Agora, são duas semanas a cuidar sozinha dos três, a empacotar as nossas coisas e a limpar a casa nova. Parece que também tenho de pôr uns electrodomésticos e uns móveis à venda no olx. A ver vamos. O importante era que os próximos dias passassem a voar.
O pai foi de viagem
30.9.12
O primeiro dia da mais longa ausência do Jaime, 15 dias, começou hoje e, sinceramente, não me reconheci na pieguice pegada que para aqui foi nas despedidas. Enfim, parecia que o homem ia para a guerra, tanto que até levou o lenço bordado e tudo, ou uma coisa parecida.
3 anos
29.9.12
Festejámos a cinco, com comida cubana e o habitual bolo de chocolate, o número de anos redondo do Isaac. Está crescido o meu primeiro menino e é tremendamente comovente vê-lo crescer todos os dias, vislumbrar já a pessoa que está ali.
Menos comovente foi o rasto de lama e o arroz debaixo da mesa que deixámos no restaurante, mas, bom, não se pode ter tudo.
Perspectivas
27.9.12
Ao descer em direcção à estação de metro Baixa/Chiado, o Nicolau às cavalitas do pai, feliz da vida no meio de tanta gente, e o Isaac pela minha mão, ligeiramente perturbado no meio de tanta gente, estranhei-me ali. Pareceu-me que passou uma fracção de segundo desde que deixei o Porto, a cidade onde a Beatriz nasceu e viveu até aos sete anos, vim para Lisboa, arranjei emprego, deixei o emprego, tive mais dois filhos, mudei de casa duas vezes (e vou mudar outra), fiz novos amigos.
E agora ali estava eu a contornar a Igreja do Loreto, quase a chegar ao quiosque, com um dos meus rapazinhos pela mão, na cidade onde ele nasceu e vive há quase três anos, ou há menos de uma fracção de segundo.
Já a hora e meia que passámos dentro da estação de metro, para assistir às cantorias da mais velha, pareceu-me um ano e meio. Um é porque queria vir para casa, o outro jogar badminton com a chupeta. Aquilo foi um corrupio de desce escada rolante, sobe escada rolante, desce escada rolante, sobe escada rolante, corre atrás de um, corre atrás de outro, enquanto o coro cantava, e bem, diga-se de passagem.
No final lá viemos para casa de rastos, maltrapilhos e um com o lábio rebentado, claro. Ou felizes, como se usa dizer agora.
Ocupe-se!
25.9.12
É saudável e desejável sentirmos medo, porque o medo, meus amigos e minhas amigas, pode salvar-nos a vida, mas isso já todos sabemos. E também sabemos que, apesar disso, jamais nos podemos deixar dominar por ele, porque uma vez aí, então, acabou-se. Deixamos de viver. Ponto. No meu caso específico, e não sei porque preciso de especificar que é o meu caso, quando é evidente que é disso que se trata, mas, enfim, continuemos, fico doente. Verídico. Quando sou acometida pelo medo, fico doente. Penso, agora é que vai ser, vou para a piscina, vou gozar uma espécie de férias e depois começar de novo, comprar meias. Mas se calhar o Nicolau não devia ter ido para creche, eu (ainda) não tenho um emprego que o justifique; e se nas duas semanas em que estou sozinha com os três acontece alguma coisa; se calhar temos coisas a mais para a casa mais pequena para onde vamos viver; esta cidade (este país, este mundo?) está cheia de gente desesperada, capaz de uma loucura qualquer, como o rapaz em tronco nu, ao meu lado nas escadas, aos gritos para o oficial da polícia: "EU ESTOU FARTO DESTE PAÍS DE MERDA QUE NÃO ME DÁ ALTERNATIVAS. EU SOU UMA GAJO CALMO, MAS JÁ NÃO DÁ PARA ESTAR CALMO".
Onde é que eu ia agora mesmo? Ah, ao hospital, outra vez, porque a garganta está a apertar e disseram que tinha de voltar se a garganta apertasse. Por favor, depressa senhor taxista que estou sem ar, vou desmaiar aqui se não se despacha (ainda bem que não o disse em voz alta); já no balcão admissão de doentes: são 20€, diz o rapaz giro, e eu faço contas de cabeça, com estes 20 já somei 60 euros à conta de uma estúpida reacção alérgica; E depois, depois o melhor médico de todos o tempos: "Está tudo bem consigo, não lhe vou fazer nada. Ocupe-se, não pense mais nisto".
Onde é que eu ia agora mesmo? Ah, ao hospital, outra vez, porque a garganta está a apertar e disseram que tinha de voltar se a garganta apertasse. Por favor, depressa senhor taxista que estou sem ar, vou desmaiar aqui se não se despacha (ainda bem que não o disse em voz alta); já no balcão admissão de doentes: são 20€, diz o rapaz giro, e eu faço contas de cabeça, com estes 20 já somei 60 euros à conta de uma estúpida reacção alérgica; E depois, depois o melhor médico de todos o tempos: "Está tudo bem consigo, não lhe vou fazer nada. Ocupe-se, não pense mais nisto".
Afinal, ainda não é esta semana que vou comprar meias
24.9.12
Pronto, terceira ida ao hospital, desta vez com beiços iguais, ou muito semelhantes, vá, aos da Angelina Jolie, e manquinha por causa dos pés inchados. Desconfia-se de umas amêijoas que comi na sexta-feira, e não, não fui a nenhuma marisqueira, ou esplanada de uma qualquer leitaria (sim, há sítios que se dizem leitarias e vendem caracóis, amêijoas e outras coisas assim, ainda não percebi porquê), cozinhei-as eu, daquelas vietnamitas que se compram congeladas, mas não há certezas, pelo que terei de fazer testes. Logo agora, que ia comprar meias.
Mal habituada
22.9.12
Uma pessoa sabe que nunca será uma doente normal quando quase chora a levar uma injecção de cortisona e dorme seis horas seguidas por causa de um anti-histamínico.
O tempo das meias
20.9.12
Preciso urgentemente de recuperar alguma futilidade, de voltar a sentir algum prazer a comprar coisas para mim. Não sei quando é que deixei de o conseguir fazer, mas a verdade é que a ideia de entrar numa loja de roupa, por exemplo, faz-me dores de cabeça. Ir a um hipermercado, então, está fora de questão, porque começo a tremer antes de lá entrar.
Acho que serão as meias a minha salvação, porque há poucas coisas que goste tanto como gosto de meias. É óbvio que também vou tricotá-las (por falar nisso, alguém sabe onde poderei arranjar uma receita para fazer meias como as da foto?), mas quero comprar outras, quero comprar meias de todos os feitios e cores, quero encher gavetas e gavetas de meias e depois fazer terapia por me ter tornado meiasaholic.
Acho que serão as meias a minha salvação, porque há poucas coisas que goste tanto como gosto de meias. É óbvio que também vou tricotá-las (por falar nisso, alguém sabe onde poderei arranjar uma receita para fazer meias como as da foto?), mas quero comprar outras, quero comprar meias de todos os feitios e cores, quero encher gavetas e gavetas de meias e depois fazer terapia por me ter tornado meiasaholic.
Os sítios
19.9.12
Quando era miúda adorava ir a passeios, como todos os miúdos, suponho, mas a certa altura da viagem acabava por ser, invariavelmente, invadida por uma tristeza imensa, uma melancolia. Era coisa para durar poucos minutos, naquele tempo, mas mesmo assim não deixava de me perturbar. Com o passar dos anos fui associando essas vagas de tristeza à paisagem das Estradas Nacionais e, por vezes, ao próprio destino da viagem - não estou a ver, por exemplo, como é que uma ida a São Bento da Porta Aberta, pode animar uma adolescente, mas acabei por perceber que há sítios que, por razões desconhecidas, se deixam impregnar pelos sentimentos de milhões de pessoas que por ali passaram.
O escritor Patrick Modiano é exímio a descrever essa sensação, no livro "Dora Bruder". Só para dar um exemplo: "No entanto, apoderava-se de mim um mal-estar que vinha da luminosidade particular do filme, da própria textura da película (...) Compreendi subitamente que este filme estava impregnado pelos olhares dos espectadores do tempo da Ocupação (...) Na obscuridade de uma sala de cinema, estavam todos apertados uns contra os outros, seguindo o fluxo das imagens no ecrã, e já nada podia acontecer. E, por uma espécie de processo químico, todos estes olhares haviam modificado a própria substância da película, a luz, a voz dos actores".
Patrcick Modiano, Dora Bruder, tradução G. Cascais Franco, edições Asa, 2000
O escritor Patrick Modiano é exímio a descrever essa sensação, no livro "Dora Bruder". Só para dar um exemplo: "No entanto, apoderava-se de mim um mal-estar que vinha da luminosidade particular do filme, da própria textura da película (...) Compreendi subitamente que este filme estava impregnado pelos olhares dos espectadores do tempo da Ocupação (...) Na obscuridade de uma sala de cinema, estavam todos apertados uns contra os outros, seguindo o fluxo das imagens no ecrã, e já nada podia acontecer. E, por uma espécie de processo químico, todos estes olhares haviam modificado a própria substância da película, a luz, a voz dos actores".
Patrcick Modiano, Dora Bruder, tradução G. Cascais Franco, edições Asa, 2000
Há sensações universais 6
19.9.12
"Para mim uma das consequências é esta: não deixar que os amigos se dissipem. Mas que posso eu fazer? Tenho de seguir a minha inclinação - que é, tantas vezes, estar de mau humor, irritável, apetecendo solidão."
Virgina Woolf, Diário, 5 de Agosto de 1932.
Virgina Woolf, Diário, 5 de Agosto de 1932.
É isso
18.9.12
Como dizia a uma amiga, estar aqui a aproveitar o silêncio e ao mesmo tempo sentir que devia estar a fazer alguma coisa, sem saber o quê, faz-me parecer aquelas pessoas que passam a vida à procura dos óculos com eles na cabeça.
Do nada
17.9.12
Às voltas com roupas e refeições e quem vai buscar quem e do brutal cansaço que nos ataca tantas vezes, concentro-me na ideia de que daqui para a frente será mais fácil, menos pesado.
E eu sei disso, porque quando a Bea era bebé lembro-me de pensar que não sobreviveria a uma coisa daquelas. Mas sobrevivi e, passados os primeiros dois anos, voltei a ter, mais ou menos, a vida que tinha antes: deitar e acordar tarde; jantar e sair com amigos; ir ao cinema e ao teatro. A grande diferença passou a ser o trabalho. Deixei de ter um contrato e passei a trabalhar no que aparecia.
No entanto, por mais que me concentre, não vejo como posso voltar a ter, mais ou menos, a vida que tinha, agora com três filhos. Nem sei que sentido é que isso faz. Sei é que esta sensação de estar a começar alguma coisa, outra vez, do nada, sabe bem. Sabe muito bem.
15 de Setembro
16.9.12
É claro que fui, é claro que fiquei impressionada com a massa de gente, é claro que gostava de ter ficado mais tempo, mas no fim o que me impressionou mais foi eu parecer um bisonte na televisão...
Roubo
13.9.12
No outro dia roubei uma revista de uma sala de espera de um laboratório de análises. Foi mais ou menos sem querer, porque segui com a revista na mão quando saiu o número da minha senha e mal reparei que a tinha comigo guardei-a no saco, em vez de ir pousá-la na mesa de onde a tirei. E, sim, isto podia ter sido tudo feito de forma inconsciente, só que no momento em que guardei a revista, soube que a estava a roubar.
Ora, como não sou pessoa de cometer pecados destes, fiquei a pensar que alguma coisa está mal. Aliás, "alguma coisa está mal" é uma frase repetida amiúde neste blog (e, reparem, é a segunda vez que uso a palavra amiúde), mas é escusado estarmos com falinhas mansas, muito menos eu. Alguma coisa está podre e a feder, essa é que é essa. E o dia 15, eu sei, pode ser uma boa oportunidade para lhe atirar terra para cima, mas eu ainda me lembro da última manifestação em que participei. Éramos 300 mil e aquilo emocionou-me, era o povo unido caralho, mas depois essas mesmas pessoas, provavelmente, escolheram Passos Coelho para nos governar e nesse dia, o das eleições antecipadas de 5 de Junho de 2011, eu decidi nunca mais me manifestar por este país.
De maneiras que agora estou num impasse, porque eu gosto deste país e apetece-me, tal como Mia Couto diz na tal revista roubada, acreditar que Portugal fez todos os seus momentos de esperança em condições de pobreza.
Ora, como não sou pessoa de cometer pecados destes, fiquei a pensar que alguma coisa está mal. Aliás, "alguma coisa está mal" é uma frase repetida amiúde neste blog (e, reparem, é a segunda vez que uso a palavra amiúde), mas é escusado estarmos com falinhas mansas, muito menos eu. Alguma coisa está podre e a feder, essa é que é essa. E o dia 15, eu sei, pode ser uma boa oportunidade para lhe atirar terra para cima, mas eu ainda me lembro da última manifestação em que participei. Éramos 300 mil e aquilo emocionou-me, era o povo unido caralho, mas depois essas mesmas pessoas, provavelmente, escolheram Passos Coelho para nos governar e nesse dia, o das eleições antecipadas de 5 de Junho de 2011, eu decidi nunca mais me manifestar por este país.
De maneiras que agora estou num impasse, porque eu gosto deste país e apetece-me, tal como Mia Couto diz na tal revista roubada, acreditar que Portugal fez todos os seus momentos de esperança em condições de pobreza.
Apanhar o sol
12.9.12
Estou em aflições. O bebé, hoje, não queria largar o meu colo. Dois dias chegaram-lhe e sobraram para descobrir a coisa, portanto já chega. E eu pensei trazer de volta o bebé para casa mais o irmão, apesar de me parecer que esse está a conseguir lidar com as suas angústias, meu rico menino. Mas como sei que isso seria uma machadada neste desprender progressivo do seio materno-familiar, deixei-os. Abandonei-os, na perspectiva deles. E não, não gastarei estas horas de liberdade doída a lamentar-me. Vou gastá-las em coisas proveitosas, como apanhar (o) sol.
O primeiro dia
10.9.12
No primeiro dia do resto da nossa vida eles ficaram os dois a brincar na mesma sala, muito sorridentes, mas eu saí de lá, ainda assim, com o coração esmagado. Saí e fui caminhar pela cidade, porque para mim, tal como para Quinn*, deambular é uma espécie de ausência de pensamento. Mas pensar, já se sabe, é uma inevitabilidade. E enquanto subia a Santana à Lapa, em direcção a Campo de Ourique, pensei na necessidade de arranjar trabalho, não só para ajudar no rendimento familiar, como para contribuir com os meus impostos para o bem comum. Só que as minhas deambulações levaram-me até à piscina e, portanto, vou mas é fazer hidroginástica. E depois mudar de casa.
*O personagem da primeira história d' A Trilogia de Nova Iorque, de Paul Auster.
*O personagem da primeira história d' A Trilogia de Nova Iorque, de Paul Auster.
Perguntas que eu gostava mesmo de saber a resposta #3
7.9.12
Porque é que os brinquedos, que duraram anos em casa dos primos, chegam aqui e são destruídos em dois tempos?
Dona de casa desesperada*
4.9.12
Apesar disso (ou por isso mesmo?), acontece que eu tenho uns filhos espectaculares, um bocado estranhos, é certo - o Isaac passa-se com vídeos promocionais a caterpillars, no youtube; o Nicolau não resiste a chapéus e sapatos e a Beatriz, bom, a Beatriz vive noutra dimensão, assim numa espécie de programa de televisão tipo o Glee -, mas espectaculares ainda assim.
Portanto, nem tudo vai mal no reino destes pais desesperados, mas que estamos a precisar de uma dessas fadas (sim, a piadinha de trocar o "a" pelo "o" também se aplica), com uma varinha mágica das verdadeiras, sem ser a da sopa, que de sopas estou eu farta até ao catulo, estamos!
* se ao menos eu fosse tão gira como ela
O tempo certo
3.9.12
Há algum tempo li/ouvi uma entrevista em que a entrevistada (quem me dera lembrar-me do nome) dizia que tinha muita pena de ter começado tudo muito tarde na vida. Eu tenho exactamente a mesma impressão. Pior, eu acho que não comecei coisas que deveria ter acabado por esta altura.
Uma família muito normal
3.9.12
Alerta: este post pode conter vestígios de queixas.
Passar um fim-de-semana fora, por exemplo em Peniche, é uma cena memorável. Os cinco numa suite de um hostel, os pequenos a dormir e os grandes a descer à vez para coca-colas e copos de vinho; As vergonhas nos restaurantes; Passar mais de duas horas seguidas na praia, porque estamos numa ilha, na Berlenga, e não temos para onde ir; Para sair da ilha tenho de vestir a roupa que fede a vomitado (quer dizer, ninguém me obriga, mas não me apetece andar de biquíni), porque o Nicolau enjoou na viagem de barco, coitadinho. O Jaime também, já agora; O calor quase insuportável no paraíso inventado pelo Berardo (ainda não percebi se este homem é um génio, ou um freak); As mudas de roupa que nunca chegam e sei lá eu que mais.
As boas notícias é que nenhuma gaivota me cagou em cima e elas andavam a cagar em cima de toda a gente.
Passar um fim-de-semana fora, por exemplo em Peniche, é uma cena memorável. Os cinco numa suite de um hostel, os pequenos a dormir e os grandes a descer à vez para coca-colas e copos de vinho; As vergonhas nos restaurantes; Passar mais de duas horas seguidas na praia, porque estamos numa ilha, na Berlenga, e não temos para onde ir; Para sair da ilha tenho de vestir a roupa que fede a vomitado (quer dizer, ninguém me obriga, mas não me apetece andar de biquíni), porque o Nicolau enjoou na viagem de barco, coitadinho. O Jaime também, já agora; O calor quase insuportável no paraíso inventado pelo Berardo (ainda não percebi se este homem é um génio, ou um freak); As mudas de roupa que nunca chegam e sei lá eu que mais.
As boas notícias é que nenhuma gaivota me cagou em cima e elas andavam a cagar em cima de toda a gente.
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