Não conduzo. Tirei a carta cedo, quando precisava de conduzir para fugir do sítio onde vivia, depois deixei de precisar e há muito que não sei conduzir. Ainda há muita gente que vê nisso uma estupidez, como se conduzir fosse parte da condição humana, eu vejo apenas comodismo e, por mais contraditório que pareça, maior liberdade. É certo que dependo de outras pessoas para me deslocar com motor, mas não vejo nisso nenhuma fraqueza.
É, portanto, natural que muitas das minhas deslocações sejam feitas a pé. Gosto de caminhar, como também gosto de andar de carro, de comboio e de avião, mas sinto-me mais próxima da realidade quando são os meus pés que me levam onde quero ir. Mesmo que eu não saiba concretizar o que é isso da realidade.
Isto ainda a propósito do Robert Greenberg, que também não conduz; do Walser e a descrição da viagem de Simon, a pé, até à aldeia de Kaspar; e de uma viagem Porto/Lisboa que me lembrou "A música do acaso", de Paul Auster, e de como olhamos mais para dentro de nós quando viajamos de carro e mais para fora quando caminhamos. Ainda que este olhar para fora se torne mais introspectivo do que o outro.
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