Morre gente todos os dias, mas nem todos os dias se escreve* sobre isso

18.11.13
A Doris Lessing morreu. Eu só li este livro dela, mas foi o suficiente para ficar absolutamente intrigada com a pessoa que o escreveu.
Eu tenho muita dificuldade em separar o artista da arte.
Acho que há formas de arte em que é possível esta ser uma coisa diferente do artista, mas não me parece que seja o caso da literatura (a literatura ainda é uma arte, certo? É que posso estar enganada, sei lá, as coisas mudam).
Quando soube que a Doris Lessing, Nobel da Literatura em 2007, tinha três filhos, dois do primeiro casamento, que ficaram a viver com o pai depois do divórcio, e um do segundo que ficou com ela, ainda mais intrigada fiquei, mas a maior parte das vezes nada disto é assim tão intrigante, é até bastante simples: "Pensei que não era a melhor pessoa para os educar. Teria acabado como alcoólica ou intelectual frustrada, como a minha mãe", disse a escritora numa entrevista.
Eu também não quero acabar como a minha mãe (que não é alcoólica, nem intelectual), mas que dou por mim a seguir-lhe as pisadas, dou: 

                                                   Da
                                              Tra
                                        Frus

Outra coisa muito intrigante é o facto de eu ter vindo aqui escrever sobre a urgência que me consome e que vi retratada no livro do Javier Marías que estou a ler ("Vi esta mesma impaciência ou falta de compreensão do decurso do tempo em algumas mulheres, raramente em varões, que parecem contar mais com o futuro e até saber alguns que existe somente para ser passado"**) e acabar, ou, neste caso, começar, por falar da Doris Lessing. 
Também se pode dar o caso de ter aproveitado o post para falar de dois escritores e, mais uma vez, dar a entender que sou mais ou menos culta. 

*Mudei o verbo pensar para o escrever, porque, infelizmente, penso todos os dias na morte.
**É capaz de ser de mim, mas a tradução do livro parece deixar muito a desejar.

1 comentário:

  1. Pois, eu também achei especialmente intrigante esse segmento da biografia da Doris Lessing, e já tinha reparado nele há algum tempo... Certamente que será uma escolha tão válida como outra qualquer, mas lá que implica despreendimento e cupidez, implica... E curiosamente ele cuidou desse terceiro filho, que por alguma razão era inválido, até morrer, de modo que o destino revelou-se-lhe até bastante "preso"...
    Ser frustrada é a coisa mais provável da vida, Calita.

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