Tenho dificuldade em entender a poesia

11.9.18

O almoço de sábado ilustra bem o que anda a acontecer (parece que as pessoas que arrotam postas de pescada na net sabem tudo sobre tudo mas não é o meu caso, eu só bebo vinho e sei de coisas, como o Tyrion Lannister). Então, fomos almoçar ao Malcriado, um restaurante em Matosinhos que ficou com este nome depois de Burmester (suponho que o Gerardo) ter sido mal tratado pelo dono, o ex. jogador do Boavista Arménio Duarte. Éramos os únicos clientes, como já tinha acontecido da primeira vez que lá comemos.
A D. Linda, que ficou a tomar conta do restaurante e da grelha, depois da mãe morrer, deve ter percebido o nosso desconcerto e contou-nos que desde que foi obrigada a retirar a grelha da frente do restaurante as pessoas não entram. "Tenho os meus clientes habituais", disse ela, acrescentado os nomes e as respectivas profissões, dos menos conhecidos, e um ou outro detalhe dos gostos gastronómicos dos mesmos, "mas os turistas que passam não entram", concluiu com um encolher de ombros pouco convicto.
Eu acho estranho alguém preferir ficar à espera de mesa, e do peixe que sairá do grelhador de um daqueles senhores exaustos e suados, a sentar-se num restaurante sossegado e comer um robalo saído da grelha (agora nas traseiras do restaurante) de uma senhora loira que parece levitar - e levar tudo à frente dela ao mesmo tempo.
Por exemplo, duvido que algum dos homens da grelha dos restaurantes mais procurados em Matosinhos viesse levantar o prato da mesa e dissesse entre dentes, mas alto o suficiente para se ouvir: "tssss tssss, esta juventude não sabe comer peixe, é sempre a mesma coisa".
Esta juventude é mesmo um bocado difícil de perceber, às vezes, como quando se vai ao piquenique dançante da Casa das Artes e começa-se a abanar o corpo com um certo entusiasmo, talvez exagerado, concedo, ao som do Johnny Hooker e a nossa filha nos olha com um certo desprezo e diz: "vê-se mesmo que nunca foram a uma Pride Parade".
Seja como for, estávamos lá por causa do Valter Lobo. O Valter Lobo é aquilo que eu imagino que seja a poesia (é, eu tenho dificuldade em entender a poesia). Vão lá ouvir, se não conhecem, "Quem me dera", ou todo o album Mediterrâneo.
O jardim da Casa das Artes não estava vazio, como o Malcriado, mas surpreendeu-me não haver muito mais gente, nem que fosse pelo Hooker, que esgotou na Music Box, no dia anterior. Surpreendeu-me mas agradou-me muito. Estava, provavelmente, o número certo de pessoas para criar o ambiente certo para nós, ali sentados na manta, e para as crianças a correr com as outras crianças e até para a jovem que não sabe comer peixe e começou a stressar com o check sound (mas eu é que fiquei de trombas no desenho).

3 comentários:

  1. Estarei sempre aqui para fingires que sou a adolescente mal-disposta má da fita no teu blog :) (porque sim, vamos fingir que tu esperaste pacificamente durante o check-sound)

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  2. so para dizer que amei este desenho....é para guardar...ah e....... às vezes os desenhos não traduzem assim chapado leituras daquelas que os terapeutas amam fazer ;)

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