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Natal nos trópicos

27.12.15


Foi um Natal muito diferente e foi bom e triste ao mesmo tempo. Não tão triste como o primeiro Natal que passei depois do meu pai morrer, mas a morte tem esse carácter definitivo difícil de lidar.
Já tive outros Natais diferentes, portanto. Até mesmo antes do meu pai morrer, como aquele em que os meus pais se zangaram e decidiram comprar-nos prendas em separado, quando supostamente ainda acreditávamos no Pai Natal. Nesse ano ele trouxe-nos, além dos brinquedos que tínhamos pedido, cerejas cristalizadas, e apeteceu-me muito abraçar o meu pai natal. Não sei se ele percebeu que eu percebi.
Uma pessoa vai tendo diferentes Natais ao longo da vida, porque se casa e depois divorcia-se e depois casa-se outra vez e depois emigra. Este foi o meu primeiro Natal de emigrante que não vai a casa passar a quadra festiva e que se despede da filha no aeroporto: Boa viagem, filha, Bom Natal, até já minha querida.

Foi um Natal diferente, por estarmos longe e por sermos só quatro à mesa, com o computador por perto, mas mesmo assim fizemos questão de manter algumas referências. Comemos bacalhau cozido (que não soube ao mesmo sem couves), comprámos bolo rei num supermercado português, que por acaso é gerido por um rapaz bastante jeitoso, e eu fiz sonhos pela primeira vez na minha vida. Ficaram mais parecidos com pesadelos mas, apesar de tudo, bastante saborosos.
Depois, como os pequenos se deitaram cedo (o Pai Natal despachou-nos primeiro) pudemos ir para a rua assistir aos vários fogos de artifício, cumprimentar quem passava e ver a grande animação que é o Natal em Díli. Aliás, temos dormido bastante mal este mês, por causa da construção do presépio aqui ao lado de casa, mas podemos dizer que, depois de tantas noites de banda sonora de gosto duvidoso, valeu a pena o esforço: Está ali um presépio em tamanho real que é uma categoria!

Há presépios destes espalhados por toda a cidade. Não sei se serão tão animados (neste momento estão todos em grandes cantorias à volta do menino espalmado), mas dos que vi poucos serão tão fieis à realidade do país. Este presépio tem figuras mais escuras e não inclui pais natais, ou bonecos de neve, como alguns que vimos. O Pai Natal ainda estou como o outro, o marketing pode ser muito poderoso, mas bonecos de neve, em Díli?

É como dizia o anúncio, a tradição já não é o que era e está bem, mas a ser diferente, que seja melhor, digo eu. 

No meu bairro

30.10.14
Desde que me mudei para o bairro mais multicultural de Lisboa, passei a acreditar na ilusão de que vivia numa cidade parecida com Vayorken, mas quando, hoje, saí de casa para levar as crianças à escola, percebi que não é bem assim.
Algumas pessoas viravam a cabeça e olhavam-nos com ar intrigado. Sim, o Nicolau decidiu sair de casa com a adorada touca da piscina na cabeça, e depois? Em Nova Iorque isto não teria sido considerado estranho.

Na padaria, a comer um pão de alforroba, ouço a empregada dizer que o que mais queria era ir passear, tomar o pequeno-almoço dela (suponho que ali tenha de tomar um pequeno-almoço estandardizado), ir até à praia, a seguir passear outra vez e depois jantar sushi.
Acho que era a mesma pessoa que no outro dia vociferava escandalizada com o que estavam a fazer a uma participante da Casa dos Segredos. Parece que a Teresa Guilherme "uma simples apresentadora", não tem o direito de estar a influenciar as pessoas com as suas preferências.

Numa esplanada da moda peço, a uma tia, um chá verde com limão e gengibre. Pago com uma nota de 5€ (custa 1,25€) e lá veio o belo do revirar de olhos porque não tinha troco.
No mercado, pago por um quilo de petinga 6€, entrego uma nota de 10€ e a senhora dá-me 5€ de troco: "fica-me a dever 1€, não se preocupe. Eu sei que vai voltar cá".

(gosto muito mais de escrever na primeira pessoa, mas foi um prazer escrever no outro registo sobre o meu bairro)