Eu faço legos e descasco laranjas

21.9.16


O facebook achou que eu ia gostar de rever aquela foto ali em cima (será que daqui a 300 anos alguém vai saber o que foi o facebook?) e, realmente, tinha razão. Gostei muito. Aliás, fiquei até meia intrigada, porque tenho pensado bastante nesses tempos, e ocorreu-me que se calhar o facebook também lê pensamentos. Ainda por cima aquela fotografia é de Maio de 2011, o Nicolau tinha duas semanas, portanto aparecer-me como uma efeméride de Setembro é estranho (entretanto fui confirmar e, afinal, não é aquela foto, é uma outra em que eu também estou com sling, mas não deixa de ser bizarro, pronto, ou até mais ainda com esta confusão)
Enfim, vem tudo isto a propósito de ter-nos calhado um horário escolar que faz com que tenha sempre um dos dois comigo, o Nicolau de manhã e o Isaac de tarde, e, por isso, tenho a sensação de que os meus anos de caos regressaram, como se pode ver no cenário da outra fotografia, que é o meu local de trabalho.
Bem sei que, como diz o inigualável Mário de Carvalho, "ninguém tem o menor respeito pelo trabalho da escrita" e se até Alexandre Herculano era acusado de não fazer nada, o que posso eu, uma aspirante, esperar? Não posso deixar de transcrever a hilariante passagem do livro "Quem Disser o Contrário É Porque Tem Razão": "Conta-se que a velha criada de Alexandre Herculano, quando um jornalista curioso lhe perguntou o que fazia o mestre desterrado em Vale dos Lobos, respondeu: «Não faz nada. Nadinha. Passa os dias a ler e a escrever»". Maravilhoso.
Ao menos eu posso dizer que faço legos e descasco laranjas e explico como se faz contas de subtrair.

Provinciana

13.9.16
Um domingo destes calhou estar na rua à hora em que a missa acaba e fiquei a ver a enorme quantidade de fieis que saía da igreja de Motael. Observar as pessoas nas suas vidas, uma actividade vulgarmente conhecida por "ver quem passa" é, como se sabe, uma das coisas preferidas dos ociosos.
Estava toda a gente muito bem arranjada, com folhos coloridos e camisas passadas a ferro e vinham em grupos, ou aos pares.  Ao ver as miúdas a caminhar tortas nos seus vestidos sintéticos e sandálias desconfortáveis, vi-me numa noite em Madrid com uma camisola de gola alta de lã vermelha. A camisola também tinha muito de sintético, mas não foi por isso que me lembrei. Foi por causa de um certo provincianismo que emanava de toda aquela cena, tal como há muitos anos atrás da minha camisola de gola alta que, apesar de se adequar muito bem ao clima na rua, tornava-se obsoleta dentro dos bares onde entrávamos. Toda a gente de decotes e manga curta e eu de camisola de gola alta vermelha.
Nas noite frias do Porto, eu adorava ver as pessoas despir luvas e cachecóis e casacos sobre casacos quando entravam em algum sítio e depois aquele ritual de vestir tudo para ir fumar um cigarro era (e ainda é, suponho) uma maravilha.
Mas eu tinha frio sempre que tentava essa coisa de me vestir por camadas. No Inverno eu gostava mesmo era de uma camisola de algodão, justa ao corpo, por baixo de uma camisola quente e aconchegante, porque na maior parte dos Invernos da minha vida estava sempre tanto frio fora como dentro de casa.
Acho que foi quando me mudei para Lisboa que as camisolas interiores deixaram de fazer parte do meu guarda roupa e, no entanto, não terei sido tão provinciana na minha vida como nessa altura.
Pensava nisto tudo ali em frente à igreja e depois continuei o meu caminho e concluí que provavelmente tenho saudades do Inverno.

Em aprendizagens

5.9.16
Ai-lele é o nome timorense da árvore Ceibra pentandra e desta fibra que sai dos frutos. Comprei três sacos dela e metade de um deu para encher uma almofada de 130cm x 50cm.

Endorreia: o uso do gerúndio de forma exagerada num texto.