Sim, talvez fosse de bom tom a Beatriz estar educada para levantar e pôr a mesa sem ser preciso pedir-lhe, ou arrumar o quarto dela sem ameaças, ou apanhar coisas do chão em vez de as empurrar para o lado. Mas os bons tons, enfim, combinam mal comigo. É óbvio que é importante ela ter noção que precisa de colaborar, que as coisas não aparecem feitas por magia e, sobretudo, que a auto-suficiência é tão importante como uma licenciatura antes de Bolonha. Mas, confesso, não consigo ficar zangada quando ela se põe a fazer um filme com fotos de família no computador em vez de arrumar o quarto. Sinto, até, uma ponta de orgulho. E, muitas vezes, recrimino-me por disparatar com ela quando estou aflita, com um no banho e o outro a atacar a despensa, enquanto ela está sentada a ler um livro, porque nada deveria ser mais importante do que ler um livro, mas, enfim, nem sempre podemos fazer o que nos apetece e também é preciso aprender isso.
Mas (e talvez eu esteja apenas a rejeitar o modelo com que fui educada) não consigo evitar educá-los a acreditar que fazer o que nos apetece não tem de ser necessariamente mau.
Se fosse mau, hoje não me teria cruzado com um parágrafo de Moby Dick, no livro "
A Terra Vista da Terra" de Seth Stevenson e recordado o que levou Chatwin a torna-se um escritor de viagens, num dos prefácios do livro "
Diário de uma Médica em Moçambique ". Isto porque passei duas horas na
Fnac, só porque sim (todas as Fnac têm uma sala de leitura com música clássica, como a do Chiado?). E ainda fui à biblioteca Camões ler um bocadinho da entrevista ao Manoel de Oliveira no
JL. Tenho de lá voltar para ler o resto. E depois, nem de propósito, ainda dou com este
post da Dora.
Olha que devoro livros (quase todos de biblioteca!) desde que me conheço e até me considero relativamente culta (cof-cof-ahem) e só me lembro daquela tira da Mafalda em que a Susaninha diz que quer ter muitos vestidos, a Mafalda diz que quer ter muita cultura, a Susaninha pergunta: Podes sair à rua sem cultura, mas podes sair sem vestidos?-A Mafalda prega-lhe um estalo e pensa: é muito difícil bater em quem tem razão... pois, o Bruce Chatwin viveu noutro tempo e numa família que lhe proporcionou (de certa maneira) que fizesse o que quisesse da vida... Agora nem com uma licenciatura de pré-Bolonha (paga com o meu sangue, suor e lágrimas, não com o dinheiro dos papás) podemos fazer o que queremos na vida, só se for para morrer de fome...
ResponderEliminar:) ai a Mafalda, a maior filósofa de todos os tempos...
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