Envelhecer é uma merda ponto final.

29.11.13
É bem capaz de ser verdade essa treta dos 40 anos serem os novos 30. Começo a sentir-me, finalmente, um bocado crescida e, apesar de a coisa não me parecer tão má como estava à espera, não há dúvida que é uma seca.
Acontece, no entanto, que a malta envelhece. É do caralho, mas é verdade. A minha avó está aqui que não me deixa mentir. Logo, mais vale tentar aprender a envelhecer, digo eu. 
Por isso seria espectacular que nos ensinassem como se faz. Há tanta, tanta, tanta, tanta, tanta gente que consegue explicar em 10 pontos, ou menos, toda a verdade sobre a maternidade/paternidade (apesar de os pais não serem, a maior parte das vezes, nem tido nem achados nestas coisas), sobre ser bem sucedida(o), ou até sobre a felicidade, porque raio não estou eu cansada de ler sobre envelhecer com serenidade? É que ainda por cima, nem todas(os) somos mães/pais, nem todas(os) somos bem sucedidas(os), nem todas(os) somos felizes - parece que até há algumas pessoas que são isto tudo ao mesmo tempo, mas vivem um bocado longe, tipo, noutro sistema solar, por isso não são para aqui chamadas. Mas, não havendo nenhum acidente de percurso, é certo e sabido que toda a gente envelhece.
Por exemplo, eu sou gaja para explicar num instante como lidar com a maternidade, como ser bem sucedida e como ser feliz:
Maternidade = a ser atropelada por um camião. Podemos ter a sorte de não partir muitos ossos e conseguirmo-nos levantar num instante, ou ficar com demasiadas fracturas, mas é tudo uma questão de recuperar e ter muitas gente à volta a quem recorrer.
Sucesso =  a equilíbrio. Quanto mais conseguirmos gerir as expectativas com a realidade melhor sucedidas seremos.
Felicidade = a vivermos bem com aquilo que somos.
E a velhice? Sobre isso não sei nada, porque ninguém me conta nada, nem mesmo a minha avó. É um mistério.
Do que posso averiguar, uma coisa é vivermos bem com o facto de sermos mais dotadas para lavar loiça do que escrever livros, outra coisa é aprender a viver com o facto de não sermos capazes de ouvir, andar sozinhos, ou mijar numa sanita.
Envelhecer é uma merda, foda-se (ter filhos também implica muita merda, pelos menos nos primeiros dois anos de vida), mas eu quero morrer velha. E quero ter filhos. Espera, filhos já tenho. Só me falta morrer velha, portanto. 

5 comentários:

  1. Eu tenho pr'aí dois ou três livros precisamente sobre como envelhecer com serenidade, e quejandos. Não digo nomes nem autores, porque o reumático não me deixa levantar do sofá para ir à prateleira verificar, e estou aflita das cruzes... yup, os 40 são os novos 30, mas só até aos 5, ou seja quarenta E CINCO, quando chegas aos seis, arregalas os olhos e começas ver os 'enta' a aproximarem-se a esfregar as mãos.
    Digo eu que tenho QUARENTA e seis há um mês e picos...
    Mas pronto, olha, só me falta plantar a árvore. E publicar a gaita do livro, que escrito já está.
    Voltando ao assunto, olha, ainda vou pensar em escrever um livro sobre isso. Tenho é que recolher depoimentos, porque eu NÃO SEI de todo ENVELHECER. E a gaita toda é que quero morrer velha, de morte natural, sem sofrer, e de preferência despedir-me da minha pessoa preferida como o meu pai se despediu de mim: abraçou-me e ... acabou.

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  2. Eu tenho 47 e não arregalo os olhos coisa nenhuma mais do que os arregalava aos 15. A resposta, calita, está no post anterior e no final do comentário supra, a partir da gaita toda. Não há muito mais, acho eu, com ou sem doenças.

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  3. Envelhecer sozinha. Se encontrares livros sobre como envelhecer (e viver em geral), sempre com a certeza que temos quem nos ame por perto, isso sim, vai ser um achado literario de valor. Olha, vi esta noite o "A grande beleza". Parece de proposito.

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  4. Aqui do alto da minha idade (como é que era mesmo a frase que eu repeti tanto naquele fim-de-semana do Verão passado? oh, se não fosse o Alzheimer...) te digo que creio firmemente que a boa velhice é uma mistura dessas tuas definições de felicidade e sucesso.
    Estou a ficar surda? Podia ser pior - ainda consigo ver as magníficas cores do nascer do sol. Estou a ficar com o corpo perro? Enquanto respiro há esperança.
    Etc.
    O meu corpo já começou a entrar em autogestão - eu vou numa direcção, ele vai noutra. Mas não perco muito tempo a pensar no que vai ser, porque isso logo se vê quando lá chegar, e no entretanto ainda tenho imenso que fazer com esta que sou hoje.

    Há dias um amigo (quase oitenta anos) dizia-me: "se preciso de uma bengala para andar, o mais importante é estar a avançar, em vez de me irritar por ter de usar a bengala". E outro amigo, com mais de oitenta anos, dizia: "um dia destes morro, e sinto que não fiz o suficiente".
    Ele está muito angustiado com isso, o que me faz pena. Aprendo para mim: estou a fazer o suficiente?
    A minha questão não é bem o quando e o como vou morrer, mas o que fiz durante o tempo que estive aqui.

    (Já quanto aos filhos que nos atropelam: eu devo ser mesmo uma tarada do optimismo, mas só me lembro de ter sido muito feliz na altura em que tinha filhos pequeninos, e de me sentir insubstituível e orgulhosa do meu papel quando eles dormiam mal ou estavam doentes...)

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  5. Aguardo ansiosamente pela lista.
    Já agora, também pela prequela da mesma: como aprender a já não ser novo mas ainda ter de fingir que se dá conta do recado.

    gralha

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