mais pequenos.
Enquanto enchia sacos de cebola saloia e batatas de olho de perdiz ouvia conselhos sobre brinquedos didácticos e a importância dos mesmos para o desenvolvimento das crianças.
Felizmente, e porque a apresentadora é mãe de uma criança pequena, não se escusaram a explicar que os tupperweres (taparueres?) e outros utensílios da casa são, a maior parte das vezes, os brinquedos preferidos dos bebés.
Sorri ao lembrar-me que já soube de cor as diferentes etapas de desenvolvimento das crianças e que tipos de estímulos deveriam ter. Como se os estímulos não estivesses para os nossos filhos, como a farinha maisena esteve para nós.
Agora, estou no outro extremo. Quase não leio livros aos meus filhos e a parte mais interessante do fim-de-semana deles é a ida às compras com o pai.
Mas não é por isso que o meu filho de quatro anos deixa de conhecer quase todos os nossos órgãos internos. Sabe onde é o tubo digestivo, o estômago, os intestinos, a bexiga, o coração, os pulmões, etc. Porquê? porque lhe passei para a mão um livro muito bem ilustrado, sobre o corpo humano, que mostra o percurso de uma pêra desde a boca até ao...ânus. Pois, nada como usar uma coisa que lhe interessa (a fase do cocó nunca mais acaba?) para aprender.

A minha mãe

17.12.13
(Na Suiça, com o neto)

A minha mãe ligou-me há uns dias muito feliz a dizer que ia "botar" uns dentes novos.
A minha mãe vive sozinha com a minha avó. Comem, pagam as contas, os medicamentos e juntam dinheiro para o caixão da minha avó com a reforma de ambas (550€). Para botar os tais dentes novos, a minha mãe faz todo o tipo de biscates que lhe aparecem.
Como não tem de cuidar da minha avó durante o tempo em que ela está comigo, pode trabalhar todo o dia, mais de 10 horas por dia. Basicamente a minha mãe está feliz por poder trabalhar, por não ter a "aduna" de cuidar de alguém 24 horas por dia (não que a minha avó precise de tantos cuidados, é mais a minha mãe que não consegue descansar) e por poder viajar até à Suiça para visitar o meu irmão mais novo.
Mas a minha mãe fica feliz por pouco tempo. Há-de continuar fixada no objectivo dos dentes até achar que não faz sentido e decidir trabalhar para montar uma cozinha no andar de cima, ou abrir uma padaria.

A minha avó

15.12.13
diz coisas que não lembram ao diabo (por exemplo: " a escola dos teus meninos tem muitos pretinhos, tadinhos!"), mas também diz coisas que me deixam derretida, como: "vós tendes uma vida mesmo bonita!".

Isto com imagens ficava mais bonito

13.12.13
11% de mim quer fazer o mesmo que estes gajos.
13% quer viver assim.
14% quer ser vagabunda.
13% ter uma vida social e/ou profissional intensa.
49% quer fazer isso tudo ao mesmo tempo.

(baseado neste documentário)

Haverá?

12.12.13
Haverá coisa mais pirosa, mais cheia de gente que perde a noção do que é estar em público, mais complexa, com mais flashes e sorrisos dementes do que uma festa de Natal no pré-escolar? Eu, sinceramente, duvido.


Carta ao Pai Natal

12.12.13
Querido Pai Natal,

Acho que esta é a primeira vez que te escrevo uma carta, por isso, e tendo em conta que te poupei muito trabalho nos últimos anos, espero que possas atender o meu pedido.
Eu quero paz e amor, claro, mas já vi que isso deve ser dos presentes complicados. Traz-me antes uma Porta. Simples, certo?
Prefiro que seja uma porta de madeira pintada de verde, ou num rosa velho, mas vê lá o que podes arranjar, depois eu pinto-a, se for caso disso. O importante é que a porta abra para onde quisermos estar naquele momento. Olha, é uma porta igual à do Castelo Andante. É isso.
Eu portei-me bem este ano, e na grande maioria dos anos da minha vida, portanto fico à espera da porta.

Muito obrigada, desde já, e espero que não seja este ano que tenhas um enfarte, porque com essa barriga está-se mesmo a ver...

Calita

Frase do dia

11.12.13
"Carago, tens louça até no cu do diabo, foda-se!", avó Zira

Grandp. blogs

10.12.13
Digam lá se o mundo não seria muito melhor se tivéssemos tantos blogs destes como baby blogs?

Se calhar é do frio

10.12.13
Estava a ler sobre uma pessoa "silicea" (a sério, não perguntem) e descobri que há uma patologia que faz com que as pessoas tenham a sensação de cabelo na parte anterior da língua. Ora, eu estou bastante familiarizada com a sensação, mas não fazia ideia que era uma coisa comum. A internet é, não só por isso mas também, uma coisa fantástica. 
No entanto, apetece-me culpar a internet por eu já quase não ser capaz de sair de casa. Só a ideia de me vestir convenientemente para ir à rua é semelhante a enfrentar um monstro de sete cabeças. Um dia destes a Bea pediu-me para irmos ao cinema, um programa nosso habitual, e eu inventei qualquer coisa, porque me pareceu tremendamente desconfortável entrar num shopping e ficar duas horas numa sala com pessoas desconhecidas.
Desconfio até que a minha decisão de trazer para aqui a minha avó tenha sido uma forma rebuscada e exigente de me manter em casa. 
Bom, resta-me o consolo de, ao contrário da pessoa silicea, suportar bastante bem bebidas alcoólicas.

Comentários

7.12.13
Este blog não tem só comentários de mau gosto. Aliás, tem mais comentários de muito bom gosto do que o contrário. Os dois que se seguem não me saem da cabeça:

"'Nada é natureza, e, no entanto, tudo é já naturalmente como é.'(Elfriede Jelinek)", Verão80

"Acho que foi o Eça que disse que o ideal é uma casa no campo com uma porta de serviço para o Chiado", Joana Jordão.

Natal, pois claro

7.12.13
E agora é só desenhar presentes e temos o Natal mais económico de todos os tempos.
Agora a sério: Estou farta da crise e não é porque me apeteça comprar coisas, é porque a crise está na moda e estar na moda pode ser muito, muito aborrecido. Seja como for, esta é capaz de ser a nossa árvore mais gira, desde que tenho blog. As anteriores: 20102011 e 2012.
Mas talvez esteja a pôr o carro à  frente dos bois, ou do burro e da vaca, que é mais alegórico, porque este ano teremos não uma, mas duas árvores de Natal, portanto aguardemos.

Luto

6.12.13
Deixei de o ouvir tossir, de ouvir os passos dele a subir as escadas. Eu sabia sempre quando era ele que vinha a subir.
Também já não ouço a motorizada a dar a curva. Mas a motorizada foi a primeira coisa que deixei de ouvir. Demorei muito tempo a convencer-me que já não era ele que a conduzia, depois de ter sido vendida, mas finalmente comecei a ouvir outra motorizada.
Os passos e a tosse continuei a ouvir durante muitos anos. Quando não ouvia bastava lembrar-me e o som aparecia. Agora não. Passaram 27 anos, mas o meu pai acabou de morrer.

Somos o que somos

3.12.13
Este blog podia irradiar glamour, a sério, eu tenho a matéria prima, e alguma imaginação, vá, para isso. Eu podia vir para aqui mostrar-vos como se pode ser CEO de uma empresa em crescimento, mãe de três filhos e fazer voluntariado.
Diria que nem sempre é fácil, mas enfatizaria as conquistas e deixaria implícita a minha tremenda capacidade de trabalho, aliada a um talento nato. Depois, mostrava fotos bem tiradas, com os meninos vestidos de camisa (eles vestiram uma vez e ficavam bem giros com aquilo). E seria tudo, ou quase tudo, mentira.
Sim, eu sou sócia gerente de uma empresa, tenho três filhos e estou a cuidar da minha avó durante um mês, por livre e espontânea vontade, mas tenho muitas dificuldades para sair da cama de manhã, passo mais tempo na cozinha e a tratar da roupa, do que em reuniões, ou a dar entrevistas e estou aqui em frente ao computador com ar de sem abrigo.
Eu sou como a minha avó na igreja de S. Roque, no domingo passado, a meio de um concerto de música clássica. Enquanto a orquestra tocava a Cantata nº 73, Herr, wie du willt, so schick's mit mir, de Bach, a minha avó surda vira-se para mim: "Achas que falta muito? Eu tenho de ir mijar".

Perguntas que eu gostava mesmo de saber a resposta

2.12.13
Dizem-me muitas vezes que tenho um gajo espectacular. Amigos e familiares, a minha mãe incluída, gabam-me a sorte por o ter como companheiro. Completamente de acordo, mas não percebo porque é que o contrário nunca acontece. O mais parecido com um elogio de que tenho conhecimento foi terem dito ao Jaime que eu devia ser uma pessoa muito saudável para ter tido dois filhos depois dos 35 anos, sem complicações de qualquer espécie.
Portanto, das três hipóteses seguintes qual é que estará certa?
a) ele é mesmo espectacular e eu não;
b) eu sou igualmente espectacular, mas isso já toda a gente sabe, logo não há necessidade de se estar a falar do óbvio;
c) elogiar o macho é uma forma de elogiar a fêmea que coabita com ele;
d) outros motivos.

Envelhecer é uma merda ponto final.

29.11.13
É bem capaz de ser verdade essa treta dos 40 anos serem os novos 30. Começo a sentir-me, finalmente, um bocado crescida e, apesar de a coisa não me parecer tão má como estava à espera, não há dúvida que é uma seca.
Acontece, no entanto, que a malta envelhece. É do caralho, mas é verdade. A minha avó está aqui que não me deixa mentir. Logo, mais vale tentar aprender a envelhecer, digo eu. 
Por isso seria espectacular que nos ensinassem como se faz. Há tanta, tanta, tanta, tanta, tanta gente que consegue explicar em 10 pontos, ou menos, toda a verdade sobre a maternidade/paternidade (apesar de os pais não serem, a maior parte das vezes, nem tido nem achados nestas coisas), sobre ser bem sucedida(o), ou até sobre a felicidade, porque raio não estou eu cansada de ler sobre envelhecer com serenidade? É que ainda por cima, nem todas(os) somos mães/pais, nem todas(os) somos bem sucedidas(os), nem todas(os) somos felizes - parece que até há algumas pessoas que são isto tudo ao mesmo tempo, mas vivem um bocado longe, tipo, noutro sistema solar, por isso não são para aqui chamadas. Mas, não havendo nenhum acidente de percurso, é certo e sabido que toda a gente envelhece.
Por exemplo, eu sou gaja para explicar num instante como lidar com a maternidade, como ser bem sucedida e como ser feliz:
Maternidade = a ser atropelada por um camião. Podemos ter a sorte de não partir muitos ossos e conseguirmo-nos levantar num instante, ou ficar com demasiadas fracturas, mas é tudo uma questão de recuperar e ter muitas gente à volta a quem recorrer.
Sucesso =  a equilíbrio. Quanto mais conseguirmos gerir as expectativas com a realidade melhor sucedidas seremos.
Felicidade = a vivermos bem com aquilo que somos.
E a velhice? Sobre isso não sei nada, porque ninguém me conta nada, nem mesmo a minha avó. É um mistério.
Do que posso averiguar, uma coisa é vivermos bem com o facto de sermos mais dotadas para lavar loiça do que escrever livros, outra coisa é aprender a viver com o facto de não sermos capazes de ouvir, andar sozinhos, ou mijar numa sanita.
Envelhecer é uma merda, foda-se (ter filhos também implica muita merda, pelos menos nos primeiros dois anos de vida), mas eu quero morrer velha. E quero ter filhos. Espera, filhos já tenho. Só me falta morrer velha, portanto. 

A casa

28.11.13
Quando numa manhã fria de domingo eu desço até ao jardim para cortar a relva, enquanto o Jaime fica dentro de casa a organizar as coisas para os hóspedes que hão-de chegar, dou por mim a confirmar o que há muito adivinhava: a casa, enquanto objecto concreto, não é o meu espaço primordial.
É claro que também eu quero uma porta para fechar ao fim do dia, ter lençóis lavados para pôr na cama, embrulhar-me num cobertor a ouvir a chuva lá fora, sentar-me à mesa com um prato de carne de porco à alentejana e um copo de vinho, sobretudo quando tudo isto vem com o valor acrescentado de braços abertos a correr na minha direcção quando entro em casa, de partes de mim para aconchegar dentro dos lençóis e conversas para acompanhar a refeição.
Mas o meu espaço primordial fica a caminho de algum sítio e a minha casa naqueles braços e corpos que são partes de mim.

Velhos

27.11.13
Pelo que tenho visto, tratar de velhos é muito parecido com tratar de crianças, exceptuando alguns detalhes:
1. O vocabulário é mais estranho, usam verbos como bulir e assapar;
2. Os potes de xixi não são tão fofos como os dos bebés;
3. Vêm mais televisão do que as crianças e uns decibéis bem mais acima;
4. É mais difícil convencê-los a tomar banho;
5. São mais obcecados por comida do que os bebés quando são amamentados.

A sério?

26.11.13
Primeiro tentamos resolver a questão da filha mais velha ter uma consulta médica no mesmo dia (depois de termos acordado que esta era uma daquelas razões que exigiam pagar a uma babysitter para ir buscar os miúdos à escola), mas como a única alternativa era ela ir sozinha, ou desmarcar, percebi que não podíamos ir os dois ao Porto. Entretanto, a minha avó veio viver aqui para casa durante um mês, o que inviabilizou completamente a minha presença no debate. Faz parte. Noutros tempos acho que teria ficado furiosa com a situação. Agora, quase me apetece rir, tipo, a sério? Isto está mesmo a acontecer? Ok, continuem a pôr-me à prova, então, eu já vos mostro do que sou feita.
(Se estiverem pelo Porto e com tempo façam o favor de ir lá apoiar o Jaime. Ele será o rapaz de olhos azuis com ar tímido ou arrogante (depende da perspectiva)

Extra, extra

25.11.13
Provavelmente isto só é uma cacha para mim, mas acabei de descobrir que não são só os avós que usam os netos para compensarem aquilo que não vivenciaram com os filhos. Acho que hoje dei mais mimos e beijos à minha avó do que alguma vez dei à minha mãe.

Avós e netos

25.11.13
Pronto, para isto ficar muito mais divertido trouxe a minha avó, que tem dificuldade em movimentar-se, aqui para casa. É como ter mais uma filha, que quer que os gatos morram e tenta acertar nos mais novos com as muletas.
Se ao menos não tivesse de levar com o "Bom dia Portugal"...
(os brinquedos dos velhos são é um bocadinho diferentes)

E depois do incêndio

21.11.13
Ia para o campo. Tinha uma casa com alpendre, com móveis recuperados e improvisados. Os rapazes corriam livres e, aposto o que quiserem, nus todos os dias. Iam buscar ovos à capoeira e atiravam pedras às cabras, ou talvez atirassem os ovos, era para o que lhes desse. A rapariga dançava no alpendre e escrevia peças de teatro. Vinha uma camioneta buscá-la para a levar à escola, ou talvez fosse de burro. Nós os dois abraçados e felizes na rede pendurada no alpendre, ou a beber um copo de vinho à lareira, com os pequenos já aconchegados.
E depois eu haveria de dizer algures que aquilo não era vida. Que a casa estava sempre cheia de lama, que estava farta de pisar merda de galinha, que já não aguento cozinhar nem mais uma abóbora e que preciso da cidade para ser feliz.

Perguntas que eu gostava mesmo de saber a resposta

19.11.13
E se eu enchesse uma mala com três mudas de roupa para cada um de nós, pegasse nos gatos, saísse de casa, pegasse fogo a tudo o resto (zelando para que não ardesse nada além do conteúdo da casa) e fosse começar de novo noutro sítio?

Morre gente todos os dias, mas nem todos os dias se escreve* sobre isso

18.11.13
A Doris Lessing morreu. Eu só li este livro dela, mas foi o suficiente para ficar absolutamente intrigada com a pessoa que o escreveu.
Eu tenho muita dificuldade em separar o artista da arte.
Acho que há formas de arte em que é possível esta ser uma coisa diferente do artista, mas não me parece que seja o caso da literatura (a literatura ainda é uma arte, certo? É que posso estar enganada, sei lá, as coisas mudam).
Quando soube que a Doris Lessing, Nobel da Literatura em 2007, tinha três filhos, dois do primeiro casamento, que ficaram a viver com o pai depois do divórcio, e um do segundo que ficou com ela, ainda mais intrigada fiquei, mas a maior parte das vezes nada disto é assim tão intrigante, é até bastante simples: "Pensei que não era a melhor pessoa para os educar. Teria acabado como alcoólica ou intelectual frustrada, como a minha mãe", disse a escritora numa entrevista.
Eu também não quero acabar como a minha mãe (que não é alcoólica, nem intelectual), mas que dou por mim a seguir-lhe as pisadas, dou: 

                                                   Da
                                              Tra
                                        Frus

Outra coisa muito intrigante é o facto de eu ter vindo aqui escrever sobre a urgência que me consome e que vi retratada no livro do Javier Marías que estou a ler ("Vi esta mesma impaciência ou falta de compreensão do decurso do tempo em algumas mulheres, raramente em varões, que parecem contar mais com o futuro e até saber alguns que existe somente para ser passado"**) e acabar, ou, neste caso, começar, por falar da Doris Lessing. 
Também se pode dar o caso de ter aproveitado o post para falar de dois escritores e, mais uma vez, dar a entender que sou mais ou menos culta. 

*Mudei o verbo pensar para o escrever, porque, infelizmente, penso todos os dias na morte.
**É capaz de ser de mim, mas a tradução do livro parece deixar muito a desejar.

Pescada de rabo na boca

18.11.13
Somos assumidamente uma família à procura de uma alternativa a esta existência um bocado decadente que consiste em se passar demasiadas horas a fazer coisas que não se gosta para "viver". Dizia eu aqui em casa, visivelmente inspirada no filme que passava na televisão, que devíamos começar a luta contra o império do capitalismo. A minha filha disse-me que se eu lhe arranjasse um sabre de luz que podia contar com ela nessa luta. Não sei quando custa um sabre de luz, mas o dinheiro existe para isso mesmo, para ser bem gasto.

Évora

17.11.13






Estou bastante familiarizada com a sensação que ela tão bem retrata - "o quanto me sinto viva quando em movimento" e pude voltar a comprová-lo, ontem, quando fomos passear a Évora, apesar de, uma vez lá, ter passado o tempo todo a fazer chiiiiiiiiiiiiu nos museus e nas igrejas e quase ter tido um chelique quando o Isaac despejou metade de uma cerveja pela cabeça abaixo. Optei por me rir e foi a melhor coisa a fazer.
Não é sempre fácil fazer estas coisas com eles, mas é sempre melhor do que ficar em casa

Devo andar a fazer alguma coisa muito bem feita, ou muito mal feita

15.11.13
Três dias depois uma pessoa chega a casa e quem parece ter sentido mais a minha falta foram os gatos. Bom, a Beatriz disse qualquer coisa sobre eu não pensar em repetir a brincadeira e o Isaac acordou a meio da noite para me dizer que eu era uma princesa, mas tirando isso a minha ausência parece ter passado despercebida. Ainda bem, pensei eu, depois de um breve momento "ingratos de merda".

Escrita automática*

14.11.13
Eu acho que se calhar o príncipe Guilherme é um gajo não tão desengraçado como parece nas fotos mas, quer dizer, ele é príncipe, se ele não tem como parecer engraçado, até porque nem tem má figura, o que será de nós, a plebe? E seremos mesmo, nós, a plebe? Ainda agora saíram daqui de casa umas quantas gajas maravilhosas, que não têm títulos reais (bem, na verdade, uma delas é casada com um gajo desses da nobreza sem trono, por enquanto), e ao almoço tive oportunidade de passar um bom bocado com gente igualmente do melhor, atenção, do melhor, o que me faz pensar que nós, essa gentalha de merda, que supostamente andou a gastar mais do que devia, por precisamente não passar de gentalha, somos muito mais espectaculares do que vocês, ó pessoas que não precisam de trabalhar**, porque alguém trabalhou/trabalha por vocês. Nós somos espectaculares e vocês são uma merda, ok? Pronto, ainda bem que nos entendemos. Vou dormir.

*É uma escrita automática falsa, porque parei uma ou outra vez.
**Este é um conceito complicado, porque há quem não precise de trabalhar, uma vez que tem dinheiro/rendimentos para se sustentar; e quem precise de muito pouco dinheiro (que vai arranjando como pode) para viver.

No Porto

12.11.13
acontece-me gostar de fazer compras.


Este blog é uma sanita

12.11.13
Queridas pessoas que passam por aqui, e que são muitas mais do que alguma vez poderia imaginar, tenho uma terrível notícia para vos dar: este blog, tirando algumas pessoas que me permitiu conhecer pessoalmente e uma ou outra experiência que me permitiu vivenciar, não serve para nada. E isso é o melhor que se pode esperar de alguém, ou de alguma coisa. Não tem utilidade prática. Só serve para me aliviar, tipo uma sanita, e as sanitas são uma cena recente, acreditem, ou não. Ou seja, o acto de me aliviar teria de existir com ou sem blog.
Eu nem sequer preciso do blog para me lembrar de momentos marcantes (mentira, já o usei precisamente para isso, mas agora não interessa), quando tenho o Isaac a perguntar-me várias vezes. "Lembras-te daquele jardim com muitos caminhos e estátuas? Ou, "lembras-te quando me contaste aquela história?" Ou, "lembras-te quando fomos de comboio para a casa do Porto"...

(Agora reparo que falta uma espécie de conclusão, mas não tenho, desculpem.)

O sinal

11.11.13
Nunca dei grande importância ao meu sinal. Eu achava que tinha tantos "defeitos" que o sinal era a última das minhas preocupações.
Houve uma dermatologista e uma esteticista que comentaram o sinal como fonte de preocupação, mas a primeira descansou-me depois de se pôr a esfregá-lo, mirá-lo de perto e fazer-me responder a umas quantas perguntas.
Também tinha, tenho, um amigo da faculdade que gostava de fazer a piada: "tens qualquer coisa na testa" e mais tarde outros amigos talentosos que me fizeram uma fotonovela inacreditável, onde o meu sinal assumiu algum destaque, mas, apesar de agora que disse isto tudo me parecer ridículo reforçar a ideia de que nunca lhe dei grande importância, a verdade é que o meu sinal era só um sinal um bocado maior do que todos os outros que tenho (e tenho muitos).
Só que tudo mudou quando vi a Greta Gerwig no Frances Ha. Eu sei que é muito triste uma pessoa valorizar o que quer que seja só porque está no cinema, mas vocês estão fartíssimas(os) de saber que eu, além de infantil, sou uma actriz/artista frustrada.

Sobra-me tempo

10.11.13
O meu bisavó materno chamava-se Ananias Ferreira e o pai dele José Basílio. Gostava tanto de saber mais sobre eles que dou por mim a procurar registos no GeneAll e afins. Sim, além do silêncio que me rodeia sobra-me tanto tempo!

A liberdade é sobrevalorizada #2

10.11.13
Eles estão a caminho de Lisboa. Eu estou no Porto sozinha. Pensei que ia ouvir trombetas e cânticos de aleluia. Pensei que ia sair de casa a correr, com os cabelos soltos ao vento e de braços abertos para receber a querida liberdade. Pensei que ia fechar os olhos e sorrir como aquelas gajas que comem iogurtes não sei de quê na televisão.
E afinal, estou para aqui feita parva a olhar à minha volta e achar isto um bocado estranho.

Café

6.11.13
Apesar de já não me sentir sempre um cagalhoto a boiar no mar, sem forças para me mexer, ainda tenho dias maus, dias quase insuportáveis. Normal. Ter dias bons e dias maus faz parte.
Importa é reagir, por isso decidi que hoje não ficava em casa. Vim para o café que fica mais perto e que tem wireless. É um café minúsculo onde se serve aguardente às 10h00 da manhã. As mulheres que entram aqui são as que vêm tomar o pequeno almoço antes de ir trabalhar, ou levar os filhos à escola. De resto são só homens.
Deve haver outros cafés por perto com acesso à internet e "melhores" fregueses, mas eu, por qualquer razão que desconheço, escolho sempre estes. Por exemplo, quando me apetece um café, escolho os sítios que servem Delta. Há dois, um com muito bom aspecto e cheio de gente bem vestida e que aparece na televisão e o outro é um corredor cheio de gente com ar infeliz e poucos dentes. Onde é que vou tomar café? ao corredor, claro.

Obrigada, Helena*

4.11.13
"(...)Parece-me que se continua a confundir "não bater" com "não educar".
A minha teoria é: bater é fácil - o que é difícil é educar realmente, porque educar exige mais inteligência, mais autoridade e mais energia. Penso que bater é o contrário de educar. Volta e meia acontece, mas é bom que se perceba que é um descarrilamento do adulto, e não um método educacional.
Gostava que ficasse claro de uma vez por todas: "não bater" não é sinónimo de "não educar", ou de ausência de autoridade e referências.
Conhecem os filmes do Jimmy Kimmel, "i ate your halloween candy"?
Sugiro um passatempo: vejam os dois filmes, e imaginem de que modo é que cada uma daquelas crianças estão a ser educadas.
Gosto especialmente das últimas crianças do segundo filme: https://www.youtube.com/watch?v=WOlpdd7y8MI
Aqui está a gravação de toda a conversa da última das miúdas do filme:
https://www.youtube.com/watch?v=9gPktcV0A-g
Tem 3 anos. A idade em que, segundo o João, eles não percebem o suficiente e por isso precisam de levar uma palmada pedagógica.
Pois eu aposto com quem quiser que aquela miúda nunca levou uma palmada. E é justamente porque a mãe faz questão de a educar, em vez de a domesticar à palmada, que ela responde assim: dizendo como se sente, e fazendo sugestões para que de futuro a mãe não repita esse erro."

*Comentário da Helena Araújo a este post.

P.S Os meus filhos não levam palmadas (quer dizer, já me escapou uma ou duas, depois de uma daquelas coisas inaceitáveis que eles às vezes fazem) e não são tão compreensivos como a deliciosa menina do segundo filme, mas isso não me impede de continuar a acreditar piamente que as palmadas não levam a lado nenhum.

Segunda-feira

4.11.13
Depois de um fim-de-semana em grande, com a família reunida finalmente, começar a segunda-feira num sítio que se chama "Centro de Saúde Mental Infantil de Lisboa" é impactante.

Colher

31.10.13
O Jaime chega amanhã (ler isto como quem ri a olhar para o sol). Vamos lá ver a lista:

- terminar 20 sacos Ó Bai-me à loja - check 
- arrumar de uma vez por todas as roupas - check
- vender as fraldas reutilizáveis para pagar um anúncio no Homelidays - check
- enviar uns press releases - em execução 
- fazer a depilação - check

(reparo que a minha vida, vista assim, parece bastante ridícula. Devia ir colher flores. Devia ia colher qualquer coisas, só porque gosto do verbo colher)

A relatividade da idade

30.10.13
Tinha acabado de fazer os meus ritos tibetanos, no jardim da Estrela, quando se aproximou de mim uma senhora para me perguntar que exercício era aquele de levantar o corpo e para que servia. Eu dei uma explicação tosca qualquer, que não fez nenhuma diferença, porque a senhora começou imediatamente a contar a vida dela toda e a seguir a de uma jovem de 44 anos que foi ao programa da Fátima Lopes. Dizia ela: "Eu digo jovem, porque ao pé de mim, que tenho 73, era uma jovem, para si já é uma velha, ou quase". Ri-me e não lhe disse quantos anos tinha.

Casos do dia

29.10.13
Raramente comento aquilo que em jornalismo se chama casos do dia por duas razões:
1- os actuais casos do dia metem-me nojo;
2- alimento os meus dias, para o bem e para o mal, com os meus próprios casos do dia.
No entanto, não posso deixar de questionar o que poderiam usar contra mim os meus ex. qualquer coisa.

Quimera

29.10.13
Falta-me sempre qualquer coisa. Ao longo de toda a minha vida tem sido assim. À medida que vou crescendo essa qualquer coisa parece que vai diminuindo, mas nunca desaparece. Tenho tido momentos de plenitude, naturalmente, mas nunca alcancei esse sítio vasto de satisfação. 
Posso continuar à procura, acho que não tenho outra hipótese, aliás, mas esta dor no ombro do lado direito incomoda-me. 
Não se consegue alcançar verdades com dores nas articulações.

A boa notícia

28.10.13
A máquina de lavar loiça tinha de entupir agora, claro. O Nicolau tinha de se enfaixar contra uma parede e ficar com um belo arranhão na cara, para logo a seguir prender a mão num elevador, claro. A cobertura nova do sofá, feita com tanto esmero, tinha de levar com vomitado dos gatos, claro. Isto tudo no fim-de-semana. A boa notícia é que se confirma que não estou grávida.

Enquanto não crio e mato os meus animais

27.10.13
Como raramente frequento hipermercados desconhecia esta marca, que encontrei por acaso no Continente Ice de Campo de Ourique. Fiquei mesmo contente por poder comprar carne com origem numa produção integrada, ou seja, uma produção que tem em conta o bem estar animal e pratica uma agricultura sustentável. Também vendem carne biológica, mas se eu tiver a garantia de que os animais são de produção em extensivo, não consomem OGMs e tomam antibióticos quando não há outra hipótese já fico satisfeita. Depois, é reduzir o consumo de carne o mais possível e ganhamos todos.
O problema foi eles terem visto esta foto e estarem a pedir-me para comer hambúrgueres às 8h00 da manhã.

P.S só para esclarecer ninguém me ofereceu este produto, ou pagou para eu escrever sobre isto.

O meu momento "I see dead people"

26.10.13
Saímos do eléctrico e o Isaac perguntou porque é que o senhor de mochila azul lhe tinha feito cócegas e eu respondei que foi porque lhe achou piada. Depois lembrei-me que não tinha visto senhor nenhum a passar por nós e que fomos os únicos a sair naquela paragem e perguntei de que senhor estava ele a falar. "Daquele ali à frente, no passeio, não estás a ver?", respondeu-me. Não, não estava a ver, porque não estava lá ninguém. "Onde, onde?", insisti e ele começou a ficar nervoso a achar que estava a gozar com ele. "Ali, ali, agora já virou, não viste?". Decidi mentir e dizer que tinha visto, claro, e que o senhor o achou engraçado e meteu-se com ele.

Quando se gosta de complicar

24.10.13
A sala, onde estou agora, fede a vinagre, porque o Isaac despejou-o no chão sem que eu desse por isso (hoje comemos peixe cozido. Já só faltam sete jantares até o Jaime chegar). Ou melhor, eu vi-o pegar na garrafa, mas há momentos em que é melhor fazer de conta que não vemos, principalmente quando estamos a ter uma conversa com uma adolescente.
Entretanto, o Nicolau achou que estava na hora de sair da cama e fez o habitual canto de despertar: ACORDEI, ACORDEI, JÁ ACORDEI. Eu lá fui tentar convencê-lo que estava equivocado nas horas, mas não foi fácil.
Depois, além das confusões normais, dou por mim a olhar para esta casa como um depósito de merda. Há fraldas com merda no caixote do lixo e há um caixote de areia com merda de gatos.
Mas sabem que mais? nada disto tem a ver com o facto de ter filhos (ou gatos, já agora).
Eu já dividi casa com muita gente, primeiro a minha família, depois uma amiga e mais duas estranhas, depois essa mesma amiga e mais oito estranhas (demasiado estranhas), depois o meu namorado e mais três gajos. Ou seja, eu gosto muito de complicar.
Portanto, o que eu tenho agora, com a merda toda associada, é o que eu sou. Os filhos, este milagre da natureza, são uma natural extensão de mim. Eles não fizeram de mim melhor pessoa, não me fizeram crescer, não me transformaram, apesar deste amor que, sendo novo, não me é estranho. É como se eu soubesse desde sempre que é assim que se amam os filhos. Ou que é assim que se ama, ponto.
E, porque eu sou o que sou, apetece-me muitas vezes sair daqui, apenas porque me aborreço facilmente. Mas, que ninguém tenha dúvidas, este é o melhor sítio do mundo para se estar, quando se gosta de complicar.

Uma TPM muito desejado

23.10.13
O sono, tanto sono outra vez, o mau humor, do tipo cão raivoso, umas indisposições assim do nada e as mamas doridas puseram-me a olhar para o calendário, a puxar pela cabeça, a fazer contas, a avaliar impossibilidades, a skypar perguntas e a pensar "será possível estar grávida?".
Ora bem, não me parece, mas neste contexto não tive como evitar imaginar-me com mais um filho (sim, passei a gravidez à frente num instante) e, apesar da coisa me aparecer em imagens instagramadas, ou seja tudo em bonito, só consegui exclamar um "foda-se, era só o que me faltava um filho aos 40 anos".
Acredito nas vantagens de ser mãe mais tarde, sobretudo, porque a maturidade ajuda, de certa forma, uma pessoa a levantar-se mais rapidamente do trambolhão de uma montanha que é gerar, parir e criar um filho no primeiro ano de vida, mas por outro lado a energia dos vintes/trintas podem fazer muita diferença.
Seja como for, acho que nunca saberei responder qual a idade ideal para se ter filhos. Sabemos que há uma idade "natural", porque a nossa natureza assim o impõe, mas a ideal depende de caso para caso.
Mas estou a desviar-me do que interessa: eu com mais um filho. A sério, parece-me tão disparatado que nem sei o que dizer, e depois não há instagram que me ponha a ver mais uma gravidez em bonito.
E não é a ideia de mais um filho que me perturba, é a ideia de outro bebé. Os bebés são as coisas mais lindas do mundo e as mais, mais...cansativas. Nada que uma ama, uma cozinheira e uma empregada não resolvessem, claro, mas se eu estivesse na casa dos Crawley seria uma das criada e não uma das aristocratas. Por falar nisso, a minha filha mandou-me um e-mail a dizer que noutra vida foi uma nobre francesa que conquistou o coração do pai, apesar de ter mais duas irmãs e um irmão. Lembro-me tão bem de na idade dela andar atrás das minhas origens nas vidas passadas, só que sem computador, internet e essas coisas.
Voltando aos bebés, não seria a primeira vez que confundo uma TPM com gravidez, com a diferença de que esta é uma TPM muito desejada.

As botas e a bata

21.10.13
Ontem, o Isaac calçou as botas que eram do primo da Suiça (que são uns três números acima do que ele calça) e como não houve maneira de o fazer descalça-las, nem me pareceu pertinente que o fizesse, fomos assim para a rua. Aparentemente ninguém achou estranho.
Hoje, saímos de casa e ele quis levar a bata, cheia de nódoas de tinta e por passar a ferro, vestida e toda a gente que passou por nós mirou-nos de alto a baixo.
Das duas uma, ou eu tenho problemas com batas encurrilhadas e projectei-os nos outros, ou a malta que sai de casa ao domingo é muito mais fixe do que a que sai à segunda-feira.

A culpa é da televisão

19.10.13
Quando a Bea tinha a idade do Isaac viu o Monstros e Companhia vezes sem conta. Hoje procurei-o no vídeoclube e aluguei-o - tão bom, este filme! - e depois achei que a Boo me fazia lembrar alguém...

A culpa é do computador

19.10.13
A Bea foi passar o fim-de-semana com o pai e eu acordei disposta a ter um dia simpático com os meninos. Eles quiseram vir tomar banho comigo e por isso não podia ter começado de melhor forma, com mãozinhas pequeninas a massajar-me as costas, eles a rirem às gargalhadas por estarmos a tomar banho no rio Douro...depois foi a vez de torradas e sumo de laranja natural. Pareceu-me possível ignorar o vomitado dos gatos, os comboios, as peças de puzzle, os legos, os sapatos, as embalagens que não foram para o caixote amarelo, etc. etc., mas depois vim ao computador e vi que ainda só eram 10h30 e fiquei um bocado preocupada.

Uma senhora de chinelos

18.10.13
E aqui está a prova em como me tornei uma verdadeira hôtesse. Ah, para quem perguntou, nesta reportagem da Visão não saiu nenhuma entrevista nossa. Apenas fizeram referência a alguns dos nossos produtos. Mas na fotografia eu pareço uma senhora, olhem para mim.

Bien sûr

18.10.13
Durante as três semanas e tal em que o Jaime estará fora decidi que, para além dos afazeres habituais, tinha de:

- terminar 20 sacos Ó Bai-me à loja
- arrumar de uma vez por todas as roupas
- vender as fraldas reutilizáveis para pagar um anúncio no Homelidays
- enviar uns press releases
- fazer a depilação

Passou uma semana e o que é que eu posso riscar da lista? Nada, pois claro. Mas vamos receber os primeiros hóspedes na Guest House. Yupiiiiiiiiiii! São franceses.

A liberdade é sobrevalorizada

17.10.13
"Os meus ouvidos ouvem o que os outros não conseguem ouvir. Vejo pequenos e longínquas coisas que as pessoas normalmente não vêem.
Estes sentidos são o resultado da ânsia de uma vida inteira. Ânsia de ser salva. Ânsia de me sentir realizada. Tal como a saia que precisa de vento para esvoaçar.
Não sou formada por coisas que sejam só minhas. Uso o cinto do meu pai a prender a blusa da minha mãe e os sapatos que são do meu tio. Isto sou eu.
Tal como uma flor não escolhe a sua cor, não somos responsáveis pelo que vimos a ser. Só depois de percebermos isto nos tornamos livres. E tornarmo-nos adultos é tornarmo-nos livres."
Do Stoker.

Ironias

16.10.13
Então, desta vez fomos atendidos pelo universo e os meninos não ficaram doentes mal o pai se pôs a milhas, mas como o universo é assim, como dizê-lo, engraçado, ficamos nós, ambos os dois, doentes. Ele do outro lado do mundo e eu neste a sofrer do mesmo.

Ruivos

15.10.13
Pedi ruivos, porque não como ruivos sei lá há quantos anos (os peixes, refiro-me aos peixes, calma) e a senhora abanou discretamente a cabeça, tipo, não leve isso. Não trouxe, com muita pena minha, pois lembro-me que ruivos com batatas cozidas era um dos meus pratos favoritos em criança. É, pode-se dizer que eu era uma criança um bocado estranha.
Depois fui em busca dos outros itens da lista: umas sapatilhas para um ("eu já não te disse que tenho de levar as sapatilha num saco de pano, mamã); uma bata para outro; uma capa de micas ("de capa preta, não te esqueças") para outra e a pensar que tinha tanto onde gastar o meu tempo e o meu talento em vez de carregar itens de um bocado de papel rasgado de um caderno pautado e soprar para o cabelo que teima em cair à frente dos olhos apesar dos 37 ganchos que lhe ponho.
Ou não. Se calhar, isto é tudo o que importa agora e amanhã, amanhã, talvez possa voar.

Refeições

13.10.13
Já se sabe que manter a casa arrumada (sendo que o arrumada varia muito de pessoa para pessoa), e uma certa ordem nas coisas, ajuda, sobremaneira, a gerir as diversas complicações do dia a dia, mas eu prefiro usar as refeições para isso, para manter a tal ordem.
Nesta casa muitas merdas funcionam mal, mas aqui come-se a horas e dorme-se a horas (sendo que comer e dormir a horas depende de pessoa para pessoa). O jantar costuma ser pelas 19h00; o mais novo vai dormir às 19h30, o do meio às 20h30 e a mais velha às 22h00. E, acreditem, poucas coisas me deprimem tanto como estes horários. 
Mas, lá está, temos de arranjar estratégias para os miúdos terem uma rotina que lhes dê segurança e nos dê espaço para beber uns copos de vinho respirar. 
Por isso, no meio do caos que pode ser estar em casa com três crianças, e é um caos a maior parte do tempo, temos aquele espaço à mesa em que toda a gente está feliz (mesmo que seja quase a cair da cadeira, ou a depositar alface na caneca da água, ou a partir copos), e é por isso que me dá um prazer inexplicável cozinhar em algumas ocasiões. Sobretudo quando os vejo deliciados com as almôndegas e batatas fritas caseiras, ou os filetes de pescada com arroz de ervilhas. 
Eu vou ser uma dessas velhas que está sempre a pensar no que vai ser o almoço e o jantar, como a minha avó, não vou?

Não ser mãe

10.10.13
A questão é que às vezes não me apetece ser mãe, como não me apetece muitas outras coisas, e isso, além de desconcertante, é um grande problema, porque eu simplesmente não posso não ser mãe.

Os insondáveis mistérios da vida

10.10.13
Com a premissa de que o ser humano se adapta a qualquer situação, penso frequentemente se seria capaz de viver em circunstâncias desumanas e se é suposto prepararmos os nossos filhos para o pior (às vezes parece que é). Penso no Zé Francisco, na Manuela e no Ludgero, na Irma Lópes Aurélio e nos 300 migrantes que morreram à procura de uma vida melhor. Penso nos caminhos, no milhares de cruzamentos, que terão trazido todas estas pessoas até aqui. Estas e não outras.
A sério, tenho de deixar de tentar perceber os insondáveis mistérios da vida.

P.S O Jaime lá foi e desta vez demora-se mais no outro lado do mundo. Também nunca vou perceber porque nos custa tanto estar afastados, quando até deviam saber bem umas férias um do outro.

Sonhar melhor

9.10.13
Isto de se viver com um humor mais estável é melhor em muitos aspectos, mas os meus sonhos, ai os meus sonhos, são tão seca! Eu fazia coisas tão incríveis a sonhar e agora fico aliviada porque, afinal, o do meio levou as calças de fato de treino no dia certo para a escola. Ou, vou visitar a minha amiga Inês e passo o sonho a vê-la atarefada na redacção e a dizer-me o que ainda lhe falta fazer. A sério??? estes dois temas, só para dar alguns exemplos, noutros tempos dariam sonhos muito mais espectaculares.  No mínimo eu estaria a vestir as calças de fato de treino ao Isaac para irmos visitar o gajo que faz de pai da Judie Foster no Contacto e com a Inês, se fosse para estar a vê-la trabalhar, estaria na Estónia, ou numa peça de teatro qualquer.
Enfim, seja como for, não me parece sensato deixar de tomar comprimidos para sonhar melhor. E daí...

Concurso

9.10.13



Pois bem, servem estas fotos para participar no concurso "Com a vaca que ri sabe bem regressar às aulas".
E porque é que quiseste participar nesse concurso, Calita? - perguntam vocês. Pois bem, eu explico: Porque o prémio para as receitas mais criativas é um vale de 100€ disponível para compras nos postos de venda Sonae e, como deverão compreender, 100€ num hipermercado é de se aproveitar quando se tem uma família com cinco bocas a comer (também pode ser que os gaste em vinho, mas se for esse o caso eu assumo).
Depois, os queijos da vaca que ri já são presença habitual cá em casa, por isso, empratá-los numa receita original não vem daí mal ao mundo.
Como a ideia era criar um lanche nutritivo, saboroso e divertido eu escolhi os ingredientes que
1) tinha em casa
2) que sei que eles apreciam
Ou seja:

2 queijos da vaca que ri
2 tomate cereja
1/4 cenoura
nozes q.b.

Comecei por cortar metade de uma cenoura em palitos e depois fazer dois cortes (em cruz) na base dos tomates cereja. Coloquei os tomates cereja no topo do triângulo do queijo da vaca que ri e os palitos de cenoura a fazer de braços e pernas, conforme as imagens, e espalhei algumas nozes.
Depois é só servir.
Como perdi demasiado tempo a tirar fotografias, um dos bonecos acabou decapitado, mas isso só serviu para tornar o lanche ainda mais divertido.

Agenda

8.10.13
A vantagem de falar com pessoas, em oposição a falar sozinha, é sermos confrontadas com coisas que nunca nos tinham passado pela cabeça.
Pôr na agenda: estar mais vezes com pessoas. Antes disso, comprar a agenda.

Pais&Filhos

4.10.13
Os meus filhos são lindos, a sério, são mesmo lindos, tão lindos como os vossos. A diferença é eu não ser como vocês, linda e espectacular.
Quando eles se põe a guinchar, quando se recusam a tomar banho, a ir dormir, a comer e por aí  fora, NUNCA me apetece mostrar-lhes quem manda (toda a gente sabe quem é, certo?). In extremis apetece-me é sentar a um canto a chorar. Sofro de um terrível défice de autoritarismo e ainda bem, porque não faria sentido ter andado este tempo todo a odiar pessoas autoritárias para me tornar uma delas.
E antes que venham para aqui dizer coitadinhas das crianças que vivem sem saber quais são os limites e vão ser umas desgraçadas no futuro, deixem-me que vos diga que os meus filhos sabem respeitar-me. Esta coisa, aliás, costuma ser recíproca, acho, - eu respeito que eles sejam crianças e me façam passar bastantes vergonhas e eles respeitam que eu seja mãe e os faça perceber que não pode ser tudo como eles querem.
De resto, há que apreciar, não sei bem o quê, tendo em conta que a maior parte do tempo é passado a obrigá-los a fazer coisas que não querem, mas pronto, deve ser giro na mesma.

Ao almoço

4.10.13
Quando uma pessoa está com fome, olha para o canto inferior direito do computador (bons tempos em que se olhava para um relógio!) e vê que está na hora do almoço, levanta-se para fazer qualquer coisa, vê que há frango que sobrou do jantar, mas não há pão e nisto toca a campainha para entregarem uma encomenda com as novas sandwich Thins da Bimbo, isso é... marketing bem feito.
Além da campanha, o pão também foi muito apreciado cá em casa.


Profissão

3.10.13
Fui fazer uma mamografia pela primeira vez e, confesso, quase tive mais medo que me perguntassem a profissão, enquanto preenchiam a ficha de inscrição, do que do exame propriamente dito.
O que é que eu digo, nestas circunstâncias? Não posso dizer empresária, que isso soa a namorada de actor, mas todas as alternativas me parecem piores. 
Felizmente acabei por ir espremer as mamas sem que quisessem saber o que faço na vida. 

Um princípio

2.10.13


Mudar o sofá não é mudar tudo, mas é um princípio (depois descubro qual o meio e o fim). Resistirá a três crianças e dois gatos? Podem fazer as vossas apostas.

A eito

2.10.13
Vinha gabar-me de ter conseguido enfiar as minhas velhas calças de ganga, quatro anos e tal depois, mas quando fui ver as fotos que tiramos no jardim botânico tropical desisti. Olhando para mim no ecrã não vejo diferença nenhuma, ou seja, isto foi sempre um problema de visão.

Não sei qual a relação entre a descoberta de que o universo pode ter uma forma curvilínea e não plana, com a "gravidez" do menino de dois anos, mas eu ia jurar que há uma.

Estou indecisa entre deixar tudo como está e ir indo e vendo, ou mudar tudo. É capaz de haver um meio termo, é, mas os meios termos dão cabo de mim.

Diz que vem aí muita chuva, há um alerta amarelo e tudo, mas eu tenho as janelas abertas e está sol.

Apetece-me comprar um livro.

Afinal, fazer 4 anos não é assim tão mau

30.9.13



(E a minha mãe tem razão, existe o verbo chuçar. Isto a propósito daqueles bancos que penduramos na parede e que serviam para matar porcos. Segundo ela, "deitava-se o porco no banco e chuçava-se com a faca")

Mal de família

27.9.13
Cá estou eu, na casa do Porto, qual Sísifo, a ver se é desta que a dita fica pronta para receber hóspedes, enquanto, pelo meio, se organiza a festa de aniversário do único membro da família que nasceu no Outono, para, ainda há pouco, o pequeno se virar para mim antes de adormecer e dizer muito sério: "Sabes o que é que eu queria mesmo, mamã? Eu queria uma chupeta e não queria nada fazer quatro anos".
Certas coisas já nascem com as pessoas, não há hipótese.

Laranjas

25.9.13
Às vezes faço de avó dos meus filhos e levo-lhes uma guloseima quando os vou buscar à escola. Eles, claro, acham um espectáculo, mas depois esperam que a surpresa se repita todos os dias. Então, fiz a experiência de lhes levar laranjas em vez de gomas, ou chupas e eles acharam um espectáculo na mesma.

Corte de cabelo

25.9.13
Eu não sei se insisto em cometer os mesmos erros por uma dificuldade de aprendizagem, ou se por ser a pessoa mais crente à face da terra. Então não é que eu decidi cortar o cabelo a mim própria outra vez?
Bom, a verdade seja dita, não está muito pior do que estava e, além disso, a senhora que o Isaac apontou no eléctrico, por ter um cabelo igual ao meu, estava razoavelmente apresentada.

Trabalho infantil / Teste

24.9.13

Conseguem traduzir esta t.shirt?

Sugestões

23.9.13
Tenho uma amiga com uma filha autista. Ela diz que a cada nova consulta com um novo pedopsiquiatra espera secretamente que o diagnóstico seja diferente, mas não é.
Podia descrever o dia a dia desta mãe da M., com sete anos, e de outra menina de um ano e meio, mas, acreditem em mim, esta mãe é mesmo fora de série.
Por isso, gostaria de ajudá-la numa iniciativa louvável: iniciar um projecto de sensibilização para o autismo na comunidade escolar (a M., como tantas outras crianças com necessidades especiais, está num mega agrupamento, onde faltam professores, apoios, etc. etc.).
Alguém tem sugestões?

Drogas

23.9.13
Ai meu deus (assim em letra minúscula não estou a ir contra o segundo mandamento, pois não?), de repente dou-me conta que pior do que a malta que perde tempo a comprar sapatos a condizer com as vestimentas são as pessoas que se sentem almas (já que o divino foi para aqui chamado) torturadas. Ainda bem que existem medicamentos para isto.

Mal educado

22.9.13
Pela primeira vez na minha vida de mãe vou ter uma reunião com uma educadora para questionar os métodos que usa. É das coisas que mais me custa fazer, porque na minha cabeça os professores e educadores sabem o que fazem, mesmo que às vezes possam cometer erros, como toda a gente. E depois, não há paciência para os pais que têm filhos florzinhas de cheiro que têm de ser tratados assim e assado.
Mas, desta vez, há claramente um desfasamento entre o tipo de educação que o Isaac tem na escola e a que tem em casa. Lavar-lhe a boca com sabão e colar autocolantes vermelhos para que todos saibam que se portou mal pode ser um castigo aceitável para muita gente, para nós é pouco razoável, tendo em conta que a asneira que fez foi dizer "cocó, xixi".
Se me perguntarem qual é o castigo razoável também não sei dizer ao certo (aqui em casa costuma ir sozinho para o quarto), mas eu não tirei um curso de educadora de infância. Para o pai seria preferível ele ficar sem recreio, eu não tenho tanta certeza. Sei é que o rapaz pode ser bastante desafiador (mal educado?) mas pensei que num contexto pré-escolar fosse possível ensiná-los a respeitar regras sem recorrer à humilhação.

Eureka

20.9.13
Já sei qual é o meu problema: eu continuo a acreditar que um dia alguém vai a passar na rua e, depois de me ouvir a cantar, decide fazer de mim uma estrela, mas numa versão mais adulta. Ou seja, um dia alguém descobre que sou brilhante e leva-me para a equipa do Daily Show.

As crianças

18.9.13
A Beatriz estava a contar a alguém o primeiro dia na escola primária. "Lembro-me perfeitamente", dizia ela com os olhos postos num sitio do passado e um sorriso rasgado. Eu regressei a esse mesmo sítio e voltei a sentir o mesmo aperto no estômago naquela escola tão grande para a minha menina tão pequena. Senti os olhos a humedecer e percebi que estava a fazer um daqueles sorrisos parvos que as mães e os pais fazem quando não conseguem disfarçar o orgulho nos filhos.
"Lembro-me perfeitamente", dizia ela, "ia a descer a rampa com o meu pai, foi ele que me foi levar à escola".
Ah?!? Pára tudo. Ela acabou de dizer que foi o pai que a levou à escola? Então e eu? Não se lembra de eu ter lá estado? 
"Bea, eu também fui levar-te à escola, fomos os dois, não te lembras?", pergunto com o ar mais normal do mundo, tendo em conta que tinha o peito a arder. "A sério, mamã, também foste? Não me lembro, só me lembro do papá".
Sinceramente não sei que grande conclusão se pode retirar daqui, mas parece-me claro que andamos a perder demasiado tempo com as crianças. Elas acabam por guardar da infância aquilo que lhes interessa. Portanto, é gostar muito delas, alimentá-las, agasalhá-las e levá-las ao médico quando estiverem doentes. O resto é lá com elas. 

Revelações

17.9.13
Acordei com uma certeza (parece que os "Antes" e "Depois" de dormir são o meu novo hypeness): Tenho andado a correr atrás de um autocarro, a acenar lá para dentro, a tentar acompanhar a velocidade do veículo, quando podia muito bem ir lá dentro sentada (que é uma forma mais sofisticada de dizer que tenho andado a fazer coisas muito boas com a minha vida, só não tenho é sabido aproveitá-las).
Talvez por isso, a frase dele, "tu assim, a segurar o Nicolau de um lado e o fino no outro, a esbarrar contra as cadeiras, ficas mesmo sexy", me tenha parecido tão reveladora.

Uma bela festa é o que vos digo

16.9.13







Fotos de Pedro Santos

Antes de começar quase vomitei de tantos nervos, mas correu tudo muito bem e, mais do que isso, foi bom estar rodeada de tanta gente amiga. Obrigada. 
(e sim, o JP Simões também foi)

Frente a frente

12.9.13
A quem quiser dizer-me algumas coisas na cara, fica a saber que no sábado pode vir beber um copo de vinho do Porto comigo.

Procrastinação, o meu verdadeiro talento

12.9.13
É que daqui a pouco é hora do almoço e depois já tenho de ir buscar os meninos à escola, não tenho tempo de acabar não sei quantos sacos, redigir o Plano de Negócios e estender uma máquina de roupa. Quer dizer, para estender a roupa ainda dá tempo. Vou fazer isso.

Olha eu a pôr-me a jeito

11.9.13
Agora que não me apetece comer este mundo e o outro, nem dormir 23 horas por dia, ando às voltas com esta minha mania (lá está, o cão outra vez) de "mas afinal que raio quero eu fazer da minha vida?"
Ora bem, eu acho que quero o que toda a gente quer (tirando o carro e o emprego) só que, pelos vistos, não é lá muito fácil ganhar dinheiro a fazer o que se quer.
Vai daí talvez seja melhor passar parte do tempo a ganhar dinheiro no que não se quer fazer e no resto fazer o que se quer na expectativa de mais cedo ou mais tarde conseguir mudar a primeira pela segunda.
Assim sendo, eu pergunto (Atenção pessoas queridas que gostam de vir aqui mandar-me ir trabalhar, chegou a vossa oportunidade de contribuírem com sábios e pertinentes conselhos): além dos call center, limpezas e prostituição em que mais se pode trabalhar em part time para ter um rendimento fixo ao fim do mês?

Carne e peixe

10.9.13
Eu nunca vi um homem a amanhar peixe numa peixaria nem uma mulher a cortar carne num talho. Estive assim uma boa meia hora a pensar nisto, antes de adormecer, ontem à noite. Pareceu-me lógico o peixe ser das mulheres e a carne dos homens, mas o contrário também faz sentido. 
E pronto, era só isso.

A vida

6.9.13
Lembro-me muitas vezes desta frase da Joan Didion: "A vida modifica-se rapidamente…A vida muda num instante…Sentamo-nos para jantar e a vida, como a conhecemos, acaba!"
É assim. Mesmo. Eu já vi ser assim na minha vida, quando o meu pai morreu aos 35 anos sem mais nem menos.
Mas a vida também muda devagarinho. É devagarinho que se instalam hábitos, que se engolem sapos, que se comem ideias preconcebidas, que se emplastram desprazimentos, que um dia se revelam quando nos sentamos para jantar.
Talvez fosse giro falar disto, do sono, dos ataques de choro, do comer compulsivamente, do beber exageradamente, do ir contornado as dificuldades, porque a vida é fodida já se sabe e eu até nem tenho razões de queixa, até ao tal dia em que nos sentamos para jantar e o corpo cede, mas agora tenho de ir fazer panados para o jantar. Tenho mesmo, não é uma metáfora. Mais logo saímos para passar o fim-de-semana no Porto e é preciso levar o jantar pronto.

Fim das férias

4.9.13
Amanhã começa a escola e cenas como as que se seguem serão mais raras aqui por casa. Obrigada, escola.
E obrigada vida, por estes momentos (olha o equilíbrio da serotonina a fazer-se sentir!).
 Como diz a Bea: "Não tive uma irmã, mas tive o Nicolau".
 Andar de bicicleta nu? Claro, porque não?
 Ou ver o FCP na despensa...
E cozinhar...coisas... no corredor, evidentemente.

:-|

3.9.13
O Isaac brinca algumas vezes com o filho. Pelos vistos é um rapaz e o nome vai variando. Um dia destes veio dizer-me que o filho lhe tinha cuspido e atirado coisas pelo ar e eu muito espantada perguntei como é que ele tinha reagido (a ver se retirava ideias para quando ele próprio voltar a fazer alguma dessas coisas), ao que ele responde, muito naturalmente, que o tinha cortado aos bocados com uma tesoura.

Aos poucos

2.9.13
tem-me apetecido regressar aos livros, à companhia dos amigos, ao trabalho, aos gomos de laranja e pão com manteiga de amendoim, ao trajecto do 25 e ao blog.
Não haverá medicamentos para nos fazer apetecer arrumar e limpar a casa e adorar ouvir chamar "mamã" 1344 vezes por minuto?

Diagnóstico

28.8.13
E o diagnóstico da minha médica de família foi: "Você está apanhadinha de todo!"
Portanto, é oficial que pifei de vez. Quer dizer, de vez não, que eu sou mais de ir pifando por ciclos.
Agora, resta-nos saber o que vai ser deste blog comigo a tomar um inibidor selectivo de recaptação de serotonina. Se calhar é desta que vamos ter pequenos-almoços de iogurte natural feito em casa e filhos exemplares, com cachos de oiro em vez de cabelos com lêndeas, e vasos cheios de flores e receitas a tresandar a ervas aromáticas e, quem sabe, cortinados. Cortinados esvoaçantes, como na publicidade. É possível até que este blog venha a ter posts cheios de motivação e esperança no futuro.
Aguardemos, então, pelos efeitos positivos da coisa e esperemos que sejam tão evidentes como os secundários.

Workshopaholic

25.8.13
No último workshop que fiz, com a maravilhosa Rita Cordeiro, alguém me perguntava se era o primeiro que fazia. Eu disse que não, que ali na Retrosaria já tinha feito quatro.
Já em casa, e depois de tentar fazer uma flor em crochet (enfim, sou uma crente), pus-me a fazer umas contas de cabeça, enquanto vasculhava gavetas, e cheguei à conclusão que nos últimos cinco anos fiz oito (OITO ?!) workshops:

1- Revisão e Preparação do Original, na Booktailors;
2- Escrita Criativa, na Companhia do Eu;
3- Patchwork e Quilting (em dois workshops), na Retrosaria
4- Costura, na Retrosaria;
5- Tricot 2, na Retrosaria;
6- Iniciação ao crochet, na Retrosaria.
(Entre o 5 e o 6, ainda houve um de Literatura Portuguesa, na Pó dos Livros, mas não encontrei as fotocópias).

Está visto, sou a freak dos workshops.

Tenho falta de ar

22.8.13
Confirma-se: não sei fazer dietas, não quero fazer dietas, não vou fazer dietas (vamos fazer de conta que eu fiz dieta nestas duas últimas semanas). Não é que me custe horrores deixar de comer certas coisas, não, custa-me muito mais deixar de beber. Não é, tão pouco, por me faltar a força de vontade, basta-me olhar para uma ou duas fotos tiradas nestas férias para manter-me firme nesse objectivo, é mesmo porque me parece doentio passar os dias a pensar em comida.
Resolvida essa questão (quer dizer, falta-me emagrecer, mesmo sem dieta, mas depois penso nisso), tenho de resolver esta falta de ar que me anda a enervar. Se fosse só antes de adormecer, como acontecia ocasionalmente, ainda vá que não vá, mas no momento em que estou a repreender o mais velho que acabou de atirar o mais novo ao chão, que por sua vez estava em cima de um degrau de um bebedouro do jardim da Estrela, já não me parece uma cena assim tão fácil de lidar. Uma pessoa sente que pode ter um ataque cardíaco, quando um está no chão a chorar e o outro a gritar como um louco, por estar de castigo, e ainda tem a mais velha, sem saber para onde se virar, que opta por nem olhar para mim para não sobrar para ela.
A sério, que merda de mariquice me havia de aparecer agora de quase velha!
Ainda assim, não é a falta de ar que mais me perturba. O que me deixa mesmo, mesmo preocupada é ter perdido a capacidade de me rir de mim própria. Esse é o meu sinal de alerta. Isso e ver sinais de cancro em todo o lado.

Perguntas que eu gostava mesmo de saber a resposta

21.8.13
Uma pessoa decide fazer poupanças para um projecto que quer levar a cabo dali a um ano. Isso implica que durante 12 meses deixa de fazer um certo número de coisas que lhe agradam sobremaneira, que lhe fazem bem, que lhe trazem uma espécie de apaziguamento com a vida e tudo e tudo, mesmo sem ter a garantia de que o tal projecto possa vir a acontecer, porque isso, obviamente, é impossível de se saber.
Uma pessoa faz o quê, abdica do que quer fazer agora para, eventualmente, depois ter uma experiência maravilhosa?
(juro que esta questão sempre me perturbou)

Ruído

20.8.13
Não sei se já disse alguma vez, mas a Alexandra Lucas Coelho é genial. Quer dizer, eu não sei quais os critérios para se considerar alguém genial, mas para mim uma pessoa genial é a Alexandra Lucas Coelho.
Uma pessoa do seu tempo com a bagagem dos tempos que passaram e o bilhete na mão para os que se avizinham.
E depois, talvez por gostar tanto da forma como ela escreve, por gostar tanto do que ela faz, por querer ser como ela, pronto, encontro, quase sempre, nas crónicas que escreve um bocado de mim. Que querem? há quem se veja a passar férias na República Dominicana, eu vejo-me nas crónicas da Alexandra Lucas Coelho. Cada qual sonha com o que quer.
Ela gostava de sair de dentro da História. Eu gostava de sair, por uns tempos, da Casa. "Quando há muito ruído não se vê, e aquilo que não se vê ficará por escrever. O silêncio não é luxo, é utopia."

Viver no Porto

17.8.13
É sair de casa sozinha depois do jantar, para arejar as ideias, pedir um copo de vinho e acabar a beber sei lá quantos mais com amigos que iam chegando uns atrás dos outros.

Momentos

14.8.13
O que vou dizer a seguir é mais uma constatação, mas pareceu-me um exagero, além de uma tremenda falta de gosto, estar a fazer outro título igual. Estou num momento crítico da minha vida e tenho as unhas dos pés fodidas. Uma coisa não está relacionada com a outra, acho eu.
As obras da casa de lá terminaram, finalmente (ah, eu não tinha contado que ia mudar de casa e depois já não ia, porque o senhorio prometeu fazer obras e fez?), pelo que devo regressar a Lisboa, com a casa de cá a precisar de ser pintada outra vez. Ou então, deixamos assim as mãozinhas, tão giras, nas paredes.

Constatando algumas coisas #3

12.8.13


Depois de uma semana sozinha com os mais novos, sem televisão, sem computador e sem hidratos de carbono sou obrigada a concluir que realmente é muito fácil viver quando se tem saúde e dinheiro suficiente. É claro que pode ter-se dado o caso de o meu cérebro ter sofrido com a falta dos hidratos (diz que estes são o principal alimento da massa cinzenta), mas como é do conhecimento geral, dar demasiado uso à cabeça é meio caminho andando para a infelicidade. 
Passei, portanto, uma semana em que as minhas únicas actividades consistiam em entreter os miúdos, com uma actividade diferente todas as manhãs (brincadeiras na praia de Matosinhos, passeio de metro até ao jardim do Morro, jogar às escondidas no Palácio de Cristal, etc.); depois fazer o almoço, deitá-los para uma sesta, descer para o quintal, dar-lhes banho, fazer o jantar, deitá-los, ler e dormir. 
Passou-se assim uma semana relativamente tranquila. Sem grandes desesperos, nem euforias. Tudo sob controle. 
Ainda por cima, seiscentas e tal páginas depois, fico a saber que o sentido da vida é a vida não ter sentido e que perfeito é o cenário em que "o homem nasce, trabalha, casa, procria e morre".  Muito apropriado.
Também tive de chamar um picheleiro, para mudar a resistência do cilindro, que se lembrava de já ter cá estado. Sabia que em tempos tinha morado aqui um jornalista e tudo. Eu também era jornalista, na mesma altura, mas isso passou-lhe despercebido. Normal.
No quintal vou ganhando algumas batalhas e perdendo outras, mas estou confiante. Eu sei que não parece, olhando para a foto ali em cima, mas se tivessem visto o Antes, concordariam que tenho razões para ter esperança. Pelo menos enquanto não voltar a Lisboa, aos hidratos e a outros vícios.