Nasceu há quatro meses (fez ontem) numa madrugada, no mesmo dia que aquela revolução. O relato do parto foi sendo adiado, porque, não sei, acho que o encarei como a coisa mais natural do mundo e, como tal, sem merecimento de grandes parangonas. Devo dizer, para quem não sabe, que calhou-me (fiz por isso?) ter três partos completamente diferentes. O primeiro cesariana. O segundo com ventosa e o terceiro normal.
Do primeiro para o último passaram dez anos e não há comparação possível na forma como os profissionais de saúde lidavam e lidam com as parturientes. Eu tive uma obstetra fabulosa na primeira gravidez, que me fez uma cesariana para eu não passar a noite sozinha (ela terminava o turno) no hospital a tentar dilatar quando parecia haver poucas possibilidades de isso acontecer. Que me perguntou o que queria fazer e eu escolhi a cesariana, porque ela me disse que era o que faria no meu lugar. Da segunda vez escolhi de outra forma. E da terceira também (o único parto não induzido). E o podermos decidir, dentro das possibilidades existentes, sobre o nosso parto faz toda a diferença.
Do Nicolau comecei com os primeiros sintomas de trabalho de parto às 37 semanas, com a perda do rolhão mucoso, ou parte dele. Ele nasceu três semanas depois e esses dias foram os mais esgotantes da minha vida. Fui duas ou três vezes ao hospital com contracções e suspeita de perda de líquido amniótico, mas estava tudo bem. No dia 27 de Abril, depois de uma noite em claro, e uma ida à urgência de manhã, estava desolada com a perspectiva de termos de marcar a indução no dia seguinte. As contracções não me deixavam em paz, mas tentava ignorá-las por saber que não estava em trabalho de parto activo. Mas por volta das 17h00 percebi que tinha começado. Pedi ao Jaime para contar quanto tempo duravam enquanto lhe apertava a mão e ele disse que mais de um minuto. Não eram ritmadas. Tanto vinham de dez em dez minutos como de sete em sete, ou 15 minutos. Decidimos que era melhor arrancar para o hospital. O Jaime levou-me com os miúdos e voltou para casa para esperar pela babysitter. Passava das 19h00. Fui atendida pelo querido dr. Abushab que me disse: "Oh linda, isto não deve ser para hoje, só tens dois dedos de dilatação". Ao que eu respondi: "Ah, então é para hoje doutor, acredite". Seguiu-se o ctg com as enfermeiras a gabar as minhas contracções e depois uma espera interminável, cá fora, numa sala de espera cheia de gente. Durante as contracções respirava e segurava-me num corrimão que lá havia. A certa altura comecei a dar pontapés na parede. Liguei ao Jaime a perguntar se demorava. Às 21h00 entrei pela porta dentro e pedi ajuda. Estava com três para quatro dedos de dilatação. Podia ser internada, mas não havia sala de partos. Pedi para vir cá fora caminhar, disseram-me que era melhor ficar sentada. Perguntei se podia chamar o Jaime (tinha chegado entretanto) e ele veio sentar-se ao meu lado no corredor.
Estivemos ali pouco mais de uma hora. Eu comecei a ficar com medo de não conseguir lidar com a dor. Gemia baixinho. O Jaime tentava fazer-me rir. Chegou a minha vez de ser internada. Preencher formulários, tomar um duche quente, mudar de roupa e seguir para a sala de partos. Eram 23h00. "Quando posso levar a epidural?", perguntei. "Quer a epidural?", perguntou o médico. "Sim, sim, por favor", respondi. "Pode levar já". A enfermeira dizia que não estava a respirar bem, para relaxar. Eu sentia todos os meus músculos em tensão, mas não conseguia relaxar. E depois de uma avaliação ao colo do útero muito dolorosa chegou a epidural. A seguir entrou o Jaime e ficámos a conversar serenamente (com muito poucas interrupções) até à altura em que as contracções começaram a ficar insuportáveis. Novo reforço de epidural, já com a bolsa rebentada. Por volta das 2h30 comecei a ter vontade de fazer força. Chamei a enfermeira, ela pediu-me para fazer força e disse que estava quase. Às 3h00, a enfermeira disse que estava na hora e foi chamar a médica. Ela entrou, disse "quando quiser" e três minutos depois o Nicolau saiu, o meu menino. Nesses minutos que antecedem o nascimento, pude senti-lo claramente desta vez, há uma energia que toma conta de nós. Por momentos desaparece tudo o que está à nossa volta. Somos nós e o nosso filho (e um bocado de medo que a dor que parece queimar nos possa endoidecer). E depois é só ele. Tocar-lhe, sentir-lhe o cheiro, ouvi-lo chorar (o Nicolau demorou a chorar), dar-lhe a mama. E depois somos os três. Com pena de não estarmos os cinco.
Foi assim. Um parto sereno como o próprio Nicolau.
deviamos ter outro, é o que eu digo. :)
ResponderEliminarera e depois escolhíamos um hospício bonito, no cimo de um monte, por favor, para eu viver feliz para sempre com os meus amigos doentes mentais.
ResponderEliminarportanto, para quando o próximo? ;>
ResponderEliminare sim Calita, já fiquei com os olhos brilhantes a ler este post.
ResponderEliminarCom esta evolução, o próximo é em casa! :D
ResponderEliminar^.^
ResponderEliminarInês
que lindo calita! ao terceiro ainda doi???
ResponderEliminarAndrea Freitas
Claro que sim! A mim, pelo menos, doeu-me :)
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