Tirei dois livros de Frederico Lourenço da estante porque, apesar de não ter lido nada dele, achava que o conhecia. Depois lembrei-me de uma crítica de Eduardo Pitta, não sei quando, nem sobre que livro, mas nada disso vem ao caso.
Ontem li o Amar não Acaba e pareceu-me, a dada altura, que ele podia estar a falar de mim em vez da mãe dele (é provável que isto de me ver retratada em tudo e mais alguma coisa seja uma doença).
"Fazer tricô, sim; ser apenas uma mãe no meio das outras, nem pensar: a minha mãe nunca gostou de passar despercebida", pág. 75.
"Na minha mãe coexistiam (pelo menos) duas personalidades antagónicas: a "freira" (que se realizou como pôde no papel de Aliada) e a "mulher fatal". No caso da segunda personalidade, a realização não foi tão fácil como no caso da primeira, porque se é difícil ser-se freira quando se é mulher fatal, muito mais difícil é ser-se mulher fatal quando se é freira.", pág.103
"Querer tanta coisa ao mesmo tempo era impossível; e ela sofreu muito - demais, até - por ficar aquém do ideal que estabelecera como meta para si própria", pág. 103
"À tarde, de volta do chá, a minha mãe dizia-me que queria fundar uma comunidade da Arca em Portugal, onde fiaria a lã para tecer a sua própria roupa e teria um rebanho de ovelhas donde extrairia a lã...mas tocava o telefone e (...) Aperaltava-se toda com roupa que nunca poderia ter sido tecida à mão e lá ia para uma grande festa , decidida a brilhar o mais possível no meio dos descendentes dos titulares cuja genealogia eu estudara na Enciclopédia Luso-Brasileira.", pág. 106
Frederico Lourenço, Amar Não Acaba, Cotovia, 2004
Sem comentários:
Enviar um comentário