Acontece-me, ocasionalmente, ter de largar tudo e sair de casa. Ir como se fosse ao encontro de alguém, de alguma coisa marcada. Ir com pressa. Ir, pronto. E essas idas vão ter, invariavelmente, a um jardim.
Aqui em Lisboa, costumo ir parar ao jardim da Estrela, mas da última vez que isso aconteceu segui, num impulso inexplicável, um grupo de pessoas que entrava na basílica. Lá dentro, duas cerimónias fúnebres. Fiquei para a minha vida. Eu não vou a um funeral há anos, felizmente, mas garanto que aqueles a que fui não eram assim tão, como dizê-lo, higiénicos. Sim, higiénicos é a palavra que me ocorre, em comparação com os funerais a que assisti, onde o sofrimento parecia encher as casas e as igrejas de um fedor insuportável. Os funerais a que eu assisti fediam a sofrimento.
É óbvio que não fiquei lá muito tempo, aliás, saí quase a correr quando me apercebei do que se tratava, mas se não tivesse visto os caixões pensaria que tinha estado num daqueles eventos das empresas. Havia comida em bandejas, funcionários da agência fúnebre fardados e muito profissionais e pessoas que entravam, cumprimentavam-se e ficavam ali em amena cavaqueira.
Ora, eu que sempre achei que um funeral devia ser assim, sem dramas, porque faz parte da vida morrer, dei por mim quase chocada.
O sofrimento nessas cerimónias pesa muito, como se fosse palpável. Esses então, limpinhos, levezinhos, bem cheirosos. Funeral- cocktail?
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