Sabedoria

17.12.18

Disse, ou pensei, muitas vezes que a forma como temos vindo a encarar o trabalho é incompatível com a forma como temos vindo a encarar a maternidade/paternidade. É óbvio que é possível trabalhar e educar crianças felizes, não tenho é a certeza que isso possa ser feito nos moldes que temos. Horas a mais metidos num emprego nem sempre bem pago, crianças submetidas a pressões surreais e esta sensação omnipresente de que o mundo, como o conhecemos, está a ruir.
Enfim, cada pessoa, cada família, encaixa-se no sistema como pode, mas é cada vez mais evidente que o jogo está a mudar e não é claro que as regras sejam conhecidas.
Talvez por isso se ande a falar tanto de espiritualidade (até o Abrunhosa, quer dizer!). Parece-me que a necessidade de parar e olhar mais para dentro de nós está para uma determinada faixa etária como o varfine para a terceira idade. Mas posso estar enganada, claro.
Seja como for, podemos sempre contar com o pragmatismo do povo e a sabedoria que carrega. Como não ficar de bem com a vida, quando vamos na rua, a puxar a gola do casaco para proteger o nariz do frio, e ouvimos ao nosso lado, no meio da conversa de duas idosas: ''Focinho de cão e cu de gente nunca está quente''?

P.S A árvore de Natal na foto não tem nada a ver com o que digo no texto, mas não sei o que me parece (depois de tantos anos a mostrar os nossos pinheirinhos) não pôr aqui a deste ano, sobretudo quando já não decorávamos uma árvore desde 2015.

Fugir

5.12.18
Aqui na Póvoa de Varzim (a cidade mais próxima da aldeia onde cresci, e onde frequentei a escola do 7.º ao 12.º ano, e onde estive internada duas vezes no hospital com pneumonia, e onde frequentei durante anos o dispensário juntamente com velhinhos tuberculosos, e onde quase me afoguei no mar) existe uma espécie de fascínio pela morte, que me faz lembrar Timor- Leste.
Quando nos mudámos, a minha filha não se cansava de perguntar porque raio viemos para um sítio parecido com Díli e eu achei que ela estava louca, tirando talvez a relação da cidade com o mar, só que sou obrigada a dar-lhe alguma razão. 
Mas falava do fascínio pela morte, que deve ser qualquer coisa parecida com a atracção pelo abismo.  Por todo o lado vêem-se afixados anúncios de necrologia. Deve haver poucas ruas por aqui sem um café, uma loja, ou tapumes de obras com um destes avisos colados. E isso até poderia passar mais ou menos despercebido a quem anda na rua metido nos seus pensamentos não se desse o caso de muita gente parar a ler e comentar com quem está ao lado. 
É claro que uma pessoa acaba por se habituar a conviver com a morte todos os dias e, às vezes, ocorre-me que sempre quis viver em cidades grandes para fugir desta convivência. E fugir tem as suas vantagens mas parece que não se foge para sempre.