Todos os problemas com a idade, ali a partir dos 35, são uma parvoíce comparados com a proximidade dos 50 (aos 70, se ainda estiver viva, vou rir muito disto, eu sei), que é quando nos vemos num corpo que não reconhecemos como nosso.
Além de estar como o Sérgio Godinho - ''Dói-me o joelho/ Dói-me parte do antebraço/ Dói-me a parte interna/ De uma perna/ E parte amiga/ Da barriga/ Que fadiga'', tenho partes do corpo sobredimensionadas para praticamente todo o meu guarda-roupa. E não é aquela coisa de ter uns quilos a mais, ou não é só, é mais do que isso. É como se estivesse a transformar-me numa pessoa de...quase 50 anos (AUCH!!). E isso até nem seria mau (haja saúdinha) se na minha cabeça eu fosse uma pessoa de quase 50 anos. Ou se, pelo menos, quisesse ser.
Há muitas vantagens em ser uma pessoa de quase 50 anos. Supostamente estamos reconciliadas com os erros do passado, perdoamos a quem tínhamos de perdoar, deixámos ir o que tinha de ir e sabemos a quem queremos dedicar o nosso tempo. Só que não.
Há sempre uma inquietude a perseguir-me, por isso soube mesmo bem quando ela me disse, citando Adèle Van Reeth, "que sejamos sempre atingidas pelo dardo da intranquilidade".
A seguir perguntei-lhe se se lembrava de termos comentado o filme Antes da Meia-Noite, porque tinha-o revisto na televisão e não me lembrava o que me tinha desagradado. Depois ocorreu-me que deve ter sido por a Celine se ter tornado uma mãe como nós. Seja como for, tenho a impressão que achei piada ao filme quando estreou, mas gostei mais de o rever.
A Celine tinha 41 anos, o que quer dizer que se fizerem outro Antes... ela terá 50 anos. Acho que vou enviar um e-mail ao Richard Linklater com umas sugestões. É mais uma daquelas ideias para juntar à do episódio do Odisseia e ao argumento de um livro de Amin Maalouf.
Se bem que, a avaliar pela forma como tentei explicar aos miúdos a diferença entre ácido e azedo, a minha capacidade para explanar está uma desgraça.