Cresceste
26.4.16
Tens 15 anos. 15 anos. Posso dizê-lo as vezes que quiser que vai parecer-me sempre inverosímil. Tens 15 anos e vais sair da nossa casa. Eu sei que não vais sair da minha vida, bem vês que isso é impossível. Vais sair de casa, como em tempos saíste de mim. É claro que eu não tenho tanta pressa que saias de casa, como tinha para que saísses de dentro de mim, mas tenho a mesma urgência em ver-te bem e inteira e feliz.
Foram 9 meses que passaram muito devagar e 15 anos que voaram, tal e qual aquele pássaro que está em cima do muro e agora já está naquela árvore.
Tenho-me lembrado dos nossos lanches de laranjas e pão com compota, depois de te ir buscar à creche, de quando me contavas, ainda tão pequenina, os teus sonhos de galinhas com dentes que sabiam falar inglês e dos teus desabafos sobre preferires não existir, já que tinhas de morrer. Tenho-me lembrado do tanto colo que eu te dava, das tantas histórias que te lia e de outras tantas que inventava e tu sempre: "só mais uma história, mamã".
É claro que também me lembro das noites sem dormir e do quanto tu choravas e choravas sem parar, mas isso, bem vês, entre o muro e aquela árvore foi menos de um milésimo de segundo.
Tenho-me lembrado da tua alegria contagiante e das provas que foste superando com tanta coragem. Fizeste-me sentir muitas vezes uma mãe babada e tu sabes o que eu penso das mães babadas. Mas, lá está, contigo foi sempre a primeira vez, foi sempre tudo novo nesta experiência de ser mãe.
E aqui estamos em mais uma etapa natural. Separamo-nos como é suposto que aconteça mais cedo ou mais tarde. Para mim, tu sabes, é sempre cedo demais, mas é bom que seja assim. É bom que seja quando tiver de ser.
Os nossos laços já não são tão orgânicos, feitos de afecto em forma de um cordão. Os nosso laços são, agora, feitos da substância que une uma mãe que vê uma filha crescer, enquanto a prepara, e se prepara a si própria para a ver seguir o seu caminho. Essa substância não se corta com uma tesoura, bem vês, porque é igual às marés e ao nascer do sol e ao pulsar das montanhas.
Mesmo assim vai doer, claro. Mas há toda uma nova vida à tua frente e isso é maravilhoso.
Continuarei, continuaremos, eu e o teu "pai em segundo degrau", a enviar-te pozinhos mágicos deste lado do mundo, para que tenhas sempre bons sonhos.
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(às vezes não lemos, não conseguimos, sentimos, é assim em vai fundo, tão adentro, calita, mas é mesmo o que escreveste)
ResponderEliminarParabéns, Calita. Estais a crescer muito.
ResponderEliminarTão bonito...
ResponderEliminarParabéns!
Até me doeu ler ❤️
ResponderEliminarAinda por cima a miúda é mesmo gira! :)
ResponderEliminarUm dos amores da minha vida. E a mãe dela também, vá :P
ResponderEliminarTenho uma fotografia do meu 15º aniversário a tocar guitarra mas eu não tinha a presença da tua menina. Ainda é menina, é. Mesmo assim crescida e a levantar voo. Muitos parabéns.
ResponderEliminarForça aí, isso é que é crescer!
ResponderEliminarPode parecer mas ela ainda não está mesmo "entregue", só um bocadinho. ;)
Parabéns à Bea, muitos miminhos para ti e abraços para o pai!
Que texto lindo e "doloroso" de ler! Um dia também eu vou passar por isso e não quero nada... Sinto-me tão ligada à minha filha... Força!
ResponderEliminardoi que se farta.
ResponderEliminarforça.
Uma beleza: a filha, o texto e esse amor.
ResponderEliminarParabéns.
Calita.......... que lindo texto!
ResponderEliminar(ela voltou para Portugal?)
Ainda não. Vai ficar em Portugal quando formos de férias.
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