Feng Shui

30.1.19
Parece que a Maria Kondo anda outra vez nas bocas do mundo por causa da Netflix. Nunca utilizei o método e não é agora que vou começar, mas, e antecipando-me à próxima tendência, comecei a ler sobre Feng Shui.
Eu sei, eu sei, devia arranjar um emprego como as pessoas (não sei se ainda há o call center do BPI - o link diz respeito ao comentário do post), mas é tão mais divertido saber qual o Ming Gua de cada pessoa da nossa família. Por exemplo, de que outra forma poderia saber que aqui em casa temos dois trigramas Li, dois Dui e um Quian?
E depois, pessoas, não vai ser mais bonito andarmos a falar de Yi Jing em vez de como se deve dobrar a roupa?

Para mim, aos 75 anos

24.1.19
Miúda (posso continuar a chamar-nos miúda, certo?), falar com o meu eu futuro é, claramente, muito mais difícil do que falar com o do passado, mas sinto que tenho de o fazer. Por alguma razão parece-me importante saberes como me estou a sentir agora, em vez daquilo que te lembras sobre como me sentia.
Eu tenho 45 anos e apesar de vários indicadores - como a quantidade de colesterol no meu plasma, os cabelos brancos e o aumento considerável da cintura - me mostrarem isso persistentemente, tenho tendência para o esquecer e achar que é impossível estar na meia idade.
Ter filhos pequenos ajuda a afastar-me dessa realidade, mas contra factos não há argumentos. Suponho que te estejas a rir por me sentir velha aos 45, quando tenho 75 anos, e imagino que os últimos 30 anos tenham corrido bem. Talvez, até, muito bem. Também pode ter-se dado o caso de já ter morrido e ser eu de uma outra dimensão que está a ler isto e se assim for nem sei o que dizer, apesar de me parecer espectacular.
Em qualquer dos casos, estou a falar com outra Calita, mesmo estando a falar comigo própria. É estranho!
Dizia que tenho 45 anos e, mesmo sentido-me distante da idade adulta madura, a sensação de estar a meio do caminho está muito presente. Aquela sensação de quem está em viagem e a certa altura precisa de parar, olhar para o mapa, fazer contas e ponderar se segue como planeado, ou se muda o trajecto.
Não tenho noção de alguma vez ter feito planos para a minha vida. Eu queria coisas como conhecer o mundo e viver numa cidade grande, mas passava grande parte dos meus dias a imaginar como iria ser arrebatada por um belo príncipe.
As coisas não aconteceram como imaginei, mas aqui estou depois de viver nas duas maiores cidades do país, de ter conhecido algum mundo, talvez mais do que alguma vez sonhei que poderia conhecer, e a partilhar os meus dias com um príncipe.
E se muitas vezes tenho a certeza que era aqui que queria chegar - o que não deixa de ser curioso, porque regressei, aos 45 anos, às origens, o que não era de todo o meu objectivo -, outras não consigo deixar de pensar no que falta fazer. Mas isso, curiosamente, ou não, já não me angustia tanto como antes. O que não significa que viva tranquilamente, apesar de este último ano civil ter sido, provavelmente, o mais tranquilo da minha existência. Um ano de arrumações, talvez. De recolher os móveis espalhados por diferentes arrecadações (montar o beliche dos rapazes, desmontar o beliche e, há uma semana, montá-lo novamente), de nos encaixarmos todos juntos de novo, ficar a saber qual o meu lugar na estrutura da família ascendente.
Ajuda, e às vezes nem por isso, estar numa espécie de compasso de espera pelo arranque de um projecto profissional em que estou a colaborar com o Jaime. Estar numa cidade pequena, com praias que fazem esquecer o resto, também.
Há sempre grãos de areia, às vezes calhaus, na engrenagem, óbvio. O diagnóstico da depressão da mais velha, as pequenas decisões que podem fazer toda a diferença na vida deles os três, as crenças individuais que nenhum dos dois adultos quer abdicar e o medo. No fundo, o medo resume tudo.
Ainda tenho medo aos 75 anos? Espero muito que estejas a ler este post na cabana, no meio de um monte não muito distante do mar, com um bom vinho que tiraste da adega para o efeito, na mesa junto à janela onde costumas escrever. Mesmo com medo, porque não? O medo nunca me paralisou, com certeza não vai ser agora. Talvez o Jaime esteja a assar umas castanhas no forno para comerem daqui a nada e rirem-se os dois pela falta de dentes.
Quando era criança sonhei contigo, tinhas o cabelo muito branco e um ar sorridente, foi tão real que pensei que era velha e estava a sonhar comigo quando era criança. Talvez estejas, agora, a escrever a carta para ti aos 45 anos. Gostava mesmo muito de conseguir lê-la.

Da tua sempre,
Eu adulta madura

Há sensações universais 13

8.1.19
"[A cultura] Tem a ver com a maneira como procuramos uma certa elegância na nossa relação com o mundo, como nos damos com os outros, como usamos o nosso tempo, como a música entra na nossa vida, como os livros nos acompanham. O resto é dispensável.", Francisco José Viegas na revista Grandes Escolhas de dezembro.

Então, Bom Ano

3.1.19
Tenho muitas vezes pena dos meus filhos, às vezes por terem nascido no auge da destruição do planeta, outras por me terem como mãe, outras por terem tido azar com o Sistema Nacional de Educação que apanharam. Não me interpretem mal, tenho mesmo noção de que poderiam ter mais azar, as possibilidades são infindáveis.
Temos todos a tendência de comparar a infância dos nossos filhos à nossa (temos, não temos?) e apesar de termos em comum a ameaça do fim do mundo (no nosso caso era a Guerra Fria e a possibilidade de alguém poder carregar num botão e matar-nos a todos), pais com problemas (e que fumavam em todo o lado, incluindo no quarto), e uma Educação cheias de altos e baixos, parece-me que tive mais sorte do que eles. Muito porque ninguém esperava grande coisa de mim, ou seja, cresci sem expectativas, ou só com as que criei para mim. É claro que também passei pela pressão de me superar, toda a gente passou em algum momento da vida, a diferença foi nunca termos precisado de o fazer tão novos. Bem, a infância só por si já é uma superação constante, não era preciso atirar-lhes com tantos desafios, acho eu. Mas talvez estejamos a criar uma nova geração, mais capaz, mais evoluída e até, quem sabe, mais feliz.
Mas toda esta conversa só para dizer que ao ver o filme Ralph vs Internet (que não foi o melhor filme das férias de Natal, o melhor foi o Homem-Aranha, que é só espectacular!) tive a certeza de que eles neste particular têm muito mais sorte do que nós. Ok, nós tivemos o Vasco Granja, é um facto, mas um filme que goza com os contos infantis, que critica a Internet de uma forma inteligente, que procura derrubar estereótipos e com piada fez-me sentir feliz por eles. Ah, e eles também gostaram muito.

P.S 1 Eu sei que devia começar o ano com um post cheio de ideias novas, e tal, em vez de terminar este, que tinha começado há uma semana, mas melhores dias virão.

P.S 2 A foto foi tirada pelo Isaac no Museu Amadeo Souza-Cardoso, porque achou a ''senhora gordinha como a mamã''