um menino pirata que acreditava ser um super herói. O menino, por acaso, não era grande fã de barcos, porque enjoava imenso. Só era pirata por adorar fazer caças ao tesouro.
Quando não caçava tesouros, nem corria em socorro de alguém, o menino jogava basquetebol. Ninguém percebia muito bem porquê, mas o menino realmente adorava basquetebol. Às vezes as pessoas acordavam às 6h30 da manhã com o som da bola de basquetebol a driblar pela casa. E às vezes o menino pedia, ainda antes de jogar basquetebol pela casa, para dormir com as bolas que tinha.
Um dia 28 de Abril o menino fez 5 anos e uns amigos fizeram-lhe um bolo de gelatina e preparam-lhe uma festa surpresa, com balões e outras decorações. Haviam de ver como estava feliz o menino pirata que acreditava ser um super herói! Estava numa alegria contida, quase nervosa, que é como ficam as pessoas que sabem que estão dentro dos dias especiais.
Fazer cinco anos é uma coisa mesmo muito especial. A mãe do menino até chorou um bocadinho (que por acaso é uma coisa que ela faz com uma certa frequência), porque nos dias especiais também se chora, como quando os meninos saem das mães. E todos os anos eles vão saindo mais um bocadinho. E depois vão ganhar muitas lutas contra os maus.
Vitória, vitória acabou-se a história.
Cresceste
26.4.16
Tens 15 anos. 15 anos. Posso dizê-lo as vezes que quiser que vai parecer-me sempre inverosímil. Tens 15 anos e vais sair da nossa casa. Eu sei que não vais sair da minha vida, bem vês que isso é impossível. Vais sair de casa, como em tempos saíste de mim. É claro que eu não tenho tanta pressa que saias de casa, como tinha para que saísses de dentro de mim, mas tenho a mesma urgência em ver-te bem e inteira e feliz.
Foram 9 meses que passaram muito devagar e 15 anos que voaram, tal e qual aquele pássaro que está em cima do muro e agora já está naquela árvore.
Tenho-me lembrado dos nossos lanches de laranjas e pão com compota, depois de te ir buscar à creche, de quando me contavas, ainda tão pequenina, os teus sonhos de galinhas com dentes que sabiam falar inglês e dos teus desabafos sobre preferires não existir, já que tinhas de morrer. Tenho-me lembrado do tanto colo que eu te dava, das tantas histórias que te lia e de outras tantas que inventava e tu sempre: "só mais uma história, mamã".
É claro que também me lembro das noites sem dormir e do quanto tu choravas e choravas sem parar, mas isso, bem vês, entre o muro e aquela árvore foi menos de um milésimo de segundo.
Tenho-me lembrado da tua alegria contagiante e das provas que foste superando com tanta coragem. Fizeste-me sentir muitas vezes uma mãe babada e tu sabes o que eu penso das mães babadas. Mas, lá está, contigo foi sempre a primeira vez, foi sempre tudo novo nesta experiência de ser mãe.
E aqui estamos em mais uma etapa natural. Separamo-nos como é suposto que aconteça mais cedo ou mais tarde. Para mim, tu sabes, é sempre cedo demais, mas é bom que seja assim. É bom que seja quando tiver de ser.
Os nossos laços já não são tão orgânicos, feitos de afecto em forma de um cordão. Os nosso laços são, agora, feitos da substância que une uma mãe que vê uma filha crescer, enquanto a prepara, e se prepara a si própria para a ver seguir o seu caminho. Essa substância não se corta com uma tesoura, bem vês, porque é igual às marés e ao nascer do sol e ao pulsar das montanhas.
Mesmo assim vai doer, claro. Mas há toda uma nova vida à tua frente e isso é maravilhoso.
Continuarei, continuaremos, eu e o teu "pai em segundo degrau", a enviar-te pozinhos mágicos deste lado do mundo, para que tenhas sempre bons sonhos.
Há sensações universais 13
21.4.16
"But as long as the corners of the room remained in shadow, she could almost believe it was a painting: a minor effort by a would-be Sickert, in which wallpaper and wardrobe mirror offered the same creepy green. Was that why people went on leaving home to struggle with luggage and exchange rates? Not for the shot at novelty or adventure, profit or escape, but in the hope that their lives would be lifted into art?
The problem was that the mirror always held her, too: untransformed in the foreground of the scene."
Michelle de Kretser, Questions of Travel, Allen&Unwin, 2013
Há coisas que não mudam
15.4.16
Nicolau: A coisa que eu gosto mais em Timor é de fazer plasticina e a que gosto menos é de comer lulas.
Isaac: Eu lembro-me perfeitamente de pedir um telemóvel quando estava a comer as uvas passas, mas as uvas passas também se transformam em cocó, não é?
Ou seja, os meus filhos continuam a ser uns belíssimos broncos (na foto vê-se que estão muito interessados numa peça em exposição no BACC - Bangkok Art Cultural Centre -, da artista Kawita Vatanajyankur, mas isso é porque na obra em questão viam-se melancias a cair e a desfazerem-se no chão).
E eis que o impensável acontece
14.4.16
Um taxista decide pregar a palavra de Deus...em tétum. Eu ainda não aprendi a língua, para grande desgosto meu, mesmo assim percebi que o mundo está acabar, porque Maromak (Deus) está farto de pecados. O homem estava tão empenhado em doutrinar-me, que sacou do tablet para me mostrar uma foto do Papa com uma série de cálculos, cujo resultado era o número 666. Eu não tive outro remédio que não sair do táxi, depois da corrida, a dizer:"Ha'u hatene, (eu sei) Papa falso profeta".
A ver pela quantidade de gente que foi assistir à ordenação do novo Bispo da Diocese de Díli, suspeito que este jovem não tenha muito amigos.
A ver pela quantidade de gente que foi assistir à ordenação do novo Bispo da Diocese de Díli, suspeito que este jovem não tenha muito amigos.
Narrador omnisciente
13.4.16
Uma mulher que corria nas escada do Metro deu um encontrão em alguém. Virou-se, já no cimo das escadas que davam para rua, e vimos-lhe o cabelo muito preto na cara, por causa do vento. Tinha um sorriso magnífico. Era uma juíza que corria para julgar um caso importante.
Mais à frente, num jardim branco, estava uma criança pequena, semi-nua, a fazer sons com pedras redondas. Repetia uma melodia que eu devia conhecer.
A vantagem dos sonhos, assim como a de alguns livros, é a existência de um narrador omnisciente.
Já tínhamos saudades de um certo egocentrismo, certo?
4.4.16
Apercebi-me que este blog fez seis anos, há quase duas semanas, e publiquei na página do facebook o primeiro post, comentando que parecia que nada tinha mudado entretanto.
Será mesmo possível que nada tenha mudado, apesar de ter feito tantas coisas diferentes? Por exemplo: tive mais um filho, o terceiro. Apareci numa revista. Fiz parte de um movimento. Mudei de casa cinco vezes. Festejei o aniversário em cinco cidades diferente: Zurique, Lisboa, Póvoa de Varzim (Láundos), Porto, Setúbal (Arrábida) e estou quase, quase a festejar em Díli. Fiz sete workshops (no primeiro da lista ainda não tinha este blog). Vendi mantas em patchwork feitas por mim (por acaso acho que só foi uma, as outras oferecia-as todas, não sei mesmo ter negócios). Conheci o Wladimir Kaminer e a Olga, a mulher dele, que me deu a entender que eu sabia como dançar, na Russendisko de Lisboa. Fui sozinha a Londres. Fui falar para um Júri, entre eles o Nilton, o humorista, sobre o mundo do trabalho e fiz umas figuras bastante tristes, mas o Júri também, na minha perspectiva. Este blog recebeu uma menção honrosa no prémio Mãe Blogger. Enviei um conto para um concurso literário. Tornei-me dadora de medula óssea. Trabalhei durante quatro meses na biblioteca de uma escola. Criei uma empresa. Apareci na TV. Fechei a empresa (não sei se já tinha dito que não sei ter negócios). Fui cronista do P3. Fiz reportagens bem giras como esta para o Lifecooler e esta para o Hotelândia e mais esta para o Alma de Viajante e também a da FUGAS (quando digo giras refiro-me à experiência de as fazer, não necessariamente ao resultado das mesmas). Fiz novas amigas. Fiz mais de 60 bolos de aniversário. Passeei em oito países. Vim viver para outro continente. Separei-me dos meus gatos. Adoptei um cão. Tornei-me reikiana. E este blog teve mais de um milhão e uma centena de visitas.
Provavelmente é uma questão de foco. Ao longo destes seis anos, além de mãe e blogger, fui empregada por conta de outrem, empresária e freelancer, em metade desse tempo, mas por qualquer razão nunca o valorizei. Bem, esta coisa do auto-conhecimento não tem fim, pois não?
Adenda: apanhei chikungunya, que me fodeu as articulações do corpo todo.
Será mesmo possível que nada tenha mudado, apesar de ter feito tantas coisas diferentes? Por exemplo: tive mais um filho, o terceiro. Apareci numa revista. Fiz parte de um movimento. Mudei de casa cinco vezes. Festejei o aniversário em cinco cidades diferente: Zurique, Lisboa, Póvoa de Varzim (Láundos), Porto, Setúbal (Arrábida) e estou quase, quase a festejar em Díli. Fiz sete workshops (no primeiro da lista ainda não tinha este blog). Vendi mantas em patchwork feitas por mim (por acaso acho que só foi uma, as outras oferecia-as todas, não sei mesmo ter negócios). Conheci o Wladimir Kaminer e a Olga, a mulher dele, que me deu a entender que eu sabia como dançar, na Russendisko de Lisboa. Fui sozinha a Londres. Fui falar para um Júri, entre eles o Nilton, o humorista, sobre o mundo do trabalho e fiz umas figuras bastante tristes, mas o Júri também, na minha perspectiva. Este blog recebeu uma menção honrosa no prémio Mãe Blogger. Enviei um conto para um concurso literário. Tornei-me dadora de medula óssea. Trabalhei durante quatro meses na biblioteca de uma escola. Criei uma empresa. Apareci na TV. Fechei a empresa (não sei se já tinha dito que não sei ter negócios). Fui cronista do P3. Fiz reportagens bem giras como esta para o Lifecooler e esta para o Hotelândia e mais esta para o Alma de Viajante e também a da FUGAS (quando digo giras refiro-me à experiência de as fazer, não necessariamente ao resultado das mesmas). Fiz novas amigas. Fiz mais de 60 bolos de aniversário. Passeei em oito países. Vim viver para outro continente. Separei-me dos meus gatos. Adoptei um cão. Tornei-me reikiana. E este blog teve mais de um milhão e uma centena de visitas.
Provavelmente é uma questão de foco. Ao longo destes seis anos, além de mãe e blogger, fui empregada por conta de outrem, empresária e freelancer, em metade desse tempo, mas por qualquer razão nunca o valorizei. Bem, esta coisa do auto-conhecimento não tem fim, pois não?
Adenda: apanhei chikungunya, que me fodeu as articulações do corpo todo.
Personalidade
2.4.16
Nos últimos tempos melhorei a forma como me alimentava, diminui drasticamente o consumo de vinho, faço yoga e meditação e tento fazer aquilo de ver o lado bom das coisas.
Com isto, tenho conseguido olhar para mim e para o que me rodeia com outra perspectiva, com menos angústia, sobretudo. Também perdi três quilos e toda a gente sabe o que significa para a auto-estima de uma pessoa conseguir apertar o botão das calças que tinham deixado de servir. No meu caso, mais do que conseguir apertar o botão, tem de haver aquela folga que permite uma pessoa sentar-se sem sentir que os órgãos internos estão a ser vítimas de tortura.
Naturalmente, ao longo deste processo que começou há três meses, mais coisa menos coisa, fui sentindo que estava diferente, que não precisava de comer tanto e, sobretudo, de beber tanto para me sentir bem. Que uma certa paz interior substituía a irritação constante e fui-me apercebendo do desperdício de energia que é a preocupação constante.
Fui constatando, não sem alguma preocupação, que provavelmente estava a transformar-me noutra pessoa.
Depois, uma amiga perguntou-me se não tinha gostado de Banguecoque e eu disse que sim, que não tinha ficado fascinada, mas que tinha gostado bastante. E ela: "Ah, então as queixas eram só para o estilo!". E eu: "Queixas? mas eu não me queixo, eu até estou uma pessoa mais zen e tudo". E ela: "Sim, estás decididamente a percorrer um caminho, mas ainda não mudaste de personalidade."
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