Somos dois

31.5.10
Só não fumo, Marmelo, de resto temos os mesmo vícios. Acho até que a Cândida Castro surgiu por causa dele.

Domingo

31.5.10
E assim se dá uma boa utilização ao quilt número um.

Os pais não sabem falar de outra coisa

28.5.10

(Adoro o pormenor das mamas sempre a deitar leite. E aquele episódio em que os dois discutiam sobre quem é que bebia mais?)

Já sei porque não gosto de acordar

28.5.10
"Há pessoas que ao acordar revivem, todos os dias, com angústia, o seu aparecimento na vida, esse despertar forçado", Vila-Matas.
(Estou quase a terminar o livro, depois acaba-se esta obsessão)

A Cândida acha que somos um pouco como a Irène Jacob em "A Dupla Vida de Vèronique"

28.5.10
*SPOILER*
Nesse caso não quero ser a Weronika, porque ela morre cedo.

O Homem dos pardais

28.5.10
Um senhor de idade, um velho, portanto, alimentava pardais, ou passarinhos, ou tarrotes, no Príncipe Real mas não deixava que as pombas se aproximassem, exotava-as com a bengala. Dali a pouco virou-se para mim:
- Essa pomba que aí está tem a pata esquerda sem dedos? Eu olhei para o enconsto do banco onde estava sentada e confirmei que sim.
- Ah, já sei quem é, disse aproximando-se. Eu não gosto muito de pombas (eu já tinha percebido), mas essa coitada vou alimentando. Depois deu-me o resto do pão, disse como é que eu tinha de fazer e foi à vida dele. Antes ainda referiu qualquer coisa sobre perceber-se que o meu sotaque era do Porto, porque temos uma maneira de falar mais clara.

Fuck

27.5.10
Por causa do facebook da Cândida deixei queimar a sopa.
27.5.10
17 meses depois, ser confrontada com o expoente máximo da minha feminilidade - a mestruação - é um bocado chocante!

Gostos

27.5.10
- Sabes que com esta adoração que o teu irmão tem por ti, quando for maior vai querer andar sempre atrás de ti, a querer fazer tudo o que tu fazes.
- Vai ser nessa altura que não vou querer estar em casa, não é?
- Oh, tu gostas mais dele do que de chocolate.
- Não, não gosto.
- Tu gostas mais de chocolate do que do teu irmão?!?!?!
- Sim. Mas repara que também gosto mais de ti do que dele.
- E gostas mais de chocolate do que de mim?
- Não.

De noite 1

26.5.10
Acontece-me pensar coisas estranhas durante a noite. Acontece-me, até, falar fluentemente, em sonhos, línguas desconhecidas e visitar parentes falecidos nas suas novas vidas flutuantes. Ontem, por exemplo, ocorreu-me que devia criar o pseudónimo Cândida Castro. Para quê? para voltar ao facebook disfarçada. Creepy, eu sei.

Retiro tudo o que disse sobre faltar-me o vinho

25.5.10
As ressacas têm qualquer coisa de revigorante. No dia a seguir a beber uns copos a mais apetece-nos logo mudar de hábitos, como as resoluções de Ano Novo: não beber nunca mais, fazer uma alimentação saudável, etc. Depois passa, claro.

(antes que alguém me comece a chamar nomes, o bebé já bebe leite de vaca. É claro que mamou na mesma, durante a noite, mas acho que não se embebedou.)

P.S Quem é o Dr. Carlos González? Gosto dele. Diz coisas tão bonitas como:"O leite materno com um pouco de álcool continua a ser melhor que o biberão", no Manual Prático do Aleitamento Materno.

Saúdinha

24.5.10
O bebé tem quase oito meses. Gosto da forma como saltita quando ouve música; do carrapito do cabelo que se enrosca na "cova do ladrão" (belo nome); da forma como ri, como olha para nós e para a tv (simpatiza muito com aquele moço do Teatro Praga que apresenta o Art Attack); dos pézinhos encostados um ao outro quando se senta muito direito; do abrir e fechar das mãos quando está a comer, a chamar por nós, ou a tentar adormecer. Enfim, é um miúdo giro. Saudável. Toda a gente sabe que o que é preciso é saúdinha. E, como se costuma dizer, alguma estupidez natural.
A mim falta-me o vinho, é o que é, em quantidade, que do resto vou tendo!

Sítios aqui de casa 2

23.5.10
Gaveta da consola (um bocado de guarda-chuva partido?!?!).

Ainda acerca da vida e essas coisas

21.5.10
"Temos de saber - dizia Himket - que viver é a coisa mais real e mais bela. E não esquecer que viver é a nossa tarefa. Estejamos onde estivermos, temos de viver como se nunca tivéssemos de morrer."

Enrique Vila-Matas, Diário Volúvel, trad. Jorge Fallorca, Teorema, 2010

The brothers

20.5.10

E pronto

20.5.10
Mais uma noite mal dormida, dores de cabeça, condição física deplorável, os senhores das finanças a moerem-me o juízo com notificações e e-mails, logo pela manhã... É assim (e também com uma certa predisposição genética) que as coisas boas se transformam em más, a saber:
1) O sol lembra-me a roupa que tenho para lavar e secar;
2) O Vila-Matas que jamais escreverei um diário (sem ser esta masturbação do ego que são os blogs);
3) As mãozinhas gordas do Isaac que tenho de o alimentar.

Um bacalhau com migas também é bom

19.5.10

Era melhor se não fosse preciso dormir

19.5.10
Adormeci por volta das 23h e acordei às 3 da manhã, pouco antes do pequeno. Dei-lhe de mamar e ele voltou a dormir. Eu não. Pela primeira vez em muitos meses dormi quatro horas seguidas e parecia-me que tinha dormido uma noite inteira. Quando ele voltou a acordar, às 6h, estava eu quase a adormecer outra vez. Depois, claro, não consigo ficar enternecida com os dois irmãos a rir e a cantar às 7h30. Por mim atirava-lhes com qualquer coisa à cabeça, como faço com os gatos.

Constatação

19.5.10
As hemorróidas da gravidez/parto desaparecem.

Perguntas fáceis de responder

17.5.10
Relações públicas tem a ver com prostituição?

Perguntas difíceis de responder

17.5.10
Às vezes não sentes que somos marionetas marionetadas por gigantes?

Situação provisória

17.5.10
Quando não temos um emprego estamos provisoriamente sem trabalho e isso é dramático, porque nos coloca perante a única realidade que nos custa enfrentar: o próprio carácter provisório da vida, estamos aqui até morrer, essa situação absolutamente permanente.

O patchwork é kitsch 3

14.5.10

Feita com restos de tecidos de lençois (excepto o quadradinho do meio, que é daqui e foi usado num quilt que depois mostro). A parte de trás é de uma velha camisa. Segue para uma casa amiga.

A Primavera,as flores e essas paneleirices todas

14.5.10

Comecei a olhar para as orquídias de outra forma depois de ver o Inadaptado, do Spike Jonze. Não são as minhas flores preferidas mas gosto muito de as ver florir no pátio. Além disso, não têm o mau feitio da bunganvília.

Errata

14.5.10
Pergunta: Não te importas que eu esteja gorda?
Resposta errada: Não.
Resposta certa: Tu, gorda? mas tu não estás gorda!
14.5.10
Ah, por isso é que se viam flores por todo o lado aqui no bairro...Não conhecia a tradição. Para mim o dia da Ascensão era o dia em que o sermão da missa era pago pela minha avó para me curar a asma.

Coisas boas de Lisboa 3

13.5.10
Lomo do Jaime
A proximidade da Costa da Caparica. Sim, porque Lisboa NÃO tem praia.

Deslocações

12.5.10
Não conduzo. Tirei a carta cedo, quando precisava de conduzir para fugir do sítio onde vivia, depois deixei de precisar e há muito que não sei conduzir. Ainda há muita gente que vê nisso uma estupidez, como se conduzir fosse parte da condição humana, eu vejo apenas comodismo e, por mais contraditório que pareça, maior liberdade. É certo que dependo de outras pessoas para me deslocar com motor, mas não vejo nisso nenhuma fraqueza.
É, portanto, natural que muitas das minhas deslocações sejam feitas a pé. Gosto de caminhar, como também gosto de andar de carro, de comboio e de avião, mas sinto-me mais próxima da realidade quando são os meus pés que me levam onde quero ir. Mesmo que eu não saiba concretizar o que é isso da realidade.
Isto ainda a propósito do Robert Greenberg, que também não conduz; do Walser e a descrição da viagem de Simon, a pé, até à aldeia de Kaspar; e de uma viagem Porto/Lisboa que me lembrou "A música do acaso", de Paul Auster, e de como olhamos mais para dentro de nós quando viajamos de carro e mais para fora quando caminhamos. Ainda que este olhar para fora se torne mais introspectivo do que o outro.

Ainda a felicidade

12.5.10
A certa altura diz Hedwig ao irmão: "Não quero ser infeliz por não ter tido a coragem de reconhecer que podemos ser infelizes por termos procurado a felicidade. Esta infelicidade é digna de respeito, não a outra".

Robert Walser, Os Irmão Tanner, trad.Isabel Castro Silva, Relógio D'Água, 2009

Cápsula do tempo

12.5.10
Dentro de um saco que não usava há muito tempo estavam: Uma carta do meu pai, de 1978; uma carta do pai da minha filha, de 2006; e uma carta do pai do meu filho, de 2008.

Dois

11.5.10
A grande diferença do primeiro para o segundo filho, para mim, é que da segunda vez não se sente tanta pressão. Sabemos que nunca vamos ser mães perfeitas, que não é possível ter um bebé em casa e sair para tomar café com os amigos como se não tivéssemos parido, que não vale a pena fingir que é fácil conciliar tudo (cozinha, trabalho, dormir, sexo, depilação, saídas, passar a ferro, conversas...). Eu soube isso logo da primeira vez mas por qualquer razão queria provar o contrário, sem grande sucesso, claro. Agora sinto que não tenho de provar nada a ninguém e isso é bom. Só é pena tê-lo percebido quando tenho quase 40 anos (?!?!?!?!?!?!?).
Ah, e a barriga é outra das grandes diferenças. Suspeito que desta vez ela não desapareça.

As sapateiras

10.5.10
Foto do Nelson Garrido

Quando era miúda diziam-me sempre que eu era muja - os mujas são do lado da minha avó paterna - e eu achava bem, porque era o lado da família mais "idiota". Os idiotas são pessoas com ideias a mais na cabeça, o que as torna cismáticas e, por conseguinte, tristes e imbecis. Como nunca achei os idiotas imbecis parecia-me bem ser muja, até porque combinava com a minha aspiração a intelectual. Também achava piada aos jarazes, do meu avô paterno, que são pessoas com jeito para os prazeres da vida: copos, festas, "vida alegre e fato roto", como ouvia várias vezes lá por casa. Com as sapateiras, a minha mãe e avó, pessoas que vêem no trabalho a resolução de todos os problemas da vida, sejam práticos ou filosóficos, nunca me identifiquei. Mas é lá, em Laúndos, em frente ao terreiro, que estão as minhas raízes, os meus afectos mais profundos e mais difíceis de perceber. É lá que estão as mulheres com quem cresci. Ao ver a minha avó, a minha tia e prima no Público senti o quanto delas tenho em mim e o meu peito apertou-se um bocadinho, por já ser crescida.

P.S ninguém, na família, sabe as origens destes cognomes. Se calhar devia investigar.

É por causa disto que as pessoas têm depressões

7.5.10
Ando eu aqui sem saber para onde me virar com as mudanças na casa (o meu quarto passa a ser sala/escritório, o quarto dos pequenos o meu, e a sala o quarto deles); a dizer constantemente a mim própria que não sou doméstica, quando na verdade não sou outra coisa, e ainda por cima uma má doméstica; e deparo-me com esta senhora que faz da domesticidade uma arte. Valham-me todos os santos! É que ainda por cima ela é consultora de vinhos, ela é paga para beber vinho. Ele há cada coisa!

Efeito Baumbach

6.5.10

Na noite em que fui ver o Greenberg ao cinema o rapaz não nos deixou dormir e hoje não quer comer. Não sei, é provável que traga comigo as neuroses do cinema, tão provável como as levar já de casa.
P.S aquele diálogo aos 40s podia ter sido escrito por mim, se eu fosse argumentista, ou assim.
5.5.10
Na noite em que o rapaz dorme pela primeira vez numa cama de grandes, no quarto dele e da irmã, e eu só tenho de me levantar duas (2) vezes, tenho uma insónia descomunal. Acho que já não sei dormir...

Também sou jeitosinha com agulhas*

5.5.10
É o segundo par de meias que faço e apesar de estar longe da perfeição (como é que se consegue tricotar meias sem que se notem as intersecções das agulhas?), está bonito!
Já seguiu por correio para uma aniversariante.
*como qualquer reformada que se preze

A festa

3.5.10
Pior do que ir ao ginecologista, ou prostaglandinas - ou talvez esteja a exagerar, não deve haver nada pior do que estas hormonas sintéticas para esgaçar o colo do útero - são as festas de aniversário das crianças. Felizmente a Bea só as festeja, com amigos dela, desde os seis anos e eu pensei que nenhuma ia bater a do ano passado, com umas quantas crianças a dormir cá em casa numa "pijama party". A deste ano, uma "aqua party", foi na piscina, como o nome indica, e eu toda contente: pago mas pelo menos não me chateio tanto e eles pulam e nadam e cansam-se e vão-se embora. Não, esqueci-me de um pormenor importante: os pais das crianças. Pois que dei por mim em alegres conversas sobre as festas da Leonor no hipódromo de sei lá de onde, sobre os colégios de Lisboa e as férias sei lá onde também (e eu a olhar para a mesa com pães de leite daqueles embalados, porque me esqueci que no feriado do trabalhador está tudo fechado, e gelatinas pré-fabricadas, e o bolo feito por nós, o que até podia ser giro, mas não é, porque há "o melhor bolo de chocolate do mundo" à venda e é super chique) . Pior, dei por mim em alegres conversas com pessoas que tratam os filhos por você. Já nem sei o que é melhor, se ver um grupo de miúdos a insultarem-se uns aos outros de puta para cima e "ao menos fulana sabe porque é que a mãe está presa", como ouvimos o ano passado; ou estar com crianças muito bem comportadas mas que nem sabem que existem escolas, acham que só há colégios, o conservatório e o ginásio. Ainda bem que ela os mistura a todos numa piscina. Mas que fica uma cena estranha, fica!

Caro Sr. Vila-Matas

3.5.10
Agora que vi uma foto sua, sem ser daquelas pequeninas nas badanas dos livros, devo dizer que acho que tem toda a razão em achar-se parecido fisicamente com Hemingway.
Entretanto vou começar a ler o Diário Volúvel e gostava que pudesse vir cá casa jantar, se não tiver mais nada importante para fazer. Tenho cá muitos livros do Cardoso Pires e também estive na Horta, pelo que não nos faltará assunto. Além disso, aqui há uns tempos vi uma exposição no CCB com alguns dos nomes da sociedade secreta d'Os Portáteis. Mas já estou a divagar, era mesmo só para dizer que é parecido com o Hemingway.