Círculos e ciclos

29.5.12
Já devo ter dado mais uma volta completa, porque cheguei novamente ao "porque raio tenho eu um blog"? A imagem que me salta à vista é a de um cão a correr atrás do rabo (ou cauda, se preferirem) e o facto de uma volta dessas durar menos que um segundo é insignificante, porque o tempo, na minha vida, adquire muitas vezes uma forma pastosa, espessa e prolongada. Por isso, segundos e meses podem ser a mesma coisa.
Sobre a metáfora do cão, já agora, haveria muito a dizer, bem como sobre todos os outros animais com que me tenho identificado ao longo dos tempos, mas não é o momento apropriado.

Voltando ao início, não é tanto o porquê ou o para quê, porque isso, bem, who cares? É mais o olhar para isto e parecer-me um sítio complexo, para onde atirei as coisas assim a monte: as costuras para ganhar dinheiro; as outras costuras; as crónicas; as cenas e sei lá que mais.
Entretanto, apaguei 634 vezes o que estava a escrever, porque percebi que estava a falar de mim e não do blogue e como não faço a mínima ideia de como terminar o post, fica assim.

Actualização

28.5.12
Em vez de "Não separe o Homem aquilo que Deus uniu" deve dizer-se, em rigor da verdade, "Não separe o Homem aquilo que o Banco uniu".

Ah, o equilíbrio

25.5.12
Virei a casa do avesso à procura de cola, com os dois atrás de mim a revirá-la, para fazermos colagens. Era assim a actividade que ia salvar a manhã e divertir-nos a todos muito, muito. Mas não há cola nesta casa.
Por isso a alternativa foi dançar o Vicente , a última obsessão do Isaac, depois de fazermos sopa a brincar com uma varinha mágica a sério. A seguir, como ainda era cedo, decidimos ir à praia. Fizemos castelos de areia, tomamos banhos no mar, com o Isaac a insistir que eu devia tirar a parte de cima do biquini (eu achei melhor não, pareceu-me excessivo fazer topless na minha sala) e levámos o Nicolau a molhar os pés.
Se há coisa que eu não tenho a menor das dúvidas é que os miúdos precisam tanto disto como de comer e dormir.
E eu imagino o meu futuro próximo assim: trabalhar três dias e meio por semana e passar os outros três e meio a fazer disparates com eles (e ir sair de vez em quando com o pai deles).

Progesterona

24.5.12
Coisas que me fazem suspeitar que o chip que meti no braço para não engravidar, faz amanhã duas semanas, me anda a mexer com os nervos:

1- O post anterior;
2- Apetece-me, amiúde, empurrar a Beatriz da cadeira quando começa a mastigar;
3- Escrevi, pela primeira vez, amiúde neste blogue;
4- Tenho dito repetidas vezes coisas muito adolescentes, como "está tudo acabado entre nós";
5- Almocei às 11h20 da manhã e vi 30 minutos de um filme da Barbara Streisand com a própria.

Ui, o que foi isto?

23.5.12
Fui espreitar este blog, que não conhecia, e fiquei completa e totalmente derretida. Vi-me com os meus assim pequeninos e lacrimejei e tudo. Valha-me minha nossa senhora e todos os deuses do Olimpo.

Cenas da vida familiar

22.5.12
Cena 8

Personagens: mãe, os dois rapazes e vários figurantes.
Cenário: escadas do prédio/rua/creche/jardim

Mãe desce as escadas apressada com o bebé ao colo. Senta-o no carrinho, aperta o cinto e abre as duas portas da entrada do prédio. Empurra o carrinho para o passeio, trava-o e fecha as portas. Destrava o carrinho, sobe a rua em frente, vira à esquerda, sobe, vira à direita, sobe. Pára uns segundos a arfar. Continua. Sorri para o bebé, que come uma bolacha. Vira à esquerda, sobe, vira à direita continua em frente e pára em frente a umas escadas seguidas de um portão. Estaciona o carrinho na rua. Vê as horas no telemóvel: 15h34. Tira o bebé e entra.

Funcionária da creche: Olá mãe, faz favor de entrar, ele está no recreio.

A mãe entra com o bebé cheio de bolacha no pescoço, na camisola, nas orelhas e no cabelo. Abre a porta que dá para o recreio.

Educadora da creche: Olha, Isaac, quem chegou!

Isaac: Mamãaaaaaaaaaa. Anda ver as 'tatarugas'. A mãe dá-lhe a mão e vai ver os cágados. Depois senta o Nicolau no chão, pergunta se o pode deixar ali e vai com o Isaac tirar o bata e trocar os sapatos.
Regressa para apanhar o Nicolau e saem os três.
Senta o Nicolau no carrinho, prende o cinto, guarda o casaco e o 'senhor cão' na parte de baixo do carrinho, desprende a plataforma acoplada ao carrinho, grita "Isaac STOP" e corre atrás dele. Pergunta-lhe se quer ir ao jardim, coloca-o em cima da plataforma e empurra os dois.

Sobe, sobe, vira à direita, desce, desce, chega ao jardim. Senta o Nicolau na relva. O Isaac corre livremente.

Isaac: Mamã quero fazer cocó?

Mãe: a sério?

Isaac: Sim, é sério, mamã.

Mãe: Vamos, então, corre para o quarto de banho. Deixa-me só pôr aqui o Nicolau...Nicolau, onde pensas que vais?

Isaac: Não, mamã, não quero ir ao quarto de banho. Cocó aqui na relva. Quero fazer cocó.

Mãe vasculha o saco. Depois pega no Isaac e põe-no a fazer cocó junto a uma árvore, enquanto o Nicolau come lama.

Mãe: Se os cães podem fazer cocó aqui, acho que também podes.
         Nicolau, que estás a fazer? Porcaria, bebé, anda cá. Ni-co-laaau, cucu. Anda aqui à mãe, sim?
         Já está, Isaac?

Isaac: Sim, já está.

Mãe limpa o rabo do filho com lenços de papel, apanha o cocó e vai pô-lo no lixo, perante o olhar espantado do filho. Agarra no outro e leva-os à fonte ali perto para lavar as mãos. Lava também a boca do mais novo.

Regressam à relva.

Isaac: Mamã, tenho mais cocó...

As mães vistas pelos filhos

22.5.12
Tirei dois livros de Frederico Lourenço da estante porque, apesar de não ter lido nada dele, achava que o conhecia. Depois lembrei-me de uma crítica de Eduardo Pitta, não sei quando, nem sobre que livro, mas nada disso vem ao caso.
Ontem li o Amar não Acaba e pareceu-me, a dada altura, que ele podia estar a falar de mim em vez da mãe dele (é provável que isto de me ver retratada em tudo e mais alguma coisa seja uma doença).

"Fazer tricô, sim; ser apenas uma mãe no meio das outras, nem pensar: a minha mãe nunca gostou de passar despercebida", pág. 75.

"Na minha mãe coexistiam (pelo menos) duas personalidades antagónicas: a "freira" (que se realizou como pôde no papel de Aliada) e a "mulher fatal". No caso da segunda personalidade, a realização não foi tão fácil como no caso da primeira, porque se é difícil ser-se freira quando se é mulher fatal, muito mais difícil é ser-se mulher fatal quando se é freira.", pág.103

"Querer tanta coisa ao mesmo tempo era impossível; e ela sofreu muito - demais, até - por ficar aquém do ideal que estabelecera como meta para si própria", pág. 103

"À tarde, de volta do chá, a minha mãe dizia-me que queria fundar uma comunidade da Arca em Portugal, onde fiaria a lã para tecer a sua própria roupa e teria um rebanho de ovelhas donde extrairia a lã...mas tocava o telefone e (...) Aperaltava-se toda com roupa que nunca poderia ter sido tecida à mão e lá ia para uma grande festa , decidida a brilhar o mais possível no meio dos descendentes dos titulares cuja genealogia eu estudara na Enciclopédia Luso-Brasileira.", pág. 106

Frederico Lourenço, Amar Não Acaba, Cotovia, 2004

Das coisas sérias

19.5.12
De cada vez que envio uma crónica apetece-me, logo a seguir, pedir para não a publicarem. Às vezes peço para fazerem uma ou outra alteração, outras faço por esquecer que a escrevi. Mas elas lá estão, à vista de toda a gente. É assim tão diferente de escrever no blogue, perguntaram-me? É. Aqui sou eu, e eu não me levo muito a sério.  sou a cronista e nada me parece tão sério como isso.

A eterna discussão

17.5.12
"O meu filho mais velho chega amanhã; sim, é o rapaz mais promissor do King's; (...). E tudo o que eu posso contrapor a isto, é: e eu ganhei duas mil libras com o Orlando e pude trazer cá o Leonard, e posso comprar uma casa se me apetecer.", Virginia Woolf, Diário, 15 de Junho 1929.

Desafio concluído

16.5.12
Pois, então, que lá fui fazer o meu casting, ser eu própria como se pretendia, para confirmar o que já suspeitava: eu não tenho grande interesse para as empresas. E, não, não vou estar aqui a dizer que não sabem o que dizem, porque sabem e dizem-no de uma forma muito simpática e assertiva. Eu escusava era de me sentir tão diminuída.
Mas fui. Está feito.

Mau, mau Maria

15.5.12
Então agora eu estou na moda? Pronto, lá se vai a minha "originalidade".
Eu concordo com o que diz a Constança, "online somos as mesmas pessoas que somos offline" (a Sílvia também já tinha levantado a questão) e offline eu também sou um bocado exagerada e digo o que me passa pela cabeça, sim, inclusive a estranhos.
É por isso que eu tenho de vos perguntar isto (às senhoras): quando usam pensos higiénicos 'super' a parte mais comprida fica virada para a frente ou para trás? 

Efeito Tilda

10.5.12

O poder desse magnífico astro que é o sol tem, infelizmente, pouco efeito sobre mim pela manhã. A alegria do Isaac às 7h00, a correr, a gritar e a jogar à bola pela casa com a irmã, que hoje estava num raro dia de boa disposição matinal (a meteorologia também influencia a outra rapariga cá de casa), enquanto o Nicolau me oferece bofetadas na cara, sentado ao meu lado na cama, deixa-me em estado catatónico. Ou, partindo do princípio que já acordo catatónica, o que é muito provável, a vivência matinal nesta casa acentua esse meu estado.
Mas hoje tudo foi diferente. Ou melhor foi tudo igual até me aparecer a imagem da Tilda, em casa com o filho. É triste o peso da responsabilidade* ser mais mobilizador do que a alegria dos meus filhos pela manhã, mas é uma realidade. 

*Esta coisa de se culpar as mães pelos crimes dos filhos tem muito que se lhe diga, mas fica para outra altura.

Sesta

9.5.12
Pela primeira vez, desde que o Nicolau nasceu, deitei-me para dormir uma sesta (das 9h00 às 10h30 da manhã) e por isso, e porque está um belo dia de sol, parece-me que hoje sou capaz de tudo.

É agora, abram as cortinas.

8.5.12
Eu sei que disse, ali em baixo, que estava na altura de ver o retorno de tanta formação e tal, e que, no fundo, acho que sou espectacular e devia ter duas dúzias de empresas atrás de mim, mas não era preciso ser já, já, já.
É que eu não faço a mínima ideia do que vou dizer no meu pitch.

Sair à noite

7.5.12
Digam o que disserem da Pensão Amor, para mim será sempre o sítio de Lisboa que serve finos, que permite experimentar a Russendisko, sem precisar de ir a Berlim, e onde apontam para as fotografias para explicar quais as mamas com e sem silicone.
E o bairro alto, ah, o bairro alto, tem outro encanto ao lado de uma lisboeta - é tão diferente andar por lá sem precisar de olhar para o nome das ruas!

Passei o dia da mãe

6.5.12
com uma ressaca descomunal.

Tomei uma decisão

4.5.12

Ou melhor duas decisões:

1- Se eu conseguir tricotar este colete faço uma festa - A Festa do Tricot. Olhando para isto, as  luvas, afinal, foram uma brincadeira de meninos.

2- Desde que estou em Lisboa fartei-me de investir em formação: eles foram workshops de revisão de texto; de escrita criativa; de patchwork e quilting, de tricot e acho que não me estou a esquecer de nenhum. Parece-me que está na altura de ver o retorno, não? (isto sou eu a falar comigo que acha que o saber não ocupa lugar e portanto farta-se de gastar dinheiro a aprender sem se preocupar em ganhá-lo, ao dinheiro, quero eu dizer, porque não duvido que ganho muito das outras coisas boas que, dizem, não trazem pão para a mesa). Mas antes vou só fazer mais este.

Sábado à noite

4.5.12
Recebi um convite para sair no sábado e, depois do choque inicial, tipo, a sério? eu? queres que eu vá contigo? ando para aqui que pareço uma adolescente: não tenho o que vestir, preciso de arranjar as sobrancelhas, etc. etc.
convite é irrecusável, não só pela companhia, como pelo facto de meter livros, música e vodka, na verdade prometeram-me vinho, mas eu sou gaja para ainda aguentar misturas, de maneiras que lá terei de ir. Ainda por cima diz (alguém nos comentários) que a Pensão Amor é um sítio frequentado pelas pessoas do Jamaica, portanto estou em casa (acho eu, que não vou ao Jamaica há milhares de anos).

Evitar a depressão

3.5.12
Há uns tempos, o Jaime, movido pela veia humorística que carrega, trouxe este livro para casa. Rimo-nos, claro, tentámos decifrar a assinatura do primeiro dono (mas só se percebe o que diz a seguir: 5/2/87 Comprado no Continente Porto) e depois foi cada qual à sua vida (dar banho aos rapazes, fazer o jantar, ou qualquer coisa do género).
Acontece que eu acabei por ler o livro todo e, estranhamente, até achei que tinha interesse, tendo em conta que se trata de um livro de auto-ajuda, sobre depressão e datado - até eu, uma leiga absoluta na matéria, consigo perceber que as coisas mudaram no campo da psiquiatria/psicanálise dos anos oitenta até aos dias de hoje. Ou, talvez actualmente não se questionem certas coisas que se questionavam então.
Bom, o que é certo é que o livro se lê bastante bem e o facto da autora ser médica e jornalista poderá explicar muita coisa.
Mas esta conversa toda é só para justificar as minhas terríveis manhãs. Dizem os especialista: "Há pessoas que não têm dificuldade nenhuma em se levantar; outras levam tempo a ganhar coragem. (...) Para cada um seu despertar; todos temos ritos, que nós devemos respeitar e os que nos cercam aceitar, e, reciprocamente, todos devemos compreender os ritos dos nossos próximos [agora que estou a transcrever soa-me a religião]. É por isso que o cerimonial do pequeno-almoço é tão importante."

Pós-festa

2.5.12

Depois de uma "pijama party" aqui em casa, com sete meninas e um menino, cheia de acontecimentos marcantes, como devem calcular (e estou a pensar, por exemplo, no basqueiro às 6h30 da manhã, quando se lembraram de ir para o terraço ver o nascer do sol), a coisa que mais retive foi a preocupação de alguns pais por eles não terem dormido quase nada (três deles não dormiram de todo, incluindo a minha rica filha, claro), quando iam ter teste de história no dia seguinte.
Ora, ao ver tanta aflição progenitora decidi perguntar à Bea porque é que eu desconhecia a existência do tal teste no dia a seguir ao dia seguinte da festa, quando todos os pais sabiam. Ela pareceu-me um bocado surpreendida com a pergunta (por norma só sei dos testes quando ela os traz para eu assinar) e respondeu, muito naturalmente, que também não sabia.

Luz

2.5.12
Agora que o Nicolau frequenta cada vez menos a nossa cama surgiu a pergunta, há muito adiada:
- A luz de presença no nosso quarto foi sempre por tua causa, certo?
- Certo.