O que vai ser o comer

30.1.20
Passou uma música na Radar a louvar a rotina, uma rotina em particular, pareceu-me. Achei piada ao ritmo e à letra mas quando a Inês Meneses falou no Sambado já não ouvi (eu faço parte do grupo das pessoas que não aprecia trabalhar e ouvir música ao mesmo tempo).
Depois, as horas foram passando e eu fui dando por mim a pensar onde comprar o peixe para o jantar, na logística para ir buscar o Nicolau à escola e outras coisas mundanas. Troquei mensagens com o Jaime sobre o jantar, enquanto tratava do almoço do Isaac, e fiquei deveras perturbada com esta minha obsessão do que vai ser o comer.
Na verdade é mais uma obsessão do pequeno lá de casa do que minha. Sempre que o vamos buscar à escola a primeira pergunta que faz é: ''o que vamos jantar?'' Depois compara com o que almoçou e reclama, ou rejubila consoante a ementa apresentada.
Nunca mais me esqueci do dia em que lhe disse que o jantar era strogonoff, o que lhe agradou imenso, mas depois recusou-se a comer, porque o arroz devia ser branco e era de cenoura. ''Não se come strogonoff com arroz desta cor!'', disse ele em prantos.
Bom, depois da troca de mensagens pareceu-me claro que as refeições diárias são o compasso das minhas rotinas.
Entretanto, apeteceu-me escrever sobre as rotinas e por isso lembrei-me da música que tinha ouvido de manhã. Como não consegui descobrir qual era, perguntei ao Jaime (que faz completamente parte do grupo das pessoas que não sabem trabalhar sem ouvir música) e ele esclareceu-me, no exacto momento em que a música passava novamente na rádio, que se tratava da Jóia da Rotina.
''A jóia da rotina/ A jóia da rotina/ É voltar cedo pra casa/ Deixar o ouro na mina''.
Ele há coisas!

Segunda-feira

27.1.20

Os miúdos não foram à escola, hoje. Nenhum de nós conseguiu acordar a tempo, ou melhor, nenhum de nós achou que valia a pena o esforço, depois de ouvir as sete badaladas numa igreja e mais sete na outra (só espero que nenhuma das professoras deles leia este blog e vá procurar a justificação de faltas). E apesar de ter passado a manhã a centrifugar a roupa, que passou a madrugada a apanhar chuva, e a fritar panados para o almoço, mantive o humor típico de quem fez um manguito ao sistema.
Claro que ajudou ter acordado com vagar e ficar a olhar para o fac-símile do Egon Shiele, na parede em frente à nossa cama, enquanto pensava no filme sobre Maria Madalena e me ocorria que tinha de haver uma relação entre estes e o desaparecimento de Percy Fawcett .
Obviamente, abri uma garrafa de vinho ao almoço, ao contrário do que é habitual a uma segunda-feira.

Como seria?

22.1.20

Estou convencida que a minha ideia para salvar o mundo, apesar de distópica, teria a grande vantagem de vermos que espécie humana adviria daí.
Parece-me que devo andar a pensar nisto há algum tempo, uma vez que cumpro parte do que proponho (ou será que proponho precisamente por isso?). Então, a minha sugestão é que cada um de nós viva com o que consegue fazer. E só com isso. Se eu quero comer carne tenho de matar o animal.  Se gosto de ter a casa a brilhar e tudo arrumado nos armários perco o tempo necessário para o fazer, em vez de contratar uma mulher a dias. Para andar vestida e calçada não sugiro que confeccionemos as nossas próprias roupas e calçado, mas devemos pagar tudo o que está associado a uma peça, desde a matéria prima, passando pelos processos de transformação, até à mão de obra. Nesta realidade não faltariam os alimentos básicos à subsistência: pão, fruta, legumes e algum leite, assim como tecidos e roupas usadas, mas tudo para além disso teria de ser feito por quem aspirasse a mais.
A distância entre o trabalho e a escola deve ser a que conseguirmos fazer a pé. Se não for possível usem-se as carreiras, vulgarmente conhecidas por transportes públicos, ou as carroças puxadas a cavalo, como ainda usam algumas lavradoras de Aguçadora. Sim, estou a sugerir vivermos todos como eu vivia há 35 anos, ou seja, antes da CEE. A diferença é que nessa altura havia mais pobres (agora considerados classe média)  do que ricos, que não tinham mais do que um carro por família.
Não temos de culpar o desenvolvimento, a globalização e o capitalismo (se bem que este último...devia haver gente, ou mais gente, a estudar a razão para reproduzirmos sistemas que nos aniquilam mais do que nos ajudam) pelo estado a que chegamos, mas agora que já vimos onde viemos parar, como seria se recomeçássemos? 

Ser mãe

2.1.20

Último pôr-do-sol de 2019
Peguei num caderno à procura de uma folha livre para fazer mais uma lista de compras, e outra de coisas a fazer (ideia para 2020: compilar todas as listas que encontrar), quando li num rascunho: ''ser mãe é abdicar de ser outra coisa qualquer''.
Apesar de não me lembrar por que razão o escrevi, tenho a impressão que não fez tanto sentido na altura, como agora ao reler.
Sim, sim já sabemos que a maternidade acrescenta muito mais em proporção ao que se abdica (outra ideia: escrever posts fofinhos sobre a família, agora que anda tudo a falar dos desafios e dificuldades), mas ser mãe é realmente abdicar de ser outra coisa.