"Vivíamos os dois numa certa forma de protesto (bastante vago) contra a sociedade (...).
Ela estava sempre a fazer tapetes. Quando mudávamos de casa, o tear era sempre o mais difícil de desmontar e de montar novamente (...) era ela que tingia as fibras, fabricando os corantes com plantas, como antigamente."*
Há muito tempo que ando a tentar trazer um dos teares que a minha mãe tem para as sucessivas casas em que já morei, mas são demasiado grandes e barulhentos para um apartamento.
Sempre achei romântica a ideia de fazer os meu próprios tapetes, a minha própria roupa, etc., mas ao mesmo tempo essas sempre foram actividades ligadas a uma forma de estar na vida muito diferente desta que tenho agora. As tecedeiras e costureiras que conheci e com quem convivi eram mais operárias do que artesãs. Sim, sabiam da sua arte, claro, algumas gostavam muito do que faziam (como a minha avó), mas a maioria desempenhava as suas tarefas em modo automático, como é normal numa fábrica. E eu não gosto de fábricas. Gosto da ideia da fábrica, claro, de conhecer os processos de fabrico de determinados materiais, das linha de montagem e por aí fora, mas eu trabalhei numa fábrica, fui operária têxtil, numa fase difícil da minha vida, e por isso guardo-lhes, às fábricas, um enorme rancor.
Por isso, durante muito tempo, apesar do mistério que as coisas feitas à mão me parecem esconder (uma coisa quase parecida com o mistério da vida), fui recusando a ideia de me dedicar a elas.
Mas, ironia das ironias, aqui estou eu a mostrar um tapete, feito pela minha mãe, e que está à venda lá no sítio.
*Lars Gustafsson, A Morte de Um Apicultor, Trad. Ana Diniz, Edições Asa.
Que lindo tapete. Afinal até tens jeito para a coisa :p
ResponderEliminarQuando me quiseres dar ums aulinhas, aceito. Mas aviso já que tenho muita falta de jeito para trabalhos manuais, eu é sºo mesmo culinária :)
Estou mesmo senil, isto das fumigações anda a f******* o cérebro. A tua mãe é q tem jeito. E pode sempre dar-me as aulas :)
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