Despejar o lixo*

30.8.12
1. Segundo a psicanálise é daquilo que não nos lembramos que somos feitos.
2. Eu venho de uma longa linhagem de mulheres provedoras do sustento sem, no entanto, deixarem de ser as principais cuidadoras dos filhos.
Ia jurar que encontrava uma relação entre as duas coisas, mas sinceramente não estou a ver, e estou farta de pensar nisso.

*uma das grandes utilidades de um blog (eu tentei assumir o blogue, porque tenho a mania de evitar estrangeirismos, mas prefiro mesmo blog, está bem?)

O xaile

30.8.12

Acho que pela primeira vez uma coisa feita por mim ficou, praticamente, como a tinha imaginado. A receita encontrei-a no ravelry e a lã é esta.
(Eu sou mesmo um espectáculo)

A ausência do chip já se faz sentir (ou Setembro aproxima-se a passos largos)

28.8.12
Pronto, eu admito: isto aqui em casa é muito próximo daquilo que idealizei, só que sem o jardim por onde os miúdos correriam alegres, sem se enfrascarem de terra, naturalmente, e sem o jarro de limonada na mesa mais os muffins e as panquecas feitas com ovos de galinhas criadas ao ar livre. Acho que também me via com vestidos leves e sorrisos, mas suponho que esteja a confundir a imagem com um spot publicitário, porque me aparecem cortinas esvoaçantes e eu nunca tive, nem quis ter, cortinados em casa. Além disso, sorrio pouco. Sou mais de rir que sorrir.
Também não vamos ao mercado comprar legumes e frutas num daqueles sacos com rodinhas, ou naqueles cestos giros, porque é longe e muito cansativo.
Nem leio livros enquanto brincam com os carrinhos, ou tentam partir a cabeça um ao outro, mas consigo tricotar durante uns bons dez minutos seguidos. E para escrever aqui, tenho de deixar o mais velho ver três Noddys seguidos. É justo, parece-me.
Dormem a horas que não me dão jeito nenhum e alimentá-los a todos exige bastante trabalho.
Mas aqui estão eles, um em cuecas, outro em fralda e ela de pijama (daqui a pouco veste um vestido, porque a partir de hoje não usa mais calças, ou calções). Na verdade isto foi ontem, porque hoje ela foi ter com o pai (de calças).
Enfim, isto aqui em casa é muito próximo daquilo que idealizei, dizia, falta é eu lembrar-me disso todos os dias (e talvez faltem umas férias, umas massagens, um projecto interessante e mais conversas ao serão)

E é isso

27.8.12
Sucede que estou de volta à vida normal, isto é, aos dias corridos com os pequenos a brincar e a gritar por aqui, enquanto eu penso numa forma de mudar de vida. E hesito na data de uma entrevista para um trabalho remunerado. 
O Nicolau caminha, finalmente. 

Sem chip e sem tempo também

22.8.12
Olá, eu sou o Jaime. Quando a minha gaja sugeriu que escrevesse eu o post neste blogue pensei que ela  já não o fazia há uns, muitos, dias e era de facto importante serenar seguidores. São, afinal, só dois dias, mas, de facto, dois dias grandes.
Mas não se apoquentem as leitoras e os leitores, os fãs e as seguidoras. A gaja está viva e de (boa) saúde. Há, no entanto, acontecimentos. Ela que já sobreviveu a três partos, e a três vezes nove meses, arredondados, de gravidez; Ela que já sobreviveu à ansiedade delirante de não estar grávida e à depressão de ter filhos para cuidar; Ela que já sofreu por ter empregos de merda, por não ter emprego e por ter de resumir a vida dela ao cuidar dos filhos; Ela, desta vez, considerou coisa normal a ideia de recebermos cá em casa a mãe e a avó por uns dias, neste Agosto.
E portanto, caras leitores e invejosos leitores, a minha gaja cuida agora de 5 (cinco) crianças e não apenas de 3. Dias de delírio que nem no blogue, facebook, pinrest e afins encontram paz, fuga ou o que seja. Nem o jogo do Porto comigo viu. Ainda bem, digo eu, pelas razões que, agora, se sabem.
Entretanto o que ela aqui deveria ter vindo contar foi que se livrou do chip. As hormonas estavam, confirmo, mais perturbadas do que ela própria e portanto o bisturi abriu-lhe o braço e a Helena retirou, não com facilidade, o vil metal do braço esquerdo da melhor blogger que se conhece. Claro que não havia enfermeira para assistir à operação e ela própria, a minha gaja, tratou de segurar pinças para ajudar a abrir o buraco e et ceteras vários que a seu tempo poderão, ou não, ter melhor descrição neste vosso monitor.
Assim, livre do maldito chip, com uma gaveta cheia de perservativos grátis, e na expectativa de novo comportamento das tais hormonas, voltamos a fazer as contas que se contarão nos próximos dias.
Hoje levei eu o Nicolau à consulta dos 15 meses apesar de ele ter já 16 e parecer ter apenas 9. E a mesma Helena, médica pediatra, de planeamento familiar e da nossa família, mal nos viu, elogiou a gaja enchendo-me de orgulho. A sua mulher, disse, é um espanto. Ontem sofreu um bocado. Mas ela é tão boa pessoa. Vocês merecem-se.

Epifania

19.8.12
Eu já devia saber que as epifanias acontecem quando menos se espera. Já devia saber que quase sempre envolvem música e natureza. E no entanto não estava preparada para aquele momento entre Radiohead e Patrick Watson, no jardim da Estrela. Lá ia eu, com passos firmes e rápidos, barriga encolhida, ombros direitos, quase descontraídos, quando começa aquele ligeiro frenesim, como uma borboleta a bater as asas, e perdoem-me a metáfora pirosa, que nos faz esquecer o corpo e que pouco a pouco nos empurra para um sítio onde tudo é tão claro, tão simples, tão óbvio, tão...perfeito.
Ali estava eu, então, com a música (You look so tired and unhappy/ Bring down the government/ They don't, they don't speak for us/ I'll take a quit life) a passear no meio de pessoas deitadas em camas espalhadas pelo jardim: Casais que fumavam um cigarro na cama, pais que mudavam a fralda ao filho noutra cama, pessoas a ler, pessoas a conversar e eu a sentir que me têm sido dadas oportunidades de ver coisas incríveis; de conhecer pessoas incríveis; de amar e ser amada por pessoas incríveis; de trazer ao mundo pessoas incríveis. E depois continuei a andar. É uma pena as epifanias só durarem alguns segundos.

Perguntas que eu gostava mesmo de saber a resposta #2

17.8.12
O que é que come a Victoria Beckham, se é que come alguma coisa?

Ainda o caos

17.8.12
Quando esta madrugada me virei na cama cheia de cuidado, para não partir as duas dúzias e meia de ovos que, supostamente, repousavam ao meu lado percebi que atingi o cumezinho do desacerto mental. Na verdade bastava ter olhado à minha volta, ver a quantidade de coisas que se acumulam e, na mesma proporção, a quantidade de água que corre à solta na cozinha, mesmo depois do canalizador ter vindo resolver o problema, mas, enfim, eu sou pessoa que precisa de bater com a cabeça na parede para confirmar que se trata mesmo de uma parede.

E finalmente um passeio

15.8.12







Alguma coisa está muito mal para haver um espaço verde maravilhoso como este completamente vazio num feriado de Agosto (não, não chovia). Ainda por cima, como se não bastasse a obra de arte que é o parque em si, há um conjunto de esculturas dos melhores artistas plásticos portugueses, espalhadas pelo espaço: Alberto Carneiro, Rui Chafes, Cabrita Reis e Joana Vasconcelos são os autores (por esta ordem) das peças que estão ali em cima.
Fiquei tão impressionada com a coisa que achei que podia ser boa ideia irmos para lá viver e tudo. O Isaac, esse, não pára de falar no barco (para visitar o castelo de Almourol é preciso ir de barco) e o Nicolau está bem em qualquer lado, desde que o deixem chafurdar na terra.

Small bird in a big cage*

14.8.12
Há assim algum truque para parecermos uma pessoa estando sozinha, durante dez horas, dentro de casa com duas crianças pequenas, sem sair para café, ou outras miudezas, porque esvai-se-me a pouquíssima energia que ainda me resta só de pensar em sair à rua com os dois?
E não adianta sugerirem companhia, porque isso representaria um esforço acrescido derivado a ter de manter uma conversa quando o que me apetece é gritar impropérios. Não por causa deles, eles estão aqui a ser maravilhosos e desesperantes, como só as crianças sabem ser. O problema sou eu, eu e as minhas minúsculas asas nesta gaiola. Nesta confortável e enorme gaiola.

*como ele mas ao contrário

A lógica aos (quase) três anos

13.8.12
À mesa:
- O pai é muito esperto, vai trabalhar. O Isaac também é muito esperto e vai trabalhar como o pai.

No banho:
- A cabeça do Nicolau está a crescer. É preciso lavar a cabeça dele.

Domingo

12.8.12
O Nicolau ferra os dedos dos pés do Jaime, que está descalço, portanto, a beber um copo de vinho à varanda e a negociar com o Isaac a melhor forma de lhe cortar as unhas. Eu estou a ler a entrevista da Anabela Mota Ribeiro ao Alberto Vaz da Silva (interrompida, entretanto, para escrever o post). Não sei o que a Beatriz está a fazer neste momento, acho que lhe vou telefonar a perguntar. É preciso ir lavar a loiça do almoço - frango do Xurrex. Também devia estudar psicologia, um destes dias. A Beatriz não atendeu o telefone.

P.S e também é dia de crónica

Ansiedade

9.8.12
A minha memória anda bastante estragada, mas a impressão que tenho é que todos os Agostos da minha vida têm sido, de uma forma ou de outra, bastante estranhos. Parece-me, no entanto, que este está a ser verdadeiramente peculiar, uma vez que me deu para ter ataques de ansiedade, pela primeira vez em 39 anos de idade. Quer dizer, não são bem ataques, porque consigo controlar a respiração, mas mesmo assim é um aborrecimento isto de parecer que vamos ficar sem ar sem mais nem menos.

O meu diagrama de Venn

8.8.12
adaptado daqui

Eles, os rapazes, andam aqui pela casa, um a pedalar o tractor, outro a despejar sumo de laranja por ele abaixo (mas quando é que o bebé vai aprender a beber pelo copo?). Ela ainda dorme. Eu sento-me num sítio estratégico (no chão, em cima do móvel dos brinquedos, na varanda...) a fazer tricot e a responder a perguntas, a comer pipocas imaginárias e a ver a sala transformar-se numa coisa parecida com destroços de uma calamidade. E será assim por mais quatro semanas.
O tricot ajuda-me a abstrair. E a arrumar ideias num diagrama.

Cabeça rachada

6.8.12

Cabeças rachadas é uma daquelas coisas que todas as mães acham que pode acontecer a qualquer instante, às vezes, é até surpreendente como é que uma coisa dessas não acontece pelo menos três vezes por dia.
Agora, o que uma mãe nunca está à espera, acho eu, é que seja a sua própria cabeça a ser rachada. Mesmo sendo eu essa mãe.

Perguntas que eu gostava mesmo de saber a resposta #1

2.8.12
Haverá outro país no mundo onde as pessoas falem tanto umas com as outras das suas doenças? Ou pessoas com tantas doenças, já agora?
(Luísa, tu és gaja para saber esta).

Há palavras que as imagens nunca dizem

1.8.12
Por exemplo: aquilo que estou a tricotar é um xaile que tive de desfazer várias vezes e que originou uma breve e intensa discussão com a minha mãe, porque me enervei, mais uma vez, com as suas opiniões não requisitadas;
O Flaugnard de ameixas, apesar do bom aspecto, estava uma valente merda, por causa da qualidade da fruta, quero eu acreditar;
Depois das brincadeiras dentro do rio Lima, andámos todos à procura da chupeta do Nicolau. Como não apareceu tivemos de ir à farmácia comprar outra;
O piquenique foi a um, ou dois quilómetros de casa da minha mãe, mas antes disso estivemos às voltas de carro, durante mais de uma hora, à procura de um sítio.