É a vida

30.5.11
Tenho quase 40 anos e três filhos. E nota-se.

É nestas alturas que compreendo o conceito de família numerosa

28.5.11
As compras são feitas on-line para poupar na gasolina e não trazer coisas a mais, a carteira e o ambiente agradecem. Agora só preciso de convencer a Sonae a trazer-nos as coisas em caixotes em vez de sacos de plástico.

P.S Os perecíveis são comprados no comércio tradicional -mercado e afins-, porque aqui em casa levamos a sério as sugestões de Michael Pollan.

Filho...s

27.5.11
É mais ou menos fácil perceber, e explicar, porque se tem um filho. Eu sempre achei que Marie Darrieussecq o explica como ninguém no livro O Bebé: "Tive um filho porque sabia que isso me daria prazer./Tive um filho porque encontrei este homem./Tive um filho porque sou pela reprodução das pessoas decentes./Tive um filho porque me tinham dito que o não teria./Tive um filho porque a vida é melhor que nada."
Agora, só tenho de esperar que a Darrieussecq tenha TRÊS filhos e me arranje uma explicação assim bonitinha.

Delete

26.5.11
Em dias como o de hoje, em que me apetece descer para tomar o pequeno-almoço do hotel, mesmo que seja "servido numa sala anexa ao lobby, um recinto branco e preto, ultramoderno, um espaço enfadonho e letalmente fashion", como a do Morgans, na Irlanda, fico com muita vontade de responder que sim ao blogger e dizer-lhe que pode apagar isto tudo: Os enfadonhos desabafos domésticos; as citações de livros para parecer inteligente; as fotos de família; as pseudo-partilhas de nada; as gabarolices e as depreciações.
Mas o pequeno-alomoço é servido na cozinha e o meu blog é isto. Quando voltar a ter de subir, depois do pequeno-almoço, talvez faça outro.

Vida familiar 2

25.5.11
Num instantinho passei de não poder dormir de barriga para cima, para só dormir de barriga para cima. O pequeno Nicolau só sossega deitado em cima de mim. Pois é, dá-se bem por ele, agora, a todas as horas do dia e da noite. Ainda assim, o pequeno Isaac consegue suplantar todas as exigências do irmão e, de vez em quando, dá-lhe umas valentes chapadas para depois ficar a olhar para nós com o ar mais inocente do mundo. A irmã mais velha rebola-se no chão com um e come de beijos o outro, mas (inveja das invejas) consegue andar por aqui, grande parte do tempo, como se eles não existissem, o que é natural, visto ser uma rapariga ocupada com os seus afazeres e pensamentos. Foi admitida no Conservatório, no ensino integrado, e por isso perdoo-lhe tudo, inclusive os piolhos do Isaac. O Jaime anda numa roda viva, entre o emprego, os filhos, os facebook e os concertos (Aloe Blacc, The National e Sufjan Stevens) e eu, eu estou para aqui entre o incrédula (de onde raio apareceu esta gente toda?), o fascinada comigo própria (eu sou mesmo o máximo, foda-se!) e a auto-comiseração, claro (mas será que eu alguma vez vou ter vida própria?).

Hoje decidi fazer gelatina

23.5.11
É de ananás e está no frigoríco, nas taças do Ikea, a ganhar consistência. E por isso posso dizer que hoje fiz alguma coisa. Fiz gelatina.

Os bichos da fruta saltam?*

20.5.11
É verdade que depois de os dois pequenos estarem a dormir (e para isso foi preciso correr aproximadamente a meia maratona entre a cama de um e o berço do outro, sem conseguir, ainda assim bater o record da Lornah Kiplagat), fui capaz de fazer uma kiche de requeijão e espinafres; pôr a lavar e estender roupa; esfregar os bicos do fogão (não sei o que me deu, juro); responder a e-mails e começar a tricotar umas meias iguais a estas (só porque sim). Depois, já com o mais pequeno acordado e enquanto lhe dava de mamar, avancei umas páginas do livro. Mas também é verdade que, quando estava a lanchar na cozinha, vi um bicho da fruta saltar da lancheira verde da Beatriz para a mesa e da mesa para o meu pão! Portanto, é possível que alguma coisa de errado se passe comigo.

*Acabei de saber, pelo google, que os bichos da fruta são larvas de mosca, portanto é possível que os gajos saibam saltar antes de voar, certo?

Só preciso de uma moeda de 100 escudos

17.5.11
Durante uns tempos, para ir para a universidade eu tinha de apanhar a camioneta até à Póvoa e depois uma boleia até ao Porto. Ao fim do dia, se não chegasse à Póvoa a tempo da última camioneta, tinha de telefonar à minha mãe para me ir buscar e isso era uma daquelas coisas a evitar a todo o custo, porque eram muito raras as vezes em que ela encarava essa tarefa com boa disposição.

Ora, o que acontecia frequentemente era eu não ter dinheiro para o bilhete, por causa do tabaco que não deveria ter comprado, e por isso ia o caminho todo até à paragem da camioneta a olhar para o chão na esperança de encontrar os 100 escudos que deveria ter guardado - coisa que nunca aconteceu -, e depois sentava-me no banco de pedra, em frente à paragem, na esperança que alguém da minha aldeia passasse e me desse boleia, o que felizmente aconteceu várias vezes.

Agora, quando olho para trás, tenho muitas vezes pena dessa rapariga que fui e sinto verdadeira compaixão ao vê-la naquele banco de pedra a dizer a si própria que não pode viver assim, que tem de ser mais sensata, e a saber que no dia seguinte vai fazer a mesma coisa. No dia seguinte talvez não, mas na semana seguinte seguramente. Vai comprar o maço de tabaco, porque tem vergonha de estar sempre a cravar e vai acreditar que o acaso, ou a sorte, lhe vão deixar uma moeda de cem escudos no chão, mesmo que isso nunca tenha acontecido.

E o mais estranho é que eu continuo a ser essa rapariga. A moeda de 100 escudos que estou à espera de encontrar é um emprego que me permita conciliar a vida familiar com a vida profissional. Porque não consigo ser só mãe e não quero abdicar de o ser por causa do trabalho. Desde que nasceu a minha primeira filha tornou-se óbvio, para mim, que seria impossível conciliar as duas coisas e, portanto, optei por desistir de uma delas, mas sempre à espera de encontrar a tal moeda algures no percurso escolhido.

E as moedas, como se sabe, têm dois lados, por isso eu teria de escolher entre:
Cara: um part-time numa empresa com pessoas motivadas e felizes.
Coroa: criar o meu próprio negócio.

Quem sabe um dia...afinal, já somos um movimento. De mães e pais.

Sinestesias

13.5.11

Cheiro a leite, a recém-nascido, a estrugido, a areia dos gatos, a lóquios, a salmão fumado, a suor, a pão acabado de fazer, a amargo, a xixi, a ferrugem, a pó e a roupa a corar. Às vezes também cheiro a chuva.

Há sensações universais 3

11.5.11
"E que aborrecimento não beber. O mundo, em si mesmo, é muitas vezes entediante e carece de verdadeira emoção. Sem álcool uma pessoa está perdida."

Enrique Vila-Matas, Dublinesca, Tradução Jorge Fallorca, Teorema, 2011

Ainda o puerpério

10.5.11
Sim, sim, estou bem, obrigada, operacional e com uma barriga de grávida de cinco meses e melões em vez de mamas. Ontem, até se deu o caso do pai ir trabalhar umas horas (apesar de estar a gozar a licença de paternidade a que tem direito) e eu ter tido, assim, a oportunidade de ver como vai ser a minha vida daqui para a frente, sozinha em casa com dois bebés. É claro que chorei. Mas ao fim do dia tive a visita de amigas e reconciliei-me novamente com a minha existência ao jantar. Porque, já se sabe, uma mesa com comida e bebida e amigos à volta é tudo o que precisamos para estar bem. E de dormir, claro, mas isso lá para 2013, quem sabe...

Vida familiar 1

6.5.11
O bebé grita de manhã à noite. Chora no banho, chora a comer, chora a toda a hora. Exige atenção a todo o instante, sobretudo do pai, que anda exausto.
O recém-nascido, esse, apesar de me destruir as mamas de tanto as usar, quase não se dá por ele.

αἱμορροΐς

3.5.11
Eu, agora, se fosse uma gaja mesmo, mesmo como deve ser, e no seguimento das belas fotos da barriga, do menino e tal, escarrapachava aqui as hemorróidas que trouxe do hospital, porque isto é tudo muito bonito mas há sempre o outro lado da moeda, e esse eu gostava de ter coragem de mostrar, não só para chocar os mais incautos, como para manter uma certa coerência.
E, pronto, ainda não é desta que digo que me doem as mamas (o que é um facto), mas posso dizer que me dói o rabo!