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As casas

4.12.17


Acordo quando o sol nasce, porque a janela do quarto da casa nova está ali ao lado da cabeceira da cama.
Já não devia estranhar mais uma casa (só em Lisboa é a sexta), mas também já devia saber que o nomadismo é só uma parte de mim. A outra, a do pouso fixo com os caminhos para a escola decorados pelas crianças, com vizinhos que oferecem limões, com trajectos e números de autocarros sabidos de cor e salteado e com os amigos de sempre à mão é, em ocasiões, muito apelativa. Só que há sempre qualquer coisa, às vezes muito boa, às vezes má, que nos impele a mudar.
Desta vez foi uma circunstância inesperada e repentina (como seria de esperar das circunstâcias inesperadas) e, portanto, eis-me aqui numa outra casa nova.
As casas são o que sabemos. Paredes com circulação sanguínea, abrigos e prisões ao mesmo tempo.
Por estar nesta casa, uso muitas vezes a estação de metro de Santa Apolónia, o que me permite passar pelos comboios, apesar de a minha filha não perceber o que me leva a dar uma volta tão grande quando posso passar por baixo deles e diminuir a distância do acesso ao metro. Mas é irresistível para mim. E sempre que há algum comboio prestes a partir sinto o impulso de entrar, como Ora fazia nos autocarros, num bairro de Jerusalém.
Ora é uma pessoa inventada por David Grossman mas para mim é praticamente real. Quase tanto como Gomes Leal, que encontrei numa das minhas deambulações pela cidade.
Foi numa destas manhãs em que fui andando sem destino. Vi um cemitério e entrei. Na entrada dizia Cemitério Oriental da Cidade e quando vi a quantidade de ruas ladeadas por jazigos e toda aquela arquitectura de monumentos fúnebres fiquei bastante pasmada.
E foi nesse estado que me cruzei com o túmulo do Gomes Leal. Estava a decorrer uma visita e o guia dizia qualquer coisa sobre Fernando Pessoa e que Gomes Leal era um menino da mamã. Devia ter ficado a ouvir, mas como eram poucas pessoas e a minha intrusão seria notada, além de que estava a decorrer um funeral perto, deixei de saber como estar ali. Saí e voltei para casa.

Arejar

31.10.17
No bairro onde estou a viver temporariamente devo ser a única pessoa que deixa janelas abertas durante o dia. Mesmo sendo certo que a maior parte das casas estão vazias, porque os habitantes só as habitam algumas horas por dia, não deixa de ser estranho.
Mas que sei eu? Eu vou na rua e olho para as pessoas que arrastam aqueles sacos de compras com rodas, das lojas dos chineses, e tento perceber se posso ser eu ali, no futuro.
Vejo os desenhos do Nicolau - eu com um chapéu e a cricatriz na testa, três árvores ao vento. Olho para os três dentro do meu telemóvel, o Isaac a falar comigo, só ele fala comigo, o Nicolau não quer e o Jaime escreve-me.
Preferimos escrever a falar ao telefone. Comovo-me com a nossa falta de jeito para estarmos separados. Surpreendo-me com a minha dependência dele.
E com a minha falta de imaginação para cozinhar pratos sem carne, ou peixe para uma vegetariana que adora bifes.
Vou no metro e tento adivinhar o que vai na cabeça de toda aquela gente. O casal com as duas miúdas, por exemplo, no último dia de férias e por isso já a imaginar o regresso à casa nova com muitos quartos, mesmo assim não os suficientes para alguma das crianças não ter de partilhar o dela. Além daquelas duas, há ainda os filhos de um deles que ficaram em Malta.
No Largo peço o prato do dia mas ainda é cedo, "só à 1h é que está pronto", como uma sandes, as mãos ficam besuntadas de azeite e coentros. Sigo para casa, cruzo-me com muitas, muitas pessoas e algumas parecem reparar em mim.
Fiz sopa de grão-de-bico para o jantar mas a vegetariana tem planos para o Halloween, ou Samhain, ou o que quer que se esteja a festejar.

Lisboetas

16.10.17

No laboratório, no rés-do-chão de um prédio residencial.
- "É a primeira vez que vem cá?"
- "Sim, não fazia ideia de que havia aqui um laboratório"
- "Há que anos! Eu já trabalho aqui há 41 anos, por aí já vê. E eu também vejo como estou velha, minha nossa, como é possível?"
- "Realmente 41 anos é muito tempo, mas não é caso para dizer que está velha"
- "Ai, estou, estou, noto quando caminho. E de manhã quando ponho os pés no chão a sair da cama, parece que me estão a espetar facas. Ainda ontem comentava com o meu marido o que fazíamos antes e o que fazemos agora (suspiro)".

No ecoponto.
Ponho uma garrafa no vidrão. Tiro as embalagens e depois o papel de um saco de plástico, daqueles grandes que se pagam no supermercado.
Uma senhora está a revirar um caixote de lixo.
- "Desculpe, vai precisar desse saquinho"
- "Não, por caso não vou precisar, quer ficar com ele?"
- "Já viu este cortinado? já não se fazem cortinados destes"
- "Hoje em dia deitam-se fora coisas em muito bom estado", digo, enquanto abro o saco para ela guardar a cortina.
- "É mesmo, este vou aproveitar"
- "Claro, faz bem. Até logo"
- "Até logo e obrigadinha".

No cabeleireiro.
- "Ai não me diga, vive em Timor há quanto tempo?"
- "Há dois anos"
- "Em que parte?"
- "Em Díli"
- "Mas o nível de vida não é muito caro? Eu pergunto, porque o meu marido recebeu uma proposta para ir para lá trabalhar mas uns amigos nossos, que tinham lá estado, disseram que não valia a pena ir para ganhar 2.500 euros"
- "Sim, não é muito barato para os estrangeiros, sobretudo porque as casas e as viagens são caras, mas depende muito das motivações de cada um, do que se procura ao sair do nosso país"
- "Pois... e o que faz lá?"
- "Nada".

No largo

19.7.15
"Não, não tive filhos e não me arrependo, sabe porquê? porque, eu tenho um irmão mais novo do que eu 12 anos, fui eu que o criei e parece que nem existo para ele. A minha mãe era enfermeira no Estefânia e a minha avó costurava para as senhoras ricas. Tinha cinco pessoas a trabalhar com ela. Então, eu ia levar o meu irmão ao hospital para a minha mãe lhe dar de mamar e cuidava dele apesar de só ter 12 anos. Agora, passam-se meses sem que me telefone. Mas, tudo bem, é só o meu irmão, já viu se fosse um filho? Não, não conseguia viver com isso.
Do que eu me arrependo é de não ter casado com um oficial da marinha que gostava muito de mim. Mas eu andava nas danças, sabe, nas danças de salão, e não tinha interesse nenhum em namorar (está quieta boneca, não te coces, que depois fazes ferida, a dona põe-te pó talco quando chegar a casa). Sim, era bailarina, pois, e até ganhei quatro troféus. Dois na Apolo e outro dois aqui [no Sport Clube do Intendente], mas este agora está desactivado. Tenho pena de não ter ficado com ele, ele ia chorar lá para casa, com a minha avó. Agora está viúvo e tem filhos casados e netos, mas se o vir não o reconheço.
Nós as pessoas de Lisboa falamos muito, não é? Então as que têm uma costela algarvia como é o meu caso, muito mais. Não conhece muitos lisboetas? Pois, os lisboetas vivem mais nestes bairros antigos, em Alfama, na Bica, no Bairro Alto, aqui no Intendente...eu gostava muito mais deste bairro como era antigamente. Ainda no outro dia fui entrevistada para a Renascença, nem sei se "ela" [Presidente da Junta de Freguesia] ouviu, e disse isso mesmo. Sim, havia droga, mas agora também há. E a droga nunca me trouxe problemas, nem as prostituas (ui, o Luís já está tão bêbedo a esta hora!). Antigamente era melhor, eu acho.
Eu nasci aqui há 70 anos, na casa onde ainda hoje vivo e na cama onde durmo. Tenho um hóspede lá em casa, mas, coitado, a reforma dele mal dá para pagar o quarto. No outro dia foi buscar comida às carrinhas, mas depois roubaram-lhe os sacos com a comida, enquanto ele foi fazer a folga de um conhecido no estacionamento do Saldanha. E era muita comida, e boa."

Sítio mágico

30.6.15
Os meus vizinhos das sonatas de Mozart (acho eu) deram uma festa de aniversário no maravilhoso quintal deles. Estava na cozinha a ouvir a banda sonora da festa, que incluía o "Anel de Rubi", do Rui Veloso, e senti-me tentada a abrir a janela para espreitar, mais uma vez, as traseiras da minha casa.
Estas são as melhores vistas que alguma vez tive, e já vivi numa casa com vista para o Tejo.
Não se via nada para o quintal dos vizinhos, claro, mas via-se uma lua que não era quarto crescente, nem meia lua, nem cheia e que parecia mesmo a cara de uma pessoa que nasceu com lábio leporino. Era igual à cara da prostituta  que costuma estar em frente à sapataria e que me faz lembrar a miúda (linda de morrer) que frequentava o 207, no Porto.
Também se viam coisas estranhas no céu, tipo um balão de S. João a passar mesmo à frente dos meus olhos, e luzes que pareciam estrelas, ou vice-versa, mas sobre isso nem vale a pena falar que eu tenho fama de ver coisas que não existem.
Mas o casal na janela iluminada não foi uma visão. Estavam os dois na cozinha, ele em tronco nu, ela em t.shirt e cuecas. Parecia que havia qualquer coisa de sensual sempre que se cruzavam a arrumar coisas no armários, mas deve ter sido impressão. A certa altura acho que discutiram, depois sentaram-se e ela bebeu uma cerveja.
A cidade, às vezes, parece-me um sítio mágico.

P.S Como devem ter reparado o blog está diferente, a Sílvia pôs isto assim bem mais bonito e a funcionar como deve ser, mas infelizmente perderam-se os últimos comentários. As minhas desculpas.

Despedida

23.6.15
Ando, aos poucos, a despedir-me de Lisboa. Acho que há sete anos não me despedi assim do Porto, porque com o Porto foi sempre um até já.
É verdade que aqui nunca me senti verdadeiramente em casa, mas de alguma forma Lisboa também é minha. Sinto-a, já, incrustada na pele.
Vou ter saudades desta cidade. Sei disso sempre que subo ao Miradouro da Senhora do Monte, sempre que ouço as sonatas de Mozart que os meus vizinhos tocam, sempre que vou a um restaurante paquistanês que me deixa beber cerveja da loja do lado, sempre que compro fruta portuguesa numa frutaria chinesa, sempre que tenho de fechar os olhos por causa da luz do sol na calçada, sempre que passo na fábrica do gelado, sempre que ouço música num dos jardins, sempre que passo a mão no tronco rugoso da oliveira, junto à Casa dos Bicos...
Ando a despedir-me aos poucos e, de repente, essa parece-me uma forma de vida como outra qualquer.

Inverno

14.1.14


Todos os dias procurar fazer uma coisa que me agrade, que me dê verdadeiramente prazer, é o meu mais recente desafio, e não, não tem nada a ver com o ano novo. De vez em quando preciso de fazer este tipo de exercícios para funcionar. Muita gente fá-lo naturalmente, mas eu tenho de encarar a coisa como exercício. 
Por isso, hoje, fiz um pequeno desvio quando fui buscar os meninos à escola, para ver, mais uma vez, o prédio mais bonito de Lisboa. Ainda não o tinha visto no Inverno.  
Pergunto-me se estarei por aqui, em Lisboa, para o fotografar nas outras três estações e sigo o meu caminho.

Segunda-feira

4.11.13
Depois de um fim-de-semana em grande, com a família reunida finalmente, começar a segunda-feira num sítio que se chama "Centro de Saúde Mental Infantil de Lisboa" é impactante.

Magia

16.5.13
A mim nunca ocorreu escrever crónicas do autocarro, porque apesar da minha tendência para desenhar personagens à volta dos passageiros frequentes, ao ponto de às vezes me parecer que somos velhos conhecidos e quase meter conversa para perguntar a uma como está o irmão irresponsável, ou a outra se estão a correr bem os tratamentos para a infertilidade, a verdade é que as carreiras que tenho frequentado são muito pobres em acontecimentos. Quando andava no 35, sim, ocorriam umas quantas intercorrências com merecimento de destaque, mas agora no 701, tirando um motorista louco que insulta todos os automobilistas e peões nas passadeiras e que põe o rádio nas alturas, não há nada de interessante a relatar.
Mas no outro dia houve assim uma espécie de intervalo e, como toda a gente sabe, nos intervalos há publicidade e na publicidade há mocinhas giras.
Ela deveria ter uns 16, ou 17 anos. Preciso de dizer mais alguma coisa? Pois, mas eu digo na mesma, que a juventude, só por si, não é tudo. 16 anos, cabelo castanho escuro, comprido e liso, espalhado pelas costas daquela forma rebelde e incerta dos cortes de cabelo modernos. Um pele lisa (tão lisa, meu deus!) e trigueira. Uma mistura de curiosidade e ingenuidade no castanho dos olhos e toda uma graça nos gestos, no andar, no sentar do metro e setenta de um corpo de 16 anos. Ainda por cima vestida da forma mais elegante que existe: uns jeans (justos, obviamente), uma camisola larga, com elástico em baixo, e umas All Star. Pareceu-me a visão da perfeição. Que deleite!
Mas depois a gaja saca de um magnum sandwich e põe-se a mastigá-lo de boca aberta. Por um momento sorri, agradecida por a miúda não se pôr a lamber o gelado, mas depois fiquei com pena por se ter quebrado aquele momento mágico.

Lisboa

7.1.13
Quando voltar para o Porto, porque voltar para o Porto sempre foi uma inevitabilidade, sei que vou sentir falta de Lisboa. Vou sentir falta do ronco dos barcos no Tejo, como agora sinto do som das gaivotas do Porto; do jardim da Estrela; do pato que conversa com as pessoas (sobretudo com os mais idosos, se calhar por ele ser também um velho) no lago do jardim da Parada; da Gulbenkian; da mouraria; das variadíssimas ofertas culturais e gastronómicas que a cidade tem e, sobretudo, das suas predisposições. Porque, como diz Lawrence Durrell, "uma cidade, tal como uma pessoa, reúne as suas predisposições, os seus apetites e os seus temores." (sim, estive a ler o ípsilon).
Do eléctrico que frequento, quase diariamente, não vou sentir falta, mas vou de certeza ser acometida por uma certa nostalgia ao lembrar-me dele.
Lisboa não é sempre uma cidade fácil, mas é uma cidade que nos deixa acreditar que tudo é possível (sobretudo quando não se é puérpera, ou se está a amamentar, ou a cuidar dos filhos a tempo inteiro).

Do que nos apetece

29.10.12
Sim, talvez fosse de bom tom a Beatriz estar educada para levantar e pôr a mesa sem ser preciso pedir-lhe, ou arrumar o quarto dela sem ameaças, ou apanhar coisas do chão em vez de as empurrar para o lado. Mas os bons tons, enfim, combinam mal comigo. É óbvio que é importante ela ter noção que precisa de colaborar, que as coisas não aparecem feitas por magia e, sobretudo, que a auto-suficiência é tão importante como uma licenciatura antes de Bolonha. Mas, confesso, não consigo ficar zangada quando ela se põe a fazer um filme com fotos de família no computador em vez de arrumar o quarto. Sinto, até, uma ponta de orgulho. E, muitas vezes, recrimino-me por disparatar com ela quando estou aflita, com um no banho e o outro a atacar a despensa, enquanto ela está sentada a ler um livro, porque nada deveria ser mais importante do que ler um livro, mas, enfim, nem sempre podemos fazer o que nos apetece e também é preciso aprender isso.

Mas (e talvez eu esteja apenas a rejeitar o modelo com que fui educada) não consigo evitar educá-los a acreditar que fazer o que nos apetece não tem de ser necessariamente mau. 
Se fosse mau, hoje não me teria cruzado com um parágrafo de Moby Dick, no livro "A Terra Vista da Terra" de Seth Stevenson e recordado o que levou Chatwin a torna-se um escritor de viagens, num dos prefácios do livro "Diário de uma Médica em Moçambique ". Isto porque passei duas horas na Fnac, só porque sim (todas as Fnac têm uma sala de leitura com música clássica, como a do Chiado?). E ainda fui à biblioteca Camões ler um bocadinho da entrevista ao Manoel de Oliveira no JL. Tenho de lá voltar para ler o resto. E depois, nem de propósito, ainda dou com este post da Dora.

Chacuti

13.7.12
Muito antes de viver em Lisboa tinha um restaurante preferido, o Tentações de Goa, ali para os lados do Martim Moniz. O que eu gostava, e gosto, do que lá se come! Tanto, que na única vez que precisei de levar uma anestesia geral pediram-me para pensar em coisas boas antes de adormecer e eu pensei na Bea e no Jaime (os rapazes não existiam ainda), dali a nada já estava alguém a abanar-me e a perguntar "e então, pensou em coisas boas?" e eu respondi automaticamente, sem pensar e sem saber onde estava, que sim, que tinha pensado no goês.
Mas depois veio a crise e vieram os rapazes e passamos de dois salários a um (não por esta ordem) e, portanto, as idas a restaurantes foram diminuindo até praticamente desaparecerem.
Por isso, ter aberto um goês, em Campo de Ourique, com take away foi a melhor coisa que me podia ter acontecido.

Piquenique

29.6.12

Aconteceu-me, acho que pela segunda vez em quinze anos, pensar que sou que nem um penedo com esta mania de não querer/saber conduzir, mesmo tendo carta de condução, depois de decidir fazer um piquenique, em Lisboa, com o três atrás de mim, ou, neste caso, à minha frente.
Empurrar o carrinho com os dois mais novos e o saco da comida por aí fora, com mais calor do que estava à espera, é coisa para deixar até os mais what a wonderful world em modo this fire is out of control, I'm gonna burn this city e eu, minha nossa senhora, preciso de tanto pouco para me descontrolar...
Mesmo assim lá fomos. Fizemos um piquenique e no regresso a casa, um sem camisola, o outro todo castanho da terra e ela a cantar como se estivesse no palco, ocorreu-me que se calhar devíamos viver assim, ao ar livre e a recolher moedas depois das cantigas. Tínhamos era de andar por terras quentes, para nos podermos banhar em água fria, e com muitas árvores de frutos. Também seria boa ideia considerar ter uma vaca leiteira como animal de estimação, ou uma cabra. O leite de cabra bebe-se? quer dizer, por nós, os seres racionais?

Sair à noite

7.5.12
Digam o que disserem da Pensão Amor, para mim será sempre o sítio de Lisboa que serve finos, que permite experimentar a Russendisko, sem precisar de ir a Berlim, e onde apontam para as fotografias para explicar quais as mamas com e sem silicone.
E o bairro alto, ah, o bairro alto, tem outro encanto ao lado de uma lisboeta - é tão diferente andar por lá sem precisar de olhar para o nome das ruas!

Coisas más de Lisboa 2

22.1.12
As coisas más de Lisboa são, provavelmente, as mesmas de outras cidades (e reparem que até agora esta é a segunda, contra oito coisas boas), mas a coisa má que se segue é demasiado má, para mim, porque aconteceu à minha filha. 
Aos 10 anos a minha menina foi assaltada. Não lhe roubaram nada, porque ela não tinha nada (por acaso tinha telemóvel, mas o próprio do assaltante, um puto pouco mais velho do que ela, decidiu perguntar-lhe se ela tinha telemóvel, depois de lhe ver a carteira, e ela respondeu que não), mas chegou a casa confusa e assustada e eu só queria apanhar o estafermo, que circulava com dois chupa-chupas na boca, dar-lhe dois pares de bofetadas e dizer-lhe que não é nada bonito o que anda a fazer. 
Provavelmente muitos dirão que ela não deveria vir sozinha para casa. Eu prefiro que ela saiba que são coisas que podem acontecer (porque o mundo não é perfeito) e que não se pode viver com medo, mas por dentro sinto-me como se tivesse engolido ácido e só penso nas bofetadas que o rapaz merecia naquele focinho. 
Fica, pelo menos, a certeza que tenho uma miúda corajosa como o raio e que não é um estafermo qualquer que nos vai impedir de viver normalmente. Mas se eu apanho esse grandessíssimo cabrão (que provavelmente não é mais do que um miúdo assustado como ela)...

Obrigada Lisboa

10.12.11
Vestir, tomar o pequeno-almoço, sair de casa e deixar as crianças entregues à melhor pessoa com quem poderiam ficar, o pai, é assim uma experiência a roçar o pecado da luxúria. Sair de casa de manhã e chegar ao fim do dia é experimentar, ao mesmo tempo, um milagre...mas chega de referências religiosas, até porque a transcendência não foi assim tão duradoura e só aconteceu porque saí para passear e não para me enfiar num gabinete bafiento como, infelizmente, muita gente tem de fazer.
Há muito tempo que andava a reclamar umas horas só para mim, fora de casa, mas por uma razão ou por outra a coisa nunca se proporcionava (basicamente acho que era por preferir continuar a ter razões para me queixar, porque esta coisa do sou tão desgraçada está-nos no sangue), acontece que nos últimos dias, talvez semanas, ou meses (?), comecei a sentir que as minhas funções vitais estão a desaparecer, tais como pensar, e portanto houve que tomar medidas. 
E assim fui parar, numa sexta-feira de manhã, à Mouraria e, mais uma vez, apaixonei-me por esta cidade. É impagável esta sensação de descobrirmos coisas absolutamente fantásticas a pouca distância de casa, esta sensação de entrarmos noutros continentes sem sair do país. Passear por corredores barulhentos, confusos e coloridos e sair para uma praça cheia de luz e ver gente com pressa, com vagar, gente sem ter para onde ir, gente que parece nunca chegar onde quer, gente feliz, gente em férias, gente doente. Ver gente. 
E depois sentar-me numa cadeira vintage, a uma mesa vintage, da Outra Face da Lua, a comer uma sopa moderna e por aí fora até serem horas de regressar a casa.

Turistas

6.10.11

Férias sem sair de casa? há montes de boas razões para o fazer, como a crise, o não haver férias escolares nesta altura, uma semana não dar para muita coisa, etc., mas na prática acho é que estamos cansados e com pouca paciência para a logística sair-de-casa-com-tanta-gente. Vai daí, decidimos ser turistas em Lisboa e procurar conhecer/fazer coisas pela primeira vez na cidade onde vivemos. O resultado foi:

- passeio no Yellow Bus (Lisboa fica a perder, e muito, vista de cima de um autocarro)
- subir a Bica no ascensor (com o senhor de 94 anos que já foi operado ao coração, à anca e aos dois olhos)
- descer no elevador de Santa Justa (com dezenas de turistas)
- subir no elevador da Glória (e agora todos: Desde este lugar sem história/Até um lugar na história/Vão apenas dois minutos/ No elevador da Glória. No elevador da Glória/ No elevador da Glória/ No elevador da Glória)
- espreitar as Ruínas do Carmo enquanto canta o coro da Carris.
- subir a Torre de Belém (bastante impressionante, sim senhora!)
- visitar o Panteão Nacional (um belo de um edifício)
- brincar na Quinta das Conchas (uma maravilha de um jardim)
- e quase que conseguíamos ir ao MAP se não tivéssemos escolhido o dia em que está fechado (terça-feira).

Pelo meio, fomos repetindo coisas como os gelados na Artisani a limonada no Clara Clara e as compras na Retrosaria. Além disso, ainda houve tempo para umas pequenas arrumações aqui em casa que resultaram numa parede inteira, forrada a flanela, só para mim (quem faz mantas de retalhos sabe o que isso significa).

Coisas boas de Lisboa 8

3.10.11
Alguns emplastros, e descanso q.b, depois voltei às corridas. Como tinha tempo, em vez de ir a correr e voltar a correr, corri tudo no jardim e fiz os alongamentos em cima da relva. No fim deitei-me a olhar para o céu pelas frinchas dos ramos da palmeira e estava num misto de relaxamento e alegria imensa (que não há outra forma de estar num Verão em pleno Outubro, sobretudo com os circuitos da serotonina a funcionarem depois da estafa) quando reparo numa pomba. Estava mesmo em cima da minha cabeça, pronta para cagar-me nos olhos. Mas não o fez. No Porto acontecia-me com frequência levar com merda de pássaros. Aqui ainda não aconteceu uma única vez.

Coisas boas de Lisboa 7

5.8.11
Viver na mesma rua que o Agualusa.

Coisas boas de Lisboa 6

17.6.11



O jardim Bordallo Pinheiro, no Museu da Cidade.