Morreu a Agustina Bessa-Luís e eu só consigo pensar no Mário Viegas. No início dos anos 90, assisti a um espectáculo do artista, na pequena sala do Clube Naval Povoense (acho eu), com uma amiga e a mãe dela, e fiquei maravilhada com o
Manifesto Anti-Dantas. Também fiquei a saber, nessa noite, que ele chamava Bruxa da Areosa a Agustina, não me lembro se Viegas o referiu em algum momento, ou se alguém comentou isso depois do espectáculo. Sei que nunca mais o esqueci e passei a referir-me à escritora da mesma forma. Achava até que não gostava dela, mesmo sem ter qualquer razão para isso. Entretanto, já li que Natália Correia e Luiz Pacheco a tratavam da mesma forma, devia ser uma espécie de guerra de classes.
Por isso, tenho ideia, nunca li nada de Agustina até há poucos anos, quando tirei da estante, meio contrariada, o Fanny Owen. Gostei muito, claro, mas pelos vistos não o suficiente para me embrenhar em mais leituras. Portanto, não se pode dizer que eu esteja no grupo minoritário da
adesão absoluta à obra da escritora, mas também não me enquadro no que a recusa.
Enfim, morreu a Agustina e eu tenho muita pena de já não ser tão impressionável como aos 18 anos.
Na verdade, eu acho que agora sou mais sensível à estética da Agustina do que fui aos 18. Nessa altura, tendo sido obrigada a ler a Sibila, lia tudo à luz da dicotomia de que falava o Lobo Antunes, de operários bons e patrões maus.
ResponderEliminarAinda nessa altura, e apesar da minha incapacidade de perceber a beleza da burguesia do minifúndio, não pude deixar de me apaixonar pela Quina, uma mulher desassombrada que não tinha pachorra para novos-ricos arrivistas, ainda que se tratasse do filho.
Ainda hoje sou incapaz de perceber a burguesia do minifúndio, menos ainda a sua beleza.
E, confesso, ainda vejo o mundo dividido entre operários e patrões. Bons e maus.
Mas quem percebe e dá voz a uma Quina percebe do mundo.
Tenki ;)
Olá Susana, com esta abordagem à burguesia do minifúndio fiquei com mais vontade de ler a Sibila ;) Obrigada.
EliminarNatália Correia e Augustina Bessa Luís, ambas geniais, ambas apaixonantes. Não se amavam entre si, degladiavam-se. Augustina retorquia ao epiteto de " bruxa da Areosa", chamando " tasqueira da Graça" a Natália Correia. Essa " troca de galhardetes", não tem que se refletir nos leitores. Quanto a mim, leio ambas e ambas me apaixonam.
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