Salvação

4.7.25
Desta vez achei que tinha de arriscar um haiku:

Salvação sweet
No sal da água do mar
Corri para ti

No original tinha escrito alva, em vez de sweet, mas depois fui ver O Salvado, hoje, da Olga Roriz. Que beleza! 
Estou farta de dizer e vou continuar a insistir: A ARTE SALVA.
A certa altura ela diz: O mundo pode desabar mas a poesia salva (estou a parafrasear, porque não decorei).
Não tenho quaquer dúvida. Só a arte nos pode salvar. 



Não bebo cerveja

27.6.25

quando como sardinhas assadas, ou bacalhau cozido. Não bebo cerveja ao jantar, a não ser que vá comer uma francesinha.
Não bebo cerveja tão frequentemente como bebo vinho. E quando bebo é quase sempre Super Bock. Também bebi muita Tiger em Timor-Leste e na Indonésia. Na Tailândia bebi Singha e em Amesterdão Brouweriij'tij.
Mas não bebo cerveja, a não ser que esteja a comer tremoços numa tarde de Verão, francesinhas, como já mencionei, ou depois de uma empreitada como fazer mudanças, ou acartar entulho das obras.
Seria melhor dizer: bebo cerveja às vezes, mas não é esse o tema.
Tenho a certeza que há uma lista, algures, que incluí cerveja. 

Caramelo

20.6.25
Há filmes, ou guiões, que ficam gravados, mesmo que não nos lembremos do nome, ou dos nomes dos actores/actrizes que os protagonizam. Aconteceu-me recentemente com o Rosetta, a propósito da tábua de salvação que um emprego é para tanta, tanta gente. Vasculhei em todo o lado, isto é, no google, à procura do filme, perguntei a amigos e nada. Até que me apareceu uma notícia sobre Émilie Dequenne em Cannes e fez-se luz na minha cabeça.
Com Caramelo não foi assim. Neste caso nunca me esqueci do nome do filme, nem do salão de beleza, onde se cruzam as cinco mulheres da história, e de vez em quando lembro-me dele, sobretudo da personagem Jamale, protagonizada por Gisèle Aouad.
Jamale é uma mulher de meia idade, divorciada e modelo em part-time. Há uma entrevista, ou um casting, para participar num anúncio, ou algo do género, e na sala de espera estão umas quantas mulheres mais jovens. Então, Jamale vai ao quarto de banho sujar a saia para parecer que lhe veio o período. É dessa forma que se sente menos deslocada. 
A lista de compras que publiquei no último post começa com pensos higiénicos e confesso que pensei se me apeteceria publicá-la, quando tenho tantas espalhadas, como esta por exemplo, que está no caderno onde escrevi este post (hoje estou de folga e estava no café à espera da Helena): 
- cebolas roxas 
- queijo brie 
- massa folhada 
- iogurte grego 
- manteiga de amendoim 
- bacon fatiado (será que tenho bacon em todas?) 
- atum 
Depois pensei de onde me terá vindo o pudor, já escrevi aqui sobre pensos higiénicos e outras coisas bem mais escatológicas, sem grandes preocupações e agora penso duas vezes antes de publicar umas coisa tão banal? será da idade? 
Também não sei porque é que uma coisa tão apelativa como o caramelo me trouxe até duas actrizes que, fiquei a saber hoje, já morreram.

Outros caramelos:

Não somos iguais

13.6.25
- Pensos higiénicos/tampões
- Carne estufar 
- massa
- cenouras
- tomates
- queijo (fatiado/feta e parmasão)
- ovos
- bacon
- bacalhau esfiado
- pão
Tenho listas de compras espalhadas por todo o lado. Esta estava no bolso do casaco que vesti hoje. Se abrir um dos muitos cadernos rabiscados com assuntos variados (fichas de leitura, frases ouvidas, desabafos, contas, ideias para desenvolver mais tarde), há sempre listas de compras. Até me lembrei que podia, daqui para a frente, começar todos os textos deste blog com uma dessas listas.
Esta está tal como a escrevi, maiúsculas nos primeiros dois itens e depois tudo minúsculas. Eu embirro muito com isto, não sei como deixei passar esta incoerência na grafia. Há pessoas que não se importam nada. Não somos iguais.
Dou por mim a olhar para as pessoas - e hoje em dia cruzo-me com milhares diariamente - e a imaginar que bizarrias escondem. Muitas vezes tento imaginá-las nuas e, naturalmente, penso que tipo de sexo fazem (se é que fazem). Não faço isso sempre, deter-me nas fragilidades do ser humano, mas faço-o muitas vezes, não devo ser a única, digo eu.
Um dia destes, uma senhora entrou na loja para lhe ligarmos o wifi no telemóvel, porque queria enviar umas fotos para a família. Tinha mais de 80 anos, vinha de Madrid e estava a viajar sozinha. Era alta, roliça e muito bonita, além de uma simpatia de pessoa. Usava um vestido florido e uma bengala e só queria conversar. Pediu que lhe tirássemos uma fotografia junto aos balseiros e não parava de dizer que éramos muy amables. Quando foi à casa de banho não consegui evitar pensar como se seguraria, como levantaria o vestido e desceria as cuecas. É óbvio que fez xixi fora da sanita. É impossível não ter saído de lá com salpicos na roupa e nas sandálias. Mas vinha sorridente e simpatiquíssima. Comprou vinho do Porto, pediu desconto e perguntou se queríamos alguma das fotos que lhe tínhamos tirado. 

Mais provas de que não somos iguais:

Terra

6.6.25
A Terra é o planeta mais fixe da nossa galáxia, como se pode comprovar pelo filme dos guardiões, e é tambem o planeta com os habitantes menos fixes, se nos compararmos ao groot, por exemplo. Há outros filmes que validam esta teoria, mas agora não me estou a lembrar e, depois, somos nós os humanos que os fazemos, por isso a Terra é sempre fixe e tem sempre de ser salva. Por acaso estou a lembrar-me de um filme (não sei como se chama, acho que o Will Smith entrava, mas estou no metro a escrever no telemóvel, não vou fazer pesquisas) em que os extra terrestres aterram aqui para salvar o planeta da humanidade, mas à última da hora decidem dar-nos uma oportunidade.
Eu faria o mesmo. Eu daria sempre uma oportunidade à humanidade, porque se não acreditarmos na humanidade vamos acreditar em quem? Por falar nisso, 30 portugueses puseram-se a caminho de Gaza. Devíamos ir todos. 

Outras terrestres:

Crianças

1.6.25
Quando li a entrevista a Gabor Maté, no Público, na parte em que ele diz que todos os nossos problemas começam na infância apercebi-me daquilo que já suspeitava: eu não me lembro de mim criança. Eu não sei que criança fui. Quer dizer, faço uma ideia com base no que a minha mãe me conta, nas avaliações da professora primária e nas poucas memórias que tenho, mas não sei em que pensava, no que queria ser quando fosse grande, o que sentia pelos meus irmãos. E isto é muito estranho. 
Eu tenho a sensação que essa criança está aqui comigo, que eu sou ela, mas não consigo distanciar-me para a ver. Sei que era doente, ou era tratada como uma doente, por causa da asma. E aquilo que eu mais gostava de comer eram bananas que a minha mãe comprava e escondia da minha irmã, não sei porquê, acho que era por ela não ter problemas de apetite, como eu tinha. Mas não me lembro de comer bananas. Lembro-me do horror que foi ficar internada no hospital durante sei lá quanto tempo, por causa de uma pneumonia, que é o horror que sinto de cada vez que tenho de ir ao hospital. Lembro-me da sala de espera do especialista indicado por alguém, suponho que seria um pedopsiquiatra, com duas pacientes que se riram do meu pai, ou assim me pareceu, quando ele entrou com um compal e um bolo para mim. Lembro-me de as odiar com muita força. Lembro-me da professora primária, era muito má para quase todas as crianças, mas sinto que gostava dela, e do dia em que me disse para ir para casa, quando as minhas mãos ficaram inchadas como dois balões. A minha amiga Rosa veio comigo e quando lhe disse que não conseguia andar mais ela foi a correr chamar a minha mãe. Mas não me lembro do que sentia. Não me lembro de estar com medo, ou aflita. 
Se calhar devia resgatar essa criança, conhecê-la melhor, antes que seja tarde. Se calhar devia ser uma das minha prioridades para os próximos dez anos, porque segundo o que me disse uma cartomante num sonho, eu vou morrer aos 60 e tal anos. É óbvio que nenhum tipo de oráculo nos diz quando vamos morrer, mas nos sonhos tudo é possível e eu fiquei a pensar no que quero fazer nos anos que me restam. Parece que resgatar o meu eu criança é uma delas, mas só me apercebi disso agora. O que tinha pensado antes era que gostava de construir uma casa sustentável e auto-suficiente. Fazer algumas viagens com os meus filhos. Passar tempo com as pessoas de quem gosto e que gostam de mim. Escrever o livro mil vezes começado e nunca terminado. Fazer parte de um PÁRA TUDO até que os palestinianos tenham ajuda, até serem assinados acordos sérios para combater as alterações climáticas, até o que for mais premente resolver-se nos próximos anos. Todos juntos conseguíamos, se ninguém saísse de casa durante um, dois, três dias, sabemos bem as implicações que isso teria. 
O Bruno Nogueira e o Nuno Markl conseguem levar uma multidão até ao Celeiro para comprar stevia. Imagino que com outros congéneres por esse mundo fora conseguiriam juntar gente suficiente para fazer mossa. 
Na verdade, de todas as coisas que me proponho fazer a última é a mais fácil para quem passa 9 horas no emprego, 3 horas em deslocações e recebe o salário mínimo. Mas é melhor começar a fazer alguma coisa, não me resta assim tanto tempo. Não nos resta assim tanto tempo.

Pantufas

23.5.25
Ela era velha, porque era a avó, mesmo que só tivesse 45 anos quando a primeira neta nasceu. Usava botas de água e um chapéu de palha. Na verdade, a neta só a viu assim numa fotografia, na maior parte do tempo ela estava de chinelos com salto, ou socas, saia a direito, blusa florida e lenço na cabeça. Na fotografia também tem o lenço por baixo do chapéu. 
De tudo o que a avó usava o que ela mais gostava era das combinações e da algibeira.
A avó estava pouco tempo em casa. Tinha um emprego numa fábrica de tecelagem. Era tudo para ela, o emprego. Tanto que, segundo disse a um jornal, aquilo de que tinha mais saudades do tempo em que era nova  (nessa altura ela já tinha uns 80 anos), era de ter um emprego. 
Mesmo depois de se reformar era habitual passar muito tempo fora de casa. Por isso era difícil ver a avó, já muito velhinha, sempre sentada com as mesmas saias e blusas (nunca a conseguiram convencer a usar calças de fato de treino por, supostamente, serem mais confortáveis) e pantufas. A avó devia usar sempre botas de água e socas, nunca pantufas. Nunca.
Mas acontecem coisas que nunca deviam acontecer. E coisas que têm de acontecer, como morrermos.

Meter água

9.5.25
Não sei quando comecei a fazer arroz da maneira que faço agora: um pouco de azeite com cebola, ou alho esmagado, misturo o arroz e acrescento o dobro de água. Sei que não foi assim que aprendi - a meter água depois do arroz.
Lembrei-me disso um dia destes, enquanto cozinhava, porque cozinhar é viajar no tempo, que a forma como fazia o arroz em criança (sim, aprendi a cozinhar muito cedo) era uma lição de sagueza. 
Portanto, depois do azeite e cebola metia-se a água na quantidade que pretendíamos de alimento e depois acrescentava-se o arroz, bem no centro do tacho, até o montinho ultrapassar ligeiramente a água. Se corresse mal, era só meter mais água e ficava tudo bem.

Há muitas formas de meter água:

Trabalhadora

2.5.25
O tema desta semana serviu para reflectir sobre estes últimos meses, quase um ano, 328 dias para ser mais específica (não que esteja a contar os dias, claro) a trabalhar numa empresa que detem cinco marcas de Vinho do Porto, a atender milhares de turistas, que visitam as caves. Algumas das conclusões que retirei dessa curta reflexão foram as seguintes:
- Sou, claramente, uma pessoa que não se realiza no trabalho
- A escravatura a que os trabalhadores se sujeitam para sobreviver nunca vai deixar de me espantar 
- A maioria dos turistas é gente boa 
- A maioria dos trabalhadores do turismo é neurodivergente 
- Sinto-me sempre no admirável mundo novo quando encosto o dedo à máquina e ela diz ''Bom dia 1349'' 
- Não gosto de ter colegas de trabalho, ou talvez não goste dos que tenho
- É urgente uma nova ordem mundial, já sabemos, mas este modelo de escravatura dá muito jeito ao Poder. E ao Tony Carreira.

Outras reflexões:


Liberdade

25.4.25
Queria saber como se ensina a liberdade. Quando era pequena achava que ser livre era poder fazer tudo o que quisesse, e continuo a achar, no fundo, só porque tudo o que eu quero é bom para toda a gente, ou não é mau, vá. Mas a liberdade é asas de vento e coração de mar e uma papoila que não quer combater. É poesia, portanto.
Eu queria ensinar a liberdade, porque a liberdade é podermos fazer tudo o que queremos, sim. Só temos é de ser pessoas decentes. E isso ensina-se!