Alguns mandamentos da meia idade #2

31.1.14
Aos 40 anos pedirás à tua filha que te corrija os textos em inglês.

After all tomorrow is another day

29.1.14
E nos dias em que não como mexilhões (que serão, seguramente, mais do que 300 por ano) tento cozinhar comida saudável, olho duas vezes para o preço dos ovos biológicos e dos ovos das galinhas criadas ao ar livre (2,78€ versus 1,38€), confecciono pratos vegetarianos que os meus filhos insistem em não comer, questiono o nosso modus operandi e culpo a sociedade (mas culpo-me mais a mim, obviamente).
Depois, consolo-me com uma série na televisão e uma garrafa de vinho e espero por um novo dia. After all tomorrow is another day.

Eu sou a cigarra*, pronto.

27.1.14
Agora a sério, será assim tão mau eu querer ter mais dias assim - mexilhões, cerveja de pressão como deve ser e sexo? Eu não estou a dizer que os outros, os do estrugido, da roupa que não seca, dos putos que só sabem gritar, do dinheiro que não dá até ao fim do mês, do vomitado dos gatos, não façam parte, aliás, sem estes os outros não teriam o mesmo interesse, mas eu não tenho de me sentir mal por achar que faz muito mais sentido aproveitar a vida do que viver em função do "dia de amanhã".
(E não me venham com o dinheiro, que eu já apanhei mexilhões no Magoito e não preciso de pagar (ainda) para ter sexo. Só me falta aprender a fazer cerveja).

*da versão do La Fontaine, porque duvido que fosse gaja para estar 17 anos à espera de emergir da terra para aproveitar umas semanas e morrer. Ou então, é mesmo isto (que acabei de descobrir): a vida é 70 por cento de preparação e 30 por cento de gozo. 

Desencontros

26.1.14
É um desencontro no encontro isto de duas pessoas que se abraçam no aeroporto e, depois de consoladas as dores da distância, um ansiar voltar a casa e o outro entrar num avião para qualquer sítio.

"Deram-me cargos por ter filhos"

23.1.14
Vinha eu de mãos nos bolsos pela rua fora, a cheirar o ar como os gatos (é a única coisa que gosto mais nos gatos do que nos cães, os primeiros andam sempre com o focinho levantado e os segundos de focinho no chão), a levar com o sol na tromba e a pensar na vida, que no meu caso costuma incluir idealizações de cenários, onde apareço sempre com um cabelo decente rodeada de pessoas inteligentes e criativas a discutirem comigo os temas que estão na ordem do dia.
Curiosamente, no cenário de hoje estava num sítio específico, porque queriam contratar uma pessoa com, pelo menos, três filhos, uma vez que isso traria vantagens fiscais para a empresa. Nisto, ri-me muito com este cenário hipotético, por causa da ironia de estar a fazer exactamente aquilo que sempre quis por ser mãe de filhos, quando foi precisamente isso que me afastou de fazer aquilo que sempre quis. Bem, não foi só isso, mas adiante.
Depois, cheguei a casa e link daqui, link dali, vou parar a este texto. Ele há coisas do arco de velha!

Perguntas que eu já sei a resposta

22.1.14
Uma pessoa tem mesmo de arrumar a casa, não dá para continuar a adiar, a melhor forma de começar é ligar a radar e fazer num instante um bolo de chocolate,certo?

Detalhes

21.1.14
Li recentemente qualquer coisa sobre as nossas memórias de infância estarem relacionadas com a nossa ordem de nascimento. Que o facto de sermos filhos mais velhos, do meio, ou mais novos é determinante para a nossa personalidade. Faz sentido, claro, mas nem é tanto sobre isso que quero falar. É mesmo sobre aquilo que escolhemos (voluntaria ou involuntariamente) guardar como recordação.
São, quase sempre, detalhes. Um cobra pendurada numa árvore. Uma banana comida às escondidas. Pedras a delinear o espaço de uma casa. Os amortecedores de uma motorizada. E à volta de cada um desses detalhes uma história.
E é uma pena que os detalhes só nos sirvam no futuro. Não sei quais dos pequenos nadas dos meus dias vou-me lembrar daqui a vinte anos, mas quero deixar registado o maravilhoso risoto que fiz ontem e ninguém comeu. 

Ai, as crianças!

19.1.14
O meu rico filho do meio, que é ao mesmo tempo primogénito, tem umas ideias um bocado...estranhas. Exemplos (talvez estranhos só para mim, não sei):
1- Usa os guarda-chuvas como armas, uma para me matar, outra para me acordar.
2- Levanta os pratos da mesa sem ninguém lhe pedir.
3- Anda obcecado com o tabaco (ninguém fuma aqui em casa). Contou-me ele que foi a um parque com uns amigos e que lá havia uma máquina de, "como é que se chamam?", cigarros, isso, mas dos bons, dos que não fazem mal aos pulmões e, pelos vistos, ele fumou uns dez e eram mesmo bons!
Não incluo aqui a famosa questão do "se não posso dizer foda-se [por não conseguir partir uma noz com o quebra-nozes], que palavra uso?", porque essa não é estranha.

Beleza interior

19.1.14
No meio disto tudo esqueci-me de uma coisa importante. O Jaime, quando chegar daqui a oito dias, vai encontrar uma gaja fanada. Não chegava ter uma gaja de peles flácidas, com um corte de cabelo à foge que te aleijo e buço, ainda tem de a encontrar sem dentes, ou sem um dente, vá.
O que vale é que continuo esta beleza interior (estou a revirar os olhos, caso não tenham notado).

O meu lado direito

18.1.14
No início do ano tropecei no Cais do Sodré, depois de jantar com uma amiga, e abri o sobrolho. Fiquei com uma bela cicatriz na sobrancelha, é o que vos digo. 
O dente que tinha partido na passagem de ano foi arrancado ontem e, por isso, tenho a cara inchada. As dores no ombro e no braço continuam a não dar-me descanso. 
Todas estes episódios acontecem no meu lado direito. O meu lado direito está gasto, assim como o da Assembleia da República. Eu preciso de analgésicos e antibiótico. A Assembleia de ser abduzida. 

Alguns mandamentos da meia idade #1

16.1.14
Aos 40 anos aprenderás a terminar aquilo que começaste.

A manta que achava que tinha começado no ano passado e afinal anda aqui desde 2012

Os outros

15.1.14
Já me tinham dito que eu tenho um tom de voz completamente diferente do tom da minha escrita. Parece que soo surpreendentemente meiga e serena.
Hoje, disseram-me que se notava perfeitamente que era jornalista pela minha forma de falar.
Creio que há coisas sobre mim que desconheço por completo.

Inverno

14.1.14


Todos os dias procurar fazer uma coisa que me agrade, que me dê verdadeiramente prazer, é o meu mais recente desafio, e não, não tem nada a ver com o ano novo. De vez em quando preciso de fazer este tipo de exercícios para funcionar. Muita gente fá-lo naturalmente, mas eu tenho de encarar a coisa como exercício. 
Por isso, hoje, fiz um pequeno desvio quando fui buscar os meninos à escola, para ver, mais uma vez, o prédio mais bonito de Lisboa. Ainda não o tinha visto no Inverno.  
Pergunto-me se estarei por aqui, em Lisboa, para o fotografar nas outras três estações e sigo o meu caminho.

Lixo

12.1.14
Vejamos, eu acho mesmo que o equilíbrio passa, quase sempre, por seguir umas quantas regras de bom senso. Mas, no meu caso parece sempre mais complicado do que isso. Por exemplo, aqui na minha rua, quando uma pessoa se esquece de levar o lixo comum ao sábado, tem de ficar com ele até terça-feira. Ou seja, eu tenho de acumular lixo de cinco dias até poder depositá-lo na rua para o camião o recolher.
Podia fazer como os meus vizinhos e deixá-lo no caixote, dentro do prédio, a tresandar, mas não sou capaz. Eu cumpro as regras de civismo, só não cumpro as outras. Por isso, passo a vida a acumular lixo, literal e metaforicamente falando.

Ainda não tínhamos falado de masturbação

10.1.14
Acho que se espremer este blog, e deitar fora o que não interessa (uma grande parte), encontro aqui algumas coisas engraçadas, mas o mais interessante, para mim, é verificar que eu vou oscilando entre a vontade de fazer e a de reflectir. Por isso é que umas vezes ando às voltas com a máquina de costura e o tricot e outras obcecada com a Virginia Woolf (onde será que deixei o Diário?).
Neste momento, é fácil perceber que a fase maker anda um bocado nas ruas da amargura, mas digamos que a thinker também não anda a marcar muitos pontos. 
No entanto, entre ir ali acabar de transformar um casaco, ou dar um salto ao Nimas, apetece-me muito mais a segunda hipótese. Ainda por cima, a primeira vez que me apeteceu masturbar depois de ver um filme foi com um do Ingmar Bergman.

Então, decidi

9.1.14
tomar um banho demorado, fazer um bolo de maçã e canela e acabar de ler o livro. E apercebi-me que se calhar devia era ter uma vida de merda.
Assim, aquele momento em que os meninos chegam passava a ser uma bênção, um bálsamo, e não o terramoto que habitualmente é: gritos, chapadas, dedos entalados, iogurtes entornados, etc.
Seja como for, vejo como estão crescidos e percebo, finalmente, essa coisa da passagem do tempo. Passou rápido, realmente.
Aliás, não sei se por causa desta nova perspectiva temporal, ou se por algum amadurecimento emocional, pela primeira vez não chorei a despedir-me do Jaime.

Bloqueio

8.1.14
Tenho duas horas até ir buscar os miúdos à escola. Posso fazer o que bem entender, desde que não implique gastar dinheiro, e não faço a mínima ideia por onde começar...

À saída do cinema

7.1.14
Comentários da família depois de vermos o Frozen:
Nicolau (que esteve o tempo quase todo de boca aberta a olhar para a tela) - "Tinha um monstro muito mau".
Isaac - "Quero ver outra vez".
Bea - "A Disney ainda sabe fazer filmes, não achas?"
Jaime - "Não te parece que aquela princesa do gelo tinha umas formas demasiado pronunciadas para um filme infantil?"
Eu - "Não era uma princesa, era uma rainha".

Anda-me a sair cada bojarda!

7.1.14
"Se queres destacar-te em alguma coisa, sobretudo na área em que queres especializar-te, tens mesmo de estar focada nesse objectivo e trabalhar muito. Não podes dispersar-te, ou acabas uma frustrada como eu". Andam-me a sair bojardas destas pela boca fora.
Eu sabia que quando ela chegasse à adolescência a nossa relação seria obrigatoriamente diferente e sabia que a minha intuição me ajudaria a perceber a melhor forma de lidar com isso. O que eu não sabia era que haveria de dizer coisas tão sonantes e pesadas.
A ideia era ela aprender na escola a gramática, matemática e físico-química e o resto connosco, no nosso quotidiano, nas nossas viagens, nas discussões à mesa e depois ela decidia se ia para a universidade, ou fazer uma viagem à volta do mundo, ou voluntariado numa ONG.
Como é que se tornou tudo tão sério?

Madrugar

6.1.14
Todas as coisas que queria começar a mudar a partir de Janeiro, pequenas coisas como: atender o telefone, beber água, criar um horário de trabalho, não andar sempre com o mesmo calçado, etc., foram por água abaixo quando tive de me levantar hoje às 7:00. É que nestas férias os rapazes aprenderam a dormir até tarde e eu sou uma pessoa mais feliz quando não tem de madrugar.

2014

3.1.14
Bom, se há um ano eu achava que 2013 ia ser um ano do caraças, nem sei o que esperar deste. Primeiro, porque me senti mesmo bem na casa desta rapariga (a sério, eu ia lá passar o ano e fiquei três noites e quando cheguei a casa já não sabia onde eram os interruptores).
Depois, porque me aconteceram coisas espectaculares, como: ter todos os filhos acordados à meia-noite; não me lembrar do que aconteceu em grande parte de noite e adormecer com um dente partido, depois de ter estado, sei lá quanto tempo, a tentar tirar uma cena que tinha no dente, quando afinal tinha... um dente.
Além disso, quais são as probabilidades de jantarem, divertirem-se e dormirem quase trinta pessoas numa casa sem problemas de maior?
Se este blog ainda existir no final de 2014, logo veremos se foi um ano do caraças maior do que o anterior, mas para já fiquei a saber que o meu neto Francisco (o filho imaginário do Isaac) não tem mãe, porque já está "com o Jesus". Ou seja, a minha mãe ainda pode esperar salvar algum membro da família das chamas do inferno. Isto, porque o único telefonema que recebi foi dela, a dizer-me, muito chorosa, que estava muito desiludida comigo, que tinha uma "espada atravessada no coração", e que esperava que eu começasse o ano novo numa nova vida.
É tão curioso isto, eu e a minha mãe queremos exactamente o mesmo, só que em direcções completamente opostas. Ou se calhar nem tanto assim, tendo em conta que os opostos aproximam-se.