Lisboetas

16.10.17

No laboratório, no rés-do-chão de um prédio residencial.
- "É a primeira vez que vem cá?"
- "Sim, não fazia ideia de que havia aqui um laboratório"
- "Há que anos! Eu já trabalho aqui há 41 anos, por aí já vê. E eu também vejo como estou velha, minha nossa, como é possível?"
- "Realmente 41 anos é muito tempo, mas não é caso para dizer que está velha"
- "Ai, estou, estou, noto quando caminho. E de manhã quando ponho os pés no chão a sair da cama, parece que me estão a espetar facas. Ainda ontem comentava com o meu marido o que fazíamos antes e o que fazemos agora (suspiro)".

No ecoponto.
Ponho uma garrafa no vidrão. Tiro as embalagens e depois o papel de um saco de plástico, daqueles grandes que se pagam no supermercado.
Uma senhora está a revirar um caixote de lixo.
- "Desculpe, vai precisar desse saquinho"
- "Não, por caso não vou precisar, quer ficar com ele?"
- "Já viu este cortinado? já não se fazem cortinados destes"
- "Hoje em dia deitam-se fora coisas em muito bom estado", digo, enquanto abro o saco para ela guardar a cortina.
- "É mesmo, este vou aproveitar"
- "Claro, faz bem. Até logo"
- "Até logo e obrigadinha".

No cabeleireiro.
- "Ai não me diga, vive em Timor há quanto tempo?"
- "Há dois anos"
- "Em que parte?"
- "Em Díli"
- "Mas o nível de vida não é muito caro? Eu pergunto, porque o meu marido recebeu uma proposta para ir para lá trabalhar mas uns amigos nossos, que tinham lá estado, disseram que não valia a pena ir para ganhar 2.500 euros"
- "Sim, não é muito barato para os estrangeiros, sobretudo porque as casas e as viagens são caras, mas depende muito das motivações de cada um, do que se procura ao sair do nosso país"
- "Pois... e o que faz lá?"
- "Nada".

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