A lógica aos (quase) 5 anos

27.6.14
"Mamã, o meu coração parou, mas eu tenho dois corações, por isso é que não estou morto"

Sozinha em casa

26.6.14
Pior do que ter a minha mãe a ligar-me todos dias, porque estou sozinha com os meninos (o Jaime ainda está em Timor e a Bea está de férias com o pai) e pode dar-me alguma coisa; pior do que tratar da comida, dos banhos, do lixo, da roupa, das birras, dos vomitados dos gatos, do supermercado e sei lá que mais sozinha; pior, até, do que as saudades é chegar a casa, começar a fazer o jantar e perceber que me esqueci de comprar cebolas, quando eles já estão nus a jogar matraquilhos na sala, depois de uma ida ao jardim e correrias várias.
Procurei em todos os cantos e frinchas da cozinha por uma merda de um dente de alho, mas nada. Resultado: o frango foi refogado em cenoura, tomate e cogumelos, com pimenta verde e cardomomo. E o Altano, em promoção na benda do Jerónimo, acompanhou muito bem.
Eles beberam água, não se preocupem.

Coincidências (?)

26.6.14
Deve haver uma mensagem subliminar qualquer no facto de eu ter visto dois filmes seguidos (Filomena e A Vida Secreta de Walter Mitty) exactamente com o mesmo enredo, quando nada o fazia prever: Começam com uma busca, que leva os protagonistas a viajar para locais distantes para no fim descobrirem que aquilo que procuravam esteve sempre em casa.

De volta

25.6.14
De regresso a casa, a uma casa vazia de pessoas, mas com dois gatos à nossa espera, tenho de assumir que, apesar da porrada emocional que é estar em casa da mãezinha, fizemos coisas muitos boas, barra, interessantes, barra, importantes:
1-Visitámos a quinta da Mila da serra, onde os pequenos tiveram oportunidade de ver (e pisar) merda de vaca como nunca tinham visto; de correr atrás de galos e galinhas; de tentar mimar gatos e cães bebés; de dizer olá às ovelhas e carneiros e, loucura das loucuras, montar um pónei.
2-Estabelecemos o recorde de passar três horas seguidas na praia.
3-Fomos a uma festa de aniversário.
4-Comemos gelados quase todos os dias.
5-Visitámos um cemitério.
6-Passeámos na carrinha da avó, sentados à frente com os vidros abertos.
7-E trouxemos para casa todo um novo vocabulário. Felizmente a palavra favorita, que eles pensam tratar-se de um insulto, é catchopa.

A passagem do tempo (outra vez*)

19.6.14
Hoje, fui para a praia com a minha amiga de infância. Crescemos juntas, fizemos a primária e o ciclo juntas e, apesar de termos seguido percursos diferentes, continuamos próximas até à maior idade.
Entretanto, a vida, ou lá o que é, separou-nos e passamos a estar juntas muito esporadicamente, mas a Rosa, a minha melhor amiga de infância, aparecia amiúde nas minhas conversas com outras pessoas, com outras grandes amigas.
Curiosamente, há alguns meses, tive de seleccionar umas perguntas para aceder um site e uma delas era, precisamente, o nome da minha melhor amiga de infância, portanto, o nome Rosa, passou a fazer parte do meu dia a dia, como noutros tempos.
E quando me vi com ela em amena cavaqueira, hoje, enquanto os nosso filhos brincavam no mar, pareceu-me absolutamente incrível que tenham passado tantos anos desde que nos conhecemos.
Por muito mais conhecido que seja, não deixa de ser um fenómeno que a primeira metade da minha vida vivida tenha demorado uma eternidade e a segunda tenha acontecido num ápice.

*Já não sei quando, ao certo, mas tenho a certeza que tem sido um tema mais ou menos recorrente.

Família

18.6.14
É muito "giro" isto de estar num sítio onde os meus filhos se sentem tão livres e eu uma quase prisioneira: Não posso deixá-los com a minha mãe, porque eles são "uns demónios largos da roupa, que não estão ensinados" e sair à noite, quando eles estão a dormir, está fora de questão, porque "parece mal".
A ser verdadeira a teoria de que nós é que escolhemos os nossos pais, eu preciso mesmo de um daqueles retiros coisos, de uma leitura dos astros, de hipnose e de todas as outras práticas existentes para perceber esta minha escolha, porque honestamente ultrapassa-me.

O futuro é sempre melhor

16.6.14
Quando terminar esta frase terei começado a escrevê-la no passado. Um passado muito recente, porque só passaram dois segundos, ou nem isso, mas ainda assim no passado.
Ou seja, o presente praticamente não existe. Aliás, só isso justifica que passemos a vida a tomar decisões sobre a nossa vida e a vida dos nossos filhos, com base no que será melhor no futuro.
E à medida que vamos envelhecendo (hesitei entre usar o verbo crescer e o envelhecer, mas é este último que se aplica) o futuro começa a ser uma coisa completamente diferente.
Não sei se é por isso que a minha avó chora tanto e tantas horas seguidas. O futuro dela não se avizinha melhor do que o presente que é já passado.
O meu futuro, para já, é o regresso do Jaime de mais uma viagem. A mudança de casa, se vier a acontecer depois do incêndio, e a mudança de escola dos mais novos. Um futuro bem melhor, em comparação com este/aquele momento aqui em casa da minha mãe. 
Mas sobre o futuro, que só pode ser sempre melhor, não sabemos nada. E isso é a verdadeira, se não a única, essência da humanidade. 

É preciso é estilo

12.6.14
A declaração de IRS apresenta divergências.
Houve mais um despedimento colectivo nos jornais. Não sei se as 160 pessoas que ficaram sem emprego eram todas jornalistas. Eram números, isso é certo. Agora são pessoas e elas sabem, têm de saber.
Estou com diarreia.
Há bandeiras nas janelas do meu bairro. São de países. Dos países das pessoas, ou dos números. Não sei bem.
Matei piolhos um dia destes.
Houve um incêndio na futura casa.
Deixei ficar o livro no chão. Os gatos vomitara-lhe em cima.
Mas ninguém pisou merda, desta vez.
O que quer dizer colectiva - perguntou o Isaac?

A felicidade é um carrinho de mão e uma bola amarela

11.6.14


Fui eu gastar 14€ na Ludopolis para eles brincarem com o mesmo de sempre. O Isaac com relva e pedras e o Nicolau com uma bola. Foram duas horas nisto. Bom, ao menos a Beatriz ainda esteve sete minutos de volta de um puzzle.

A eternidade e um dia*

9.6.14
Não sei como dizê-lo de uma forma "aceitável", mas há muito poucas coisas que faço com os meus filhos que me interessem. Aquilo que fazemos juntos, faço-o por eles e não por mim. É claro que isso deveria ser suficiente para fazer de mim a pessoa mais feliz à face da terra, mas não, lamento muito ter de o dizer.
No entanto, isso não significa que não tire proveito de muitas das coisas que fazemos juntos. Por exemplo, na feira do livro eles preferiram brincar no jardim a passear pelo meio dos stands e não deixou de ser muito agradável beber um fino enquanto os pequenos corriam pelo labirinto (ou uma espécie de labirinto), um deles descalço, com o livro acabado de comprar debaixo do braço.
Sim, eu queria ter andado atrás das oportunidades, ter lido umas quantas contracapas, ter ouvido o José Gil, etc., mas vê-los correr felizes, abrir os braços para que se aninhem mais uma vez em nós, tem o seu quê de perene. Tal como alguns livros.
E depois, tive tempo de recolher a revista Ler, que andavam a oferecer, com o encontro de Georges Steiner e António Lobo Antunes, mas isso dá um outro post.

*copiado, sem querer, ao Angelopoulos.

Há sensações universais 9

5.6.14
"Acredito que o mundo está cheio de histórias, que as nossas vidas estão cheias de histórias, mas só em determinados momentos somos capazes de vê-las ou de compreendê-las. Temos de estar prontos para entender aquilo que está a acontecer-nos."

Paul Auster, Experiências com a Verdade, edições ASA, 2003

Gnocchi

3.6.14
foto daqui
A certa altura do livro, Siri Hustvedt diz ao marido, Paul Auster, que foi precisamente para conhecer pessoas, como o homem que encontraram num restaurante, que quis ir viver para Nova York. Curiosamente, a tal pessoa fascinante que conheceram tinha nascido na mesma cidade que ela, no Estado do Minnesota, mas não é essa coincidência que me interessa agora.
Hoje, almocei gnocchi pela primeira vez na minha vida e aquele prato de pedaços de batata com farinha continha duas evidências que costumam passar-me despercebidas:
1- é a possibilidade de continuar a fazer coisas pela primeira vez, até ao resto da minha vida, que faz com que nunca esteja bem no mesmo sítio.
2- com dois, ou três ingredientes básicos, básicos, podem fazer-se coisas incrivelmente boas!