Acepipes

19.8.20

Eu sei que concordei com o Javier Marías (no post anterior) sobre não ser preciso andarmos tão sedentos de experienciar coisas, porque estar vivo é suficiente. Mas há que saber/conseguir viver, digo eu, e parece-me que ultimamente não tenho sabido. 

Por razões que nem sempre consigo explicar gosto de culpar a Póvoa por isso, pela minha falta de vontade, ou incapacidade, de viver melhor. Melhor comigo mesma, claro. E, no entanto, não me lembro de ter tantos momentos de ''confortabilidade''*, no meio de uma existência quase amorfa. Acontecem quando menos espero, como hoje a lavar um prato de acepipes. É uma palavra bonita, acepipes.


*Há uns tempos estava a fazer festas ao Isaac, enquanto víamos um programa qualquer na televisão, e ele revelou-me, enlevado, que estava a sentir uma onda de confortabilidade a subir-lhe pelas costas e a inundar a cabeça. Ri-me e disse-lhe que sabia exactamente o que queria dizer. A partir daí, a palavra entrou no nosso léxico. Assim como amaciante (do cabelo) e guzas (em vez da exclamação 'estás a gozar'!)

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