Andar a pé em Díli é difícil. Perguntem a qualquer pessoa e todos dirão o mesmo. O calor, o pó, o trânsito e, nalguns casos, o assédio verbal desmotiva qualquer caminhante. Mas eu insisto em continuar a andar pelo meu pé, porque é uma coisa que preciso de fazer, quase como preciso de respirar. Por isso, sempre que possível, isto é, quando estou sem as crianças em casa, que apesar de poderem acompanhar-me, já que têm boas pernas para isso, vão o caminho todo a queixarem-se de tudo e mais alguma coisa, vou a pé ao supermercado. Demoro 20 minutos.
Nesse percurso cruzo-me quase sempre com o vizinho que vende apostas numa mesa pequena e que me cumprimenta calorosamente com um: "Bom dia senhora, onde vai?" E eu respondo que vou passear, ou vou ao supermercado, ou comprar umas coisas, depende.
No outro dia, decidi ir tomar o pequeno almoço ao da Terra que é um sítio que tem umas panquecas muito boas e um batido de kefir maravilhoso. Ao passar pelo vizinho fui cumprimentada calorosamente, como sempre, mas desta vez ele perguntou-me se ia trabalhar e eu, automaticamente, respondi que sim.
Depois de já ter comido as minhas panquecas a simpática funcionária, pergunta-me: "Hoje não trabalha, senhora?" e eu automaticamente respondo: "Não, hoje não trabalho, estou de folga".
Fiquei bastante intrigada por nessa manhã diferentes pessoas quererem saber da minha vida profissional, mas se calhar deu-se uma daquelas coincidências de estarem os dois a aprender português e a palavra do dia ter sido "trabalhar".
Quando me fui embora, e enquanto caminhava em direcção ao supermercado para tomar café, pus-me a pensar nas minhas respostas, e como automaticamente respondi ao que esperavam ouvir, e depois mais alguém me cumprimentou: "Bom dia, senhora professora".