Respirar debaixo de água

22.9.15

Apesar da aparente felicidade dos fotografados (bom, menos da Bea, que odeia o uniforme) isto aqui está a ser um episódio do Marco com um a gritar "Mamaaaaaaaaaaaaaaaaaaã, não quero ficar aqui" e o outro a berrar "PAAAAAAAAAAIIIIIIIIIIIIIII", como se o estivessem a levar para o matadouro. Eu a sair da escola a tentar disfarçar as lágrimas, o Jaime a engolir em seco.
No primeiro intervalo da manhã a Bea liga a dizer que estão os dois no recreio a chorar pelo pai. Eu estava à espera de algum drama quando os deixasse, mas nos intervalos?!?!
Assim que os vamos buscar o Isaac diz que quer voltar para Lisboa. Não serve de nada argumentar que em Lisboa também iria para uma escola nova.
É muito aflitivo vê-los tão nervosos.

A escola é só de manhã, das 8h00 às 13h00, mas parece que nunca mais termina. Eu ia aproveitar as manhãs para passear por Dili, caminhar à beira mar, explorar alguns mercados, mas fico a olhar para o relógio, ou para o meu pé deformado pela picada de um mosquito, ou de outro bicho qualquer. Às vezes adormeço, outras olho para o espelho, à procura de me encontrar, mas não tenho a certeza de reconhecer aquela mulher.

No fim-de-semana fizemos um churrasco na One Dollar Beach e alguém levou o equipamento de snorkeling. Experimentei durante alguns minutos e fiquei fascinada ao ouvir-me respirar debaixo de água. Sim, não havia ali peixes à vista, nem grandes corais, por isso podia virar-me para mim sem sentir que estava a falhar o alvo.
Saí do mar com a sensação de que é isso que preciso de fazer aqui, reaprender a respirar, descobrir quem sou e do que sou capaz. Mas antes (durante?) preciso de ajudar os meus rapazes.

14 comentários:

  1. Oh que chatisse:(
    Atirei os meus para uma nova escola em Inglaterra , não percebem puto o que lhes dizem por lhes chili ao almoço que eles dizem que engolem à custa de copos de água e a primeira semana correu tão bem que nem nós estamos bem a acreditar, o mais novo diz todos os dias que não quer ir até chegar, entrar e ficar sem dramas 😐 espero sinceramente que

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  2. Mesmo assim, a fotografia é muito bonita (um abraço à Bea, caramba, também detesto essa ideia de uniformes).
    Vais ver que a vida aquatica te vai salvar da vida terrestre e que em breve, vais conseguir fazer tudo o que queres. Os miudos vão se habituar num instante. Inspira, expira.

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  3. Ola!
    Claro que tem de ajudar os filhos e pelo que tenho lido..sempre o tem feito.
    antes tem de se ajudar a si.
    Porque nao procurar uma terapia? Falar, falar, talvez medicacao. Ja vivi em difrentes partes do mundo e sempre que quis arrnjar medico procurava nas embaixadas amercianas (eles tem sempre lista de medicos locais que falam um ingles razoavel). Foi assim que descobri o meu psiquiatra algures na Europa perdida...Coragem!!!

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  4. Angela,
    não conhece a Calita pessoalmente, pois não?
    Olhe que ela engana: na vida real não é nada disto que poderíamos pensar ao ler os seus posts. Pelo contrário: é uma pessoa tão bem ancorada em si própria que pode perfeitamente dar-se ao luxo de exibir aqui pequenos calcanhares de aquiles.

    Calita,
    se bem te conheço, a esta hora o problema já está bem encaminhado. Mas, para o caso muito improvável de não saberes, ouso sugerir que os deixes falar. Não é preciso dar-lhes soluções ou argumentos, basta ouvir o que eles dizem, e repetir com outras palavras, para eles terem a certeza que estão a ser ouvidos. Se eles forem capazes de deitar para fora, frase a frase, tudo o que os está a incomodar, provavelmente vão ficar livres para reparar também no que é bom, e para saberem gerir tudo isso.

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    1. :D Pois, eu devia era ter-te ligado e pronto. E sim, hoje, ao 3.º dia foi muito melhor.

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  5. Ola Calita e Helena.
    Eu nao conheco a Calita da vida real. E se o meu comentario fez transparecer algum tipo de censura ou foi desagradavel, peco desculpas sentidas. Mesmo, mesmo.

    Bem pelo contrario, eu so recomendo visitas a terapeutas quando me preocupo e empatizo com a pessoa em causa. Alias, o que eu queria dizer eh que me parece uma boa Mae, e para o continuar a ser, para cuidar bem dela (isto porque se fala sempre do bem estar das criancas, mas ha que pensar no bem estar dos pais antes de tudo)
    Como tb ja disse no comentario anterior , eu tenho necessidade e recorro a terapeuta. Nao porque esteja so neste mundo, nao tenha amigos nem parceiro. Apenas acho que uma pessoa qualificada pode trazer uma ajuda signficante.
    Lamento mesmo se o meu comentario resultou numa critica,foi desastrado ou foi de alguma forma desagradavel. Eu nao sou pessoa para ler blogs que nao gosto e criticar maldosamente. So leio blogs de pessoas que gosto e admiro (alias,tb leio o blog da Helena e gosto muito).

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    1. Olá Ângela, de todo, não fez transparecer censura nenhuma. A Helena é que me tem em muito boa conta, demasiado até :) mas acho que tenho de acreditar nela, porque ela sabe sempre do que fala.

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    2. Angela, sugerir uma conversa com um psicólogo não é uma crítica ou censura. Nada disso!
      Eu só falei porque acho que a Calita nos anda a enganar a todos. Vem para aqui com estas histórias, e conta de tal maneira que nos deixa a pensar que não pode com um gato pelo rabo, e depois vai-se a ver é uma mulher muito feliz, centro de uma família muito feliz.
      Ela sabe-a toda, a Calita!
      Lembro-me muitas vezes de um post sobre os dois rapazinhos não se estarem a entender. Enquanto eu dava voltas à cabeça sobre o que se podia fazer, a Calita levou-os para correr no mar, e ficou o problema alegremente resolvido!
      Desde então, optei por não mandar as minhas postas de pescada neste blogue. A anterior foi uma excepção - e enquanto escrevia pensava que estava a ser parva, porque de certeza que eles já arranjaram uma solução bem mais simples e criativa que a minha.
      Sim: tenho uma fé inabalável na Calita - e sei do que falo! :)

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  6. Os meus filhos entraram ambos com 2 anos para a escola, com a mesma educadora. O mais velho foi todo vaidoso, sorridente, muito compenetrado. Invariavelmente, ligavam-me para o ir buscar no início da tarde, porque tinha febre e ataques de asma. Já o mais novo passou os primeiros tempos a chorar. Encostava-se a um canto com as mãos esticadas para ninguém lhe tocar e chamava por mim aos gritos horas a fio. Era aflitivo. A reacção de ambos foi exactamente a mesma, embora exteriorizada de forma oposta. O problema é que o mais velho, que aguentou tudo estoicamente, demorou meses a adaptar-se! Chorar é sempre bom sinal. Como diria o Shrek, antes soltar que reter... :)

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    1. Sim, é isso mesmo. Aliás digo-lhes sempre que não faz mal chorar e que é normal terem medo de uma coisa que não conhecem.
      Agora que uma pessoa fica com o coração partido ao saber que eles passam os intervalos abraçados um ao outro a chorar, fica...

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  7. rotinas novas a entrar vida dentro fazem sempre abanar qualquer coisa........mas sao aprendizagens que as pessoas se esquecem serem tao importantes como conhecer as letras e os numeros!........fazem muito bem estrebuchar.....exteriorizar o mal estar.....tenho muito mais receio de quem guarda e acumula!.........estao aqui estao a tratar o mundo tu la tu ca......noutro dia o meu mais novo explicou me do alto dos seus 4 anos que o planeta terra tem muitos paises la dentro! beijinhos e boa aventura! sou mais uma a desejar vos tudo de bom.......gosto muito que venhas aqui destilar a vida.....

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  8. Espero que o quarto, quinto, sexto dia e etc. estejam a seguir a tendência do terceiro. Um abraço, Calita.

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  9. Eu acho que a vida dá tantas voltas..... há uns tempos comentei consigo porque era coincidência morarmos no mesmo bairro em Lisboa e tinha acabado de regressar de Timor-Leste e eu mais coisa menos coisa também. Agora voltamos a estar no mesmo sítio Timor Leste e com a EPRC em comum. Vai adorar Timor. Dê lhe tempo. Diga à Bea que eu também não gosto muito da cor da farda mas tem de ser e aos pequenos é só ambientarem se.

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    1. A sério?!? Isto são coincidências a mais, Melisa, haveremos de nos encontrar mais cedo ou mais tarde :)

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