Desculpas

13.2.21


Como quase todos os pais não consigo deixar de estar preocupada com o tempo que os meus filhos passam em frente a um ecrã, sem ser para assistir às aulas. E se por um lado me parece justo que nos intervalos joguem com os amigos, ainda que virtualmente, por outro fico em estado de choque quando ouço o mais novo a pedir à Siri da Google para contar uma piada e a perguntar-lhe se está feliz.

Apesar de achar que a geração digital não está perdida e que, muito provavelmente, os humanos desenvolverão umas competências e perderão outras, tentámos adiar ao máximo que eles usassem dispositivos tecnológicos, mas tenho a certeza que teria sido melhor adiar muito mais. Porque, sempre que os vejo na praia a brincar, ou a caminhar na serra, tenho a certeza que essa é sempre a melhor forma de passar o tempo.

Mas, por estes dias, estamos ainda mais fechados em casa porque, além da chuva, um tem aulas de manhã e outro tem aulas de tarde. Bem tento que leiam, sem sucesso, e tento convencer-me que ainda estão a tempo de descobrir o grande prazer da leitura, mesmo sabendo que é pouco provavél que esta seja uma geração leitora. Mas, depois leio sobre Platão considerar, no século IV a.C., que a escrita destruia a memória - «Se os homens aprenderem a escrever, tal implementará o esquecimento das suas almas; deixarão de exercitar a memória, pois passarão a depender do que está escrito»*- e quando olho para tudo o que a humanidade conseguiu fazer nos séculos seguintes, sossego. 


*Uma História da Leitura, Alberto Manguel, Editorial Presença, 1998

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