Deve ser para isto que serve um blog

31.3.14
Quatro anos e uns dias depois este blog ainda existe (e diz que foi visto 670 mil vezes).
Sou eu aos, quase, 41 anos de idade, mais crise existencial, menos crise existencial. Daqui a uns anos quero vir aqui dizer-me que não tinha razão. Que havia, afinal, algumas coisas extraordinárias para descobrir e que, apesar disto e daquilo, soube preservar o que interessa. Deve ser para isso que serve um blog.

Mudar

27.3.14
Parece-me que este ano várias pessoas (conhecidas e desconhecidas) decidiram mudar de vida, ou mudar coisas importantes nas suas vidas, não sei se são exactamente a mesma coisa.
Ou, talvez eu esteja mais atenta por querer também mudar coisas na minha vida, como quando estamos grávidas e só nos aparecem prenhas à frente, sobretudo na praia.
Adiante. Movida por esse espírito empreendedor e positivo que anda no ar, decidi eu própria tomar uma decisão muito importante e que vai, seguramente, mudar a minha vida: A partir deste instante vou deixar de esperar pelos Emails que nunca mais chegam (a propósito, lembrei-me disto). Ou melhor, dentro de dois segundos, que agora vou ver se recebi alguma coisa importante. Não, nada. Pronto, agora sim.

Os gatos

27.3.14
Maya, 14 anos

Viriato, 10 anos

A ver uma merda qualquer na televisão, depois do Daily Show, e depois de mais um dia em que subornei o mais novo com gomas, logo a seguir a uma entrevista que fui fazer ao ISCTE para uma reportagem (é melhor nem quererem saber) e antes do vestido da rainha branca do Alice no País das Maravilhas que estou a fazer para a escola da Beatriz, tive uma espécie de epifania à medida que ia empurrando os gatos, que insistem em deitar-se no meu colo, com o focinho encostado à minha cara.
Naquele exacto momento percebi porque gosto destes gatos, apesar de vomitarem a casa, de estragarem móveis e sofás, de insistirem em passar por cima do teclado do computador quando estou a trabalhar, de quererem sentar-se no meu colo quando estou a jantar. Gosto deles, porque sim, claro, mas eles são importantes para mim, porque têm sido a variável imutável (ou a menos mutável, vá) da minha vida.

Compras

26.3.14
As pessoas, maioritariamente do sexo feminino, dizem, quando estão neuróticas fazem compras. Eu não sou excepção. Acabei de chegar a casa com meio quilo de muesli do Brio.

Ainda vou ser uma gaja com estilo

24.3.14

Ora aqui está o meu tipo de calças. Se não tivesse obras cá em casa estaria a coser umas na máquina e depois, se me ficassem bem, faria uns poucos de pares em diferente cores.

Somatizando

21.3.14
Eu sei que já disse isto mais do que uma vez, mas juro que é mesmo muito fácil fartar-me de mim.
Quer dizer, faço 300 km para ir a uma psiquiatra (sim, é maravilhosa) que me manda ter juízo e prescreve-me vitaminas mais a inscrição numa actividade que me obrigue a estar com outras pessoas regularmente. Portanto, drogas, que são tão boas, nem vê-las. Ok, muito bem, posso viver perfeitamente com isso, ou sem isso neste caso, mas com esta coceira nos braços e na cabeça é que não.

Ter um blog pode ser, mesmo, muito stressante

20.3.14
Primeiro procuro a máquina fotográfica, como não a encontro ligo a perguntar se é ele que a tem. Sim, confirma-me. Depois tento perceber como funciona a câmara do computador, vasculho o Windows todo, pergunto ao google, tento fazer actualizações ao programa, etc. Nisto passou-se uma hora, à vontadinha.
Lembro-me que temos a outra câmara, uma Nikon, em que é preciso usar o ocular do visor para tirar as fotos. Até fiquei baralhada, mas foi um fartote de fotos às obras e às flores que colhi num jardim público.
A ideia era escrever um post tipo: Isto está um caos mas, who cares, chegou a Primavera!
Quando cheguei à parte de passar as fotos da máquina para o computador verifiquei que o cartão da mesma, obviamente, não encaixava em nenhum buraco do computador. Novo telefonema. Tinha de procurar o cabo. Procuro o cabo, encontro o cabo, ligo o cabo, e nada. Desligo e ligo. Desligo e ligo. Novo telefonema. Fico a saber que a máquina às vezes tem este comportamento e que é por isso que existe o leitor de cartões, que, obviamente, não está aqui em casa. Nisto passou-se outra hora, à vontadinha.
A sério, é um desgaste ter um blog, sobretudo com a casa em obras, porque agora vou ter de ir ali fazer xixi no pote do Nicolau, visto não ter sanita.

Perguntas que eu gostava mesmo de saber a resposta

19.3.14
Quando ando de comboio sozinha, e normalmente faço-o em viagens que duram cerca de três horas, gosto de fazer umas destas coisas, ou todas, ao longo do trajecto: ler, escrever, tricotar e dormir, sendo que ultimamente tendo a preferir a última.
Obviamente, não temos todos de gostar das mesmas coisas (ainda que uma parte considerável das pessoas que partilham a carruagem comigo costume fazer uma delas, excepto tricotar), mas três horas a explodir bolas, ou lá o que é aquilo, no ipad não é assim um bocado doentio?

Como resolver conflitos

17.3.14
e insónias, alergias, prisão de ventre, mau humor, dores de costas, falta e excesso de energia...

Irmãos

15.3.14
Desde que decidi ser mãe fui sendo confronta com, digamos, certos desafios. A começar na própria da gravidez, passando pelos corte e cose do pipi até às mamas transformadas em melões, prontas a explodir no momento da subida do leite. Depois os bebés e o choro e o sono e a merda. Ah, e aquele momento brutal em que os deixamos ao cuidado de alguém. Há outros, houve outros, no entanto, estou tentada a dizer que o desafio que enfrento actualmente é bem capaz de ser o maior de todos, até ao momento. Refiro-me a ter de lidar com os conflitos entre irmãos. Valha-me minha nossa senhora da Agrela (da qual tive conhecimento no consultório da nossa médica de família)! Diz que não há santa como ela.

Começar de novo (ou não)

14.3.14
Li o texto partilhado pela Gralha, numa fase em que estamos precisamente a tentar mudar de vida, e retive o seguinte:

1) Também quero estudar a história do trabalho;
2) Não faz muito sentido, de facto, pensarmos que temos de ser felizes a trabalhar;
3) Nunca se está livre da relação capital trabalho se precisarmos dela para sobreviver, mesmo que estejamos a trabalhar naquilo que mais gostamos (seja viajar, escrever, pintar, etc.);
4) "Um marceneiro tem muito mais liberdade criativa, apesar de fazer trabalho manual, do que um jornalista que trabalha em redacção, por exemplo". Até que enfim isso é uma evidência;
5) O grande problema por resolver da sociedade continua a ser a divisão de classes.

Sou uma vassoura

12.3.14
Nos últimos tempos tenho ido ao Porto com alguma frequência por várias razões, mas, a última foi porque precisei de rever a doutora Soledade (espero que ela tenha perdido o papel onde apontou o nome do blog) e foi espectacular sair de lá com a certeza de que já sei quem sou. 
Sou uma vassoura, aquela coisa muito útil, que nunca se consegue arrumar muito bem. 

Feliz por um dia

7.3.14
No dia 5 de Abril de 1988 comi arroz de lampreia pela primeira e última vez. Lembro-me disto, com estes detalhes, porque fazia 15 anos nesse dia.
Ainda não tinham passado dois anos desde a morte do meu pai e acho que nessa altura estávamos a recomeçar a viver. A minha mãe e os meus tios escolheram o dia dos meus anos para sair de casa, festejar a vida.
Fomos almoçar a um restaurante em Apúlia. Não me lembro nem do sabor, nem da consistência do arroz de lampreia, mas sei que não gostei. Lembro-me do sol e dos grãos de areia que rodam constantemente no ar, à volta dos moinhos de vento, que vivem estáticos de frente para ao mar. Lembro-me de me sentir feliz nesse dia. Muito feliz. Até o meu tio ter o acidente.
Não foi grave, ninguém ficou ferido, mas lá regressamos a casa com a culpa de quem tinha tido o atrevimento de achar que podia ser feliz. Feliz um dia inteiro.

As contradições do mundo no meu mural

6.3.14
Há uma crise na Ucrânia. Uma tragédia na Síria. Um "vale da morte" na Suazilândia. E um ouriço fofo que morreu.

Coisas que nos fazem rir (e pensar)

6.3.14
Depois de fazer vários disparates à mesa, o pai ameaça o Nicolau que o vai meter no colégio militar (em tom de brincadeira, mas ainda assim uma ameaça).
- O que é o colégio militar? - Pergunta o Isaac
- É um sítio onde as pessoas aprendem a não fazer asneiras - responde o pai já quase arrependido pela piada de mau gosto.
- A sério, o Nicolau vai para a minha sala?

Esta vida são dois dias e o Carnaval três

4.3.14

A mais velha disfarçou-se de Madonna, o do meio de gangster (ou professor, segundo os amigos) e o mais novo, supostamente, de Pocoyo (não chegou a vestir o fato). Perdi algum tempo a procurar acessórios para a mais velha, mas tirando isso o Carnaval, este ano, deu-me pouco trabalho. O que não significa que uma pessoa às tantas não saiba a quantas anda.
Dou por mim muitas vezes a pensar, "tens três filhos, que queres? Estavas à espera de quê?"
E depois, estamos todos à mesa a jantar, eles pedem para sair e vão brincar e ficam ali entretidos num faz de conta enternecedor (também já assistimos a alguns faz de conta insuportáveis, tipo um a gritar porque o outro não lhe dava o balão imaginário) e nós olhamos um para o outro e pensamos: "vamos ter outro filho". É assim um pensamento que dura só o tempo de fazermos o rewind todo, mas nesse milésimo de segundo, carago, que bonito é imaginar mais um bebé a crescer aqui em casa.

A roupa ficou à chuva outra vez

1.3.14
Um dos gatos vomitou, outra vez, no tapete. O Isaac mijou na cama e deitou sangue pelo nariz na almofada. O arroz de polvo ficou insonso. O leite acabou, outra vez. Uma cenoura apodreceu no frigorífico. O cabide dos casacos caiu, outra vez. O Nicolau desenhou no chão da sala com lápis de cera, outra vez. As tonturas voltaram. A casa parece que cheira a podre, precisamos de mudar, outra vez. As raspadinhas nunca têm prémios. A roupa ficou à chuva outra vez. Acho que escolhi mal a altura para deixar de beber.