Às 4h da madrugada

27.8.15
A insónia não é novidade a esta hora da madrugada. Tem sido assim nos últimos dias deste longo mês de Agosto.
Agosto foi sempre o mês mais longo do ano, também isso não é novidade.
O hotel, sim, é novo. Novo para mim, porque o chão gasto e o cheiro a desodorizante deixam claro que de novo tem pouco.
Daqui a umas horas começa a longa viagem que nos levará para a casa nova. Não gosto muito da ideia de passar tanto tempo dentro de um avião, ou melhor, de três aviões, mas todos parecem calmos (e não é só porque estão a dormir) e isso tranquiliza-me.
Lisboa não parece a mesma, sem uma casa a que chamemos nossa, mas soube-me bem o caril de camarão com quiabos e o chacuti de frango, no meu restaurante preferido.
Não sei se já tinha dito que daqui a umas horas começa a longa viagem que nos levará para a casa nova. Não é bem uma mudança de casa como todas as outras, sobretudo com tantas lágrimas misturadas, mas no fundo é isso: vamos mudar de casa.

“Boa noite, não se preocupe. Boa sorte!”

19.8.15
Isto não está fácil. A minha mãe complicou, como sempre, a minha vida. Entrou num processo tal, nas últimas semanas, que se tornou incapaz de cuidar da minha avó (ela culpa a minha avó da vida miserável que tem, eu culpo a minha mãe de complicar a minha vida. Isto é tudo um ciclo, como se sabe).
Depois de arrumar a minha casa em Lisboa, no sentido literal, tenho estado a arrumar a casa da minha mãe nos dois sentidos – literal e figurado. Limpo a merda dos gatos, dos meus e não só, que vivem aqui; limpo a merda das galinhas; limpo a merda das sanitas. Procuro um Centro de Dia para a minha avó e vejo-a pedir à minha mãe, em desespero, que não a abandone.
Desespero com o desespero das duas.
Decido não me deixar abater, já que não é novidade para mim que esta casa tem a capacidade de deitar abaixo todos os filhos da minha mãe, menos (aparentemente) o meu irmão mais novo, que é o que vive mais distante, por enquanto.
Decido não me abater, dizia, e mantenho a ideia de marcar um jantar para me despedir dos meus amigos. No processo das mensagens, via telemóvel novo, isto é, smartfone usado, engano-me num receptor e, depois de corrigir o erro, recebo a seguinte resposta: “Boa noite, não se preocupe. Boa sorte!".
Choro compulsivamente. Não sou de ferro, foda-se!

Sabedoria popular

12.8.15
Visto isso o problema da minha mãe está relacionado com o momento da concepção, e eu não vou entrar em detalhes, porque a minha avó contou-me o sucedido muito envergonhada, acrescentando que nunca tinha falado do assunto a ninguém.
Mas nem tudo está perdido, porque se o médico da cabeça que eu sugeri for bom e ela tomar os remédios pode ser que as coisas se componham.

Cuidar

11.8.15
Andamos uma vida inteira a correr atrás do Amor, esse mesmo com maiúsculas, o verdadeiro e único. Acreditamos, mesmo quando não acreditamos, que existe a pessoa certa para nós. Ou talvez até mais do que uma. Não sei se porque está escrito em todo o lado, em palavras e não só, ou se os nossos átmos estão programados para isso.
Seja como for, é bonito quando acontece, mesmo quando não acontece e nós achamos que sim. Uma pessoa fica feliz. Uma pessoa encontra sentido nesta confusão toda. Uma pessoa brilha e sorri muito mais. Se calhar brilha, porque sorri.
E isso é tudo muito bonito. Muito bonito mesmo. Mas, aqui entre nós que ninguém nos ouve, o verdadeiro achado, a verdadeira felicidade é juntarem-se pessoas que gostam de ser cuidadas a pessoas que gostam de cuidar.
Ou então ser como Elisabeth de York.

Do que eu gosto é de vinho, mas há execpções

6.8.15
Acordei, na segunda-feira, completamente em pânico, porque me tinha esquecido de enviar o texto para a semana da cerveja do Lifecooler. Nunca me tinha acontecido tal coisa na vida e até saltei da cama (coisa rara, sobretudo àquela hora da manhã).
Depois de trocados alguns SMS, percebi que estava no timing, que era esta semana que deveria enviar o texto, e abracei o meu superego. Acho que o achei espectacular e tudo.
É claro que esta alegria e auto-valorização duraram pouco tempo, por não ter conseguido escrever o texto que gostaria, e ainda por cima cheio de gralhas (obrigada Nelson, pela edição), mas acho que, mesmo assim, vou continuar a ter em boa conta este meu nível de consciência.
E nem sequer quero saber se é completamente ultrapassado citar Freud, sei é que o meu superego, ou o referente mais actual, tem feito algumas coisas por mim bastante interessantes, como mostrar-me erros ortográficos em sonhos, que me passaram despercebidos quando os escrevi acordada, corrigidos pela minha professora de História do 11.º ano.
Sim, já me aconteceu acordar uma manhã completamente em pânico, depois de ver num sonho uma antiga professora escrever no quadro preto, com a sua letra magnífica de professora primária, uma palavra que eu tinha escrito mal num e-mail, e que na altura nem sequer me tinha apercebido.