Dia #60

11.5.20
Primeiro dia da dieta cumprido (até agora, ainda faltam umas duas horas para ir dormir), mas tirando uma visita de estudo às igrejas românicas de Rio Mau e Rates, que decidimos fazer por causa da matéria que o Isaac está a dar na disciplina de História, foi um dia bastante improdutivo.
Ontem tivémos o primeiro almoço com familiares e mesmo que se evitem beijos e outros contactos é impossível manter-se a distância em convívios destes. Também pude confirmar, com a minha irmã e o meu irmão, que trabalham na indústria, que pouca coisa mudou em termos laborais nas redondezas. As fábricas continuam abertas e os operários a trabalhar normalmente, agora de máscara.
Chegámos à conclusão que provavelmente já fomos infectados com o vírus sem revelar sintomas, ou temos tido sorte. Também temos tido cuidado, bastante cuidado, mas sabemos que isso só por si não é garantia de nada.
Por isso adoptámos a máxima ''Não deixem de ser felizes'' e procuramos cumpri-la. Em dieta é muito difícil, devo dizer!
O diário fica por aqui, mas o Covid-19, certamente, ainda vai ter bastantes entradas neste blog.
Saúde e boa sorte. Tchim Tchim!

Dia #59

10.5.20
Está decidido. Amanhã começo a dieta.

Dia #57

9.5.20
Como foi preciso fazer uma entrega de vinho, tarefa do Jaime uma vez que eu não conduzo, tive de ir para a loja enquanto ele esteve fora. Durante o percurso, de cerca de 10 minutos de casa à vinharia, debaixo de uma chuva torrencial, primeiro, e chuviscos depois, ia a pensar nas vantagens, e desvantagens, de sermos um casal a trabalhar juntos. Não tenho qualquer dúvida que o nosso negócio ganha na mesma proporção que a nossa vida pessoal perde, mas não deve ser difícil encontrar um meio termo qualquer. A ver vamos.
Depois, foi preciso inserir no site as novidades para serem incluídas na newsletter e, apesar de não haver uma periodicidade fixa, decidi que isso tinha de ficar pronto hoje. Ou seja, as crianças passaram o dia na Netflix a ver o Flash. Deve faltar um dia, ou dois, para eu começar a odiar a Netflix, apesar do Seinfeld.

Dia #56

8.5.20
O número de casos positivos com Covid-19 aumentou, quanto querem apostar em como poucas pessoas ouviram/leram que foram feitos mais testes e, portanto, é normal que isso tenha acontecido? Apesar de precisarmos de ter bodes expiatórios para tudo, ainda vai demorar a perceber que medidas foram eficazes no combate a esta pandemia e que erros podiam ter sido evitados. Já se sabe que os prognósticos são sempre eficazes depois do jogo, ou, dito de uma forma mais erudita, após a ocorrência de um acontecimento altamente improvável é arquitectada uma explicação que o faz parecer menos aleatório e mais previsível do que é na realidade.
Enfim, não me interessa nada disso, já temos Netflix, que é a modernização do gesto de tapar os ouvidos e cantar para não ouvir o que se passa à volta. 

Dia #55

7.5.20
Faltam cinco dias para acabar o diário da quarentena, porque a partir da próxima semana vamos alternar dias de trabalho na vinharia. Até aqui fiquei em teletrabalho e o Jaime na loja, sendo que ele não deixou de trabalhar em casa e eu de ir à loja sempre que necessário, mas a partir de agora vou ter de cumprir horários e vestir-me para sair.
Obviamente, vou levar a minha máscara da Pescada para usar no atendimento ao público, mas espero não ter de usá-la na rua. Se tiver é mau sinal.
Em duas ou três semanas, passámos do princípio de que só os profissionais de saúde devem usar máscaras para vamos fabricar máscaras e salvar o mundo.
Esta semana fomos buscar comida a um restaurante que ofereceu nada mais nada menos do que uma máscara em tecido, com o belo do arco-iris a dizer ''vai ficar tudo bem''. Eu acredito que vai ficar tudo bem, para uns, para outros nem tanto.
Sabemos que o distanciamento social, lavar as mãos e não tossir/espirrar para cima das pessoas são cuidados que temos de ter nos próximos tempos (que devíamos ter desde sempre, aliás, menos o distanciamento social, uma vez que precisamos muito de abraços), mas daí até a nossa sobrevivência depender do uso de máscaras, parece-me um exagero. Mas é uma opinião baseada unicamente no bom senso, sem qualquer fundamentação científica (que não será difícil encontrar se formos à procura dela), posso estar completamente errada.
E opiniões há muitas, como os chapéus, mas não agradeçam às pessoas por sairem de casa para irem trabalhar e garantirem que o país continua a funcionar, para depois olharem-nas de soslaio por quererem aproveitar o sol. O trabalho não pode ser a razão mais importante para correr riscos!

Dia #54

6.5.20
Focar-me nas coisas boas deste dia: Bacalhau com grão-de-bico e o vinho a acompanhar, o ar de alegria e surpresa do Isaac quando ''acerta'' numa resposta da ficha de Ciências, os minutos de leitura na cama com o sol a bater nas pernas, o arroz de favas, o cheiro das laranjas a serem descascadas, o Nicolau a contar os Kartos do Petróleo, as fotografias bonitas partilhadas no whatsApp, a roupa guardada, o chá de limonete do jardim da Raquel, o Quaresma, o dia quase a acabar com a espessura certa.

Dia #53

5.5.20
Comecei a pensar de que formas posso voltar a outro ''normal'', porque recomeçar no ponto em que estávamos antes ''disto'' parece-me andar para trás. Depois recebi uma mensagem da ARS Norte a dizer que podia falar com um psicólogo e fiquei a pensar se andariam a espiar-me.
Há pequenas coisas que começam a tomar proporções desmedidas: Os latidos da cadela sempre que passa alguém (e está sempre a passar gente por causa das obras nas ruas adjacentes); as janelas pop-up a interromperem-me (e eu já andei a chafurdar nas definições do computador para desligar esta merda, mas nada); o tamanho das minhas mamas (podia engordar sem ficar com estes airbags, não podia?); carregar o telemóvel (que só serve de veículo para o whatsapp no computador) posicionando milimetricamente o carregador, com um lápis a elevar o fio; as cadeiras da sala que começaram a descamar com tanto uso; o ter sempre de desligar alguma coisa para ligar a torradeira/varinha mágica/microondas/moinho do café, etc.
Claramente tenho desvalorizado o poder libertador do trabalho.
Mas tenho um vaso com a planta das fitas que a vizinha me deixou no muro.   

Dia #52

4.5.20
Este foi o dia mais surreal do confinamento. Saí para comprar pão e a cidade estava diferente, com mais pessoas na rua, mais carros e lojas abertas, como se estivesse tudo a voltar ao normal, até chegar à padaria e ter sido impedida de entrar por não estar a usar máscara. Não me lembrei que era obrigatório e voltei a casa para a ir buscar. Não tinha usado máscara até hoje e senti-me no cenário de um filme de ficção científica, daqueles apocalípticos em que as pessoas andam todas crispadas. Ou, então, era eu a projectar-me nos outros.
São demasiados dias a lidar com as nossas merdas e com as merdas das pessoas que mais gostamos no mundo. E nós gostamos mesmo muito uns dos outros e de passar tempo juntos, mas eu agora precisava de ter um espaço da casa só para mim, com um computador só meu. Podia ser muito pequeno, com uma janelinha de nada, desde que fosse à prova de som. Eu estava lá meio dia e depois saía e os meus filhos não me pareceriam dois animais selvagens e o Jaime um avatar.

Dia #51

3.5.20
Tenho a impressão que em confinamento dá-se mais importância a certas efemérides como o Dia da Mãe.
Também me sinto um bocado doente, hoje.

Dia #50

2.5.20
Saio para caminhar, devia dizer para um passeio higiénico, quase todos os dias num percurso, habitualmente vazio, que ao fim-de-semana enche-se de gente. Das duas uma, ou a grande maioria das pessoas continua a trabalhar e aproveita este dois dias para relaxar. Ou estão tão arreigadas a certos hábitos que os tentam manter para se sentirem normais.

Depois de ajudar o Nicolau, ou entre uma coisa e outra, a fazer uns cupcakes, que deveriam ser de baunilha mas saíram de limão, vi um filme que me fez sentir saudades de viver em Lisboa. A bem da verdade, a conversa com a Carla, agora a viver na nossa capital (não era segredo, pois não?) também deve ter contribuído.
No filme, a mãe tinha um blog e no fim chegou a uma conclusão semelhante à(s) minha(s). Arranjar pontos de comparação entre mim e a Uma Thurman é demasiado, eu sei, mas deixem-me divagar, por favor.

Depois de escrever sobre as mães blasé, caiu-me a ficha ao aperceber-me que tenho uma filha blasé, numa conversa sobre maquilhagem. Disse ela: ''Por acaso é uma coisa que tenho pena de não ter experimentado quando era mais nova''. Ela tem 19 anos.

Dia #49

1.5.20
Estava a escrever um texto bonitinho, que até fazia sentido e tudo, mas apaguei-o. Se querem saber era sobre este confinamento me recordar os tempos em que estava confinada com dois bebés e uma pequena em casa e em como me sinto igual sem metade da piada.
É certo que não se pode comparar uma pandemia a pós-partos, puerpérios e bebés fofinhos (mesmo que guinchem, nos ponham as mamas a escorrer sangue e não nos deixem dormir), mas isolamento é isolamento. Por isso, sempre admirei aquelas mães blasé que não deixando de ser mães parecem que não são. Adoro-as!! Podia dizer que as admiro, mas isso implicaria achar que se esforçam para ser assim, quando não é o caso. Por isso, só podem ser adoradas.
É verdade que é preciso uma aldeia para educar uma criança, mas nunca houve tantas facilidades como agora (as creches acessíveis a uma grande parte da população é uma realidade recente), as mães blasé podiam, e deviam, ser uma tendência.  Mas as creches existem para as mães e pais poderem ir trabalhar e pagar as contas e depois chegarem a casa e fazer tudo o resto (quando não podem pagar a uma empregada doméstica). E, como ao fim-de-semana têm de inventar coisas giras para fazer com as crianças, sobra pouco tempo para fazer o que lhes interessa.
Nestes dois meses é capaz de haver muito mais pessoas a reverem-se nesta realidade, por não terem para onde mandar os filhos, por isso é capaz de ser mais fácil compreederem que já há algum tempo não sei como festejar o Dia do Trabalhador, porque nunca trabalhei tanto como quando não tive um emprego.