Fora do poço

25.10.19
Algumas pessoas dizem-me que é uma pena eu não escrever no blog como escrevia, referindo-se, na maior parte dos casos, ao tipo de registo e não à frequência.
Mas eu já não sou uma dona de casa desperada (sabiam desta definição da Wikipédia?!), por isso é mais do que normal que não escreva sobre as mesmas coisas, ainda que haja toda uma enciclopédia do quotidiano que podia, e devia, ser escrita.
Há o post da cadela Catrina, que foi recolhida da rua com as mamas cheias de leite sem cachorros à vista, ou o dia em que fui substituir a minha mãe a cuidar da minha avó, e notar que cuidar é alimentar e trocar fraldas. A peça de teatro, de domingo à tarde, também dava um belo post, e as obras na minha rua davam muitos.
E depois há o poço da tristeza em que me afundo muitas vezes. Acho que não se nota muito que estou dentro de um poço, consigo funcionar quase normalmente, apesar de ser muito pouco prático andar por aí enfiada num poço*. Às vezes até consigo vir à superfície e tudo. Nessa altura faço festas no cabelo sempre despenteado do Isaac, olho para o fundo dos olhos escuros do Nicolau e vejo que guardam já preocupações, tantas preocupações nuns olhos tão pequenos! O Jaime nem sempre sei onde está, mesmo que esteja ali ao meu lado.
Também gosto de calçar as meias tricotadas por mim e olhar para os meus pés fora do poço.


*tentei desenhar a rapariga despenteada a caminhar pela cidade dentro de um poço, mas não consegui. É pena, porque dava um desenho bonito, acho eu.

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