Nós, as mães normais (num dia normal de 2011)

31.5.16

Temos os espelho sujos; tiramos fotografias desfocadas, porque há mãos pequeninas a pedir-nos colo, e outras escuras, porque as divisões da casa não têm todas a mesma luz. Nós, as mães normais, e grávidas, gostamos de fatos-de-treino (sim, FATOS-DE-TREINO e não me venham com merdas que há uns anos ninguém ousaria sair à noite de chinelos de dedo e de repente as havaianas passaram a fazer parte dos outfits mais cool), mais do que isso, precisamos deles como os piolhos de cabeças humanas. Nós, as mães normais não temos, sempre, lençóis a condizer com edredons e cobertores; toalhas de mesa bordadas e outras coisas que tais. Nós, as mães normais temos pijamas ridículos.
E para mostrar isso mesmo acordei um dia destes (na segunda-feira passada) com a ideia fixa de registar o dia com imagens. A ideia era clicar de hora em hora estivesse eu a fazer o que estivesse, mas essa parte não se revelou fácil, porque me esquecia de confirmar as horas. Por isso, fui fotografando algumas das rotinas diárias sem grande preocupação com o relógio. O dia acabou por se revelar atípico, porque a Bea não esteve em casa (estava excepcionalmente com o pai num dia da semana), o Isaac não fez cocó e o Jaime não trabalhou nessa tarde. Ainda assim decidi que devia publicá-lo, por nós, as mães normais. Podem vê-lo aqui.

P.S Devo só acrescentar que há mães normais que fotografam melhor, nas mesmas condições. E que não se dão a este tipo de exibicionismos.

[Normalmente, quando faço repostagens significa que está na altura de mudar de blog (este não é o primeiro, como algumas pessoas, aí umas seis, se devem lembrar), mas esta apeteceu-me mesmo muito.
Na altura, em 2011, eu era uma pessoa muito mais ressabiada e chateava-me ver blogs de pessoas bonitas com casas maravilhosas e filhos lindos que, mesmo despenteados e com ranho, parecem os anjos de Rubens. O bluebird, que no entanto aprecio, era um desses blogs que costumava mostrar fotografias de cenas "normais" do dia-a-dia.]

Mãe, sou rica!

27.5.16

É muito giro isto de uma pessoa sair da sua zona de conforto e dar por si, por exemplo, a ter aulas de ballet com uma bailarina americana. Ou seja, a ter de comunicar em inglês (eu sei que não parece mas sofro de ansiedade social) e a tentar fazer peliés, développé, passés, chainés relevés, em público.
É muito giro, dizia, e pode dar-se o caso de uma pessoa ver-se rodopiar com a leveza de uma garça, que os cisnes são outro campeonato, e notar que o corpo reconhece a vontade da criança, cedendo ao esforço, à dor, à timidez acabando por se soltar e revelar toda a elegância, toda a beleza que um corpo é capaz de revelar quando dança.
Pode acontecer, acho eu, mas não é o meu caso. Na parede de espelhos não vejo nenhuma garça, vejo um pinguim, como diz a minha filha (se não formos à origem das coisas, a culpa é dela, que disse que não ia sozinha para o ballet de adultos depois de eu lhe oferecer um módulo de aulas). E, como facilmente se depreende, um pinguim não consegue dançar ballet, o máximo que é capaz de fazer é sapateado e isso só nos desenhos animados.
Mas, enfim, está a ser uma bela experiência esta de confirmar que sim, que devia ter feito isto mais cedo, quando era uma "coisa para ricos", como dizia a minha mãe.

Uma emigrante nos trópicos

23.5.16


Agora que me rendi às massagens não deve faltar muito para ser uma verdadeira expatriada, em vez de uma emigrante. Quer dizer, falta dar o grande passo que é arranjar uma ama, mas eu nem sequer sei ter uma empregada, quanto mais uma ama! Serei sempre uma emigrante, portanto.
E como qualquer boa emigrante vou a Portugal no Verão para ver a família e os amigos e para as festas de Nossa Senhora da Saúde. Nessa altura, a ouvir a missa campal nos altifalantes, lembrar-me-ei de Timor. Ou não. Talvez faça contas aos dias que me restam em Portugal, antes do regresso. E se calhar até tiro uma selfie no monumento do emigrante.
Tenho a impressão que esta experiência foi, está a ser, transformadora mas não consigo apreender o alcance dessa transformação.
Como todos os emigrantes, ou expatriados (diz que é mais fino ser-se expatriado), mantemos rotinas que nos são familiares, como fazer refeições o mais parecidas possíveis com as que fazíamos em Portugal; tentamos ter os mesmos padrões de conforto num país onde é normal ter formigas, ratos e cobras dentro de casa; Combinamos almoçaradas com amigos, isto é, conterrâneos, isto é, outros portugueses com quem nos identificamos; e continuamos a achar que precisamos de mais do que dois pares de sapatos, quando nem sequer há estações do ano.
Mesmo assim, é quase impossível sermos os mesmo depois de fazer as malas e ir viver para outro país, sobretudo quando o outro país é tão diferente do de origem. E eu acho que vou perceber melhor o quanto terei mudado quando estiver em Portugal. Ou não.
Aquele professor de Harvard que escreveu "O Caminho da Vida", diz que "somos pessoas diferentes em contextos diferentes", não sei se é verdade, mas não me parece bem contestar Confúcio.

P.S A foto é do Jaime

O clima

12.5.16









 Eu dizia: É espectacular a sensação de se ir viver para um país que acabou de nascer. Há um enorme sentimento de esperança e a sensação de que tudo é possível, porque quando estamos a aprender a andar, tropeçamos e caímos mas antevemos logo ali a possibilidade de correr.
Eu dizia isso, e sentia isso, e depois vim para cá viver. E aqui está sempre muito calor e uma pessoa usa decotes e por isso as migalhas do pão caem dentro do sutiã. Não sei se é por ser eu a fazer o pão que ele fica mais migalhento.
Também dizia: Num país sem tratamento de resíduos temos mesmo de tentar produzir o menos lixo possível e, apesar dos caixotes de cartão que uso para trazer as compras, ou da reutilização de frascos de vidro e de comprar legumes nas bancas em vez de embalados, vejo-me rodeada de plástico por todos os lados. Plástico nosso e plástico dos outros a boiar na praia.
E depois acreditava que esta mudança seria boa para os miúdos, a ideia de terem escola só numa parte do dia e terem espaço para correr, brincar ao ar livre, fazer o que bem lhes apetecer, ou ficar aborrecidos por não terem o que fazer parecia-me quase perfeita, mas por qualquer razão a mãe deles não aparecia neste cenário. A mãe deles estava a fazer qualquer coisa importante.
Só que não. A mãe deles está em casa com o sutiã cheio de migalhas. Mas, pelo menos, neste aspecto não se enganou muito. As crianças aqui podem mesmo ser crianças, incluindo as adolescentes.
Na verdade podem ser crianças aqui ou em qualquer outro lugar, mas o clima é melhor.

Tens cara de quê?

5.5.16

Em tempos, numa das famosas aulas do Mário Cláudio, discutiu-se a semelhança fisionómica entre as pessoas e os animais. Escusado será dizer que a discussão continuou fora da sala de aulas e toda a gente concordou que eu era muito parecida com uma ovelha.
Como acho que as ovelhas, não sendo uma beleza de animal, até nem são mal parecidas de todo fiquei feliz.
Agora, descobri este livro e estou fascinada. Diz o seguinte sobre as pessoas com este tipo de fisionomia: "Men of true courage and heroísm more frequently resemble sheeps, goats, hares, and other timid, inoffensive animals, than lions, tigers and animals of the savage variety".

Colorir

4.5.16
De cada vez que o Isaac traz uma cópia para trabalho de casa tenho tempo de colorir umas quantas páginas deste belíssimo livro que me ofereceram no aniversário.
Se ele continuar tão contrariado nesta coisa dos deveres da escola, acho que vou ter de ir a Bali comprar uns quantos.