Embebedai-vos

14.8.19

Calcei umas meias com um buraco, vesti um sutiã que já devia ter ido para lavar e pensei: ''Espero não ter de ir ao hospital''.
Eu, como toda a gente, espero nunca ter de ir ao hospital, mas é preciso calçar umas meias rotas e um sutiã encardido para me lembrar disso. Bom, mas a ter de ir é sempre melhor ir apresentável, claro.
Depois ocorreu-me: ''Quantas pessoas andarão, hoje, na rua com as misérias escondidas, como eu?'' Ainda não tinha acabado de calçar a segunda meia e senti-me inundada por uma onda de solidariedade e enternecimento por todos os seres humanos que passam a vida a tentar ser iguais aos outros.
E logo a seguir ainda relacionei isso tudo com o poema de Baulelaire, aquele que manda as pessoas embebedarem-se ''Para não sentir o fardo do tempo que parte vossos ombros e verga-vos para a terra, é preciso embebedar-vos sem tréguas./ Mas de quê? De vinho, de poesia ou de virtude, a escolha é vossa. Mas embebedai-vos.''
Está visto que virtude não é coisa que sirva para me embebedar. O que vale é estar rodeada de vinho. E poesia também não me falta!

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