Num país novo

26.1.16

Às vezes pergunto-me o que vim aqui fazer, aqui, a Timor-Leste, porque nem sempre sei, ou nem sempre me lembro. Vá, já passaram quase cinco meses, posso começar a questionar-me, certo?
Estávamos fartos, como tanta gente da nossa geração, da falta de perspectivas. Fartos de trabalhar para pagar as contas, as nossas e as dos bancos. Fartos da nossa vida de classe média. Queríamos mudar. Precisávamos de uma vida diferente. Foi isso, acho. 
Viemos para um país semelhante, em muitas coisas, a Portugal há 30 anos, só que em vez da CEE, há o Fundo Petrolífero. 
E é estranho isto de se viver num tempo que não é linear (há uns posts dizia que vivia no futuro, daqui a nada estou a perceber um dos maiores mistérios da Física). Mais estranho ainda é viver "melhor" aqui, portanto, em Portugal há 30 anos, do que em Lisboa há seis meses. Quando digo melhor, quero dizer com mais dinheiro e isso vale o que vale para cada um.
E tal como há 30 anos, tenho medo do escuro e dos monstros que a noite costuma trazer. Acho os meus filhos incrivelmente corajosos. Afugentam pesadelos como se fossem bolas de sabão. Já eu sou capaz de transformar bolas de sabão em pesadelos.
Às vezes acordo com o som de uns chinelos a arrastar no alcatrão e um chilreio desconhecido, e lembro-me: estou num país novo. E não sei o que fazer com isso.  

3 comentários:

  1. Mudei-me há uma semana e meia para Timor e fiquei sem malas durante 3 dias. Excelente início de vida.
    Todos os dias penso que não sei como reagir aos "monstros" e ao medo do escuro e do completamente desconhecido. Estou constantemente à espera que algo aconteça. Espero que entretanto este sentimento passe, senão não vivemos descansados.
    Nem vamos à praia com medo dos Lafayeks, nem vamos à piscina com medo dos mosquitos, nem entramos em casa com medo das osgas e dos tokés.
    Olha, coragem! :)

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