O clima

12.5.16









 Eu dizia: É espectacular a sensação de se ir viver para um país que acabou de nascer. Há um enorme sentimento de esperança e a sensação de que tudo é possível, porque quando estamos a aprender a andar, tropeçamos e caímos mas antevemos logo ali a possibilidade de correr.
Eu dizia isso, e sentia isso, e depois vim para cá viver. E aqui está sempre muito calor e uma pessoa usa decotes e por isso as migalhas do pão caem dentro do sutiã. Não sei se é por ser eu a fazer o pão que ele fica mais migalhento.
Também dizia: Num país sem tratamento de resíduos temos mesmo de tentar produzir o menos lixo possível e, apesar dos caixotes de cartão que uso para trazer as compras, ou da reutilização de frascos de vidro e de comprar legumes nas bancas em vez de embalados, vejo-me rodeada de plástico por todos os lados. Plástico nosso e plástico dos outros a boiar na praia.
E depois acreditava que esta mudança seria boa para os miúdos, a ideia de terem escola só numa parte do dia e terem espaço para correr, brincar ao ar livre, fazer o que bem lhes apetecer, ou ficar aborrecidos por não terem o que fazer parecia-me quase perfeita, mas por qualquer razão a mãe deles não aparecia neste cenário. A mãe deles estava a fazer qualquer coisa importante.
Só que não. A mãe deles está em casa com o sutiã cheio de migalhas. Mas, pelo menos, neste aspecto não se enganou muito. As crianças aqui podem mesmo ser crianças, incluindo as adolescentes.
Na verdade podem ser crianças aqui ou em qualquer outro lugar, mas o clima é melhor.

2 comentários:

  1. tudo verdade. a realidade e a expectativa a colidir de frente! podem ser frustrantes.
    só que, por um mecanismo qualquer, assim como temos expectativas (que depois se goram) também temos tendência a esquecer as partes más do passado e já só nos recordamos do como afinal era bom....

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  2. acrescento: aqui faz um frio medonho, chove e troveja, uma coisa mesmo assustadora e chata

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