Em 2012

30.12.11
Cheguei aquela fase da vida em que em vez de querer ser feliz e ter saúde em 2012, desejo a capacidade de saber lidar com a doença e de procurar a felicidade nos sítios certos.
Ah, e já agora, que deus conserve a minha vizinha, que de vez em quando vem cá trazer doces maravilhosos e outras iguarias gastronómicas e cuida dos meus gatos quando vou para fora.

Este é um post encomendado*

30.12.11
Uma manhã fria de sol. A Praça do Almada bonita como está. O Natal no dia antes. Uma amiga com a família.  Os croissants da Ribamar. As correrias pela Junqueira. As francesinhas e o mar. A Póvoa de Varzim é uma cidade bonita, sem merda de cão nos passeios e pasmada com a rapidez dos anos. Sim, é uma cidade sentimental.


*mas verdadeiro

Diz que o Natal está aí à porta

22.12.11

Não consegui fazer tudo o que precisava, ou gostava, mas ainda assim o número de prendas compradas diminuiu drasticamente. Os embrulhos são em cartolina feitos por ela.

E, pronto, Feliz Natal, então.

Cada um tem aquilo que merece

21.12.11
Não tenho uma lista dos melhores livros ou filmes de 2011, mas tenho uma colecção de pêlos invejável. Tão invejável que o Isaac olha para as suas próprias pernas  e comenta com alguma desilusão "o Isaac não tem pêlos!" e depois traz uma tesoura para cortar os meus.

Haverá desempate nisto?

20.12.11
A questão é: será que eu deveria ter sido mãe?

SIM
,os meus filhos, até ver, parecem gente boa

,muitos daqueles momentos que nos fazem sentir que vale mesmo a pena andar por aqui têm a ver com eles

,acho que me seria muito mais difícil viver sem o amor incondicional e, até prova em contrário, ele só existe pelos filhos

,eles são felizes

NÃO
,quando me vejo com eles (acontece-me muitas vezes olhar para nós como se estivesse de fora) tenho a certeza que, em determinadas circunstâncias, os meus filhos poderiam ser-me retirados (e os gatos também)

,digo demasiadas vezes a mim própria, aí umas cinco, ou seis vezes por dia, que estou farta desta merda (mas tenho de fazer sopa outra vez? mas já acordaste? mas porque caralho não dormes tu? mas vocês acham que eu não tenho mais nada que fazer? sopa? mas que raio estou eu aqui a fazer? mas como é que isto ficou assim se há bocado estava arrumado? sopa?...)

,nunca me acontece apetecer bater com a cabeça na parede  (e ocasionalmente fazê-lo) tantas vezes como quando estou com eles

,acho, mais vezes do que o que seria desejável, que me sacrifico por eles (o que é mentira, eu refugio-me nisso para não bater com o focinho na realidade)

Tapete de puxados

16.12.11


"Vivíamos os dois numa certa forma de protesto (bastante vago) contra a sociedade (...).
Ela estava sempre a fazer tapetes. Quando mudávamos de casa, o tear era sempre o mais difícil de desmontar e de montar novamente (...) era ela que tingia as fibras, fabricando os corantes com plantas, como antigamente."*

Há muito tempo que ando a tentar trazer um dos teares que a minha mãe tem para as sucessivas casas em que já morei, mas são demasiado grandes e barulhentos para um apartamento.
Sempre achei romântica a ideia de fazer os meu próprios tapetes, a minha própria roupa, etc., mas ao mesmo tempo essas sempre foram actividades ligadas a uma forma de estar na vida muito diferente desta que tenho agora. As tecedeiras e costureiras que conheci e com quem convivi eram mais operárias do que artesãs. Sim, sabiam da sua arte, claro, algumas gostavam muito do que faziam (como a minha avó), mas a maioria desempenhava as suas tarefas em modo automático, como é normal numa fábrica. E eu não gosto de fábricas. Gosto da ideia da fábrica, claro, de conhecer os processos de fabrico de determinados materiais, das linha de montagem e por aí fora, mas eu trabalhei numa fábrica, fui operária têxtil, numa fase difícil da minha vida, e por isso guardo-lhes, às fábricas, um enorme rancor.
Por isso, durante muito tempo, apesar do mistério que as coisas feitas à mão me parecem esconder  (uma coisa quase parecida com o mistério da vida), fui recusando a ideia de me dedicar a elas.
Mas, ironia das ironias, aqui estou eu a mostrar um tapete, feito pela minha mãe, e que está à venda lá no sítio.

*Lars Gustafsson, A Morte de Um Apicultor, Trad. Ana Diniz, Edições Asa.

Basicamente os computadores e a internet existem para destruir a harmonia do lar

13.12.11
Deve ser possível fazer uma lista das coisas que preciso de fazer no computador e destinar uma hora ou duas para isso, em vez de ter o computador ligado todo o dia e vir aqui vinte vezes durante dez minutos, no máximo. Mas não sei porquê acho que se o fizer vou desperdiçar parte dessa(s) hora(s) a fazer outras coisas que não as que preciso. Ou seja, é mais ou menos como quando andava na escola: se eu não estudasse muito tinha uma boa desculpa para as notas medianas. Agora, como não estou mais do que dez minutos seguidos no computador é normal que não consiga fazer o que preciso.
Por outro lado, acho que funciono melhor assim:

[interrupção para fazer de conta que adormeço o mais velho ao colo e para o deitar no chão e dar-lhe muitos beijinhos]

Estou a estender roupa e lá está o bando de pássaros com um canto estridente e ao mesmo tempo melodioso e eu a pensar "serão melros?" e sem saber como já saí da janela e já estou a abrir o computador para confirmar. Ou leio uma frase que me faz lembrar qualquer coisa e decido escrevê-la no blog.Ou estou à espera de um e-mail

[interrupção para o sentar no sofá com um brinquedo e dizer-lhe para esperar um bocadinho que a mamã está quase a acabar uma coisa no computador]

e acho que se vier abri-lo muitas vezes chega mais depressa. Ou lembro-me que era giro ver o resultado de juntar as várias frases que ficaram a fazer eco (uma da Pilar del Rio, no documentário do Miguel Gonçalves Mendes;outra da Allison Janney no filme do Todd Solondz, outra do Lars Gustafsson, neste livro) e vou à procura delas no youtube, ou no livro....

[interrupção para montar uma tenda, dar a sopa ao mais novo que acabou de acordar, partir uma maçã em gomos e desfazer outra com a varinha mágica]

Enfim, tenho a sensação que faço mais coisas assim do que se estivesse sentada ao computador durante algum tempo, mas sou capaz de estar redondamente enganada.

[interrupção para gritar "Pára lá com isso, vais partir o copo". "Não grites". "Cuidado, assim magoas o Nicolau"]

E provavelmente seria mais eficaz quer naquilo a que me propus quando decidi ficar em casa - educar eu os meus filhos, como a fazer alguma coisa de útil no computador, ou a estender roupa. Além disso, tenho quase a certeza, não praguejaria tanto.

Balanço

12.12.11
Este ano não foi muito diferente do anterior: pari e continuei a amamentar.

(por acaso estou a ser injusta: mudei de casa, se bem que o ano passado também; a Bea foi para o  primeiro ciclo; o Isaac deixou a fralda e, entretanto, exigiu-a de volta; o Nicolau cresceu e eu e o Jaime envelhecemos a olhos vistos)

Pronta

10.12.11

Passei parte dos últimos dois meses a trabalhar nesta manta Puzzle. Estava com algum medo de não conseguir acolchoá-la à máquina por ser muito grande, mas acabei por gostar bastante do resultado.
Foi uma encomenda de uma amiga para oferecer a alguém especial e espero que ambas gostem tanto dela como eu. É que uma pessoa passa tanto tempo de volta dos tecidos, a escolhê-los, a cortá-los, a cosê-los a passá-los a ferro, a mirá-los e remirá-los, que acaba por se afeiçoar à coisa. Depois é quase estranho vê-la ir-se embora. Mas, pronto, vendi o meu primeiro quilt. Obrigada pelo voto de confiança, Luísa.

Obrigada Lisboa

10.12.11
Vestir, tomar o pequeno-almoço, sair de casa e deixar as crianças entregues à melhor pessoa com quem poderiam ficar, o pai, é assim uma experiência a roçar o pecado da luxúria. Sair de casa de manhã e chegar ao fim do dia é experimentar, ao mesmo tempo, um milagre...mas chega de referências religiosas, até porque a transcendência não foi assim tão duradoura e só aconteceu porque saí para passear e não para me enfiar num gabinete bafiento como, infelizmente, muita gente tem de fazer.
Há muito tempo que andava a reclamar umas horas só para mim, fora de casa, mas por uma razão ou por outra a coisa nunca se proporcionava (basicamente acho que era por preferir continuar a ter razões para me queixar, porque esta coisa do sou tão desgraçada está-nos no sangue), acontece que nos últimos dias, talvez semanas, ou meses (?), comecei a sentir que as minhas funções vitais estão a desaparecer, tais como pensar, e portanto houve que tomar medidas. 
E assim fui parar, numa sexta-feira de manhã, à Mouraria e, mais uma vez, apaixonei-me por esta cidade. É impagável esta sensação de descobrirmos coisas absolutamente fantásticas a pouca distância de casa, esta sensação de entrarmos noutros continentes sem sair do país. Passear por corredores barulhentos, confusos e coloridos e sair para uma praça cheia de luz e ver gente com pressa, com vagar, gente sem ter para onde ir, gente que parece nunca chegar onde quer, gente feliz, gente em férias, gente doente. Ver gente. 
E depois sentar-me numa cadeira vintage, a uma mesa vintage, da Outra Face da Lua, a comer uma sopa moderna e por aí fora até serem horas de regressar a casa.

Olá, chamo-me Carla, tenho 38 anos e preciso de ajuda

5.12.11

Chega uma altura em que uma mãe precisa de admitir que necessita de ajuda. Deixar cair os miúdos ao chão* pode ser um indício de que chegou essa altura.



(*Em minha defesa tenho de esclarecer que não tive como prever a lei da física que faz virar um carrinho, com um bebé deitado e outro atrelado, ao descer uma daquelas rampas da Gulbenkian. E não aconteceu nada de grave aos pequenos.)

A Árvore de Natal mais Feia do Mundo

3.12.11


































Dois post seguidos com o Natal dentro poderia ser caso para indagar o meu subconsciente se eu não tivesse a certeza absoluta que não há lá nada, nem no sub, nem em nenhum outro patamar da consciência, porque a minha cabeça anda mais ou menos como o balde que segura a Árvore de Natal Mais Feia do Mundo.
Posto isto, poria também aqui qualquer coisa sobre a necessidade de andar vestida confortavelmente e como isso nos pode levar, ao longo dos anos, a acabar com trajes deprimentes no supermercado e, pelo meio, ainda diria que isso acontece por causa dos filhos.
Depois, um bocado cega pela enxaqueca e um tanto ressabiada com os milhões de pessoas melhores do que eu (42,7% delas mães), punha aqui isto e, mais uma vez, culpava a maternidade por sugar toda a minha energia criativa e impedir-me de fazer coisas assim e outras ainda mais fixes.
Mas assim como assim, creio que ir a Monsanto apanhar pinhas e lenha para a lareira e vir de lá com a Árvore de Natal Mais Feia do Mundo, porque o Isaac a viu no chão e chamou-lhe árvore de natal, e depois enfeitá-la como se vê reconcilia-me com a maternidade e impede-me de dissertar sobre o que poderia dizer e não disse.

O Pai Natal tem piada

30.11.11
Lembram-se de eu ter pedido ao Pai Natal para ser uma mãe como a Laura? Pois bem, acho que a coisa funcionou ao contrário, ela é que ficou igual a mim.

Trabalho

29.11.11
Fiquei a pensar (além das coisas normais, que ocupam a cabeça de toda a gente, tais como: "se calhar devia ter fotografias bonitas no blog) quais seriam os "trabalhos agradáveis" para mim e cheguei à conclusão que até há bastantes:

*Assistente da Maria do Rosário Pedreira ;
*Residente de residências artísticas;
*Ajudante na retrosaria;
*Livreira na Pó dos Livros;
*Investigadora de cenas;
*Cronista.

MQTEC

23.11.11
Diz-se que há cada vez mais mães que ficam em casa (MQFEC) a tornarem-se mães que trabalham em casa (MQTEC)* e, apesar de achar e saber que é uma realidade, não consigo deixar de pensar como é que conseguem. É claro que a primeira coisa que me ocorre é que estas mães já têm os miúdos na escola, mas não, há um sem número de exemplos, incluindo no nosso lindo Portugal, que o desmentem.
O artigo da CNN apresenta vários casos de sucesso e diz que hoje em dia, ao contrário do que acontecia há uns anos, em que as mães se dedicavam às artes e crafts, há cada vez mais profissionais a trabalhar em áreas como o direito, marketing e coaching dos media, por exemplo.
Ora eu, que ainda estou no passado, fico astonished (a palavra vale por si, mesmo sem tradução) com isto tudo. É que ainda ontem consegui a proeza de costurar durante uma hora, de manhã, enquanto o bebé dormia. Mas para isso tive de deixar o Isaac rasgar uns quantos livros, acabar de riscar o bocadinho de parede que faltava, tirar TODO o tipo de tralha que estava dentro do armário e ainda deixá-lo vir ao meu colo ver a máquina a funcionar.
Depois, à noite, perdi duas horas a descoser o que tinha feito, porque, reparei nessa altura, estava tudo mal.


*tradução livre de SAHM (stay-at-home moms) e WAHM (work-at-home moms), apesar de estas expressões serem tão mais felizes em inglês do que em português.

Do saber aproveitar enquanto dura

22.11.11
Houve um tempo na minha vida em que a esta hora estava a meio da manhã e não a terminá-la. E eu achava que esse tempo era o início de tudo o que me esperava pela frente. Afinal não. Acabou ali.

Alguma coisa se passa

21.11.11
Nos últimos dias aconteceram algumas coisas verdadeiramente preocupantes do meu ponto de vista, que tem um alcance relativamente limitado, como se sabe, uma vez que à minha volta há paredes com janelas para a rua, uma para o país dos brinquedos e outra para redes sociais:
a) estive a juntar mais de 300 (trezentos) quadrados de tecido na máquina de costura ao som da rádio Renascença;
b) fui ao cinema e depois de sete meses à espera deste momento dei por mim levemente irritada por a sala estar cheia, por se ter sentado ao meu lado uma pessoa a tresandar a perfume e a não vibrar com o último Almodóvar;
c) a caminho de casa, pouco depois das 21h00, senti medo;
d) não posso beber leite, enquanto amamentar, porque o Nicolau é alérgico a uma proteína do leite de vaca, e ainda não me armei em desgraçada por causa disso.

Tenho encontrado algumas resposta para questões do passado: será isto a sabedoria?

18.11.11
Já sei porque partilhamos aposentos com bichos que andam com o olho do cu à mostra: é porque os animais domésticos olham para nós com aquele ar de espanto parecido com o dos bebés.

Sim, poliamida, a culpa é toda tua!

14.11.11


















Descobri que esta coisa de tricotar, além de nos dar a sensação que somos espectaculares, porque sabemos fazer coisas giras (às vezes), é mesmo muito relaxante. Acontece que eu, até há pouco tempo, não tinha tricotado outra coisa que não fosse toda ela lã e depois de experimentar esta (que é mesmo muito bonita) cheguei à conclusão que não me serve. Os 25 por cento de poliamida deixam-me os nervos em franja, estragam toda aquela sensação da lã no bambu, no pescoço e nos dedos, que outras (como esta por exemplo) deixam.
Pode ser da minha inexperiência, ou de não ter percebido bem as instruções para fazer as luvas, mas a verdade é que dei por mim a pensar no que me terá dado para me pôr a tricotar e a costurar.
É óbvio que não é preciso fazer um grande trabalho de introspecção para perceber que esta dedicação aos lavores coincide com duas gravidezes quase seguidas, que natural e ironicamente me fecharam em casa quando tinha acabado de me mudar para Lisboa. A questão que me levantei de seguida é que é preocupante: em que me vou eu meter quando a casa não for o sítio onde passo a maior parte do meu dia...estarei a fazer o quê? será que vai continuar a apetecer-me tricotar e costurar?
Shame on you, poliamida, esta não é, de todo, uma boa altura para pensar nisso.

P.S fui confirmar as outras lãs que já usei e parece que menti com quantos dentes tenho. Já fiz meias com esta e esta e adorei, sobretudo a Noro. Só me resta pedir perdão à poliamida.

Às vezes consegue-se ver o tempo passar

13.11.11
Há alguns anos atrás fiz uma reportagem sobre o aloé vera. Nessa altura ainda não sabia fazer reportagens, nem que nunca chegaria a aprender verdadeiramente, mas decidi ser original (todos nós achamos, uns mais que outros, claro, que somos muito originais de vez em quando) e usar nos intertítulos frases de um livro.
Para fazer o trabalho fomos, eu e o Filipe, o fotógrafo, de transportes públicos para Braga, porque nenhum de nós conduzia. Eu estava grávida de pouco tempo e o Filipe, pareceu-me, estava interessado na Andrea.

Passaram onze anos.

A Beatriz está no quinto ano. O Filipe e a Andrea têm dois filhos. O livro de José Riço Direitinho vai ser reeditado e eu ainda não conduzo.

Funeral

9.11.11
Acontece-me, ocasionalmente, ter de largar tudo e sair de casa. Ir como se fosse ao encontro de alguém, de alguma coisa marcada. Ir com pressa. Ir, pronto. E essas idas vão ter, invariavelmente, a um jardim.
Aqui em Lisboa, costumo ir parar ao jardim da Estrela, mas da última vez que isso aconteceu segui, num impulso inexplicável, um grupo de pessoas que entrava na basílica. Lá dentro, duas cerimónias fúnebres. Fiquei para a minha vida. Eu não vou a um funeral há anos, felizmente, mas garanto que aqueles a que fui não eram assim tão, como dizê-lo, higiénicos. Sim, higiénicos é a palavra que me ocorre, em comparação com os funerais a que assisti, onde o sofrimento parecia encher as casas e as igrejas de um fedor insuportável. Os funerais a que eu assisti fediam a sofrimento.
É óbvio que não fiquei lá muito tempo, aliás, saí quase a correr quando me apercebei do que se tratava, mas se não tivesse visto os caixões pensaria que tinha estado num daqueles eventos das empresas. Havia comida em bandejas, funcionários da agência fúnebre fardados e muito profissionais e pessoas que entravam, cumprimentavam-se e ficavam ali em amena cavaqueira.
Ora, eu que sempre achei que um funeral devia ser assim, sem dramas, porque faz parte da vida morrer, dei por mim quase chocada.

Pergunta do dia

8.11.11
Uma mãe que chega ao fim do dia, depois dos banhos, jantares e canções de embalar, olha para os seus pequenos e pensa: "pronto, foi mais um dia, podia ser melhor, mas também podia ser pior, tendo em conta que  me tornei na Mary Poppins em vez da Simone de Beauvoir", é uma má mãe?

O par ideal

6.11.11
"Parece ser uma lei que, antes de um homem e uma mulher se tornarem num par ideal, ambos deverão anteriormente ter atravessado um longo e penoso caminho, encontrar-se num local estranho aos dois, quanto possível longe de qualquer réstia de lar.

Peter Handke, Para uma Abordagem da Fadiga, Tradução Isabel de Almeida e Sousa, Difel, 1989

É simples: poupem vocês

3.11.11
Na década de 70 tomávamos banho numa bacia verde com água aquecida no fogão a lenha. O meu pai emigrou. E lá em casa: "É preciso poupar" e "Nascemos para sofrer". Na década de 80 comemos iogurtes pela primeira vez, a minha mãe abriu um mini-mercado e o meu pai morreu.  E lá em casa: "É preciso poupar" e "Nascemos para sofrer". Na década de 90 fui para a universidade, privada, porque não consegui entrar na pública, mas antes disso trabalhei durante um ano para pagar as propinas. E lá em casa: "É preciso poupar" e "Nascemos para sofrer". Na década de 10 veio o primeiro contrato de trabalho, o primeiro filho, a casa, os recibos verdes outra vez. E lá em casa: "Quem me dera poupar". Na década de 11 veio a Troika e o mundo diz  "É preciso poupar".
E eu nunca soube poupar. É verdade que sempre escrevi no verso das folhas como o sr. ministro Paulo Portas, mas nem sabia que isso era poupar. 
Nunca soube poupar, dizia, e garanto que não é agora que vou começar. Se não se importam poupem vocês, sim? os que sempre viveram à grande e à francesa (ou à alemã, que é capaz de ser mais factual) à custa dos que tiveram que poupar a vida toda.

Pedido de desculpa

2.11.11
Eu não sei se isto - o que eu vou dizer daqui a nada - faz muito sentido, mas estou farta de dar voltas à cabeça, de vasculhar nos sítios mais recônditos do meu cérebro e não tenho ideia de ter pensado nisso - no que vou dizer daqui a nada. Acho que todos concordarão comigo quando digo que facilmente conseguimos estar na pele dos outros quando fazemos um qualquer exercício de imaginação ("Pois, imagino", dizemos muita vezes perante os dramas alheios).
É provável até que muitas pessoas tenham passado mais tempo a viver estas experiências imaginadas do que reais. Eu sei lá quantas vezes me tremeram as pernas a pensar no primeiro beijo (e garantidamente tenho mais primeiras vezes imaginadas do que concretizadas); ou quantas vezes me fugiu o estômago do sítio com saltos de para-quedas e mergulhos da última prancha da piscina da Sopete; ou quantas vezes se tolheu o corpo todo a imaginar a notícia de um cancro, ou de um acidente e por aí fora, que ainda não cheguei ao que queria dizer.
Pois bem, tudo isto e mais algumas coisas já me passaram pela cabeça, mas há uma coisa - a tal que eu ia dizer daqui nada - que nunca me tinha ocorrido: a dificuldade de ter dois filhos pequenos com idades muito próximas. Eu acho que devo ter imaginado isso algures (mas, como disse, não encontro vestígios disso em lado nenhum), porque da primeira vez que fui mãe a ideia de ter outro filho até aos três, quatro anos dela era impensável para mim. E, provavelmente, devo ter pensado que as pessoas que se metiam nisso era porque
a) se sentiam capazes
b) tinham uma criatura paz de alma e portanto o mais natural seria repetir a dose.
Posto isto, quero pedir desculpa a todos quantos passaram por esta situação. Desculpem ter sido capaz de imaginar as coisas mais estapafúrdias e não me ter dado ao trabalho de imaginar aquilo por que estavam a passar. Desculpem, sim? sobretudo as que estavam numa cidade, vila ou aldeia sem avós, tias e primas para os seus pequenos.

De grão em grão...

30.10.11
Há coisas novas aqui, mas por via da dúvidas estamos a encher uma garrafa de litro e meio de água, vazia, com moedas de dois euros para a tal viagem.

A minha filha

28.10.11
A minha filha sai de casa, muitas vezes, mal vestida. Eu olho para ela, ela percebe que não aprovo fica à espera que lhe diga alguma coisa e como me limito a revirar os olhos e, às vezes, a suspirar lá vai feliz e contente pelas escadas abaixo (para depois vir escadas acima recolher o que se esqueceu).
A única coisa que não pode fazer é trocar as estações do ano, e a miúda é perita nisso, ou levar os únicos sapatos de saltos que existem aqui em casa (os que eu usei no meu casamento). De resto que se vista como entender, porque pelos vistos quem tem mau gosto sou eu e os gostos não se discutem e o importante é uma pessoa sentir-se bem e mais isto e aquilo.
Além disso, prefere perder tempo a esconder a roupa em montes atrás da cama do que arrumá-la, porque simplesmente não consegue. E eu já a vi tentar, ela não consegue mesmo arrumar coisas. É assustador!
Depois há a comida, os não gosto disto, não gosto daquilo e sei lá eu que mais.
Mas também acontece a minha filha chegar a casa e perguntar-me: "Temos Os Maias?" e eu dizer que "Sim" e ela perguntar se pode lê-lo e eu "Claro". E, pronto, esqueço-me do resto. 

Direitos adquiridos

27.10.11
Eu gosto de livros, ou melhor, eu gosto de ler livros, não preciso de os ter. Durante muitos anos só lia livros emprestados por amigos e bibliotecas.
Não sei se lhe posso chamar vício, mas é um facto que leio como quem fuma cigarros. Acontece-me parar o que estou a fazer para ler uma página, que às vezes fica a meio, como quando temos de apagar o cigarro para entrar no autocarro. Ou, a meio de uma brincadeira com o Isaac, enquanto ele se distrai com alguma coisa, cravo um livro qualquer à estante e começo a ler até ele voltar a exigir a minha atenção.
Curiosamente, ou não, apesar desta minha dependência nunca tinha ido a uma apresentação de um livro até hoje (ontem, já passa da meia-noite).
E o que posso dizer é ainda bem que fui. Ainda bem que fui apesar do insucesso a tirar leite das mamas, apesar do temporal, apesar do trânsito...
É que fiquei de boca aberta com a apresentação que a Hélia Correia fez do Uma Mentira Mil Vezes Repetida (depois do momento constrangedor, apenas para mim, de estar à procura do bloco e da caneta para tirar notas, porque, por momentos, pensei que estava em trabalho) e emocionei-me com o discurso do Marmelo.
Para explicar o milagre de se ter tornado no escritor que é hoje, e depois de falar nos lápis do avô (um senhor pequeno, careca e alentejano de Castelo de Vide, que só sabia escrever o nome dele), disse que isso só foi possível graças ao ensino público. E lembrou que poder ir à escola até aos 18 anos deve ser um direito de todos.

Cenas da vida familiar

24.10.11
Cena 6
Personagens: Toda a família
Cenário: Quarto

Os pais estão deitados na cama. O bebé, no berço ao lado, acorda. A mãe levanta-se, pega no bebé, deita-o no meio da cama e dá-lhe a mama. Algum tempo depois ouve o mais velho chamar pelo pai. Olha para o bebé, que entretanto deixou a mama e dorme, e sacode o pai.

Mãe: O Isaac está a chamar por ti.

O pai levanta-se e vai ter com o filho.

Filho: Nãaaaao pai, vai-te embora.

O pai volta para o quarto, pega no bebé, põe-no no berço e deita-se. O bebé acorda. A mãe põe-lhe a chupeta. Deita-se. A filha entra no quarto.

Filha: Mamã, não consigo dormir.
Mãe: Vai beber um copo de leite e deita-te.
Filha: Não me apetece.
Mãe: Então e o que queres que te faça? Aqui não tens como dormir. Vai para a tua cama.
Filha: Vens-me deitar?

A mãe levanta-se a bufar e sai do quarto. Quando volta o bebé está acordado. Vê as horas. São 5h10. Pega no bebé, deita-o ao lado dela e dá-lhe a mama. A filha volta a entrar no quarto.

Filha: mamã sabes aquelas ondas que se vêem quando está calor? Eu estou a ver assim do olho esquerdo.

A mãe mete as mão à cabeça.

Mãe: Mas tu só podes estar a brincar comigo. Queres fazer o favor de ir dormir.
Filha: Vens-me deitar?
Mãe: NÃO.

O bebé larga a mama e começa a palrar. O pai levanta-se.

Pai: Anda,Beatriz, eu levo-te lá cima.

A mãe põe a chupeta no bebé. O pai regressa ao quarto, deita-se e adormece. A mãe passa o bebé para o meio da cama e vai-lhe pondo a chupeta até às 6h da manhã, hora a que o mais velho acorda.

Olá Outono!

24.10.11

Ainda bem que me despedi em grande do Verão, no fim-de-semana passado, num piquenique no Parque da Cidade. À custa disso, ao ouvir-me cantar "Fui ao jardim da Celeste", o miúdo disse "E eu fui ao Parque da Cidade".Obrigada amigas pela companhia e obrigada pelas fotos Dora.

Coisas simples

23.10.11


Ao preparar umas camisas velhas para transformar em almofadas olhei para os punhos e vi porta-guardanapos. É tão simples que é impossível alguém não se ter lembrado disto antes. Eu só os cortei e preguei botões de cores diferentes. Estou deliciada!

Primeira vez

22.10.11



A uma semana de completar os seis meses come pela primeira outra coisa que não leite da mãe. Acho que gostou da sopa que o pai fez.

Do entusiasmo

19.10.11
Eu tenho-me, quase sempre, em pouca conta, mas compenso isso nas, mais ou menos, raras vezes em que me dou tal importância que chego ao cume mais alto da auto-estima. Aconteceu-me há pouco quando terminava  O Filho de Mil Homens e fixei-me na frase "Aos quarenta anos, o Crisóstomo, com o seu inusitado entusiasmo, mudou o mundo." Eu tenho quase quarenta anos, mas falta-me o entusiasmo, pensei. Sou como o Riba, do Dublinesca, cujo avô frisava a importância do entusiasmo. É claro que não descansei enquanto não encontrei a frase. Peguei no livro com a certeza de que estava numa página par, no último ou penúltimo parágrafo. E, para confirmar a minha genialidade, lá estava ela na página 114, no penúltimo parágrafo: "Sem entusiasmo, nunca se faz nada de importante".

Ditos populares (ou outras teorias que não têm servidouro nenhum)

19.10.11
A compostagem fede, mas os vasos estão-se a compor. Diz que é mesmo assim: para se chegar a algum sítio é preciso levar com o cheiro. Se não é isso é alguma coisa parecida.

Teoria da infelicidade

18.10.11
Há quem ache que merece ser infeliz. Há quem queira ser infeliz. E há os que esperam dessa forma ser poupados à verdadeira infelicidade. Se já formos infelizes não nos acontecem infelicidades.

Meia

12.10.11

Meia, originally uploaded by panados e arroz de tomate.
Esta coisa do tricot e da costura, se formos a ver bem, tem muito mais de filosofia do que lavor. Fazer meias, por exemplo, tem tudo a ver com a minha própria vida: é das coisas que mais gosto de tricotar e a que não há meio de fazer bem feito. Farto-me de ver meias por essa internet fora, cada umas mais lindas que as outras, e eu, que já vou no terceiro par, vejo as minhas tortas, mal medidas (bom, ninguém me mandou fazer a coisa a olho, tipo profissional) e a notar-se as malhas no cruzamento das agulhas.
Na minha vida é igual: onde sou melhor sucedida (ainda assim, sabe Deus) é a fazer aquilo que eu menos gosto: estar em casa.

Só eu

12.10.11
Isto é tudo muito bonito mas chega. Quero ir ao cinema. Quero ir ao café e ler o jornal sem pressa. Quero ir cortar o cabelo sem precisar de concertar horários com milhares de pessoas (e pensando duas vezes talvez seja melhor deixar o cabelo como está). Quero ter amigos. Quero embebedar-me. Quero ir ao Teatro Camões ver ballet. Quero falar de mim sem ser para um monitor. Quero conversar foda-se! Quero ir para um quarto de hotel com duas caixas de preservativos. Quero ignorar o frigorífico, a despensa e o fogão. Quero ser só eu, por um breve instante.

A primeira encomenda

10.10.11

Cenas da vida familiar

10.10.11
Cena 5

Personagens: mãe e bebé
Cenário: Sala

A mãe está sentada no sofá a amamentar o bebé enquanto conversam os dois:

Mãe: Não sei, mas eu não o faço só porque a OMS diz que é melhor, sabes? Eu também acho que o leite da mãe é suficiente, por enquanto.

Mãe: Oh, sei lá. Para mim vocês só estão bem a mamar. E sempre é uma coisa que se faz sentada, ou deitada. É melhor, ainda assim, do que andar aí a embalar-te de um lado para o outro.

Mãe: Eu também gosto e o teu irmão adora. Mas não vou andar o dia todo na rua, contigo no sling e o Isaac pela mão. Ele também é pequenino e pede muitas vezes colo.

Mãe: Já sabes que cada vez que saímos de carrinho apetece-me desfazê-lo em cima dos carros estacionado no passeio, ou atirá-lo contra uma parede quando os passeios não existem, ou estão cheios de buracos...e, como deves imaginar, não posso fazer isso porque o carrinho é da Luísa e quando ela voltar da viagem à volta do mundo vai precisar dele.

Mãe: Porque não temos coragem e porque a Beatriz não pode faltar à escola.

Mãe: Não, chateia-me eu estar a fazer exactamente aquilo que escolhi fazer e, para variar, achar que devia  fazer outra coisa qualquer.

Mãe: Oh, sei lá. Cala-te e come, mas é. Dói-me o cérebro.

O livro inventado

7.10.11
Têm-se dito coisas elogiosas do novo livro do Marmelo, do coiso como ele lhe chama, e eu fico muito contente não só porque me parece que está mais do que na altura do moço sair da sombra e vir para a televisão e jornais mostrar a focinheira, mas também porque gosto de me saber em sintonia com as críticas que li.
Depois do último livro do escritor, As Sereias do Mindelo , lembro-me de pensar que o moço estava a apurar a escrita, que andava ali às voltas do buraco negro que é a literatura do ponto de vista de quem escreve, acho eu. E desta vez lá se decidiu a mergulhar de cabeça. O resultado é um livro inteligente, com histórias bem contadas e a fazerem meditar sobre a literatura e a humanidade.
Eu confesso que, além do grande interesse das referências literárias e das personagens inventadas pelo escritor inventado, o que mais me me chamou a atenção em Uma Mentira Mil Vezes Repetida foi aquela coisa do  narrador querer tornar-se um homem célebre por causa de um livro que ele inventou mas não escreveu. Como se escrevê-lo pudesse ser a sua ruína em vez da salvação que ele acredita poder encontrar na celebridade. É por isso que, ao contrário do que se diz, a história de amor não me parece forçada, mas percebo que outro desenlace pudesse ser mais apropriado ao romance.

Uma Mentira Mil Vezes Repetida, Manuel Jorge Marmelo, Quetzal,  2011

Passo demasiado tempo em casa

7.10.11
Eu sei que os meus filhos são de uma beleza, inteligência e sensibilidade incomparáveis, mas tantas vezes olho para eles e vejo uma miúda que atordoa de tão fútil, um puto obsessivo compulsivo e um bebé...bom, o bebé ainda é só um bebé, que acredito ter problemas sérios.
Acresce o facto de estar convencida que tenho fantasmas em casa.

Turistas

6.10.11

Férias sem sair de casa? há montes de boas razões para o fazer, como a crise, o não haver férias escolares nesta altura, uma semana não dar para muita coisa, etc., mas na prática acho é que estamos cansados e com pouca paciência para a logística sair-de-casa-com-tanta-gente. Vai daí, decidimos ser turistas em Lisboa e procurar conhecer/fazer coisas pela primeira vez na cidade onde vivemos. O resultado foi:

- passeio no Yellow Bus (Lisboa fica a perder, e muito, vista de cima de um autocarro)
- subir a Bica no ascensor (com o senhor de 94 anos que já foi operado ao coração, à anca e aos dois olhos)
- descer no elevador de Santa Justa (com dezenas de turistas)
- subir no elevador da Glória (e agora todos: Desde este lugar sem história/Até um lugar na história/Vão apenas dois minutos/ No elevador da Glória. No elevador da Glória/ No elevador da Glória/ No elevador da Glória)
- espreitar as Ruínas do Carmo enquanto canta o coro da Carris.
- subir a Torre de Belém (bastante impressionante, sim senhora!)
- visitar o Panteão Nacional (um belo de um edifício)
- brincar na Quinta das Conchas (uma maravilha de um jardim)
- e quase que conseguíamos ir ao MAP se não tivéssemos escolhido o dia em que está fechado (terça-feira).

Pelo meio, fomos repetindo coisas como os gelados na Artisani a limonada no Clara Clara e as compras na Retrosaria. Além disso, ainda houve tempo para umas pequenas arrumações aqui em casa que resultaram numa parede inteira, forrada a flanela, só para mim (quem faz mantas de retalhos sabe o que isso significa).

Coisas boas de Lisboa 8

3.10.11
Alguns emplastros, e descanso q.b, depois voltei às corridas. Como tinha tempo, em vez de ir a correr e voltar a correr, corri tudo no jardim e fiz os alongamentos em cima da relva. No fim deitei-me a olhar para o céu pelas frinchas dos ramos da palmeira e estava num misto de relaxamento e alegria imensa (que não há outra forma de estar num Verão em pleno Outubro, sobretudo com os circuitos da serotonina a funcionarem depois da estafa) quando reparo numa pomba. Estava mesmo em cima da minha cabeça, pronta para cagar-me nos olhos. Mas não o fez. No Porto acontecia-me com frequência levar com merda de pássaros. Aqui ainda não aconteceu uma única vez.

2 anos

29.9.11




Como diz o teu pai, meu lindo menino, obrigada. Mas eu como sou uma pessoa menos evoluída sinto que estou de Parabéns. É que foram 36h de trabalho de parto!

E para ficar registado (ou para me gabar da minha extraordinária competência enquanto mãe de uma forma relativamente subtil):
-Continua a gostar de comer.
-Já não usa fralda durante o dia.
-Deita-se cedo (19h) e acorda cedo (6h). Adormece sozinho.
-As birras são cada vez mais raras
-Fala muito bem e repete várias vezes a mesma coisa até conseguir dizê-la bem, por exemplo: "vamos compar gucom... cucu...cogumelos. Vamos compar cogumelos."
-Adora o Noddy, o Pocoyo, os Amigos do Luís e o Cid Ciência.
-Muitas vezes chora de emoção quando o pai chega do trabalho.
-Fica triste com algumas músicas.
-Gosta de brincar com carrinhos, blocos, às escondidas, jogar à bola, fazer desenhos e ler histórias.
-Adora sair para passiar
-Tem uma verdadeira adoração por sinos
-Pede a chupeta e o cão quando está muito cansado, ou chateado e senta-se no sofá sozinho.
-É um menino organizado, diz o pediatra (demasiado organizado, digo eu, porque quando lhe mudamos as rotinas fica possuído pelo demónio).

Brincar aos pobres

28.9.11
Quando era miúda a minha irmã e a minha prima queriam sempre brincar aos ricos. Raramente conseguia convencê-las a brincar aos pobres. Elas queriam pôr chapéus e passear de carro. Eu queria pôr uma cara triste e andar quilómetros a pé, com os quatro filhos pequenos, a caminho das feiras (entre irmãos e primos éramos cinco, na altura). Juro que não sei de onde saiu esta coisa à Les Miserables, muitos antes de eu saber quem era o Victor Hugo. Seria por causa das histórias infantis? afinal, as pobres são sempre as boazinhas e a mais bonitas e as que ficam com os príncipes. Mas eu não me lembro de ouvir histórias infantis em criança, só uma que a minha avó contava, ou melhor duas, mas que não tinham nada a ver com princesas boas ou más.
Isto tudo para dizer que não é de agora eu ter um certo jeito para ser  pobre. Pobre não, que os pobres passam fome, remediada. Dou uma boa remediada. Por exemplo, os prato preferidos dos meus filhos são os que eu faço com os restos. Neste caso croquetes de peixe.

Mais um fim-de-semana

26.9.11
Mais coisas prontas aqui.

Linhas que costuram arte

25.9.11

Le Songeur, after Corot

"Não sou um artista que está querendo emocionar. Estou querendo mudar a maneira como vemos, ou dinamizar os rituais visuais. Por isso trabalho com imagens exaustas, gastas: 'Espera aí, isso é uma outra coisa, olha de novo...'.", disse Vik Muniz à Alexandra Lucas Coelho e eu, devo dizer, olhei de novo muitas vezes (mesmo sem ter lido, ainda, o artigo no ípsilon) e olharia muitas mais se o Isaac não estivesse tão parecido com o Tarzan, no Museu Berardo, ontem.

Na foto estão milhares de metros de linha que reproduzem a pintura original de Jean-Baptiste-Camille Corot e depois é fotografada. Faz parte da série "Pictures of Thread")

aqui o trailer do "Lixo Extraordinário", o tal DVD que referi no post anterior e que, claro, não fazia a mínima ideia da relação com o artista brasileiro.

Coincidência

23.9.11
Ia abrir a porta do frigorífico e fixei o íman com os caixotes da reciclagem, da Valorsul, e ocorreu-me que devia trabalhar com lixo, e não, não estou a falar de respigar, refiro-me mesmo às coisas nojentas. Sempre me fascinou o que a humanidade deita fora (as séries policias ajudam, eu sei, mas no meu caso foi mesmo o jornalismo ambiental) e até as ETARs me parecem mais obras de engenharia fascinantes do que depósitos de merda mal cheirosos. É claro que é mais bonito pontes e barragens, mas já estou a divagar. O que eu vinha dizer é que no minuto a seguir a estar a pensar que devia trabalhar com lixo, vejo um anúncio no p3 a um DVD a dizer "Conheça as vidas a quem o lixo mudou a vida". E esta, hein?

Ah, a filosofia!*

22.9.11
Jorge Campos citou Nietzche no facebook, sei lá quando, já que o continuum espaço-tempo das redes sociais são outras dimensões.  E o que o Jorge Campos dizia era que o Nitezche dizia "there is more wisdom ir your body than in your deepest philosophies".
Eu fiquei a pensar nisso, claro, porque além de não ter mais o que fazer, esse é outro daqueles assuntos que de vez em quando aflora o meu pensamento. Sim, o nosso corpo é sábio, é  muito sábio mas podia fazer um bocadinho mais pendant com o que está dentro da cabeça, não? É que eu estou um bocado farta de ficar chocada quando vejo mais um cabelo branco, ou quando as minhas mãos manifestam o prenúncio da artrose, ou quando ouço a minha mãe dizer (e eu juro que ela não perde uma oportunidade): "acho que estás muito bem para uma mulher de quase 40 anos".
E eu não fico chocado por estar a envelhecer, reparem, que até informação em contrário parece que é uma coisa inevitável e muito natural. Eu fico chocada é por essa realidade não corresponder à realidade do meu cérebro. É que eu ainda não fiz o interrail, nem sei o que quero ser quando for grande. Ainda tenho medo de morrer, apesar de ter mais medo que os meus filhos morram, e não gosto nada do escuro. Ainda fico à espera que aconteçam coisas boas e - levantem os bracinhos ao céu - ainda acredito que a esquerda, um dia, chega ao poder. Mas, o pior de tudo, é que eu ainda danço sozinha no meio da sala com os olhos fechados a imaginar que tenho assistência (sim, sim, como quando somos adolescentes).

*pois é, é copiado do coiso "Ah, a literatura!"

Saco de ganga

22.9.11

Saco ganga, originally uploaded by panados e arroz de tomate.
Fiz o dela para o primeiro dia de escola e ele pediu-me um. Leva-o para o trabalho, um gabinete no primeiro andar rodeado de outros gabinetes com pessoas engravatadas e que definitivamente não usam sacos de ganga.

A teimosia pode mesmo ser uma virtude

20.9.11

Luva, originally uploaded by panados e arroz de tomate.
Consegui. Consegui chegar lá pelo esquema do livro japonês, pelo que fui deduzindo e com algumas pesquisas ao Grande Livro dos Lavores.
Consegui, sobretudo, porque meti na cabeça que queria estas luvas, nesta lã (a Beiroa, claro) desde que as vi na Retrosaria do costume.
Eu sou um espectáculo, é o que vos digo. Mesmo com a luva cheia, cheia de defeitos.

É que estou quase a passar para o outro lado

18.9.11
Numa destas noites devo ter conseguido completar um ciclo de sono. Dei de mamar ao pequeno, deitei-o e fui beber água. Pensei que não devia faltar muito para o outro pequeno acordar e olhei para a janela a ver se o sol estaria demorado. Demasiados prédios nas traseiras, pensei e depois procurei um telemóvel para ver as horas (os relógios, meu deus, o que é feito dos relógios?). 2h20. Ah, bom, ainda é de noite, afinal.
Devia chegar um alívio, mas não, é pânico mesmo. Deito-me, adormeço e ele acorda. Toda a gente sabe que acordar quando acabamos de adormecer é mau, é muito mau e ainda por cima não sei o que fazer à história da mulher que acha que está naquele corredor do supermercado a fazer compras e está prestes a descobrir que esteve ali a vida toda, que vive desde sempre naquele corredor de supermercado.
Ou, pior, deito-me e não adormeço. Ouço passos lá em cima. Alguém entrou em casa. Por onde? está tudo fechado. Estará? Chiu! Cala-te, não penses nisso, deixa de ser parva. Dormir. É melhor dormir.

Três continentes numa rua só

15.9.11
Ontem lá vínhamos nós, eu e as amas, com as crianças pela rua fora. As minhas sem farda. As delas aos pares, ou sozinhas. As minhas a triplicar e a responder ao português de Portugal. As outras ao do Brasil e de África.

Do que eu gosto

14.9.11
Do que eu queria gostar era do teatrinho com os fantoches; de montar e desmontar tendas com lençóis; de brincar às escondidas; de chutar e ir buscar a bola debaixo da cama 976 vezes e de fazer desenhos. Mas, honestamente, não posso dizer que goste. Eu, que até me acho uma pessoa bastante para o infantil, tenho pouca paciência para brincar.
Do que eu gosto é olhar para eles. Ter tempo de olhar para eles. Ficar horas e medir cada gesto e cada expressão, imaginar o que lhes passa pela cabeça. Imaginar que pessoas se irão tornar. Gosto da sensação à mesa do jantar, quando eles estão a dormir, aquela coisa da missão cumprida, de saber para que servem os meus dias.
É ridículo, eu sei, mas pareço uma maratonista (e não, não tem nada a ver com as corridas interrompidas por causa dos joelhos) que passa os dias a treinar para um dia subir ao pódio. E esse dia pode nunca acontecer, como se sabe.
Portanto, objectivo para 2011/2012 aprender a brincar (e continuar a tentar que a Beatriz se vista de acordo com o clima, porque, enfim, gostos não se discutem, mas é do senso comum que botas é para o Inverno e sandálias para o Verão, certo?)

Fim-de-semana volta depressa, por favor

11.9.11




(PJ, só consegui fazer estas coisas todas porque ao fim-de-semana não estou sozinha com os pequenos)

A derradeira tentativa

11.9.11
A minha mãe a tentar evangelizar-me (nos) pelo facebook (espero que ela não descubra o blog). Tenham muito medo!

Intervalo para baba

10.9.11
Faço aqui um intervalo no habitual discurso para dizer que os bebés de quatro meses e 13 dias são a coisa mais deliciosa, mais cuchi cuchi, mas maravilhosa do mundo e os meninos de 23 meses e 14 dias são de arrasar corações empedernidos, com aqueles caracóis, os sorrisos e a autonomia (eu não sabia que havia meninos que deixam a fralda antes dos dois anos e que adormecem sozinhos...). Há ainda algumas miúdas com 10 anos que nos deixam de boca aberta e aquele órgão que faz pumpum pumpum bater mais forte.
E até o caralho dos gatos me parecem criaturas simpáticas.

Vamos jogar um jogo?

8.9.11
Um dia, que parecia mais um dia como outro qualquer, aconteceu aquela coisa da borboleta bater as asas na China e chegar cá um furacão, que é como quem diz, um dia a vossa vida (sim, a vossa queridos leitores) mudou completamente. Nesse dia, o tal que parecia igual aos outros, deram-vos (assim de mão beijada) a oportunidade de fazer o que sempre quiseram: Deixar o trabalho e dedicarem-se de corpo e alma, durante todos os segundinhos da vossa vida, à criação dos vossos ricos filhos. Como sei que aceitavam logo sem pestanejar, porque é sonho de muitas mães e de alguns pais, o que eu gostava era que me apontassem a coisa que mais gostam de fazer em casa, nessa nova e gratificante vida.
Agradecida.

P.S este jogo não tem nenhuma outra finalidade que não seja eu sentir-me melhor comigo própria.


Tchim, tchim

7.9.11
Há uns tempos, há três anos e picos, dizias que estavas num quarto escuro enquanto eu andava "do outro lado do espelho em arrumações e esse tipo de coisas drásticas e definitivas de onde nem sempre se sai vivo - esse tipo de coisas drásticas e definitivas que certas pessoas nasceram para fazer, sazonalmente, e outras nasceram para não fazer nem mortas." E a certa altura oferecias-me um bilhete duplo para o Luna Park, para quando estivesse de volta.
Estava convencida que mais cedo ou mais tarde reclamaria o bilhete, mas enquanto despejava gavetas de entulho outras enchiam-se de coisas, muitas delas boas, mas mesmo assim a precisar de arrumação, ou pelo menos de algum tipo de catalogação para não as perder no meio de tanta tralha (agora que penso nisso andei [ando?] por um corredor igual ao da casa dos teus avós). Entretanto o Luna Park fechou e, suponho, o bilhete perdeu a validade, mas espero encontrar-te num outro qualquer carrossel de luzes acesas.
Nesse dia 22 de Fevereiro de 2008, dizias ainda (e dizias coisas tão fantásticas naquela coluna, naquele e nos outros dias todos) que estarias mais crescida quando eu voltasse do meu planeta. Eu não sei se estás mais crescida, às vezes acho que já nasceste crescida, mas pareces-me triste e eu espero que seja só uma impressão minha.
Seja como for, hoje estás feliz, porque gostas de fazer anos (tirando quando fizeste 32) e porque tens essa gente toda a festejar contigo. Eu não sei como podes ficar feliz não estando eu aí, mas tudo bem, a vida é mesmo assim. Ou como dizíamos no msn (antes de te apagar a luz, ou mudar-me para o facebook): olha, vidas! (por falar nisso, como está o teu pai?)
E como estás feliz não quero pôr-me aqui a falar das saudades que tenho tuas e das tantas coisas que vivemos juntas. Vou só fazer um brinde, ainda que virtual, e dar-te aquele abraço, bale?

Não quero saber

6.9.11
A casa despertou com um cheirinho a pão acabado de fazer (sim, sim temos uma máquina nova) e eu com o sabor dele quentinho e cheio de manteiga, mergulhado no leite com café. O meu cabelo calhou acordar bastante decente, parecido com o de um ser humano. E está sol.
Pois, eu sei, mas eu quero dormir. É, QUERO DORMIR e o resto que se foda. O Isaac que veja o Noddy, mais aquela amiga irritante que só sabe fazer piqueniques e muffins de mirtilos, o dia todo. Aproveita, meu querido, que não tens aqui a tua irmã para ocupar a televisão com aquela  noja dos "Feiticeiros de Waverly Place". Olha, mija nessas lindas cuecas com o peixinho e parte o computador depois de eu escrever este post, se quiseres, que estou-me a marimbar. Podes até pintar o resto das paredes. O giz está ali. Ali, olha, debaixo da mesa. Tu, Nicolau, dá às pernas o que quiseres e faz os gugus todos que te apetecer. Desculpa, meu amor, mas não vou andar a abanar guizinhos, nem a cantar o "dorme, dorme meu menino", ou levar-te à janela para veres como é lindo o céu. Eu vou dormir.
O almoço? Não há sopa feita? comam m...pão que está ali fresquinho.

Juntas

5.9.11

Ela diz que o que fazemos melhor juntas é pegar na agulha. Não sei onde foi buscar isso porque é raro pegarmos em agulhas ao mesmo tempo (e agora estou tramada porque vai, mais um vez, pedir-me contas do que escrevo aqui), mas quando o fazemos sabe bem, os resultados é que não costumam ser grande coisa. Só que agora é diferente, porque temos um objectivo.
A ideia de fazer estas bonecas foi dela (com algumas sugestões minhas) e, apesar de ainda ser preciso fazer muitos ajustes, acho que o resultado não é nada mau.

O que seria de nós sem sentido de humor

1.9.11

O pediatra disse qualquer coisa sobre as mulheres serem umas heroínas por amamentarem e ficarem tantos meses sem dormir e acrescentou que duvidava que algum homem fosse capaz disso (acho que esta última parte não convenceu o Jaime, porque ele odeia essa coisa das mulheres serem melhores do que os homens).
Eu saí da consulta com a mesma má disposição com que saí de casa, depois do Isaac me perguntar se ia trabalhar ao ver-me vestida para sair, e questionei entre dentes onde é que estavam as medalhas, já que era assim capaz de tanto heroísmo.
O dia foi passando com mais maus momentos do que bons e no fim lá apareceu o Jaime com as medalhas:
Medalha de ouro para a "Gaja"
Medalha de prata para a "Mãe"
Medalha de bronze para "O monte de merda que para aqui anda com emplastros nos joelhos!"

O último parto

29.8.11
Nasceu há quatro meses (fez ontem) numa madrugada, no mesmo dia que aquela revolução. O relato do parto foi sendo adiado, porque, não sei, acho que o encarei como a coisa mais natural do mundo e, como tal, sem merecimento de grandes parangonas. Devo dizer, para quem não sabe, que calhou-me (fiz por isso?) ter três partos completamente diferentes. O primeiro cesariana. O segundo com ventosa e o terceiro normal.
Do primeiro para o último passaram dez anos e não há comparação possível na forma como os profissionais de saúde lidavam e lidam com as parturientes. Eu tive uma obstetra fabulosa na primeira gravidez, que me fez uma cesariana para eu não passar a noite sozinha (ela terminava o turno) no hospital a tentar dilatar quando parecia haver poucas possibilidades de isso acontecer. Que me perguntou o que queria fazer e eu escolhi a cesariana, porque ela me disse que era o que faria no meu lugar. Da segunda vez escolhi de outra forma. E da terceira também (o único parto não induzido). E o podermos decidir, dentro das possibilidades existentes, sobre o nosso parto faz toda a diferença.

Do Nicolau comecei com os primeiros sintomas de trabalho de parto às 37 semanas, com a perda do rolhão mucoso, ou parte dele. Ele nasceu três semanas depois e esses dias foram os mais esgotantes da minha vida. Fui duas ou três vezes ao hospital com contracções e suspeita de perda de líquido amniótico, mas estava tudo bem. No dia 27 de Abril, depois de uma noite em claro, e uma ida à urgência de manhã, estava desolada com a perspectiva de termos de marcar a indução no dia seguinte. As contracções não me deixavam em paz, mas tentava ignorá-las por saber que não estava em trabalho de parto activo. Mas por volta das 17h00 percebi que tinha começado. Pedi ao Jaime para contar quanto tempo duravam enquanto lhe apertava a mão e ele disse que mais de um minuto. Não eram ritmadas. Tanto vinham de dez em dez minutos como de sete em sete, ou 15 minutos. Decidimos que era melhor arrancar para o hospital. O Jaime levou-me com os miúdos e voltou para casa para esperar pela babysitter. Passava das 19h00. Fui atendida pelo querido dr. Abushab que me disse: "Oh linda, isto não deve ser para hoje, só tens dois dedos de dilatação". Ao que eu respondi: "Ah, então é para hoje doutor, acredite". Seguiu-se o ctg com as enfermeiras a gabar as minhas contracções e depois uma espera interminável, cá fora, numa sala de espera cheia de gente. Durante as contracções respirava e segurava-me num corrimão que lá havia. A certa altura comecei a dar pontapés na parede. Liguei ao Jaime a perguntar se demorava. Às 21h00 entrei pela porta dentro e pedi ajuda. Estava com três para quatro dedos de dilatação. Podia ser internada, mas não havia sala de partos. Pedi para vir cá fora caminhar, disseram-me que era melhor ficar sentada. Perguntei se podia chamar o Jaime (tinha chegado entretanto) e ele veio sentar-se ao meu lado no corredor.

Estivemos ali pouco mais de uma hora. Eu comecei a ficar com medo de não conseguir lidar com a dor. Gemia baixinho. O Jaime tentava fazer-me rir. Chegou a minha vez de ser internada. Preencher formulários, tomar um duche quente, mudar de roupa e seguir para a sala de partos. Eram 23h00. "Quando posso levar a epidural?", perguntei. "Quer a epidural?", perguntou o médico. "Sim, sim, por favor", respondi. "Pode levar já". A enfermeira dizia que não estava a respirar bem, para relaxar. Eu sentia todos os meus músculos em tensão, mas não conseguia relaxar. E depois de uma avaliação ao colo do útero muito dolorosa chegou a epidural. A seguir entrou o Jaime e ficámos a conversar serenamente (com muito poucas interrupções) até à altura em que as contracções começaram a ficar insuportáveis. Novo reforço de epidural, já com a bolsa rebentada. Por volta das 2h30 comecei a ter vontade de fazer força. Chamei a enfermeira, ela pediu-me para fazer força e disse que estava quase. Às 3h00, a enfermeira disse que estava na hora e foi chamar a médica. Ela entrou, disse "quando quiser" e  três minutos depois o Nicolau saiu, o meu menino. Nesses minutos que antecedem o nascimento, pude senti-lo claramente desta vez, há uma energia que toma conta de nós. Por momentos desaparece tudo o que está à nossa volta. Somos nós e o nosso filho (e um bocado de medo que a dor que parece queimar nos possa endoidecer). E depois é só ele. Tocar-lhe, sentir-lhe o cheiro, ouvi-lo chorar (o Nicolau demorou a chorar), dar-lhe a mama. E depois somos os três. Com pena de não estarmos os cinco.
Foi assim. Um parto sereno como o próprio Nicolau.

No limbo

29.8.11
"Quando uma mulher tem ambições (mundanas, intelectuais, ou profissionais como hoje acontece) e meios para as satisfazer, sente-se infinitamente menos tentada que outras mulheres noutras condições a investir o seu tempo e a sua energia na criação dos filhos.", ainda a Badinter.
Eu acrescentaria que as que se deixam tentar vivem num limbo entre a felicidade e o desespero; a vida dentro de casa e a morte fora dela; os doces prazeres do dia-a-dia e o azedo das rotinas domésticas; o conhecimento e o embrutecimento.
No que me diz respeito as paredes gelatinosas deste limbo são-me cada vez mais familiares, o ar que se respira não é igual ao do outro lado, mas é respirável e dou por mim, com o coração em arritmias, a pensar se os meus pulmões, quando chegar a altura, aguentarão o outro ar.

E eu a dar-lhe!

28.8.11

Dois quilts em andamento e completamente diferentes. Em cima o conhecido efeito pás de moinho e em baixo o não menos famoso (e o meu padrão de patshwork preferido) log cabine. Agora preciso de encontrar o tecido para a parte de trás e depois alinhavar, quiltar, debruar, lavar...
Quanto mais penso nisso, mais difícil me parece atribuir um preço a este tipo de trabalhos.


Eu já dormia descansadinha, se pudesse ser, sim?

25.8.11
O bebé é giro. Dos que tive é o que menos chora, o mais calmo, o mais fácil de aturar, portanto. Mas há uma coisa em que é igualzinho aos outros, se não pior: passa a noite a mamar.
É claro que desta vez não quero saber, não sei de quantas em quantas horas mama, porque tiro-o do berço, dou-lhe a mama e ponho-o no berço sempre naquele limbo entre o sono e a realidade. Sei que acordo de manhã como se tivesse andado a acartar baldes de massa toda a noite e por isso achava que ele devia mamar pelo menos de duas em duas horas. E falo no passado, porque hoje, graças aos terrores nocturnos do mais velho que me despertaram por volta das 3h, pude confirmar que não é bem assim. O rapaz mama de hora em hora. Repito, de hora em hora. Pessoalmente devo dizer, que estou um bocado farta disto. E que posso provar que a amamentação não emagrece.

Triângulos e promessas

23.8.11
A casa enche-se novamente de triângulos e quadrados para um novo quilt e pela primeira vez considero vender alguma coisa feita por mim. Continua a ser estranho, mas fiz uma promessa.
A minha filha perguntou-me se alguma vez voltaria a ter-me só para ela. Se havia alguma hipótese de irmos passar um fim-de-semana, só as duas, quando o Nicolau deixasse de mamar. E eu disse que sim, obviamente, que faríamos isso. Que talvez até pudéssemos ir viajar, como quando fomos só as duas a Paris, quando ela fez cinco anos.
E assim está encontrada a razão para fazer dinheiro com as minhas coisas: viajar. É claro que o ideal seria: Troco quilts por viagens, mas seria impraticável, ou não?

Óptimo*

18.8.11
O meu rapazinho realmente emociona-me. Põe-me maluca com as birras que faz (é uma experiência inédita para mim, a mais velha não fazia birras assim) e continua a somar razões para as fazer, porque agora decidiu que não quer tomar banho, não quer comer e não quer dormir. O que ele quer é o carro do pai, o carro do pai, o carro do pai, o carro do pai, o carro do pai, o carro do pai, subir as escadas sozinho, regar os vasos ininterruptamente aí até Outubro e que o Nicolau se sente no chão com ele.
Mas este mesmo rapazinho é capaz de pedir a chupeta e o cão, a meio de uma birra, para se ir sentar no sofá a acalmar-se sozinho; ou parar o que está a fazer para ir ao quarto-de-banho buscar o pote, trazê-lo para a sala, fazer xixi e de seguida ir despejá-lo na sanita. Sozinho; ou de responder: "Óptimo!", com os braços no ar e aquele sorriso (meu deus, que sorriso tem o meu menino!) quando lhe pergunto se o peixe está bom.  

* Eu não sou contra o acordo ortográfico (já percebi que este é discutível, mas ainda não averiguei porque é  tão mau para muitos), só estou demasiado afeiçoada a algumas palavras.

O melhor antidepressivo do mundo

18.8.11

(ok, um dos melhores, o cipralex também é muito jeitoso) Obrigada, arcádia, por existires. E obrigada pelos macarons, Jaime.

Há perguntas que nunca devem ser feitas

17.8.11
Perguntei à minha mãe se haveria alguma razão para eu não ter qualquer memória das minhas festas de aniversário, ao que ela respondeu muito naturalmente: "Porque nunca as tiveste". E eu fiquei absolutamente desconcertada com a resposta, não porque me espante os meus pais não me terem feito uma única festa de aniversário, mas por ainda não ter pensado nisso.

Lembretes

16.8.11
1) Não voltar a comprar chupetas da mesma cor para os dois
2) Não perguntar ao mais velho se também quer leitinho da mamã

Cenas da vida familiar

14.8.11
Cena 4

Personagens: A família toda mais uns quantos figurantes.
Cenário: Restaurante.

A família dirige-se para um restaurante. O pai abre a porta, a mãe empurra o carrinho do bebé, mas não passa. O pai tenta abrir a outra porta e não consegue. Há mais pessoas a tentar entrar. A mãe entra com o outro filho, o pai tira a cadeirinha do carrinho e entra com ela. A filha fica com o carrinho cá fora. A mãe sai para desmontar o carrinho. Entra e encosta-o a um canto e senta-se na mesa mais próxima. Sentam-se todos a seguir. Há gente de pé a cumprimentar a senhora que serve às mesas e a pedir uma mesa para oito. A mesa ao lado da deles está ocupada com quatro pessoas.

Pai: Bea, vai ali buscar uma ementa para irmos escolhendo. Ela levanta-se e regressa com a ementa. O bebé reclama na cadeirinha, em cima da cadeira, ao lado da mãe. O outro, no colo do pai, chora que quer ir ao chão.
Filha (de trombas): Não há nada que eu goste aqui.
Mãe: come uma omolete.
Pai: e tu o que queres?
Mãe: pode ser o polvo.
Pai: pedimos sopa para o Isaac?
Mãe: É melhor.

Aproxima-se a senhora que serve às mesas e pergunta, mal disposta, se já escolheram.

Pai: É uma sopa de legumes, uma omolete e...tem o polvo em tomate?
Senhora que serve às mesas: não sei, vou perguntar.
Pai: Ok. Traga-me uma cerveja para beber agora e pode trazer também uma água, um Ice Tea e...que queres beber Calita?
Mãe: Pode ser vinho.

A senhora afasta-se e traz a carta dos vinhos. Entram mais seis pessoas para almoçar, que também cumprimentam a senhora efusivamente. A mãe levanta-se para embalar o bebé. O outro anda de um lado para o outro no restaurante. A mãe regressa à mesa e fica com o bebé ao colo.

Mãe: O Quitério diz que este restaurante tem uma lista de vinhos fenomenal, com 150 tintos.
Pai (enquanto tenta dar a sopa ao filho): Onde viste isso?
Mãe: Está ali na parede. Quem cozinha é o Sr. Correia, parece que veio de Sagres aqui para Vila do Bispo. A senhora deve ser mulher dele.
Pai: E o Quitério gostou disto?
Mãe: Acho que sim, mas a primeira metade do texto conta a história de Vila do Bispo, e o resto tive de ler à pressa. Acho que vou montar o carrinho a ver se o Nicolau adormece.

A mãe levanta-se monta o carrinho e empurra-o de um lado para o outro. Chega a comida. A filha entorna a bebida. O filho esperneia no colo do pai. A mãe bufa.

Pai: Achas que vale a pena ficar assim?
Mãe (a deitar fumo por todos os lados): Não gosto disto. Não gosto disto, percebes?

É assim a vida

13.8.11
"Ai, minha senhora, dão tanto trabalhinho a criar quando são assim pequeninos. Depois ficamos velhos e nem olham para nós". Eu disse que sim, que era verdade, mas que é mesmo assim a vida (quando quero consigo dizer coisas muito acertadas) e lá segui com o Nicolau no sling.
E fiquei a pensar que desde o princípio dos tempos os filhos são um empecilho para os pais, as razões é que vão variando.

Perguntas que não me saem da cabeça

12.8.11
Sou só eu que preciso de ajeitar os mamilos, depois de apertar o sutiã, para não ficarem um para cada lado?

A galope trálálá

5.8.11

cavalo, originally uploaded by panados e arroz de tomate.
Depois de fazer duas almofadas simples para os gatos se deitarem, numa tentativa que adivinho frustrada de fazer com que deixem as nossas em paz, aproveitei o desenho de um tecido para fazer este cavalinho.
Não há nada como fazer este tipo de experiências para valorizar, ainda mais, o trabalho das pessoas que se dedicam a isto. Um bem haja para a Matilde BeldroegaRosa Pomar e outras(os) que façam coisas tão bonitas e bem feitas como elas.

Coisas boas de Lisboa 7

5.8.11
Viver na mesma rua que o Agualusa.

E agora uma coisa completamente diferente

3.8.11
Deixemos, então, o formato campesino e voltemos à metrópole para falar de sociologia (adoro esta coisa de puxar pelo meu provincianismo e depois armar-me com o intelecto, o pouco que consegui cultivar, vá).
Então é assim: queria deixar um aviso às futuras Elisabeth Badinter (para quem não quer abrir o link esta é a senhora que escreveu a história do amor maternal do séc. XVIII ao séc. XX e, mais recentemente, o livro que diz que as mulheres estão a ser oprimidas pela tendência actual de amamentar os filhos até quando estes quiserem, de usar fraldas ecológicas, etc.) e explicar-lhes que sou feminista e mãe.
Assim como Elisabeth Badinter explica no seu O Amor Incerto que a tendência para as mães entregarem os seus bebés a amas de leite, no século XVIII, mostra o desinteresse das mães em relação aos seus filhos, não tenho dúvidas que daqui a 50 anos as seguidoras da filósofa francesa digam o mesmo das mães que "abandonavam" os seus  filhos em creches durante dez horas por dia.
É verdade que a prática do século XVIII provocou a morte a milhares de crianças (o livro revela os poucos dados que existem sobre o assunto e ainda assim são assustadores) e a prática dos finais do século XX ainda não revelou, até ver, malefícios de maior, mas de qualquer maneira o desinteresse, ou neste caso o interesse nas crianças pode ser questionado e com justa causa.
Sim, há pais que não podem fazer nada em relação a isso. Sim, a taxa de natalidade diminuiu brutalmente porque os pais não podem cuidar dos seus filhos. Sim, há muitas razões válidas para deixar um bebé de 4 meses (às vezes menos) num berçário dez horas por dia. Mas há também desinteresse. Falta de vontade em procurar alternativas. Aceitar as coisas como são, porque sim, porque é mais fácil.
Por isso, senhora filósofa do futuro, eu deixei de trabalhar para poder educar os meus filhos, mas não me sinto pressionada pelas tendências actuais (antes pelo contrário, aqui ainda se valoriza quem trabalha e não quem fica em casa). Simplesmente decidi que a ter filhos teria de ser mãe deles e não acho que isso me torne menos mulher, ou menos profissional. É claro que só eu e uma centena de pessoas pensa desta forma, mas mesmo assim fica aqui o registo para incluir no seu livro.
Obrigada.

P.S eu e mais algumas pessoas estamos a tentar fazer a diferença nesta matéria. Quem achar por bem fazer o mesmo é responder ali ao inquérito na coluna ao lado. Agradecida mais uma vez.

Foi um arejo que lhe deu

2.8.11
Visto isso ao Zé Mouco deu-lhe um arejo. Foi há 36 anos, em Maio, no  dia 13. Nesse dia o arejo atingiu o Zé Mouco e o Tino da ti' Zamira, ao mesmo tempo, mas em sítios diferentes da aldeia. O Tino morreu passados três dias e o Zé ficou surdo a partir desse momento. O arejo é uma coisa que passa e atinge as pessoas que estão no caminho. Foi assim que a Lina Vieira ficou manca, por exemplo.
E eu ouço estas coisas e acho normal. Apesar de me perguntar como é que um homem de vinte e poucos anos fica surdo de repente, deixo-me ficar com a explicação do arejo e pronto. Se calhar, afinal, sou um pouco daqui.

E assim se perde a vontade de conviver com a família

1.8.11
A boda foi bonita. O meu irmão mais novo e a sua noiva estavam muito felizes. A minha mãe estava como nunca a vi. A minha avó igual a si própria (a controlar quem come o quê) e toda a gente a bailar e a comer e a beber que é como deve ser um casamento. Mas eu não consigo deixar de pensar no que me disserem quase todos os meus tios: "Eh lá, quase não te conhecia, estás gorda!". Já não sabia o que era estar no meio de gente sincera, dessa boa gente com o coração na boca, da minha gente.

Ainda hei-de descobrir de onde sou ou onde estou bem

28.7.11
Aqui em casa da minha mãe uns preparam a boda, outros vivem obcecados com o que vamos comer logo, outros trepam e descascam árvores. Há os que quase racham a cabeça, as que pintam os olhos e esticam o cabelo, os que mamam sem parar. Depois há a minha mãe, que não faço a mínima ideia do que anda a fazer, e eu que faço o mesmo de sempre: desespero e exaspero.
Lá fora, há sinos a tocar a dar as horas e quartos de hora; há cães que parecem vadios; há inclinações de cabeça com bons dias e há quanto tempo; há mulheres, sem pescoço e abdomén proeminente, deformadas pelo trabalho e pela vida.
Definitivamente não sou daqui. Que pena!

E se eu inventasse outra mãe para mim?

20.7.11
Eu já vim para aqui falar das minhas hemorróidas, portanto não esperem que eu vá tomar café com as crianças bem vestidas e bem comportadas. Não esperem sequer que vá tomar café. Que tenha bons modos, que sorria feliz e coquete. É que, além de eu ser como sou, estou em casa da minha mãe, que agora decidiu que vai ser engenheira de florestas e diz que no outro dia comprou laranjas falsificadas (segundo ela alguém se deu ao trabalho de colocar uma seringa nas laranjas para lhes retirar o sumo) e que sabe como é que os hackers atacam os computadores. A sério, eu sou uma pessoa muito saudável, muito saudável.

A minha avó está mouca

18.7.11
A minha mãe já me tinha avisado que a minha avó está a ouvir muito mal: "está mouquinha minha filha, não ouve nada", disse-me várias vezes ao telefone e eu achei que estava a exagerar, como sempre, até porque lhe liguei a falar aos gritos e do outro lado ouço a minha avó: "quem é, és tu Carla? ui, porque é que está a falar como uma peixeira?"
Portanto, quando cheguei aqui esperava poder conversar com ela normalmente, mas afinal preciso de falar muito, muito alto. É claro que ela odeia pedir para repetir e muitas vezes deduz o que ouve e responde com coisas que não fazem sentido, mas é raro, porque está sempre atenta às expressões da cara.
Hoje via-a conversar com um estranho e a conversa parecia uma coisa de malucos, porque o senhor não fazia ideia que ela está mouca e foi-se embora sem perceber. Tal como há muitos anos atrás um cliente da fábrica de tapetes onde trabalhava não chegou a perceber que ela não sabia ler, porque lhe disse que se tinha esquecido dos óculos.
A minha avó tem 83 anos.

Uma questão de hierarquias, ou não

14.7.11
Já tive empregada doméstica. Foram duas entre 2000 e 2004, a Ana e a Cristina. A primeira era cartomante e a segunda tinha dois filhos e sustentava o marido que em tempos batia-lhe, mas na altura em que a conheci não. E depois, em Lisboa, durante uns meses também havia a empregada que o Jaime tinha, mas dessa não sei nada, porque nunca me cruzei com ela. É claro que ter alguém que cuide da casa por nós é uma maravilha, mas eu não sei ter empregada doméstica. Não sei ser uma senhora. Não sei dar ordens a empregadas domésticas, por isso é que tanto a Ana como a Cristina mandavam em mim. Diziam-me o que eu tinha de comprar para limpar o chão, ou a banheira. Mudavam o sítio dos sofás e decidiam que roupa passavam a ferro e a que ficava por passar por falta de tempo. Se eu podia dizer-lhes o que fazer? Podia, e às vezes fazia-o, mas sempre com um bocado de medo, como se tivesse a meter o nariz onde não era chamada. Sim, é verídico, tenho medo das empregadas domésticas. Mas, quer dizer, há todo um universo à volta da domesticidade que me desculpa. Basta ver a  peça do Jean Genet, ou ler  O Jardim da Duras e fica-se com uma ideia.

A contas com o passado

12.7.11
Já passaram 17 anos desde que o tive como professor. Foi com ele que ouvi falar, pela primeira vez, de Ravi Shankar, Egon Schiele e algumas teorias de psicanálise, entre muitas outras coisas. Punha-nos a ler romances e fazia perguntas nos exames sobre o que tínhamos lido. A mim mandou ler "As Ondas" (era um livro diferente para cada aluno). Detestava-o. Tinha medo dele. Por isso nunca li nada do que escreveu. Mas depois deste tempo todo acho que estou preparada para ler Mário Cláudio.

Fim-de-semana

11.7.11


Do fim-de-semana sobraram duas perguntas que estão a martelar na minha cabeça:
1-De que te queixas?
2-Porque é que te fartas das coisas?

Manias

8.7.11

Tenho de parar com a mania de que consigo cortar-lhe o cabelo.

Eu ainda hei-de ter dias de glória

7.7.11
Fiz uma lista, mentalmente, do que queria fazer hoje e como estou cada vez mais realista a dita incluía apenas três coisas: mungir-me para poder ir ao cinema antes que me passe definitivamente dos carretos; costurar para chegar ao fim do dia com alguma coisa concreta realizada; e fazer uma tarde de dióspiros, porque estou sempre capaz de devorar este mundo e o outro e mais vale fazê-lo com ingredientes saudáveis. A última foi logo posta de parte, porque não estamos em época de dióspiros e a fruteira estava miseravelmente descomposta (ainda hei-de encontrar alguma coisa para fazer com ameixas); a costura foi para o galheiro porque o mais velho dormiu metade da sesta e o leite, bom, o leite deixou-se estar lá onde costuma estar antes do bebé o sugar, ou sair por livre e espontânea vontade. *suspiro* Eu sei, uma miséria!

É oficial: sou uma mulher madura

5.7.11
Confirma-se que vou passar uma semana de férias ao Algarve...em Agosto. Depois disto (e de me ouvir dizer à médica que preferia o DIU à pílula) acho que posso dizer com toda a segurança que atingi uma certa maturidade. No mau sentido.

Puericultura

4.7.11
Durante a gravidez e em algumas consultas de pediatria no hospital, sempre que eu respondia à pergunta "Primeiro filho?" obtinha as mais variadas reacções. A minha preferida foi a de um pediatra: "ah, bom, então já pode escrever um livro de pediatria".
A mim já me ocorreu escrever vários livros, incluindo de banda desenhada mesmo sem saber desenhar, mas nunca me tinha ocorrido escrever sobre pediatria. Se o fizesse (coisa que não vai acontecer, descansai) começaria por desmistificar alguns mitos.

1- Se a mãe estiver feliz o filho também está.
Este mito até pode resolver muitos problemas de consciência e manter um certo equilíbrio da sociedade, mas toda a gente sabe que quanto pior estiver a mãe, melhor está o bebé, porque mama à hora que quer, é embalado a qualquer hora do dia, independentemente da mãe ter de comer, dormir, ou ir ao quarto-de-banho, etc.

2- Criar rotinas é muito importante para o bebé se sentir seguro.
O bebé sente-se seguro no colo da mãe e do pai. Sente-se seguro a mamar. A ouvir vozes familiares e ver espaços que reconhece. Portanto, se estiver sempre com as mesmas pessoas e for mimado e acarinhado por elas sente-se seguro. As rotinas são para nós, os adultos, não nos baralharmos demasiado.

3 - O bebé precisa de aprender a dormir, como aprende tudo o resto.
Há pais que sofrem horrores com os sonos dos seus bebés. Em relação a isso não há nada a fazer. Chega uma altura, por volta dos dois, três anos, em que eles começam a atinar com coisa, mas alguns continuam a não saber dormir pela vida fora. Isso não representa problema nenhum a não ser o facto de os pais precisarem de dormir.

....
Podia continuar mas tenho de ir tratar dos filhos. Isto dos livros é para quem não os tem, ou tem quem cuide deles.

Cenas da vida familiar

2.7.11
Cena 3

Personagens: As mesmas mais o pai.
Cenário: Sala de jantar

A mãe, o pai e a filha mais velha estão à mesa a jantar. O bebé mais pequeno está na espreguiçadeira, no chão, a lado do pai. 

Pai: queres vinho?
Mãe: sim, por favor. Aponta com o dedo para o copo. O pai enche-lhe meio copo.
Filha: o que estamos a comer.
Mãe: bacalhau à bráz.

Ouve-se o choro de uma criança. Chama pelo pai. Ele levanta-se e sai. A criança cala-se. O pai regressa à mesa. 

Pai: Está cheio de calor, deixei a janela do quarto aberta.
Mãe: Pois, é capaz de ser melhor.
Filha: Já acabei, posso sair?

Toca um telefone.

Filha: deve ser o papá. Sai da mesa, pega no telemóvel e afasta-se.

Os pais ficam à mesa. O bebé começa a gemer. O pai abana a espreguiçadeira com o pé. Começam a discutir.

Mãe: ksdjhfskjdfsljfslkjfsdlkjgsdkfjsdlkdfsldfskdjlKJFFÇSGÇASD
Pai: hwekjhfewhfwiuhdasoidsaljdsafksdhfdhffkldfhgkdfhglkadhga
Mãe: fhnashfkasdfsdfldsflsdfsdfsdASJDKSHFLASHFLJSADFsfgsdfsdflsdakf
Pai: skldjfhsdfhldsfsdfsdhfsdlfsdfsdf
Mãe: safsdlkjhfkhsdfkjshfljksdfkjshdfksjlçdfhsdçjk
Pai: LKSJDKJSDAHFLSKJAD
Mãe: KSAJDSDFHSDFHSDHFSDJFSDFLASDFDSAJGLDFSFA
Filha (que acabou de chegar à sala): Vocês estão a discutir?
Mãe: Não.
Filha: Não? Eu da cozinha ouvia-vos falar num tom que parecia mesmo de discussão.
Mãe: impressão tua.

O pai ao pegar no copo de vinho entorna-o sem querer e o vinho cai em cima do bebé, que começa a chorar. O pai aflito pega no bebé e sai a correr com ele. A filha mais velha corre atrás. A mãe fica a olhar para a parede com riscos de giz azul e manchas de vinho.


Torre de Moncorvo

28.6.11
(obrigada pela foto, Xana)
Andava a adiar relacionar-me com Jorge Luís Borges (não sei quando é que comecei a ler autores em vez de livros, ou melhor sei mas já lá vamos), porque tinha medo de não me apaixonar como me aconteceu com outros escritores - que por acaso tenho evitado ler para continuar a olhá-los com os mesmos olhos de há muitos anos. É o caso da Marguerite Duras e do Milan Kundera. E, efectivamente, os meus receios confirmaram-se. Talvez por ter começado com um livro muito particular, não sei.
Acontece que, por caso, fiquei a saber que o bisavô de Borges terá nascido e vivido em Torre de Moncorvo, antes de emigrar para a Argentina e casar com Cármen Lanifur. Ora, há muitos, muitos anos fui passar uns dias a Torre de Moncorvo com a Xana e a Paula e foi precisamente nessa altura que comecei a devorar livros como quem come cerejas, muitos graças à nossa professora de português Rosa Guedes, que quase todas as semanas me entregava uma saca deles para eu ler. 
Lembro-me perfeitamente de estar na esplanada do Manolo a ler "O Amante" e sentir que a Duras sabia exactamente o que eu sentia pela minha mãe e, tal como aquelas pacientes que se apaixonam pelo terapeuta, apaixonei-me de imediato pela escritora.
Para ser mais precisa eu comecei a ler avidamente antes disso,  teria uns 12 ou 13 anos, mas não sei se se poderá chamar livros à colecção Sabrina, que um dia encontrei numa caixa que ia para o lixo (sim, em minha casa não existiam livros, mas não vamos começar a falar da minha infância),
Nessa viagem a Moncorvo não sei quantos livros li, lembro-me do diario de Adrian Mole e um dos volumes de As Brumas de Avalon  (e da comida da avó da Xana e da maravilhosa viagem de comboio, com o David Bowie no walkman...).
Resumindo, não me apaixonei por Borges (ainda), mas temos Moncorvo em comum e isso parece-me um bom pronúncio.