Uma emigrante nos trópicos

23.5.16


Agora que me rendi às massagens não deve faltar muito para ser uma verdadeira expatriada, em vez de uma emigrante. Quer dizer, falta dar o grande passo que é arranjar uma ama, mas eu nem sequer sei ter uma empregada, quanto mais uma ama! Serei sempre uma emigrante, portanto.
E como qualquer boa emigrante vou a Portugal no Verão para ver a família e os amigos e para as festas de Nossa Senhora da Saúde. Nessa altura, a ouvir a missa campal nos altifalantes, lembrar-me-ei de Timor. Ou não. Talvez faça contas aos dias que me restam em Portugal, antes do regresso. E se calhar até tiro uma selfie no monumento do emigrante.
Tenho a impressão que esta experiência foi, está a ser, transformadora mas não consigo apreender o alcance dessa transformação.
Como todos os emigrantes, ou expatriados (diz que é mais fino ser-se expatriado), mantemos rotinas que nos são familiares, como fazer refeições o mais parecidas possíveis com as que fazíamos em Portugal; tentamos ter os mesmos padrões de conforto num país onde é normal ter formigas, ratos e cobras dentro de casa; Combinamos almoçaradas com amigos, isto é, conterrâneos, isto é, outros portugueses com quem nos identificamos; e continuamos a achar que precisamos de mais do que dois pares de sapatos, quando nem sequer há estações do ano.
Mesmo assim, é quase impossível sermos os mesmo depois de fazer as malas e ir viver para outro país, sobretudo quando o outro país é tão diferente do de origem. E eu acho que vou perceber melhor o quanto terei mudado quando estiver em Portugal. Ou não.
Aquele professor de Harvard que escreveu "O Caminho da Vida", diz que "somos pessoas diferentes em contextos diferentes", não sei se é verdade, mas não me parece bem contestar Confúcio.

P.S A foto é do Jaime

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