Agosto é fodido

26.8.19
Quando me perguntam há quanto tempo regressei de Timor, tenho de pensar duas vezes, porque vim viver para a Póvoa em Janeiro de 2018, pelo que a resposta ''há um ano'' não é muito desfasada, mas já estava em Lisboa desde Setembro de 2017, portanto estou cá, em Portugal, há dois anos.
E por aqui se vê que um ano pode não fazer tanta diferença na vida de uma pessoa, como um minuto, que há-de ter sido o tempo que demoramos a tomar a decisão de eu e os miúdos não regressarmos a Timor.
Não é sempre claro quando estamos a viver um desses momentos decisivos. Muitas vezes só em retrospectiva percebemos isso. Aquele beijo, aquela viagem, aquela entrevista de emprego...
Outras vezes, essa percepção pode ser muito evidente no momento em que está a acontecer, mas é raro, acho eu.
Foi um momento desses, ou vários, que me trouxe aqui, às minhas novas funções de ''vineuse'', que é uma categoria inventada pela Dora.
E agora, com os rapazes a passar muito tempo no armazém da vinharia, mais por vontade deles do que nossa, é inevitável pensar o que guardarão eles destes momentos. Espero que o roblox e o Filipe Neto não ocupem mais espaço na gaveta da memória do que as garrafas em volta e as conversas sobre vinho.
Mas o vinho tem um poder especial, que leva alguns deles, a dada altura, ''a cruzar-se na vida de muita gente e a fazer parte da sua história e da sua passagem terrena'', como contou o Pedro Garcias na maravilhosa crónica, em três partes, ''O dilema de António perante uma garrafa de Henri Jayer de 1970''. Por isso, eu sei que será o vinho, as histórias à volta do vinho, que eles guardarão destas férias grandes.

Chegada a este ponto, e depois de reler várias vezes o que escrevi, parece não fazer muito sentido o que estou para aqui a dizer. Acho que não sei o que quero dizer, na verdade.
No fundo, estou mergulhada em incertezas, como é natural, numa espécie de turvação (turvidade), como se estivesse debaixo de água.
Mas é Agosto, já devia saber. Foi num Agosto que morreu o meu pai e foi num Agosto que tive um acidente grave de carro.
Pois é, só agora me apercebi que faz hoje dois anos que sobrevivi a um acidente de carro. Tenho de celebrar.

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