Depois

10.10.17
Pouco depois do acidente disse a alguém que tinha a impressão que na minha vida ia haver um antes do acidente e um depois.
Ora, ao contrário do que pode parecer não estava a ser dramática até porque naquele momento era bastante claro que o depois só podia ser bom, quanto mais não fosse por existir um depois para mim.
Só que agora estou aqui meio perdida nos vários cruzamentos da minha pessoa, o da rapariga insegura, o da mulher que ama e é amada, o da maternidade, esse imenso cruzamento...
Não é que eu esteja sempre a pensar em como raio viemos aqui parar. Eu em Lisboa com uma filha e a cabeça à roda, e o Jaime em Timor com os outros dois filhos.
Nem sequer, como pode mudar tanta coisa num repente?
Não, eu penso (quando chego aos Restauradores e confirmo que é o 709 que tenho de apanhar) ah, ainda me oriento em Lisboa, apesar de já não ser exactamente a cidade de que me lembro e de ter a cabeça à roda. E penso, será que vou conseguir abrir a porta do prédio? Espero que esteja encostada.
O que eu estou a tentar dizer de uma forma rebuscada, talvez, é que estou focada no que tenho de fazer e não em teorias do Big Bang. Por falar nisso, ainda não cortei o cabelo.
E tem resultado. Já não choro tanto depois dos telefonemas. Fartei-me de rir na consulta com a médica de família e quando cheguei a casa o carteiro ajudou-me a abrir a porta.

Sem comentários:

Enviar um comentário