Os nossos amigos e os nossos filhos

27.3.13

Eu sei que ninguém me perguntou nada, mas sabem o que é mesmo, mesmo importante na educação dos nossos filhos? É termos amigos que gostem deles, ou que não se importem de estar com eles, vá.
É muito giro pensarmos em programas para fazer com os miúdos, ou em actividades que se adequem  à personalidade deles, é muito bom olharmos para eles e ver como estão crescidos e felizes. É bonito jogar à bola no jardim e fugir das ondas na praia.
Mas bom, bom é estarmos entre amigos, a comer e a beber e a conversar, com os putos por ali a brincar e a chatear de vez em quando. Evidentemente que para isto saber bem é preciso o número de adultos ser muito maior do que o de crianças e estas chatearem na medida certa, o que raramente acontece, sobretudo quando são muito pequenos.
É por isso que eu tenho pena de ter os meus amigos longe, porque acho mesmo que os meus filhos viveriam experiências muito mais interessantes (como as festas de S. João nos Guindas em que era preciso combinar quem ficava sóbrio para olhar pela Beatriz; ou as festas de aniversário na Mártires da Liberdade em que ela acabava a fazer passagens de modelo), mas por outro lado ainda bem, porque não sei como seria o convívio entre as minhas crianças mais pequenas e os meus adultos preferidos e, assim como assim, posso sempre dizer que convivemos pouco, porque estamos longe.

Se formos a ver, na doença e na saúde, é do corpo que falamos

24.3.13
Este post vai parecer despropositado (ao que isto chegou, eu já penso no que os posts vão parecer!), mas eu estou sozinha em casa com duas crianças pequenas, depois de ter deixado a criança grande em Sete Rios para ir para o Porto, sozinha, ter com o pai, e de ter partido o passe da carris, e de ter perdido o recibo, ou de o ter dado ao Nicolau, que o comeu, e de ter esperado pelo 701 mais de meia hora com um puto a chorar que lhe doía a língua e outro que queria flores...

Nos últimos dois, três anos, tenho vivido relativamente bem com as marcas da passagem do tempo - isto é, com o rápido envelhecimento do meu organismo -, com a "desculpa" das gravidezes depois dos 35 anos mais o meu natural desprendimento com a aparência. No entanto, tenho vindo a sentir-me bastante desconfortável com o meu corpo de uma forma pouco habitual, uma vez que as crises com a minha aparência são bastante frequentes. 
Eu percebo a lei da gravidade e, de alguma forma, estava preparada para ela. Custa-me olhar para a minha barriga, mas aceito que um sítio que acolheu três fetos e um embrião esteja neste estado e, tendo em conta o que eu gosto de comer e beber, até não está nada mal, diga-se. Agora, esta coisa da gravidade ter chegado lá baixo, e quando digo lá baixo quero mesmo dizer às partes íntimas, à pássara, portanto, ou órgão genital feminino, se preferirem (vagina? a sério que preferem vagina a cona?) está a mexer-me com o sistema límbico. Eu não sei ao certo explicar o que está diferente, mas meti na cabeça, e toda a gente sabe que é o que está na cabeça que conta, que a minha "nabiça" está diferente. E eu podia, e estava quase a fazê-lo, pôr-me aqui a explicar o que está diferente, mas acho que ninguém está interessado nisso.

Das duas uma, Jaime, ou deixas de fazer estas viagens a Timor, ou passas a fazê-las de surpresa, tipo, depois de amanhã vou para Timor, porque assim está visto que não funciona. Quer dizer, se desta vez os pequenos foram atacados pela febre aftosa, eu nem quero imaginar o que será na próxima.

Pombas

21.3.13
Quando me detenho a pensar na razão de tantas pombas serem mancas, fico a saber, nesse mesmo dia, pela senhora do quiosque onde compro o jornal à sexta-feira, que as patas gangrenam, por causa de fios que ficam presos, acabando por cair.
A seguir leio um artigo em que o Edurado Lourenço diz que "esses bichos que o homem escolheu como símbolo da paz, são os pássaros mais ferozes que existem".
E este tipo de detalhes, não sei porquê, dão um certo sentido à vida. Isso e eu andar vestida com a roupa do Jaime e com a chupeta do Nicolau no bolso do casaco.

Dia do pai

19.3.13
O meu pai teve uma amante que se chamava Celeste. Segundo a minha mãe nunca chegou a acontecer nada entre os dois, mas ele "esteve muito apaixonado por ela e ela era linda como o sol".
Não era uma puta, uma destruidora de lares, etc., era uma rapariga muito nova, com dois filhos, e linda como o sol. "Devia ter juízo e pensar nos filhos dela, mas ele é que era o burro velho [32 anos] e por isso a responsabilidade era dele".
Por mais anos que viva vou ter sempre dificuldade em perceber como é que numa família tão "emotiva" (grita-se, chora-se por tudo e por nada, parte-se loiça e por aí fora) se consegue ser tão imparcial. A amante do meu pai era linda como o sol e eu tinha as pernas tortas e era "fraquinha" (fraquinha, para quem não sabe, significa ser feia, não tem nada a ver com fraqueza de ossos, ou assim) -  e agora vamos todos fazer de conta que eu não acabei de me comparar à amante do meu pai, ok?
Para ser sincera nem sei o que estou para aqui a dizer, porque não tinha intenções de escrever sobre o dia do pai uma vez que não simpatizo particularmente com o dia do que quer que seja, a não ser que inclua comida e álcool...Ah, já sei como cheguei aqui: vou passar a Páscoa com a minha família, ou seja, com os meus ascendentes sobreviventes, a minha mãe e a minha avó, e os meus filhos, claro, que também não são propriamente lindos como o sol, mas brilham tanto como ele quando sorriem.

P.S A esta hora há um Pai, assim mesmo com P grande, a sobrevoar a Europa em direcção à Asia, que gosta do dia do pai. Para ti, Jaime, um beijo de todos nós. Já agora, o Isaac tem febre.

Tinhas razão, mãe

18.3.13
Bem, talvez tenha chegado a altura de dizer publicamente: "tinhas razão, mãe". Eu sempre quis dar passos maiores do que as pernas, ou, para usar a versão que mais te divertia, peidos maiores do que o cu.
O que eu nunca pensei é que ia chegar aos 40 anos (quase, vá) a querer continuar a dar peidos maiores do que o cu, tendo em conta o tamanho que este atingiu!
Mas a cena mais engraçada é que eu nem sequer tenho aquelas ideias megalómanas de tirar um curso superior, arranjar um emprego, sustentar-me sozinha, aprender tudo sobre literatura, cinema, artes em geral e desportos radicais, e conhecer o amor da minha vida e ter um filho (isso foi aos vintes); ou fazer novos amigos, viajar, encontrar outro amor da minha vida, descobrir outras tantas coisas novas e ter mais filhos (isso foi aos trintas). Não, as coisas que eu quero agora são mais simples, bem mais simples e, no entanto, parecem quase inalcançaveis.
Por exemplo, eu queria que o Nicolau não estivesse doente há duas semanas, que não tivesse sido sujeito a exames violentos e que depois de tomar o antibiótico duas vezes (duas vezes não significa duas tomas, mas não vou estar agora aqui com explicações técnicas)  não fosse prendando com mais uma febre aftosa, mas vou fazer o quê? (além de chorar, obviamente) Vou esperar que ele amanhã acorde sem aquelas postulas na boca e que esteja bem disposto o suficiente para ir para a escolinha sem que uma pessoa se sinta a pior merda à face da terra. Vou esperar que a minha filha perceba que o meu amor por ela é igual ao de sempre, mesmo estando-me eu a cagar para os dramas da Rachel, no Glee, ou para o facto de ela não ter o que vestir (sobretudo, porque a roupa dela está algures no quarto para lavar). E vou esperar que o meu menino do meio saiba que ele será sempre o meu menino lindo, mesmo que eu não lhe dê tanto colo como dou ao irmão.
E, parecendo que não, acho que nunca tive de dar passos tão maiores do que as minhas pernas, sobretudo com a proximidade de mais uma viagem do Jaime, mas continuo a querer esticar os membros ao limite, apesar de já ter rachado a cabeça e esfarrapado as canelas.

O pai dos meus filhos é a Licia Ronzulli em gajo

13.3.13

Nós

13.3.13
Quando chegamos ao nosso local de trabalho e nos perguntam como está o nosso filho e nós desatamos num pranto, sabemos que essa coisa de ter uma profissão claramente não é para nós.
Nós somos pessoas de andar com os putos a tiracolo de um lado para o outro, cheios de ranho e migalhas de pão. De vê-los transformarem-se em croquetes na praia e rangers no jardim. De dizer muito mal da nossa vida, porque os putos isto e os putos aquilo e não há paciência. Somos pessoas de os querer sempre perto, e muitas vezes longe, sem dias e horas marcados para isso. Somos pessoas de decidir em cima da hora ir passar um fim-de-semana a qualquer sítio, mesmo sabendo que o mais provável é a coisa não correr muito bem. Somos pessoas que levantam pedras à procura de moedas, mas em vez disso encontram centopeias (e se a vida te dá centopeias...). Somos pessoas que decidiram usar a primeira pessoa do plurar, em vez do singular, por razões que nos ultrapassam.

Conciliar é uma treta

11.3.13
O Nicolau está doente há mais de uma semana e eu, provavelmente, tenho uma amigdalite.
Conciliar é uma treta.
Mas a Ler Devagar é espectacular.

Definição de fim-de-semana

10.3.13
"Um fim-de-semana é assim um rinoceronte cheio de buracos", Isaac Fonseca Xavier

De cabeça vazia

7.3.13
Começo a relembrar o que significa isto de uma pessoa "se ocupar". Quanto mais uma pessoa se ocupa, mais a cabeça se esvazia, mais os gestos se tornam mecânicos. Depois, as coisas vão indo, vão indo até que os beijos se tornem também eles mecânicos, desprovidos de sentimentos. Há até quem consiga sorrir mecanicamente.
Chegados aqui podemos fazer inversão de marcha, ou dar meia volta, que isto de se usar metáforas com veículos não faz sentido no meu caso, mas há coisas que nunca mais podemos atirar para trás das costas, porque somos mães e pais (será?). Cada um vive à sua maneira a maternidade e a paternidade. Há quem viva muito feliz e contente e dê muitas graças a Deus. Há quem viva menos feliz e contente e dê muitas graças a Deus. É quando não se sabe como viver que a porca torce o rabo. E aqui, ao contrário de muitas pessoas, gosto da ideia de terapia, porque apesar de só servir para alimentar a nossa "hipocondríaca vaidade", como me disse em tempos um amigo, faz-me falta "fazer confissões e regular a serotonina".

Primeiro mês a trabalhar

3.3.13
- Então, conta lá, como tem sido isso de conciliar trabalho e filhos? - perguntam vocês com incontrolável curiosidade.
- Olhem, tem sido como estar de férias - respondo eu.
- AHAHAHAHAHA - dizem uns. LOL - escrevem outros. A sério? - perguntam outros tanto.
- Eu explico: Nunca temos a roupa que precisamos para vestir; muitas vezes temos de improvisar refeições; dormimos todos juntos, comemos bolachas com chocolate antes de jantar e nas horas mortas acabamos sempre agarrados ao computador a trabalhar.
- Ah, isso é enquanto não apanhas o ritmo. É uma questão de te organizares, vais ver - dizem vocês, pessoas queridas.
- Eu sei, eu sei - digo eu (mas na verdade não sei nada) - o problema é as funções que aceitei não serem compatíveis com flexibilidade de horário, mas parece-me que conseguiremos viver com isso durante cinco meses (muito à custa da flexibilidade de horário do Jaime, e, pelos vistos, da sanidade mental dele, e porque temos a ajuda da Raquel). Agora, mais do que isso é impensável. A ginástica que temos de fazer para não faltar ao trabalho (no meu caso),ou para conseguir fazer tudo o que é preciso (no caso do Jaime) é surreal.
- Isso significa que depois de acabar o contrato não vais procurar outro emprego?
- Hmmm, pois, não sei, isto de ter um emprego tem mesmo muitas vantagens. Num mês já recebi mais elogios do que num ano, por exemplo, e eu, há que admiti-lo, preciso tanto de elogios como de...sei lá...vinho. E depois, é incrível como se pode justificar tudo e mais alguma coisa com o trabalho, mas efectivamente eu vivo relativamente bem sem ter que me justificar.
- E, então, o salário? não é fixe poderes comprar coisas? - perguntam.
- É, é muito bom, mas os óculos novos, por exemplo, ainda não consegui comprá-los. Durante a semana a óptica está fechada, à hora que chego, e este fim-de-semana, não tive tempo. Talvez no próximo. E a depilação também terá de ficar para depois, para quando não tiver crostas nas canelas.

Onde é que estavas no dia 2 de Março?

2.3.13
Derivado a problemas nas tripas, estava na sanita, mas cantei a Grândola, em frente à televisão, com milhares de portugueses. E comovi-me.